Querido Diário Otaku escrita por Panda Chan


Capítulo 49
Capítulo Bônus: There goes my hero - Adeus, Lucca


Notas iniciais do capítulo

Hey galera,
Lembra-se que eu disse que o capítulo que mais me emocionei foi o diário do Andy? Pois é, estava enganada :c
Obrigada por favoritarem Lucy Moritz, Ellin Narusaku e Vengeance.
Ah, detalhe inutil do século, essa semana a autora Jamie Mcguire (autora de Belo Desastre que eu recomendei pra vocês) veio pro Brasil e eu fui vê-la *U* Estou besta até agora porque ela me chamou de fofa e disse que sou muito talentosa (aun, aun aun aun orgasmos aqui KAOKSOAKODSAOK)
Caso tenha alguém que goste da tia Jamie e não tenha ido, olha que foto diva : http://instagram.com/p/g9HTRQGbDY/
AUTOGRAFOS MUAHAHAHAHHA
O nome do capítulo vem da música My Hero do Foo Fighters, mas eu escrevi ouvindo Therapy do All Time Low, caso queiram ouvir alguma música enquanto lêem essas são minhas recomendações.
Boa leitura
PS: ESSE NÃO É O CAPÍTULO FINAL



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Biiip Biiiip Biiip

Lentamente abri um olho e logo o fechei me sentindo incomodada pela forte luz acima de meu rosto.

Biiip Biiip Biiiip

De onde vem esse barulho?

Biiip Biip Biiip

– Olá Biiip-chan – disse.

Minha voz soava rouca e cansada como se não falasse nada há muito tempo.

Biiip Biiip Biiip

– Ela disse algo? – perguntou uma voz que não reconheci.

– É possível. O efeito dos sedativos já está acabando.

Biip Biiiip Biiip

– Devemos chamar alguém da família?

– Sim, chame o Doutor Way.

Fiz um esforço e abri novamente os olhos, dessa vez a luz incomodou um pouco menos e me senti grata por isso. Olhei ao redor procurando sinais de onde estava mas isso doía muito.

– É melhor ficar parada mocinha, seu corpo ainda está muito dolorido.

– Onde estou? – minha voz se parecia mais com um sussurro de tão baixa e rouca.

– No Hospital Way, vou ajudá-la a se sentar.

Um homem loiro entrou em meu campo de visão, ele aparentava ter uns quarenta anos, estava vestido inteiramente de branco e tinha uma prancheta na mão.

O homem começou a apertar alguns botões em um pequeno controle e senti que estava sendo levantada na cama, quando será que me trouxeram pra cá?

– O que aconteceu? – um turbilhão de lembranças vieram a minha mente de uma única vez.

Lucca caindo, o sangue. Jessie caindo, o sangue. Andrew me segurando, o azul.

‘ Tudo vai ficar bem’ disse a paramédica, mas depois dessas lembranças nada, definitivamente, estava bem.

Meu pai apareceu junto com minha mãe, ela estava tentando sorrir mas estava pálida e com os olhos vermelhos de tanto chorar. Meu pai não estava muito diferente dela.

– Liz – Dona Mãe correu e me abraçou, tenho certeza que o médico estava quase surtando vendo essa cena – Desculpe, te machuquei?

– Não, tudo bem – sorri.

– Fiquei tão preocupada com você querida – lágrimas escorriam por seu rosto marcando um caminho confuso na maquiagem que usou para esconder imperfeições, mesmo sem maquiagem minha mãe usa maquiagem – Lucca se foi e depois disso você ficou desmaiada por dois dias eu nunca senti tanto medo e – ela continuou com um belo e emocionante discurso sobre como sentiu medo pensando que iria me perder e blá blá blá. Não ouvi muito.

Tudo que queria saber já estava respondido. Lucca realmente morreu e a culpa é minha.

A culpa é sua Jullie.

Eu fiquei dormindo por dois dias e ele morreu.

Ele morreu há dois dias, o enterro já ocorreu?

Jessie foi presa?

Jullie assassina. Jullie assassina.

Devo ter ficado fora do ar por um grande tempo porque quando voltei a mim notei que a Dona Mãe estava enxugando as lagrimas e dizendo que está tentando ser forte. Eu a abracei e depois beijei seu rosto.

– Eu te amo, mãe.

– Eu também te amo, Liz.

Nosso momento fofo foi interrompido por meu pai que , aparentemente, estava terminando de ler algum relatório sobre minha saúde e queria compartilhar as boas noticias.

– Jullie estou tão feliz que você está recuperada – ele parecia mais cansado que eu me lembro de ter visto antes, sua voz estava um pouco arrastada e seus olhos bem marcados pela falta de sono – Não sei o que eu e sua mãe faríamos se ... – ‘Se perdêssemos você também’, provavelmente é isso que ele iria dizer, mas se segurou. A morte de Lucca é recente – Estou feliz e aliviado que você está aqui.

– Estou feliz por estar aqui – menti.

