Cartas de Fogo e Água escrita por José Vinícius


Capítulo 8
Um Reencontro.


Notas iniciais do capítulo

A inspiração tomou conta de mim. E tudo começou quando escutei "Save Me" - The Pierces. Recomendo que escutem, por que eu a elegi como música tema da fic.



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Assim que descobriu que Zuko estava diante de si, e que ele a vira chorando, ela rapidamente limpou os olhos, e tentou sorrir. Mas estava muito abalada, e não conseguia manter em equilíbrio seu psicológico. Não queria ter nunca a conversa que tivera com o Aang, por dois motivos: um, que estava insegura sobre o que dizer, e dois, que não sabia como dizer caso admitisse. No fim das contas, ela disse a verdade de uma forma desajeitada, mas somente parte da verdade – a mais fácil de admitir garanto a vocês. Por que a outra... Bem, é muito complexa e difícil de ser narrada pelas palavras deste que aqui vos fala. Ele não tem conhecimento algum a respeito de tais sentimentos. Mas deixemos de lado isso e voltemos aos fatos.

Zuko aproximou-se dela, e instintivamente, a abraçou com força. Seu coração flamejante dizia que ela tentava enganá-lo com uma velha artimanha, e dessa vez ele não cairia na brincadeira. Ele sentia, no fundo de si, que ela precisava conversar, precisava ficar calada, precisava de alguém para reconforta-la. Mas não sabia se ele era a pessoa mais indicada, por que ele provavelmente iria misturar as coisas. Deixou de lado seus sentimentos e passou a reconforta-la como amigo sincero.

Mal pensou tudo isso quando ela retribuiu tudo, com mais força ainda, e começara a chorar silenciosamente. Ele queria olhar nos olhos dela, mas deixou-a despejar seu desespero diante de si. Queria transferir a dor que ela sentia para seu corpo, para sua alma. Vê-la sofrer era um martírio, sabendo que, em parte, ele mesmo causara aquela dor. Sentia-se culpado, mas saber que ele podia remediar tudo aquilo com um simples e amoroso abraço era o suficiente para lavar quase toda a culpa.

– Eu não estava pronta... Eu não queria... Eu não sei como fazer isso... – e chorava mais.

– Não se preocupe. O que você fez está feito. Se não fosse agora, seria mais tarde, e se não fosse com aquelas palavras, seriam com outras mais dolorosas. Esse tipo de dor aumenta com o tempo, Katara. Se a gente não põe um fim, nós nos torturamos com isso por um longo tempo. – tentou manter uma pose calma e firme, mas estava dividido entre a alegria de abraça-la e a tristeza que ela compartilhava naquele momento.

– Queria que fosse diferente. Queria que nós nunca tivéssemos tido algo além de uma boa amizade. – disse, acalmando-se.

Zuko queria perguntar algo, mas calou-se.

– Vem comigo – foi o que disse, logo em seguida tocando nas mãos delicadas da moça. Seguiu em frente num longo corredor, e a levou para o pátio externo. Ela lembrou-se das calorosas tardes em que ficavam conversando animadamente por ali, andando em círculos até o anoitecer. Bons momentos.

A tristeza sumia cada vez mais rápido quando ela se lembrava das risadas e dos olhares cristalinos que Zuko despejava sobre ela, deixando-a encabulada e ao mesmo tempo, admirada. E ele, lembrava-se da sua voz suave e sedosa, e da forma como ria. Seu coração faltou pular pela boca, de tanta emoção, por que ele nunca confiara em ninguém como ela.

– E agora, está melhor?

– Um pouco – e finalmente, ela sorriu de verdade.

– Isto é bom. Tenho de contar uma novidade. Semana que vem, terei uma reunião com o Rei da Terra a respeito de umas colônias da Nação no leste do Reino da Terra. Pretendemos fazer um consórcio de desenvolvimento. – disse, num ar politicamente carregado.

Katara sorriu, e riu por dentro. No fim das contas, gostava de ouvi-lo, mas não entendia nada a respeito. Gostava dessa sensação, e queria prolongá-la ao máximo.

– O interessante é que a reunião será na hora do chá.

Katara não se conteve e riu. Ela sabia muito bem o que as palavras Rei da Terra, Hora do chá e reunião significavam quando juntas num mesmo parágrafo.

– Queria ver seu tio usando as roupas reais do servidor de chá real.

Zuko também riu. – Verdade. Vou matar minha curiosidade.

– Aang também vai estar lá? – Katara não deixou de perguntar.

