Cartas de Fogo e Água escrita por José Vinícius


Capítulo 11
Carta 6 - Fogo


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de avisar que eu deletei os antigos capítulos 11,12 e 13. Vejamos o por quê.
Acho que eu estava apressando as coisas. E quando escrevi este... Senti necessidade em remodelar os outros, mas resolvi guardar aqueles. Então, tive uma ideia.
Modifiquei algumas coisas, mas acho que este capítulo está satisfatório.



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Katara,

Ando sentindo uns impulsos. Impulsos, eu acho, não é a palavra ideal para transmitir a ideia de que estou inquieto, e que a todo mundo, pensamentos começam a inundar minha cabeça.

Todas as vezes que acordo, eu faço-o demasiadamente cansado. Não consigo levantar-me sem que eu tenha de fazer certo esforço, comparado talvez ao esforço de dez bois empurrarem uma carroça de muitos e muitos quilos... A cama me atrai como um ímã, meu corpo é metálico, mas de um ferro ardente que não cansa de incendiar o cômodo onde descansa.

Meus membros não têm mais a sagacidade de antes, e quando eu tinha uma meta irrisória, falsa, estúpida, de quando era apenas um exilado: com a primeira ordem, estava não só de pé, mas a exercitar-se, tentando, desesperadamente, encontrar um inimigo que mais tarde viria ser seu grande amigo.

Ah! Este é um dos problemas. Não é só você quem sofre desta dor silenciosa, não. O remorso me corrompe, agora que tudo está se tornando muito claro. E os impulsos, aumentam cada vez mais...

Não me vejo fazendo algo sem pensar, num só momento, em você ou em ago que me lembre você. Inconscientemente, meus atos estão se tornando muito iluminados; todos já desconfiam o que se passa por mim. Agora tenho mais problemas para lidar, tenho que esconder algo que está me atacando cruelmente,

Não sei como tu estás, nem sei se eu poderei saber. Por que antes, era tu quem estava neste mar revolto, neste oceano vingativo. Agora, meu sol tornou-se um inferno, um vulcão impiedoso, malévolo, um vapor fatal, que aflige meu íntimo e me corrói os ossos. Não consigo ligar com essa perturbação! O Sol antes era motivo de brilho e vigor; agora, ele é a sombra mais funesta e terrível que me cobre! Oh, Katara, que terei de fazer?

Sei que minhas intempéries são simplesmente garoas perante as tuas. Mas elas são apenas o começo; no mais tardar, virá sonhos, virão sussurros, virão gestos, virão desejos... Cada vez mais terríveis, cada vez mais avassaladoras, cada vez mais envolventes...

E no meio disso tudo, encontro minha própria essência, minha própria vida. Queria sentir um pouco de paz e um pouco de calma e mansidão. É aparentemente impossível pedir tais coisas, quando se vê largado naquele abismo dos sofredores...! Estou desamparado, por que não sei administrar o que sinto e o que devo sentir. Não sei mais o que á uma boa noite de sono, não sei o que é mais desesperador que isso...!

No fim das contas, minha única luz é você.

Seu cintilar mais simples torna o canhão luminoso solar uma chama de vela; sua voz torna o trovão mais tenebroso um miado fraco; seus olhos tão azuis fazem o oceano sentir mais inveja; sua beleza só pode ser comparada à da lua, de tão perfeita que és... E teu sorriso? Não bastaria eu possuir todas as estrelas do céu, e mesmo assim, jamais será superado.

És meu consolo, aquilo que me conforta em meio a tanta solidão. É isso que sinto falta, um ombro amigo, uma presença! Aang está com a tendência a me evitar, e sem alguém para conversar sobre isto, me restam estas cartas cheias de sentimentalismo barato.

Como me invejo! Antes, eu era forte, decidido, e sabia por onde seguir; tinha em você meu apoio, minha paz, minha felicidade; agora, tento desesperadamente arrancar de ti estas coisas tão grandiosas e tão incríveis, que outrora eu conseguia apenas com um simples abraço. Preciso delas desesperadamente; perdi o sentido de rumo, o sentido de frente e atrás, cima e embaixo, passado e futuro...

