Guardiã do Rei escrita por Miss America


Capítulo 27
Encontro Indesejado


Notas iniciais do capítulo

Que dia é hoje? SEXTA, dia de postar!
Finalmente acertei :D
Bem gente, vou dar só um aviso: estou tendo aulas integrais e uma vez por semana tenho aula de redação (ueba), e toda semana eu tenho que criar um texto diferente - narrativo, dissertativo, etc.
Por isso, peço que não estranhem se eu sumir por, sei lá, até três semanas (talvez nem tanto, ok?). É porque tenho bastante coisa pra fazer (ueba²) e toda minha inspiração pra escrever deverá ser divida com minhas redações semanais :(
Mas, olha que boazinha que sou: em vez de escrever minha redação dessa semana, vim escrever cap hahahaha mui irresponsável, eu sei.
Enfim, enjoy it!



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Percy deitava-se na grama orvalhada, com a cabeça pousada em uma pedra grande coberta de musgo, enquanto mantinha os olhos presos à beleza do céu da madrugada.

Já estava acordado há bastante tempo, considerando desde o minuto em que Annabeth disse que iria dormir embaixo do salgueiro um tanto distante dele – e que Percy era estritamente proibido de se aproximar. O menino deu de ombros e deitou-se junto à pedra com musgo. E assim estavam os dois: brigados, mas ainda compartilhando o sentimento de estarem perdidos em uma floresta.

As pernas de Percy lhe matavam. Andaram a tarde toda em círculos, ouvindo Annabeth imitar corujas e orar pela mãe. O máximo que descobriram foi estar perto da estrada real, onde havia movimento de carruagens e soldados, o que não era uma coisa boa. Por isso, embrenharam-se ainda mais na floresta densa e passaram a marcar o caminho até anoitecer.

O frio que fazia era violento, trazendo os ventos do início de novembro. Percy pensou em seu quarto gigante no castelo, sua cama quente e confortável, próximo de seus pais e no lugar ao qual ele pertencia. Perguntou-se se a mãe e o pai – que talvez não fosse seu pai, segundo Annabeth – teriam partido para Sol Poente.

Sentia-se tão deslocado desde que chegou até ali, com Annabeth lhe contando sobre a vida de um semideus e todos os perigos que os mesmos enfrentam. Lembrou-se de quando estava em seu reino, os telhados, assistindo o julgamento de meio-sangues. Lembrava-se de como era grato por crer que não era um deles, pois sabia que não teria coragem ou força suficientes para carregar tal fardo.

E agora, no meio daquele matagal sem fim, ele descobria ser um.

A queda ao mar não doeu tanto quanto esperara. Foi como jogar-se em um rio, mas por espontânea vontade. A água o abraçou e, antes que pudesse raciocinar, sentiu-se livre e... bem. Sentiu-se feliz. Como sempre imaginou que se sentiria quando tocasse o mar, embora a mãe lhe proibisse. Em um súbito desespero, buscou o ar, mas este veio ali mesmo, embaixo da água esverdeada do mar inglês. E era o ar mais puro que já respirara.

Estava maravilhado com a capacidade recém descoberta, quando deu-se conta de uma Annabeth desmaiada rumando ao fundo do mar. Percy bateu os braços da forma mais desajeitada possível, mas logo compreendeu o mar como se compreende uma música. Seguiu o movimento das águas como os músicos seguem a melodia, e então se viu nadando velozmente em direção à moça que se afogava.

Tomou-a nos braços como se pesasse uma pena, e procurou o paredão do Pico. O Pico Inglês era inclinado, de modo que Percy encostou-se nas rochas com Annabeth sem que ninguém acima os visse. Manteve a cabeça da menina apoiada no seu ombro, ansioso por vê-la respirar, mas a única ação que teve como resposta foi um espasmo violento. De lá, ouvia os gritos desesperados que vinham do Pico. Pensou em retornar, mas sabia que, se voltasse, perderia Annabeth.

Não foi uma decisão fácil rumar em direção contrária à sua casa, às pessoas que amava. Mas sua necessidade apenas aumentou quando flechas foram jogadas contra o mar, junto a uma voz que gritava “eu vejo o cabelo loiro, atirem!”.

Dern, resmungou Percy entre dentes. O que tinha na cabeça?!

Annabeth, depois de acordada, não lhe ajudou muito, exatamente. Olhou para ele durante o resto do dia com uma expressão chocada e assustada no rosto, como se Percy houvesse retornado dos mortos, murmurando sempre “não, por favor não... oh, cale-se estúpida, é claro que é”.