Na verdade estou infeliz por estar nesse quarto de hospital enquanto meu irmão pode estar enterrado. Estou infeliz por ter ficado fora do ar por dois dias e não ter ajudado minha mãe a lidar com a morte dele no momento em que ela estava mais recente. Estou infeliz por não estar vendo Andy aqui. Estou infeliz por ter perdido o enterro dele.

Estou infeliz por estar infeliz e isso está me matando.

Sem que percebesse comecei a chorar, depois meu pai fez o inesperado e me abraçou. Ficamos assim pelo que pareceram séculos até que o celular dele apitou, indicando uma mensagem.

– Elise, se for avisá-la deve fazer isso agora.

Minha mãe mordeu o lábio o que significa que ela está nervosa.

– O que foi mamãe?

– Querida, como você foi seqüestrada e a policia já estava envolvida – ela suspirou – Mesmo com testemunhas e a confissão de Jessie o corpo de Lucca ficou na pericia para saber se foi realmente isso.

– Mas por que? A palavra de Jessie não é o bastante?

– Jessie não está saudável psicologicamente, eles tinham que confirmar se foi mesmo o que ela disse. O corpo dele foi liberado essa madrugada então o enterro será em algumas poucas horas.

Foi como se uma lâmpada de repente começasse a brilhar sobre minha cabeça como nos desenhos animados.

– Mãe eu tenho que ir – disse decidida – Preciso me despedir do Lucca ou não vou conseguir conviver comigo mesma.

Dona mãe olhou para o meu pai e eles tiveram uma pequena discussão de olhares da qual eu não participei. No fim ela ganhou porque ele balançou a cabeça e chamou uma enfermeira.

Algumas horas mais tarde eu estava sendo vestida pela Dona Mãe, ela tinha cuidado ao passar o vestido preto por meus braços. Esse vestido não é uma herança do tempo que eu ia á festas, ele é mais antigo que isso. É simples, todo preto de alça fina e sem decote.

Depois de me vestir ela passou um pouco de maquiagem pra esconder os hematomas em meu rosto e me deixar menos pálida, o que é quase impossível.

– Você está bela querida – sorriu.

Estou bela, não divando ou supimpando, estou apenas bela.

– Vamos logo mamãe, não quero me atrasar pra despedida do meu irmão.

–x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-

Quando chegamos ao cemitério tive certeza que devia ter seguido aquele impulso que sempre sinto ao abrir os olhos de voltar a dormir e fingir que nunca acordei.

Cemitérios nunca foram lugares muito frequentados por mim, mesmo tendo uma grande família acho que nunca vi um número grande o suficiente de parentes morrendo pra conseguir me lembrar de como esse lugar é depressivo.

O velório seria numa grande sala na capela do lugar, os “convidados” variavam entre pessoas da escola e amigos de Lucca que moravam em outras cidades, reconheci até algumas das garotas com quem ele dormia uma noite e dispensava depois.

Minha família e eu nos sentamos nos primeiros bancos diante de um padre que se preparava para mais um dia de despedidas, os outros convidados se sentaram apressadamente com seus trajes pretos e seus rostos cansados.

Como podem?, gritava em minha mente, Como podem estar assim se não o viam há semanas? Como podem sentir falta dele se mal o conheciam?

Cerrei os dentes esperando que minha raiva sem motivo passasse. Todos queriam dizer adeus, assim como eu.

Não vou descrever de forma detalhada a cerimônia, apenas digo que se Lucca estivesse vivo para vê-la (coisa que não estaria porque daí não teríamos cerimônia, mas enfim) se levantaria e fugiria, quando alguém perguntasse porque ele teria feito isso apenas iria sorrir e dizer ‘ Não nasci com paciência pra grandes perdas de tempo’.

Pois é Lucca, se esse fosse o velório de qualquer outra pessoa acho que pensaria a mesma coisa.

Alguns familiares fizeram sua última homenagem, primeiro foi o meu pai que falou como Lucca era um garoto promissor e que essa era uma grande perda para toda família. Direto e rápido, como sempre, meu pai nunca muda.

Minha mãe subiu logo em seguida e falou de pequenas lembranças, de coisas que até mesmo eu já havia esquecido, falou de como Lucca adorava grudar massinha de modelar nas paredes do quarto e de como ela ficava louca sempre que o via tentando pintar meu cabelo com tinta guache.

Meu pai se aproximou de mim enquanto ela contava sobre a máfia dos bolinhos que Lucca fazia, sempre que eu ficava de castigo sem bolinhos ele roubava alguns e levava escondido pra mim.

– Sei que é em cima da hora, mas acho que você devia falar algo.

Olhei pra ele e pela primeira vez consegui enxergar além de sua armadura de médico sério e sem sentimentos, ele estava acabado por dentro. Destroçado, abalado, inseguro e com medo. Quase chorei.

– Claro – respondi.

Quando Dona Mãe não conseguiu mais segurar as lágrimas e foi quase arrastada por meus primos distantes eu fui até a frente de todos.

Olhando de lá os rostos cansados e tristes pareciam ainda piores, respirei fundo me preparando psicologicamente para falar por todos os dias em que fiquei calada e desacordada na cama do hospital.

