Na manhã de domingo o sol ainda começava a apontar no horizonte mas eu já estava de pé, sai de casa em silencio para não acordar meus tios que ainda dormiam, caminhei pelo quintal até chegar a cerca que separava nossa propriedade da dos Betone, parei ao pé da cerca olhando a residência á alguns metros, após um suspiro me decidi, iria falar com Victor só mas uma vez, pulei a cerca de forma desajeitada mas tinha medo que se fosse pelo portão da frente alguém me visse, me aproximei da casa que estava quieta aparentemente todos ainda dormiam, olhei para as janelas do segundo andar tentando localizar a de Victor e depois de acha-la atirei sobre ela um pedacinho de madeira que fez um leve estalido ao atingi-la, já estava procurando outra coisa para arremessar crente que ninguém escutaria aquilo mas Victor abriu a janela e ficou aparentemente surpreso mas sorrio quando me viu lá em baixo, fiz um sinal para que ele descesse e foi exatamente oque fez, saio pala janela pisando no telhado da varanda antes de pular do mesmo diretamente ao chão, ele endireitou a postura após a aterrisagem e deu alguns passos até mim que ainda permanecia um pouco surpresa por ele ter pulado tão facilmente do telhado da varanda que tinha mais de dois metros.

___Oque faz aqui achei que provavelmente não a veria mais. Perguntou agora com uma expressão um tanto temorosa e triste.

___Vim porque preciso falar com você, mas tem que me prometer que vai responder tudo que eu perguntar. Disse me sentindo completamente louca por estar ali depois de tudo. Victor pensou por um segundo antes de assentir.

___Vamos conversar em outro lugar aqui podem nos ver. Disse segurando seu braço e puxando o para longe da casa e pude notar que ele se surpreendeu por eu toca-lo sem demonstrar nem um tipo de hesitação ou medo, nos sentamos no chão ao pé de uma arvore afastada da casa.

Ele me lançava alguns olhares curiosos enquanto eu pensava por onde começaria as perguntas e me preparava psicologicamente para as respostas, após um suspiro comecei.

___Aquele fogo que apareceu na noite que você foi falar comigo foi você que criou?...Perguntei e ele assentiu com a cabeça sem olhar para mim, respirei fundo tentando me manter calma então continuei ___...como é possível você fazer aquilo? Perguntei sentindo a apreensão crescer dentro de mim a cada segundo, Victor pensou por alguns segundo antes de me responder

___ Eu não sei bem até os seis anos acho que era normal mas depois disso as coisas mudaram percebi que era mais forte que as crianças da minha idade e que quando ficava com raiva ou se me concentrasse podia criar fogo no inicio achei legal afinal oque uma criança sabe...Deu um sorriso tristonho e após pensar um pouco seus olhos se encheram de lagrimas mas ele continuou___...minha mãe ficou com medo de mim quando descobriu e por isso me abandonou com meu pai, mas com o tempo isso se tornou cada vez mais difícil de se controlar, toda vez que ficava irritado, eu não conseguia me conter, eu sempre acabava perdendo o controle em publico, e tínhamos que nos mudar para que isso não chamasse atenção para mim...Ele se interrompeu por um segundo, e pude ver que ele tremia um pouco, e tentava controlar sua respiração___...quanto mais o tempo passa mais difícil fica de manter o controle cada sentimento, cada emoção eu tento conter, eu me sinto exausto como se tivesse corrido uma maratona mas mesmo assim muitas vezes isso não é o suficiente. Ficou em silencio por cerca de um minuto apoiando a cabeça sobre os joelhos flexionados aparentemente cansado e eu só conseguia permanecer ali parada olhando para ale sem ação, até que ele se alinhou e começou a falar novamente.

___Há alguns meses em um dos meus rompantes eu machuquei uma pessoa.... Pude ver que ele começara a chorar __...foi um acidente. Balbucio por fim colocando as mãos sobre o rosto, com a respiração ofegante.

