A Ovelha e o Porco-espinho escrita por Silver Lady


Capítulo 16
Planos e Surpresas




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Planos e Surpresas

 

 

 Fome. Era a melhor palavra para descrever os acontecimentos seguintes, para definir a ânsia com que se atiraram um ao outro, como se apenas esperassem um sinal. Frustrações, cobranças internas e vazios existenciais foram chutados para longe com o resto do mundo, à espera de quando Bulma e Vegeta voltassem à realidade. Mas, embora nenhum dos dois pensasse conscientemente em nenhuma dessas coisas, elas não haviam sido esquecidas. Estavam infiltradas em cada beijo, cada roçar de seus corpos esculturais, partilhando clandestinamente daquela paz ilusória.

Vegeta, como se poderia esperar, foi um tanto bruto no início, pra não dizer surdo, e houve um momento que Bulma chegou a sentir medo. Surpreendentemente, isso o conteve um pouco, e ele até se dispôs a pacientemente seguir algumas indicações dela. Bulma suspeitava de que ele tivesse medo de machucá-la seriamente -não que ele se importasse, mas poderia ter problemas com isso. No final das contas, valera a pena ele quase ter quebrado seu braço aquela vez!

A primeira vez terminou muito rápido, e nenhum dos dois ficou satisfeito; porém, incrivelmente, não trocaram mais do que algumas rápidas críticas. Nenhum dos dois estava muito disposto a perder tempo com as longas discussões usuais, quando podiam melhorar o que já fora bom e descobrir o que dera errado. Uma das coisas, Vegeta percebeu logo, era que tinha que controlar mais a sua força, se queria que sua parceira e fornecedora de equipamentos continuasse viva. Ela já estava com algumas marcas roxas. Por isso, tentou prestar mais atenção nas indicações dela, embora fingisse má vontade. Afinal, em sua vida anterior não tivera muito tempo para se tornar um grande amante. 

As horas viraram minutos que viraram segundos; a única diferença entre a noite e o dia foi a necessidade de acender a luz -porque não queriam perder nada. Nenhum dos dois jamais soube quando caiu no sono; praticamente desmaiaram ao lado um do outro, suas mentes completamente desligadas de sonhos e pensamentos; e sem dúvida foi o melhor sono que tiveram em muitos meses.

Quando Bulma finalmente emergiu, exausta, do meio das cobertas, descobriu que eram quase 11 horas da manhã. O outro lado da cama estava desocupado e frio. Embora isso não lhe causasse surpresa, sentiu uma dorzinha no coração. O que esperava, censurou-se. Que Vegeta ficasse a seu lado esperando vê-la acordar ou que a despertasse com um beijo?  Se demorara muito a admitir para si mesma que estava apaixonada fora justamente porque não podia esperar amor daquele homem! Dizia isso a si mesma o tempo todo. Mas podia conquistá-lo aos poucos.

Mais animada, vestiu o roupão e chinelos. Vegeta a desejava; não ia se satisfazer apenas com uma noite, não com uma mulher como ela! E também precisava da sua ajuda pra se tornar mais poderoso, portanto ainda ia ficar muito tempo em sua casa. Tempo suficiente, talvez, para domá-lo e deixar seus amigos de boca aberta. Ah, viviam fazendo pouco dela, mas agora iriam ver.  

Ligou o radinho portátil  que estava na cabeceira da cama e colocou-o no bolso do roupão, para lhe fazer companhia enquanto preparava o café. A música de Tina Turner, apesar da letra um pouco pessimista, era agradável, e Bulma atravessou a sala embalada pelo ritmo:

__“What love´s got to do, got to do with this? What´s love, but a second hand emotion?  Who needs a heart when a heart can be br*...AAAAIIII!!!!_ tropeçou num corpo atravessado no tapete.

_Sua idiota cega!_ bronqueou uma voz de baixo dela, ao mesmo tempo que duas mãos a empurravam para o lado _Não olha por onde pisa?

_Ninguém manda você ficar estendido aí no tapete, bem onde eu vou passar! Qual é a sua, gosta de brincar de cadáver de manhã cedo? _estrilou a jovem, enquanto se levantava.

Vegeta ergueu-se também. Estava vestido com roupas de batalha novas e limpas.

_Eu estava fazendo flexões, embora não seja da sua conta. E não é nada cedo. Já faz duas horas que estou acordado._ seu tom de voz deixava bem claro o que achava de pessoas que acordavam tarde.

