Bifurcados - O Apocalipse Zumbi escrita por Cadu


Capítulo 15
Gotas Bajuladoras


Notas iniciais do capítulo

Eu aqui denovo! Postando mais um agora já que esse final de semana estarei viajando. Espero que gostem desse capítulo.
Nesse recomendo ouvir "Feist - How Come You Never Go There"
http://www.kboing.com.br/radio-show/playlists/1847828/760373/



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Bifurcados - O Apocalipse Zumbi

Capítulo treze - Gotas Bajuladoras

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A ferida aberta na panturrilha de Clarissa, antes aberta e embebida de sangue, agora se fechava rapidamente com a junção de células frescas. Ela ainda estava dormindo, afundada no travesseiro velho da cama. Seminua, cabelos emaranhados semelhantes a ondas negras do mar e seios latejantes com a respiração calma.

Heitor fazia o curativo lentamente para não acordar a menina, já que a chuva fazia o barulho suficiente para acordar qualquer um. Enquanto estancava o machucado com gazes e fita pensou em Leila. Ainda não havia voltado para casa e mesmo com sua personalidade forte sentiu vontade de descobrir onde a dona da casa estava. A preocupação batia em seu estômago deixando todos seus pensamentos mais pesados.

Os olhos entre abertos de Clarissa conseguem claramente fitar a silhueta mexendo em sua panturrilha.

— Bom dia Heitor... — ela diz sonolenta.

— Bom dia. Dormiu bem? — Heitor riu de lado fechando o curativo com um pedaço fita.

— Dormi. — após uma pausa, continua — E Leila?

— Não sei, e estou começando a ficar preocupado. A chuva não para, e ela ainda não voltou.

Clarissa cala-se e mexe a perna machucada com dificuldade.

— Acho que está melhorando. Não está tão dolorido...

— Ótimo. Esse é o intuito.

— E uma coisa que me esqueci completamente... — diz Clarissa molhando os lábios carnudos aproximando sua face da de Heitor — E seu corte da garagem? — Ela tenta achar pelo pescoço o machucado e vê o corte ainda entreaberto. A tonalidade da região era mais branca que a normal, mas Heitor parecia não se preocupar com o sangue já seco.

— Já está bem melhor também. — Ele sorri com os olhos e senta-se virado para a janela observando a tremenda chuva que desaba dos céus. Os vidros estavam embaçados, mas conseguia perceber silhuetas no fundo. Árvores, árvores e árvores.

— Precisamos achar Leila. — Heitor diz com certeza levantando-se da cama e vestindo uma camisa preta tirada de sua mochila.

— Mas como você vai com essa chuva? — Indaga.

— Não podemos esperar mais. Já está de manhã, ela saiu ontem de noite. E se aconteceu uma coisa com ela?

Clarissa mordeu o lábio indecisa.

— Você não precisa ir comigo. Sua perna ainda está debilitada, não pode forçar muito. Eu vou sozinho.

— Sozinho Heitor? E os lobos? E os infectados? — Clarissa senta na cama enrolada no lençol branco.

— Vou de qualquer jeito. Você fica na varanda com seu arco. Qualquer coisa, você me ajuda.

Clarissa concordou e vestiu uma roupa enquanto Heitor apanhava suas facas – que permaneciam em cima da mesa. Esperou a menina abrir a porta do quarto e prontamente ajuda-a andar com apenas uma perna. A camisa xadrez deixa toda sua barriga aparecer por causa de um nó na mesma, shorts jeans altos e chinelos. Heitor veste seus tênis e abre a porta de madeira. Nenhum vestígio de nenhum predador ali permanecia. Deu mais dois passos e parou. Ainda nada.

— Se apóia na porta que vou sair correndo. Atira em qualquer coisa que me impedir.

Respirou fundo. Uma, duas, três. Encheu mais uma vez os pulmões e sentiu as gotas de chuva que caiam pelo telhado respingarem em seu rosto.