Percy precisou insistir o tempo todo para que a menina se irritasse de modo a dizer-lhe tudo de uma vez. Ele já estava cansado de meias histórias.

– Mas sempre me disseram que o deus das águas não podia ter filhos.

– Então mentiram para você – respondeu ela, indiferente.

– Foi minha mãe quem disse – retrucou.

– Então ela queria proteger você – disse Annabeth, virando-se séria para ele. – Mas, ouça-me: tente esquecer o que lhe disse. Muitas, muitas pessoas querem saber quem é seu pai divino, e não seria bom se lhes dissesse que descobriu que pode respirar embaixo da água ou coisa parecida, entendeu?

Percy assentiu, profundamente desconfiado.

– Isso então explica a água que saltou na cara de Nancy – lembrou, fazendo Annabeth sorrir pela primeira vez, mesmo que tentasse disfarçar.

– É, talvez seja – encerrou.

Percy sorriu com a lembrança. Tentava, de todos os modos, permanecer firme ante o desespero de ser arrastado para um lugar que nem conhecia, junto ao fato de descobrir que era pertencente ao povo mais odiado pela Igreja. Talvez tentasse apenas afastar a confusão que estava sua mente, ou tentasse apenas ver Annabeth mais como alguém preocupada do que como uma inimiga.

Ou qualquer coisa. Não tinha importância: nem se lembrava mais de quem era.

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– Percy – uma voz distante sussurrou. – Percy, acorde.

Duas mãos o sacudiram, mas a única resposta dele foi um resmungo em protesto. Ia virar-se para o outro lado, quando a voz voltou a falar:

– Percy – já estava mais alta e mais impaciente. – Percy, ACORDE!

O último empurrão fez com que a cabeça caísse de seu apoio na pedra e batesse contra o chão úmido. Olhou furioso para cima, com a luz do sol a cegar-lhe por alguns segundos e esperando encontrar olhos cinzentos e impetuosos, mas nada viu.

– Annabeth? – perguntou para o vazio.

– É claro, preguiçoso! – a voz respondeu, e com certeza vinha de Annabeth.

Percy ergueu-se de supetão. Annabeth lhe contara sobre vários tipos de monstros que semideuses destruíam com espadas como a dele, e Percy temeu que este fosse um deles tentando enganá-lo.

Como ele nada disse, a voz repetiu-se:

– O que foi? Por que está me olhando assim?

O menino olhou para todos os lados antes de falar, mas levou um empurrão. Com o susto, ergueu a espada reluzente:

– Percy, sou... Espere, o que está fazendo?

Percy deu um passo receoso para trás.

– Annabeth, se for você... hã, apareça – disse, e instantaneamente sentiu-se profundamente tolo.

A voz calou-se por alguns segundos.

– Então... é isso – sussurrou.

O rapaz foi apalpando o ar até encostar-se a algo sólido e suave, como um braço, que foi puxado de volta repentinamente.

– Você não me vê, certo? – perguntou.

– Se visse não apontaria a espada tão rapidamente – respondeu, e quase pôde enxergar Annabeth rolar os olhos de irritação.

– Espere um pouco – pediu, e então o ar tremulou. Diante de Percy, surgiu uma Annabeth tirando o capuz de uma capa marrom, feita de lã.

– Annabeth! – assustou-se. – O que raios é isso?

A menina acariciou a capa por um momento, com uma expressão nostálgica.

– É um presente... de minha mãe – seus olhos brilharam, e Percy pensou que ela choraria a qualquer segundo.

Ele abaixou a espada lentamente, sem reação. Então, olhou para a arma em suas mãos. Também foi um presente de seu... bem, de seu pai divino. Pelo modo como Annabeth dissera “de minha mãe”, Percy calculou que era algo raro entre meio-sangues.

– Isso é... ótimo – sorriu para ela, enquanto Annabeth ainda emocionava-se com a capa marrom que tinha nos ombros. – Como... como a recebeu?

– Não sei – respondeu maravilhada. – Apenas... sonhei com ela.

– Sonhos de semideuses – murmurou Percy. Aprendera que eram sempre muito significativos. – É, sem dúvida, uma arma poderosíssima.

– Posso ficar invisível – riu Annabeth. – Isso é...

Sua frase foi interrompida por galhos sendo quebrados no meio da floresta. Percy trocou um olhar urgente com ela, que pediu silêncio. Com as mãos, Annabeth disse a Percy para aguardar. Cobriu-se com a capa e desapareceu. Os passos repetiram-se, mas foi quando uma mão invisível segurou a sua.