_Só duas horas? Mas então..._ a cientista contou ostensivamente nos dedos _ você levantou hoje às oito horas, em vez das cinco, como sempre faz. Nooossa, eu sabia que era uma mulher e tanto, mas não a esse ponto! _piscou, maliciosa.

Pena que a roupa de Vegeta só deixava a cara de fora. Bulma poderia apostar que desta vez ele ficara vermelho pelo corpo todo. Passou rindo pelo príncipe que balbuciava alguma coisa sobre vulgaridade e pretensão:

_Espero que tenha deixado alguma coisa na geladeira. É uma pena ser tão tarde, eu gostaria que tivéssemos tomado café na cama juntos. Mas podemos compensar no almoço.


_Eu não vou almoçar com você.

Bulma parou no caminho da cozinha e olhou para ele. É, realmente estava bom demais.

_Ah, desculpe, esqueci que você ainda tem que treinar. O que eu não entendo é : porque está perdendo tempo aqui, se os andróides estão quase na nossa porta?


_Além de burra é infantil! Não consegue pensar sozinha? Se eu ficar muito tempo afastado, podem associar a minha ausência à sua, e aquela sua gente tem a língua solta. Não quero ver minha privacidade na boca de Kakaroto e dos outros inúteis – e, pela sua cara, acho que você também não quer._ sorriu ao ver duas rosetas aparecerem no rosto da mulher.

Bulma nunca fora de se preocupar muito com o que as pessoas pudessem dizer. Mas, ultimamente, as coisas haviam mudado. Ela estava se preparando para ocupar o lugar de seu pai na Presidência da Corporação Cápsula e, para dar certo, precisava do  respeito dos sócios, funcionários e investidores.Mais importante ainda, qual seria a reação de seus amigos se eles soubessem que Bulma havia dormido com o homem que tentara destruir a Terra? Sentiu uma pontada de revolta. Droga, não era da conta de ninguém. Nunca davam mesmo bola pra ela, a não ser quando precisavam de seus inventos; que direito teriam de se meter em sua vida particular? Por outro lado, não sabia no que ia dar sua relação com Vegeta. Deveria arriscar suas amizades por algo que poderia tanto durar vários meses (ou para sempre...) como alguns dias apenas?

 _É... você tem razão._concordou de má vontade, enquanto Vegeta caminhava áté a saída_Ao menos por enquanto é melhor guardar segredo. Mas por que esperou eu acordar só pra me dizer isso?

Vegeta parou na porta da rua- isso é, da campina- e olhou-a por cima do ombro, com um sorriso desagradável:

_Porque, quando eu voltar esta noite, espero encontrar esta casa no mesmo lugar. Ou alguém vai se arrepender muito. _ e saiu. Não sem antes ver, com satisfação, que a deixara boquiaberta.

Quando Bulma finalmente reagiu e mergulhou porta afora, Vegeta já havia desaparecido. A mulher afastou-se da casa e ficou olhando o céu azul, da cor dos uniformes que fizera há poucos dias. Parecia meses agora. A brisa revolvia seu roupão e roçava-o contra sua pele nua, amenizando o calor do sol.


Em que encrenca se metera desta vez?
 

_Bom, se ele acha que eu vou ficar plantada aqui todo o dia como uma vagabunda à disposição, está muito enganado _ disse, mas sorriu. Puxou o roupão mais para junto do corpo e virou-se para entrar _Se não me engano, acho que construíram um shopping na nova Cidade do Leste...


Quando Vegeta voltou aquela noite, a casa estava de novo no lugar. Bulma esperou-o com um jantar de comida chinesa, que ele gostava (comprado pronto, é claro),  baby-doll de renda e um arsenal de preservativos e livros instrutivos.

 

_Então? _ele perguntou, horas mais tarde _Eu não disse que você ia se arrepender se não me esperasse?

A verdade era que ele teria se arrependido muito se não voltasse. Tivera sérias dúvidas se a casa ainda estaria ali, e com certeza não esperava ser tão bem recebido. Folheou preguiçosamente um livro ilustrado com fotos. Hum... até que os terráqueos faziam coisas interessantes, às vezes.

_É... pode ser que sim._ Bulma roçou a face no ombro dele. Sentia-se muito feliz _Eu não sabia que você lia a nossa escrita.

_Tive que aprender, para pilotar a nave construída pelo seu pai._ ele explicou de má vontade _Enquanto vocês entretinham os Namekianos eu decifrava o computador. 


