A Mansão Subterrânea escrita por Justine


Capítulo 3
O início de uma aventura


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora! Espero que gostem!



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– Eu não acredito que vocês vão fazer isso! - resmungava Luísa.

– Eu também não! - concordou Lúcia.

Pedro pegou uma barraca de camping que estava no chão e colocou dentro do porta-malas do carro de seu Augusto.

– Calma aí, meninas! Antes de amanhecer nós já estaremos de volta!

Luísa cruzou os braços.

– "Calma aí?" "Calma aí?" Pedro, caso você ainda não tenha se dado conta do que está fazendo, eu te explico: você e Roberto roubaram a chave do carro do seu avô. Depois, bateram na porta do nosso quarto, acordando Lúcia e eu. Em seguida, pegaram um monte de tralhas, inclusive estas barracas de camping ridícula, enfiou no bagageiro e agora quer nos forçar a subir em uma serra onde três fulanos desapareceram há pouco tempo!

Roberto girou os olhos

– Luísa, nós não estamos forçando ninguém a vir conosco. Aliás, quando nós batemos na porta do quarto e você e Lúcia abriram, explicamos que estávamos indo para a Serra da Jiboia e perguntamos se vocês gostaríam de ir. Portanto, gatinhas, estão aqui porque querem! - disse ele, destacando bem a última frase.

Luísa e Lúcia se entreolharam, torcendo o nariz.

– E então? - indagou pedro, com um sorriso de canto de boca - Vocês vêm ou não?

Luísa arregalou os olhos e sorriu vitoriosa:

– Como vocês vão fazer para chegar em um lugar que nunca foram antes?

Roberto riu.

– Lui, Lui, minha cara Lui. Estamos no século XXI, sabia? O carro de seu Augusto tem um aparelho muito útil chamado GPS.

– É. E depois, eu achei isto aqui. - acrescentou Pedro, sacudindo um papel no nariz das meninas.

– O que é isto? - quis saber Lúcia, pegando o papel e o desdobrando - Mapa de Santa Terezinha?

– Isso mesmo, querida. - confirmou o rapaz - Achei esta maravilha na gaveta da escrivaninha do escritório do vovô. E é este pontinho aqui que representa a serra. - concluiu ele, apontando para o ponto do mapa.

– Pedro, você roubou a chave de um carro. Isto dá cadeia, sabia?

– Novidade. - disse Pedro, olhando para o céu - E depois, não estamos precisando que ninguém nos fale sobre leis aqui, entendeu, futura promotora. O que eu e Rober queremos é apenas a resposta de vocês: vão ou não vão?

Luísa soltou um muxoxo e de braços cruzados, arrastou-se até a porta traseira do carro, dizendo:

– Eu vou. Mesmo porque se algo acontecer com vocês lá em cima, eu vou ficar com a consciência pesada por não ter ido...

Roberto e Pedro se olharam e estamparam sorrisos cínicos. A quem Luísa estava tentando enganar?

– Eu também vou. - falou Lúcia, entrando no carro - Afinal de contas, não vou deixar Luísa sozinha com dois loucos como vocês dois.

"Falou a mãe do grupo", sussurrou Roberto. Na verdade, o rapaz tinha razão: Lúcia era a mais racional deles e muitas vezes cuidava dos três como se fosse uma mãe.

– Ótimo! - exclamou Pedro - Então, vamos lá, Roberto!

Pedro sentou-se ao volante e Roberto no banco do carona, ao seu lado. No banco de trás, as meninas colocaram o cinto de segurança. Pedro girou a chave na ingnição e soltou o pé da embreagem lentamente. O carro começou a andar.

Ao se aproximar da porteira, Pedro parou o veículo. Roberto desceu e a abriu. Depois, voltou para o carro e os quatro amigos deram continuidade a viagem.

Eram 22:00 da noite e todos na fazenda dormiam, inclusive seu Augusto. Portanto, ninguém desconfiava da aventura que os quatro jovens estavam embarcando.

Dentro do veículo, o clima era descontraído. Lúcia estava menos tensa e conversava com os amigos. Porém, Luísa ainda reclamava:

– Quero só ver quando amanhã cedo seu Augusto levantar e perceber que não estamos em casa.

Pedro passou a mão pelo rosto.

– Isto não vai acontecer, Luísa. - disse, impaciente - Nós regressaremos de madrugada.

A garota não se deu por satisfeita.

– Seu Augusto vai se arrepender amargamente de ter ensinado um irresponsável como você a dirigir tão cedo e...

Roberto pôs as mãos nos ouvidos.

– Céus! Isto não é uma garota! É uma gralha!

Pedro parou o carro e virou para trás. Sua expressão era impaciente.