Quando senti que podia falar algo olhei para o rosto pálido e sem vida de Lucca, as pálpebras cobriam seus belos olhos que pareciam sempre brilhar, sua boca não estava formando um sorriso para seduzir e seus belos e macios cabelos pareciam sem brilho como se a estrela que ele viu antes de morrer tivesse roubado o brilho deles.

Respirei fundo.

– Lucca foi incrível, o irmão ideal. Ele sempre me protegeu e me ajudou, mesmo quando mal falava comigo, Lucca me protegia. Lucca nunca me esqueceu.

Não era isso que eu queria dizer, não era isso que eu devia dizer. Respirei fundo mais uma vez e forcei minha garganta pra melhorar a voz.

– Uma vez Lucca me disse que as pessoas precisam ser lembradas, eu devia ter 9 anos e ele 10, mas isso sempre ficou na minha cabeça. Ser lembrada? Como isso acontece? Não sei como, mas Lucca conseguiu isso. Ele não foi a paixonite de ninguém nem o garoto narcisista, mesmo que não parecesse Lucca se importava com todos ao seu redor. Lembro de quando estava tentando aprender a andar de bicicleta e ele reclamava por ter que me segurar – sequei algumas lágrimas que começaram a cair – Lucca me ensinou que a felicidade está nessas pequenas coisas, nesses pequenos momentos que ignoramos sem perceber, porquê no final, quando você está infeliz e solitário chorando em algum lugar, são esses momentos que te salvam, tudo o que você tem são eles. Ele me ensinou isso quando roubou bolinhos pra mim, quando pintou meu cabelo com tinta guache vermelha e quando arrancou a cabeça da minha boneca pra usar como munição contra um garoto que ele não gostava na escola. Lucca, você foi mais do que um irmão, você foi um herói pra mim e eu sinto que agora devo te dizer adeus, mas eu não quero me despedir – minha voz ficou mais aguda e desesperada – Não tenho o infinito para compartilhar com você, mas gostaria de ter só para não me despedir! Por que você me salvou? Por que? – limpei o rosto e ri amargamente – Acho que finalmente entendo porquê as pessoas nos filmes sempre sofrem com as mortes dos outros, porque procuram uma explicação para isso. ‘ Por que ela jogou aquele carro no penhasco?’, ‘Por que ele deu um tiro na sua cabeça?’, ‘Por que ela tomou os remédios em excesso?’. Tudo que consigo pensar é porque você e salvou. Queria ser um herói? Fez sem querer? – balancei a cabeça – Acho que nunca saberei, tudo que sei é que não tenho tempo suficiente para dizer tudo que quero dizer, que não tenho tempo suficiente para tentar te entender e que nunca terei. Eu te amo Lucca, sempre amei e sempre vou amar porque além de meu irmão você é meu herói. Nem todos os porquês do mundo conseguem explicar a nossa relação, mas apenas um já basta pra mim: porque o amor é algo estranho que nos faz fazer coisas inesperadas. Adeus Lucca, você sempre será meu herói, meu cavaleiro branco.

Todos os se levantaram e aplaudiram enquanto eu ia para o lado dos meus pais que choravam e me abraçavam. Mais palavras foram ditas, mais lembranças compartilhadas e mais pessoas choraram, mas eu nem prestei atenção, tudo que conseguia pensar era se tinha dito as coisas certas.

Enquanto jogava um punhado de terra e uma rosa branca sobre o caixão que já estava posto em sua cova só conseguia pensar se me despedi de forma apropriada, se meu adeus foi algo no nível do que ele merecia.

Não sei se falei o que era apropriado ou se só compartilhei minhas baboseiras, mas sinto que foi o certo.

Quando todos começaram a ir embora li a lápide dele.

“ Lucca Daniel Way

Um filho. Um irmão. Um herói”

Daqui há dez anos alguém vai passar por aqui, vai ler isso e pensar em como Lucca não deve ter sido incrível.

Minha mãe me abraçou e disse que precisávamos voltar para o hospital, que eu não devia ter saído e que meu pai iria depois. Eu a segui sem me importar em olhar melhor ao meu redor, entrei no carro e fechei os olhos pensando na estrela que Lucca viu e em todos os bons momentos que tivemos juntos.

Se não estivesse tão mal talvez eu tivesse notado meu pai e Andy conversando um pouco mais afastados, talvez tivesse percebido os gritos e talvez não tivesse culpado Andy por se afastar de mim. Meu pai afastou Andy de mim naquele dia e eu só descobri isso muito tempo depois.

Porque o amor nos faz fazer coisas inesperadas como, por exemplo, ir ao enterro do irmão/primo da garota que você ama só para observá-la de longe e agüentar todas as palavras ruins que o pai dela pode te dizer, porque você a ama e só isso importa.

Só o amor importa ás vezes.

É por isso que pessoas morrem.


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Notas finais do capítulo

Só pra lembrar: Vocês que pediram um capítulo sobre o enterro.
Obs: Eu vim aqui postar esse capítulo algumas vezes e o site sempre estava fora do ar T_T
Beijos cupcakes masoquistas azuis