_Então era por isso que quase não te vimos aquele ano! Pensei que você passasse o tempo todo treinando no deserto._Bulma riu, embora sentisse uma leve ponta de decepção. Um dos trunfos com que contava para se aproximar dele era a idéia de convencê-lo da necessidade de ler e naturalmente, oferecer-se como sua professora. Mas tudo bem, tinha outros trunfos, e não deixava de admirar a inteligência dele _Deve ter sido muito difícil.
 

_Humpf. Nem um pouco. Os computadores da Terra não passam de brinquedos de criança. Além disso, seu pai colocou uma opção entre as línguas Saiyajin e terráquea, embora eu não saiba como ele aprendeu a nossa escrita.

 

_Deve ter aproveitado o velho computador da nave em que o Goku veio.É bem a cara do papai, se dar a tanto trabalho! Bom, melhor. Assim, você não vai pagar micos quando a gente for no shopping. Imagine só se você quisesse um hambúrguer e entrasse numa loja de lingerie... _ parou naquele ponto, porque Vegeta a olhava como se ela estivesse louca:

_Andar com você no shopping? De onde tirou essa idéia absurda?

Ela puxou o lençol sobre o peito, meio na defensiva:

 

_Cansei de ficar parada aqui enquanto você se "diverte" na Câmara de Gravidade. Pensei que poderíamos dar uma volta juntos, tomar um ar...

 

_Esqueça. Eu não vou passear no meio dos terráqueos, ou fazer o que quer que você e seu namoradinho faziam - exceto o "essencial" _puxou-a pelo ombro um pouco brutalmente, obrigando Bulma a olhar para ele _Está claro?

Silêncio.

 

_Está claro?_ Vegeta repetiu.

Quase se poderia ver o ar faiscando entre os dois pares de olhos. Aquela resistência  era excitante, pensou o príncipe, mas a mulher tinha que aprender quem mandava ali. Finalmente, Bulma cedeu, repuxando os lábios.

 

_Bem claro. _e deu um sorriso sedutor _Bom, se puder tirar seus dedos do meu ombro...  _ ele tirou, e ela terminou com um largo e fingidíssimo bocejo _ ...  eu vou dormir agora. Estou esgotada. _ e virou-se para o lado, puxando as cobertas e deixando o Saiyajin aceso e frustrado.

Vegeta quase protestou; porém o orgulho deu-lhe um violento beliscão. De modo algum ela ia pensar que poderia manipulá-lo daquele jeito, ha! Ele já havia passado muito tempo sem mulher e não era por isso que iria ficar desesperado. No dia seguinte, levantou-se bem cedo e foi embora antes de Bulma acordar. Ficaria longe dela durante uma semana, ou mais, até que ela viesse atrás dele aos gritos e lágrimas por ter sido abandonada. E ele apenas sorriria e diria que já havia pago as roupas que Bulma fizera para ele. Se quisesse mais alguma coisa, bem, haveria um preço.Mal podia esperar!

Ninguém na Corporação Cápsula o viu chegar, pois ainda estavam dormindo. Vegeta passou o resto do dia trancado na nave, saindo apenas para uma refeição ligeira lá pela uma hora da tarde. Nos últimos meses, não se juntava mais à família Briefs na mesa, preferindo visitar a cozinha depois das refeições;  fazia parte de seu programa para manter o menor contato possível com os terráqueos (com uma única exceção). Mas quando anoiteceu, seu estômago reclamava demais para se concentrar; além do mais, ouvira casualmente a "velha" comentar no corredor que faria para o jantar um prato que ele gostava muito. E agora o cheiro vinha até a nave... parecia de propósito. Bom, por esta vez talvez valesse a pena aguentar aquela mulher.

"Ou talvez não", pensou depois, quando a sra. Briefs o saudou com o alarido habitual:

_Vegeta!! Oh, que bom, você veio jantar conosco! E bem no dia em que a Bulminha voltou de sua viagem. Não é maravilhoso? Sei que você sentia muita falta dela.

Bulma nem levantou os olhos do prato. Parecia que ele não estava ali.

_Como de uma boa dor de barriga _ Vegeta resmungou, sentando-se à mesa. Não estava nem um pouco surpreso; na verdade, o fato dela ter decidido voltar em vez de continuar a esperá-lo indicava respeito próprio_ Eu estava pensando quando sua filha ia parar com a vagabundagem e voltar ao trabalho.

 

Os olhos de Bulma faiscaram e ela finalmente ergueu o rosto, como se fosse dizer alguma coisa, mas viu o cantinho da boca de Vegeta erguido e fechou a boca.