– É o seguinte, Luísa: nós não te obrigamos a vir conosco. Se está arrependida, pode descer do carro e ir andando, pois a fazenda não está tão longe. Mas se decidir ficar, faça o favor de ficar quietinha e curtir a paisagem, porque nós não somos obrigados a ouvir suas reclamações o caminho inteiro, certo?

Luísa bufou, girou os olhos e cruzou os braços, mas nada respondeu.

– Acho que você pode continuar a dirigir, Peu. A Senhorita Reclamona aí não vai falar mais nada. - disse Roberto.

Pedro colocou as mãos no volante e ligou o carro novamente. Irritada, Luísa resolveu seguir o conselho que Pedro lhe dera e grudou os olhos na janela do veículo, observando a paisagem que passava diante de seus olhos. Era um belíssimo espetáculo! Todas as serras e todos os morros formavam apenas silhuetas negras, distantes dela. Silhuetas negras que eram iluminadas apenas pelo clarão da lua cheia. O silêncio predominava na estradinha estreita e empoeirada. Aquelas silhuetas negras, as cercas que demarcavam as propriedades, a lua cheia, a escuridão que era dissipada quando os faróis xenon iluminavam aquele que parecia até mesmo ser o fim da estrada, tudo dava um ar belo, pacífico, mas ao mesmo tempo medonho nos lugares por onde o carro passava. Luísa sentiu um pouco de medo e não era para menos: parecia que as lendas mais assustadoras e mais antigas despertariam em questão de segundos.

Roberto não gostava de calma e silêncio. Para o rapaz, quanto mais barulho, melhor. Por isso, começou a cantar músicas animadas, sendo acompanhado por Lúcia e até mesmo por Luísa. Depois, empolgado, começou a contar piadas um tanto obscenas. Pedro, que estava concentrado no que fazia, sentiu-se obrigado a chamar a atenção do amigo:

– Roberto! Essas não são coisas que se digam para duas damas!

Para a surpresa de todos, inclusive do próprio Roberto, Luísa disse:

– Ah, Pedro! Por favor! São apenas piadas! E depois, você está aí, querendo dar uma de cavalheiro, mas eu sei muito bem que está louco para participar!

De início, o rapaz ficou sério, mas depois, envolveu-se na brincadeira dos amigos.

Quando os jovens perceberam, estavam em uma espécie de vilarejo.

– Que lugar é este, meninos? - quis saber Lúcia.

Roberto consultou o mapa.

– Pedra Branca. Parece ser legal aqui, não é?

– Sim. - concordaram os outros, encantados com o charme das casas.

– Estamos chegando? - quis saber Luísa.

Pedro riu.

– Quase.

Roberto acrescentou:

– É, garotas, falta pouco. A Serra da Jiboia é perto daqui.

Os quatro sentiram um friozinho na barriga, mas nenhum deles saberia explicar se aquilo era medo ou ansiedade. A partir daquele momento, não demorou muito tempo até que eles chegassem ao pé da serra. O carro começou a subir rapidamente, mas Pedro logo diminuiu a velocidade, ao perceber o perigo em que poderia colocar a si mesmo e aos amigos se acelerasse o veículo: o local era escuro e a estrada, estreita. A visibilidade ficava pior a cada vez que avançavam, pois os galhos das árvores da mata que cercava a ladeira da serra entrelaçavam-se de tal maneira que a lua mal conseguia iluminar o caminho. Luísa sentiu um pavor tomar conta de si.

– Gente... - sussurrou ela - Não estou querendo ser chata outra vez, mas eu quero voltar.

– Não dá, Luí. - respondeu Pedro, com voz ligeiramente nervosa e amedrontada - O caminho da serra é estreito e se eu tentar fazer um retorno ou dar ré, estarei sentenciando todos nós a morte.

Pedro tinha razão. O risco do carro capotar e cair de lá de cima era grande.

A tensão tomou conta dos jovens. Pedro aumentou a luz dos faróis e dirigia com o máximo de cautela. Temendo que o amigo cochilasse, Roberto começou a conversar com ele. Lúcia e Luísa não diziam nada; apenas fixavam seus olhos na escuridão.

O alívio veio quando o carro invadiu o pico da serra. Para a surpresa geral do quarteto, lá havia postes de luz, três torres de transmissão e uma casa que parecia ser usada para guardar máquinas e geradores.

– Mas o que é isto? - quis saber Lúcia.

Pedro estacionou o carro cautelosamente e eles desceram do veículo.

– Não sei. - respondeu o rapaz - Parece que faz parte de uma rede de telefonia... Transmissão de sinal, entende? - Lúcia, Luísa e Roberto abanaram a cabeça. Pedro continuou: - Bem, não importa. Vamos nos aproximar um poco mais da beirada serra para admirar a paisagem?

Os amigos se abraçaram e ficaram a observar as cidades e as casas que vistas daquela altura e daquela distância pareciam miniaturas.