Logo, Percy também estava invisível, e conseguia ver Annabeth coberta pela capa.

Ela mantinha-se quase como uma estátua, movendo apenas os olhos de forma arisca e atenta. Fez-se silêncio por breves segundos, até a grama estalar bem perto deles, às suas costas. Ambos assustaram-se, mas continuaram parados. Algo os farejou, e então Percy o viu pelo canto do olho.

Tratava-se do maior cachorro que ele já tinha visto em toda sua vida. E também o mais feio e mais feroz. Era todo negro, de pelagem aparentemente grossa e áspera, com olhos vermelhos assustadoramente brilhantes e presas gigantes, que lhe saíam da boca e pingavam gotas de saliva. Eram afiadas e pontudas, e quando o cão rosnou os dentes até então escondidos uniram-se às presas formando um espetáculo tenebroso.

Percy arregalou os olhos e ouviu quando Annabeth pediu a ele que mantivesse a calma, mas o menino estava diante da pior besta que já vira. Não se manteria calmo.

Deu um giro violento brandindo a espada, e quando a arma dourada tocou o animal, este se desfez como pó, e foi levado pelo vento. Uma onda de alívio tomou Percy, mas logo se foi, quando percebeu que ele e Annabeth estavam cercados por mais outros quinze cães, no mínimo.

Com um arrepio gelado na nuca, Percy viu que os animais – se é que o eram – já o haviam visto. Annabeth apareceu ao seu lado, boquiaberta.

– Isso... não é nada bom – sussurrou.

– Obrigado por me alertar – Percy respondeu, enquanto os cães se aproximavam.

– São muitos! – disse Annabeth, com a adaga em mãos e tremendo. – Jamais enfrentei um número tão alto!

Percy engoliu em seco.

– Mas eu não acho que haja outra escolha – tentou parecer forte, mas estava aterrorizado pelas criaturas.

– São cães infernais, Percy. Podem te rasgar ao meio – dizia Annabeth, quando um deles latiu tão alto que a terra pareceu tremer sob seus pés.

Percy ergueu a espada e apontou para eles. O brilho dela parecia irritá-los, forçando-os a se afastar.

– Vou pensar em algo, espere – pediu Annabeth, mas ambos sabiam que não tinham todo esse tempo.

Ele continuava afastando os animais com a espada, quando Annabeth gritou:

– Percy! Atrás de... – mas ele já tinha visto. Virou-se em um movimento brusco e cravou a espada no cão que saltava sobre ele. Infelizmente, ele não veio sozinho.

Annabeth e Percy foram cobertos por saltos de cães infernais que os arranhava e mordia. O barulho ensurdecedor de rosnados e gritos era angustiante e aterrorizador, e Percy já não enxergava nada mais além da própria espada sendo desferida contra pelagens negras e dentes afiados por um tempo infinito.

Sentiu uma dor lancinante nas costas repentinamente, levando-o a se contorcer. Brandiu a espada às cegas em um súbito movimento, mas encontrou Annabeth com sua adaga cravada no animal, que se dissipou em uma nuvem pó instantaneamente.

Ambos se entreolharam, e um silêncio conturbado se fez, entrecortado apenas pela respiração pesada dos dois.

– Acabaram – sussurrou Annabeth, cansada. – Acabaram, Percy.

Ela estava com um corte na testa que descia até o queixo, os cabelos cheios de terra e folhagens molhadas, um dos braços avermelhado de tantos arranhões. Deixou-se cair pesadamente no chão, abraçando a adaga com uma expressão assustada.

Percy tentou andar, mas o corte nas costas – que começava perto da nuca, pela dor que sentia – o fez parar. Não conseguia sentar como Annabeth. Seu corpo estava quente, elétrico e precisaria de tempo para respirar com calma novamente. Mal podia acreditar no que fizera poucos segundos atrás.

– Está tudo bem? – perguntou para Annabeth, preocupado.

Ela assentiu, tirando uma mecha de cabelo do rosto.

– Sim, está tudo bem – respondeu, mas tinha as mãos trêmulas. – Apenas...

– ...nunca enfrentou um número tão alto? – pediu ele, repetindo as palavras dela.

Annabeth ergueu os olhos cinza e arregalados.

– Percy, nunca saí do Acampamento, desde que... bem, faz muito tempo que não saio de lá. Lutei poucas vezes contra monstros. Acho que lutei mais vezes com mortais.

Percy franziu o cenho, refletindo que ela disse. Se ela o levaria até lá, ele também teria de ficar a vida toda? Nunca mais veria seus pais? O castelo? Mordeu o lábio, confuso, mas nada disse.