_Bem, _ disse o doutor Briefs, como se sentisse a tensão entre eles _Realmente é ótimo. Temos muito trabalho esperando, e eu sempre fico um pouco preocupado quando Bulma tem que sair nessas missões.

_Missões?_Vegeta ergueu uma sobrancelha divertida. Agora safadeza tinha outro nome.


_É, você não ficou sabendo?_explicou a senhora Briefs _A Bulminha e o Gokuzinho tiveram de ir atrás daquele terrível doutor Gero! Sabe, eu não entendo por que algumas pessoas não podem viver em paz, estão sempre querendo destruir a Terra...

A mão de Vegeta esmagou o cabo do garfo a caminho da boca. Os dentes do talher destruído caíram junto com a comida sobre a mesa, com um claque. Com os dentes arreganhados, olhou para a amante do outro lado da mesa. Ela estava igualmente chocada, e branca como os azulejos da cozinha; porém, para Vegeta, aquilo era uma indicação de culpa.

 

Bulma tentou encontrar a própria voz, mas, como num pesadelo, não conseguiu falar de início. O olhar assassino de Vegeta parecia ter algum poder sobre suas cordas vocais. Ele levantou-se rápido, derrubando a cadeira, e ergueu a mão. Com um gritinho histérico, Bulma encolheu-se para trás e tapou os olhos. Quantas vezes já não experimentara aquela sensação, de que estava vivendo seus últimos segundos de vida? Mas agora era pra valer. Já via o clarão cegante que desintegraria tudo, transformando a Corporação Cápsula numa cratera.

 

Ouviu um estrondo e os gritos dos pais, mas em vez da luz sentiu o choque de alguma coisa pastosa e uma dorzinha aguda no pescoço, como picadas de agulha.

 

_Eu não disse para você não se meter nisso se não quisesse morrer?_ Vegeta urrou _Achou que era só uma ameaça?!

 

 Bulma abriu os olhos. Seu rosto e o vestido novo estavam salpicados pelo que parecia ser pasta de feijão. A mesa fora partida em dois, não por uma explosão de ki, mas por um soco, obviamente. Comida, pedaços de madeira, fórmica e cacos de vidro e louça jaziam espalhados pelo chão e pelas roupas dos comensais apavorados. Tocou o pescoço com o dedo: um estilhaço de vidro penetrara ligeiramente em sua pele.

 

Vegeta, como uma estátua, dominava a cena, ainda com os punhos cerrados. Porém, vendo que estava viva, Bulma perdeu o medo. Suas pernas e garganta voltaram a funcionar e ela levantou-se, rápida, com o dedo em riste:

 

_Não é nada disso que está pensando! Eu não cheguei nem perto do doutor Gero. Não sei por que mamãe meteu ele nessa história.

 

Apesar de confusa, a senhora Briefs se ofendeu.

 

_Eu não meti nada, mocinha. O Kuririnzinho me falou que a sua missão com o Goku era deter o doutor Gero. Você não me disse que era segredo, por isso achei que Vegetinha soubesse.

 

_Kuririn esteve aqui?_ na boca da moça poderia caber um melão.

 

Vegeta a olhava como se ela fosse alguma coisa podre esmagada por um carro.

 

_Então é assim... _ falou devagar, com voz rouca _Eu estava enganado: você é igualzinha ao Kakaroto e ao resto dos santinhos hipócritas. Igual aquele moleque do Gohan quando escondeu a minha esfera do dragão, e depois tentou fazer o pedido com seu amigo carequinha, depois que eu os ajudei! Vocês se acham um bando de bonzinhos e adoram pregar lições de moral para pessoas como eu,  mas logo que podem apunhalam pelas costas da mesma forma que nós! Pelo menos eu assumo a minha maldade.

 

Virou-se e saiu da cozinha, sob os olhares atônitos da família Briefs.

 

_A-Alguém pode me explicar o que aconteceu?_ o pobre doutor tentava acalmar seu gato, embora ele mesmo ainda estivesse tremendo.

 

Nenhuma das mulheres lhe deu atenção. Bulma fitava a mãe com os olhos cheios de lágrimas:

 

_Por que você fez isso comigo? _ a voz estava embargada_Ele estava começando a confiar em mim... e agora pode ter acabado com tudo! POR QUE VOCÊ SEMPRE FALA O QUE NÃO DEVE??!!!

 

 * O que o amor tem a ver com isso? O que é o amor senão uma emoção de segunda mão? Quem precisa de um coração se este pode ser partido?"

 

 

 


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