___Seu amigo? Perguntei e ele assentiu com a cabeça ainda com as mãos no rosto. Apesar dele estar me confirmando que podia criar fogo e que havia machucado um amigo assim como o senhor Betone havia me dito, não conseguia ver Victor como um monstro podia ver em sua expressão e tom de voz que ele se arrependia muito de ter feito algo assim, eu quase conseguia sentir sua dor e desespero, um monstro não demonstraria esses sentimentos, a voz e as atitudes de Victor em sua maioria eram tão doces que eu não conseguia ter medo dele nem considera-lo perigoso a mim. Ele tremia cada vez mais, estiquei o braço para tocar em seu ombro mas antes que pudesse alcança-lo ele olhou para mim com a expressão que eu já reconhecia como a de quando ele estava perdendo o controle

___É melhor você ir. Disse entre dentes, sabia que ele devia estar se esforçando para manter o controle, e sabia também que o mais sensato era sair dali o mais rápido possível mas a sensatez já havia me abandonado a um bom tempo então estique meu braço e segurei a sua mão ignorando a ardência que senti ao faze-lo devido a temperatura em que ela estava e comecei

___ Vai ficar tudo bem eu não vou sair do seu lado. Disse cobrindo com minha outra mão a sua que eu já segurava e que tremia quase que convulsivamente, senti meu coração bater acelerado enquanto encarrava seus olhos vidrados, com meus músculos rígidos como que prontos para o pior mas nada aconteceu aos poucos seus olhos foram se focando e o tremor foi se diminuindo quando seus olhos voltaram ao normal ele olhou para meu rosto aparentemente surpreso.

___Eu ouvi você, como no dia da briga, como na noite em sua casa eu ouvi...Se interrompeu parecendo confuso.

___Eu falei com você por isso você me ouviu. Expliquei

___Não você não intende quando eu perco o controle, eu fico numa espécie de torpor nada que me digam ou façam surte efeito, mas eu ouvi você entende oque isso significa? Perguntou com um sorriso, mas eu não fazia ideia do que ele estava falando.

___Eu não sei do que você esta falando. Disse dando de ombros

___A gente pode ficar junto... Exclamou animado mas corou depois de perceber oque havia dito e tentou explicar___...quer dizer eu posso ficar perto de você e se alguma coisa acontecer você pode me parar antes que eu perca o controle. Concluiu olhando para o chão e passando a mão sobre o cabelo aparentemente envergonhado. Eu me levantei do chão onde estava sentada e Victor fez o mesmo olhando então para mim, eu não sabia se realmente seria capaz impedi-lo de perder o controle mas se isso fosse verdade poderia ajuda-lo e ele até mesmo poderia voltar para o colégio.

___Se você não quiser tudo bem, oque eu estava pensando ao pedir isso. Disse tristonho perante minha falta de resposta.

Eu não estava certa de nada, mas queria ajudar Victor.

___Eu vou ajudar você. Disse e ele me olhou com olhos arregalados.

____Serio espere até eu contar para Hugo e para meus pais. Disse ainda um tanto surpreso por eu ter aceito.

___Eu acho melhor você não falar com eles sobre nossa conversa. Disse, não confiava em Hugo nem no senhor Betone sentia que havia algo de estranho por de traz de suas ações.

___Se você acha melhor tudo bem... Concordou um tanto confuso_... mas muito obrigado mesmo por aceitar me ajudar apesar de tudo, a maioria das pessoas ficaria com medo. Disse olhando para o chão e novamente com o tom tristonho. Me aproximei dele e pus a mão sobre seu rosto fazendo o olhar para mim e disse.

___Eu não sou como a maioria. Afinal de contas eu não era mesmo, não que isso fosse lá uma coisa muito boa, depois que eu disse isso ele sorrio e me olhou de uma forma estranha e senti meu rosto esquentar quando ele o fez.

___É melhor eu ir antes que meus tios acordem e percebam que não estou em casa. Disse tirando rapidamente a mão do seu rosto me sentindo meio esquisita, e me virei indo em direção a cerca, mas depois de dar alguns passos olhei para traz e Victor ainda permanecia em pé próximo a arvore olhando para mim.

___A proposito eu adorei o desenho você tem muito talento. Disse depois me virei e sai correndo em direção à cerca, mas tive a impressão de ouvi-lo dizer “espero poder fazer muitos mais para você”, mas acho que só imaginei isso.

Entrei em casa e meus tios ainda estavam dormindo voltei para meu quarto contente por ter falado com Victor, mas uma coisa ainda me intrigava ninguém desenvolvia as habilidades que Victor tinha do nada, teria acontecido alguma coisa com ele? Ou será que ele herdou isso de alguém, de sua mãe era pouco provável, pois ela tinha medo dele, por ele ser assim então seria possível o senhor Betone e até mesmo Hugo serem como Victor?