Antes mesmo de perceber ele já corria. Corria rápido com medo dos lobos.

Quando um deles aparece lentamente com seus olhos sedentos. O observa bravamente. Heitor, em um impulso de adrenalina, corre para a floresta até quando uma flecha acerta bem o olho do lobo. Em seus pensamentos conturbados, Heitor juntou as ideias e entendeu que Leila treinava-os para comer os errantes. Talvez por causa disso que apenas um ou dois conseguiam invadir o vale protegido do caos proporcionado pelo Vírus Zero.

Agora a chuva acalmou-se, mas mesmo assim Heitor estava completamente encharcado. Suas costas doíam e seus olhos eram atrapalhados pelas grossas gotas dos céus.

Andava preocupado. Tentava achar Leila, mas ao mesmo tempo todo o barulho que era escondido por trás da chuva pode ser um grande inimigo.

Um errante sai de trás de uma das árvores. A barba comprida envolvia todo o seu rosto hediondo e seus olhos eram completamente brancos. Sai cambaleando e soltando um grunhido típico de um zumbi. Sua boca abre-se em um segundo e pode-se ver que faltam vários dentes. A faca é enfiada em seu lobo temporal apagando-o na hora.

Heitor continua sua busca pela menina-mulher-lobo. A cada passo achava que tinha visto vultos, mas tudo não passava de mera imaginação.

Um barulho forte de água invadiu seus ouvidos. Era muito mais forte que chuva, então seguiu o ruído das gotas. Após atravessar várias árvores, um espinho de uma das plantas corta a extremidade direita de seu braço de ponta a ponta. O corte não foi muito profundo, mas o mesmo, molhado de sangue, fazia a impressão de um profundo machucado. Estancou lavando com a água da chuva.

O barulho, que agora era possível reconhecer, vinha de um rio que cortava uma grande camada de terra. Ele corria rápido e suas águas estavam tempestuosas levando tudo que viesse pela sua frente.

Olhou em cada extremidade do rio para ver se lá não estava Leila. Após incessantes sete minutos um vulto loiro percorre sua rotina: Era Leila.

Sentando em um galho bambo era rodeada por três lobos. Quando perceberam a presença de Heitor avançaram, mas Leila os impediu soltando um breve grito. Os animais se acalmaram e deitaram ao redor dela ainda rosnando.

— O que está fazendo aqui? Volta para Clarissa! Aposto que ela já deve estar chorando sem você — disse sua voz rouca atrapalhada pelas gotas de chuva grossas.

— Leila! Volta! Pare com isso, saia daí!

— Venha me buscar se quiser que eu volte. Não quero mais voltar para aquela casa com aquela vadiazinha.

Um líquido ácido atravessa a garganta de Heitor raivosamente, mas se segura por um momento. Desce deslizando na terra embebida pela chuva e com dificuldade chega a Leila. Ao seu lado, os lobos babam pelas entranhas de raiva. A mulher continua repreendendo-os e quando Heitor chega próximo ao galho ela agarra sua mão. Sua expressão de satisfação é totalmente visível em sua face. Ela levanta-se e caminha cambaleando pelo longo tronco. Quando resvala, cai no rio violento. Heitor consegue segurá-la pela mão apoiando-se apenas sobre seus pés na terra mole.

Sua adrenalina está a mil. A vida de Leila está em jogo.

— Leila! Não solta!

— Me ajuda! Me puxa Heitor! — ela soltava gritos interrompidos por goles de água. Os lobos estavam enfurecidos e tentavam ajudá-la puxando com seus dentes seus cabelos loiros.

Seus músculos começaram a ceder e seu braço a tremer. Fazia força para ajudar a mulher de personalidade forte a salvar-se. A chuva aumenta e o rio parece a cada momento a evocar suas águas mais profundas. Heitor não aguenta e cede.


A água raivosa a leva para as profundezas. Seus lobos jogam-se juntos.



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Notas finais do capítulo

E ai, gostaram? Posto o próximo com quinze reviews.