– Assim que encontrarmos novamente o curso do rio, molhe-se – recomendou Annabeth, erguendo-se do chão.

– Por quê?

– Você vai ver – sorriu fraco.

Ela apalpou o rosto com a mão esquerda e depois olhou, constatando o sangue que vertia. Engoliu uma maldição em grego, que Percy não compreendeu.

– Tudo o que tinha de ambrosia ficou no castelo – contou. – Vamos. Temos que andar bastante ainda.

– Para que lado? – perguntou Percy. – Vamos andar em círculos como ontem?

Annabeth contraiu as sobrancelhas, brava, mas logo sua expressão anuviou-se, ao fixar o olhar na copa de uma árvore. Percy virou-se para seguir a linha do olhar dela, e encontrou a pequena coruja que o visitava todas as manhãs.

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Andaram durante todo o resto do dia seguindo a coruja, mas não foi muito tempo. O pôr do sol apareceu e a noite caía mais rápido na floresta. Em pouco tempo, a escuridão voltou a dominar o céu. Mais um dia, pensou Annabeth, seguindo os piados da coruja da mãe. Será que amanhã chegariam? Ela duvidava.

Olhou pelo canto do olho para Percy. Estava impressionada, tinha de confessar. O garoto reagia bem melhor do que ela previra, mas, em compensação, pouco conversava. Mantinha os olhos fixos no chão, mas provavelmente com a cabeça longe dali. Annabeth temeu sua quietude extrema, e desesperou-se ainda mais quando, em determinado momento do dia, Percy começou a afirmar que não era um semideus.

Ela teve de sacudi-lo pelos ombros para que retornasse à sã consciência. Teve de fazê-lo beber água de uma poça próxima, pois o menino tinha uma expressão vazia e doente. Melhorou, mas não voltou sequer a fazer perguntas.

O silêncio a consumia, mas ainda era melhor assim. Perguntas demais a levariam a conclusões precipitadas apenas para desviar delas. E não era isso que Annabeth precisava no momento.

Andaram devagar, enquanto Percy mancava pelo corte nas costas. Embora se recusasse a dizer, bem sabia ela que ele sofria com a caminhada. Torceu internamente que sua ideia desse certo, e qual não foi sua alegria ao ouvirem o barulho de água.

Percy era pálido sob a luz da lua, extremamente cansado e abatido, mas continuava sério. Ao encontrarem o curso do rio, ele assentiu para Annabeth e aproximou-se da água. Annabeth esperou um pouco acima, ansiosa para saber se ele se curaria.

Procurando com os olhos um lugar para dormirem, algo lhe chamou a atenção. Annabeth deu passos silenciosos para um pouco distante do rio, seguindo o movimento de uma sombra. A silhueta negra como as árvores deu a volta e surgiu do outro lado do rio, e conforme se aproximava, ganhava uma forma mais definida.

Dois chifres pequenos surgiram, e um andar desajeitado. Annabeth engoliu em seco. Com uma mistura de pânico e cuidado, desceu a margem do rio em direção à Percy, que saía completamente seco da água.

– O que houve? – ele sussurrou, ante a urgência da menina.

Annabeth o puxou pelo braço de volta, com olhos fixos na silhueta.

– Você melhorou? – pediu.

– Sim, mas...

– Ótimo, vamos embora – cortou. Percy tentava olhar sobre o ombro o motivo do desespero dela.

Um barulho na água. Depois, foi como algo saísse de dentro dela, e Annabeth teve de parar.

Há alguém aí? – a voz perguntou, mas não aparentava irritabilidade ou passava medo algum.

Annabeth pousou o indicador sobre os lábios para Percy.

De repente, a voz tornou-se assustadoramente alta e próxima.

– Ei, veja o que encontrei – a lua iluminou-o, e havia um sorriso no seu rosto.

A mão de Annabeth segurou com mais força o pulso de Percy, preparando-o para correr.

Sátiros.


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Notas finais do capítulo

Estranhei que ninguém pediu do Grover! E ele sempre esteve nos meus planos xD
No próximo vocês entendem por que a Annie ficou assim. Prometo.
E me perdoem - de novo - pelos caps mais, hã... apagados. É que a fase floresta é complicada, porque só tem o Percy e a Annie pra usar. No castelo tinha uma gentarada (palavra linda) pra brincar D:
Por isso, tô tentando colocar todo tipo de coisa nova pra ver se animo esses caps. Mas não vão ser muitos, prometo de novo.
Bisous, cerejas! (estou pensando seriamente se chamo vocês de cerejas ou não)