– Que legal! - exclamou Lúcia, fechando o casaco.

– É! - concordou Luísa, extasiada - Dá para ver o mundo daqui de cima!

– Não exagere. - advertiu Roberto. Ninguém conseguiu segurar o riso.

– É pessoal - disse Pedro - É tudo muito bonito sim, mas precisamos arrumar o acampamento. Mesmo que haja luz aqui, precisamos fazer uma fogueira para nos aquecer. Se é que o fogo vai vingar com esta ventania. - concluiu, com um sussurro.

Os amigos concordaram com a ideia do rapaz.

– Vamos fazer o seguinte: vamos nos dividir em duplas. Eu e Roberto podemos ir até a mata pegar alguns gravetos para armar a fogueira e Lúcia e Luísa podem ficar aqui, cuidando do acampamento.

– NÃO! - gritou luísa, fazendo sua voz ecoar pela noite escura. Todos olharam para ela, assustados.

A jovem ficou desconcertada.

– Eh... Não... Podem ficar e armar as barracas, meninos... Eu e Lúcia vamos recolher os gravetos, certo?

– Então tudo bem. - disse Roberto, franzindo o cenho.

– Mas Luí... - resmungou Lúcia, dando início a um protesto, mas Luísa a olhou de uma forma tão dura que ela calou-se.

– Vamos lá, Lu. - disse ela, arrastando a outra consigo.

As meninas desceram um pouco a serra e entraram na mata de lanterna em punho.

– Não vamos nos embrenhar muito na mata, certo? - avisou Luísa.

Lúcia concordou e fez a pergunta que não lhe saíra da mente desde que elas saíram do pico da serra.

– Por que você reagiu daquela maneira quando Pedro falou em vir procurar gravetos com Roberto, Luí?

Luísa girou os olhos.

– Até parece que você não conhece aqueles dois! Como você mesma disse quando ainda estávamos lá na fazenda, Rober e Peu são loucos. Se a curiosidade resolvesse atingir aquelas cabeças de vento e eles fossem entrando cada vez mais nesta mata que nós nem sabemos onde termina, aí sim, a confusão estava formada e ia haver mais um caso de desaparecimento na Serra da Jiboia. Por isso, resolvi pedir para vir contigo. Nós somos mais responsáveis.

– Mas precisava fazer aquele escândalo?

– Ai, Lúcia! Fala menos e trabalha mais!

Quando as meninas terminaram de recolher os gravetos e voltaram para o pico, Pedro e Roberto já haviam montado o acampamento. Os dois ergueram duas barracas de camping, uma que seria das meninas e outra que seria deles. Lúcia e Luísa despejaram os gravetos e as pedras no chão, e com a ajuda dos amigos, fizeram a fogueira. Logo em seguida, sentaram-se ao redor dela e começaram a conversar.

– Nossa, que frio! - disse Luísa, fechando o casaco e encolhendo-se.

Roberto sorriu e disse, galanteador:

– Se quiser, posso te aquecer, minha gatinha!

Luísa olhou o outro com uma expressão enfezada.

– Olha aqui, Roberto! Eu não sou sua e nem pretendo ser!

Roberto continuou com o mesmo sorriso galante estampado no rosto.

– Não é, mas já foi...

– É, mas ainda bem que deixei de namorar um irresponsável, machista e paquerador barat...

– Chega! - exclamou Pedro - Acalmem-se por favor! E quanto a você, Rober, chega de piadinhas!

Lúcia sacudiu a cabeça, aprovando a atitude do amigo. Luísa tentou esquecer a briga com a seguinte pergunta:

– E então, Peu? Conte mais sobre aquele caso!

– Que caso?

– Aquele caso. Os jovens, que desapareceram aqui na serra...

– Ah... - gemeu Pedro, pensativo - Olha, o caso não teve muita repercussão, não. Aconteceu há alguns meses atrás. Dizem que três jovens com idade entre 13 e 18 anos vieram acampar aqui. Eles estavam em Santa Terezinha a passeio. Passaram-se dois dias, e os garotos não regressaram. Ciente de que eles só passariam uma noite aqui em cima, a dona da pousada na qual eles estavam hospedados acionou a polícia. Os policiais organizaram então uma busca. Quando aqui chegaram, porém, acharam apenas o carro deles, um Eco Sport preto, as barracas de camping, e os restos de uma fogueira. Mas nem sinal dos três. Dois meses depois de operações frustradas, a polícia resolveu dar por encerradas as investigações.

– Isso é muito estranho. - falou Roberto, pensativo.

– Mais do que esranho. - concordou Lúcia.

– E eu espero que não estejamos em uma fria agora. - disse Luísa, apertando os lábios.

Uma vento muito forte e frio soprou neste momento, fazendo com que a fogueira se apagasse.


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