– Vai, sim. Como Avatar, ele precisa estar, mas não creio que sua opinião será de peso. Ultimamente, depois que a Cidade da República foi inaugurada, ele ainda não se habituou à ideia de haver cinco nações ao invés de quatro.

– Você quer dizer quatro nações ao invés de três. Os monges do ar não existem mais – um tom frio e inescrupuloso dominou-a quando disse isso. Zuko olhou para ela com surpresa e estranhamento. Sentiu uma ponta de ódio.

– Resta um, o Aang. – respondeu.

Katara notou a indiferença. Ficou envergonhada. Por que era tão emotiva? Por que motivo não conseguia colocar ordem nas suas emoções?

– Desculpe. Eu preciso de um tempo, só isso.

– Você vai ter Katara. Muito tempo – o desânimo tomou conta de Zuko. Sua face se contraiu, e Katara entoa notou que a cicatriz estava mais vermelha do que de costume. Aproximou-se um pouco para vê-la, mas Zuko se afastou.

– Eu sou o infantil agora, recusando mais uma vez. – disse.

Silêncio.

– Agora, me conte tudo, desde o começo.

– Mas eu pensei que você tinha ouvido...

– Eu ouvi, sim, mas somente a discussão. Imaginei o motivo, e acertei em cheio. Agora preciso que você me fale – disse num tom tão calmo e generoso que Katara se sentiu envolvida pela sua voz.

Ela narrou tudo o que lhe vinha à mente. Narrou com uma exatidão assombrosa as palavras de Aang, como se tivessem sido gravadas na rocha. Também narrou as suas com uma clareza muito iluminada, mas ocultou apenas uma frase.

“Alguém já se sacrificou por mim”.

Zuko ouviu tudo pacientemente, enquanto suas pernas o levavam a rodar todo o pátio. Mecanicamente, Katara seguia-o, mas era o inverso: Katara ia à frente, e Zuko apenas a acompanhava, o rosto desanimado e triste.

Assim que ela terminou o relato, Katara respirou fundo. Zuko estava visivelmente fatigado. A dobradora notou, e achou que foi o seu monólogo chato e obsessivo que o fizera ficar assim.

– Zuko, por que você não vai descansar? Eu já te incomodei demais.

– Não, preciso ouvir você. Preciso – e ele desfaleceu ali mesmo.

Katara gritou “Zuko!” umas várias vezes. Mas ele continuava desacordado. Chamou a criadagem, mas estavam longe. Estava atônita e preocupada. O que estava acontecendo?

Rapidamente ela o virou de bruços, e notou que ainda respirava, mas com dificuldade. Tentou reanima-lo, mas só uma coisa lhe veio à mente: a cicatriz. Mas não a do rosto.

Furiosamente, ela procurou uma abertura no seu tronco. Encontrou-a, e viu o corpo branco e cansado de Zuko. Muito tempo de treinamento havia tornado seu corpo forte, mas tinha algo ali, algo indevido, algo que não deveria estar ali.

Katara sentiu a dor dilacerante dentro de si. Quase perdeu todo o ar do deparar-se com aquilo. Sim, leitores. Algo estarrecedor.

Uma ferida mortal, feita na antiga cicatriz do raio de Azula. A pele estava queimada.

Katara tocou levemente na ferida, e vislumbrou o sangue de seu amado. Sentiu calafrios arrepiantes, e uma fúria descontrolada. Que alma indigna e merecedora da morte havia feito aquilo com ele?

Instantaneamente, pegou o recipiente que continha água do lago espiritual do norte. Dobrou o elemento, e dirigiu-se à cura. Logo depois, dois ou três serviçais apressados apareceram, movidos pelos gritos desesperados de Katara.

Levaram Zuko assim que Katara havia terminado seu trabalho. Ela permaneceu ali, desolada. Então, desatou a chorar laboriosamente.

As lágrimas ardiam no rosto. Por que não havia notado a palidez? Ela havia enganado ela com sua dor! Por que não havia deixado de lado seus problemas e perguntado se não havia nada de diferente. Ela, uma grande curadora! Deveria ter notado os sinais! Zuko era muito melhor que ela em esconder dores. Por isso o abraço forte! Queria dizer alguma coisa, muito mais do que seu pobre coraçãozinho achava que era.

Mas ela se levantou, e logo foi atrás dele. Não ia deixa-lo sozinho. Não. Nunca.


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Notas finais do capítulo

Está difícil manter um bom curso da história. É complicado escrever sobre sentimentos!



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