O que é isto que sinto Katara? Por que eu preciso de você como se precisa dor ar? Como se precisa da água? Como se precisa...

Ainda quero entender que coisas são estas.

Eu não era assim. Era firme em mim mesmo. Meu passado me ensinara a entender que, quando se está em confusão, é preciso parar e pensar devagar, é preciso interpretar a situação. Não agir levianamente, movido pela ocasião, muito menos arriscar quando se tem tudo a perder. É preciso paciência, é preciso análise.

Eu tento a todo o momento ser racional comigo mesmo. Tento explicar que estas coisas são apenas confusões de idéias pré-concebidas, suposições errôneas... Mas suposições de quê, afinal? Suposições de que tipo, de que espécie de ideais? Eu por acaso tive a oportunidade de discutir com você a respeito disso?

Se tivemos, não me lembro.

O que me lembro era da felicidade em ter contigo um momento de conversa e prazer. Era a possibilidade em ficarmos juntos, próximos, respirando o mesmo ar, dividindo o mesmo espaço... Eu estaria sendo um tolo se não notasse o quando eu mesmo içava rubro diante de ouvir você falar, ouvir você se importar comigo.

Sei que o que aconteceu formou nosso caráter, formou nossa amizade, formou o que sentimos um pelo outro. Sei que era para tudo permanecer como está, mas algum de nós extrapolou, esse deixou levar pelas conseqüências...

Não digo que foi você, o que seria puramente irresponsável e injusto. Fui eu, que alimentou um monstro bonzinho, um anjo demoníaco, um ser descomunal pequenino, e que agora, quer libertar o monstro, o anjo e o ser, tudo junto, sem saber para onde irão e o que farão quando lá chegarem...

Onde é lá? Você.

O monstro, o anjo e o ser, nada mais são, do que um calor estranho que toma conta do meu corpo, que domina minha cabeça e me põe a desejar ser fulminado pelo brilho dos teus olhos simplesmente para existir e continuar vivendo...!

Acho que eu... Não tenho coragem de escrever, por que as palavras pesam muito. Este papel é muito leve, e não quero que o barco afunde ou suas mãos se quebrem ao suportar o peso destas palavras... Se eu for dizê-las, eu direi na sua frente, expelidas no ar, onde se tornarão leves e habitarão nossos corações.

É loucura, eu sei. Mas nunca experimentei algo tão colérico quanto isso. Sempre pensei que o bem do meu povo viria antes, viria acima de tudo; ser o Senhor do Fogo é um papel demasiado penoso e difícil de continuar seguindo. A todo o momento, pedem-lhe coisas, exigem ordens, mas em seguida... Deixam-me à deriva de mim mesmo, largado, sozinho, tendo por companhia minhas próprias chamas.

Elas me compreendem, às vezes. Costumo dizer estas e outras coisas a elas quando estou sozinho. E o que respondem? Labaredas colossais, às vezes pequenas, às vezes grandes, às vezes perigosas, às vezes inofensivas. O fogo, Katara, habita nossas almas. Dominar este fogo é um trabalho de toda a vida, e principalmente, impossível de fazê-lo só.

Eu preciso que alguém dobre o fogo da minha alma. Preciso que alguém lhe imponha limites, lhe mostre um caminho, lhe mostre os seus defeitos e os conserte, lhe mostre coragem, lhe mostre confiança. E principalmente, lhe mostre amor.

Como?! Eu escrevi a palavra... Não é mais segredo, Katara. Eu a disse, agora tu deves pensar no que isso tudo significa.

(...)

Acabei de me lembrar da nossa ida À praia, isto é, meu convite. Foi muito bom, Katara. Muito bom. Queria reviver aqueles momentos sempre, sempre. Gostei muito deles, gostei imensamente deles... Acho que tudo isso começou quando voltei de lá. Sim, foi sim. Eu estava bem, mas... Aí... As coisas chegaram neste ponto. Ainda é fraco, ainda há solução, eu sei que há.

Lembra quando você chegou?

Notei que você estava um pouco receosa e encabulada. Não sei eram saudades, mas estavas bem feliz. Toph estava muito motivada com o encontro da gente, de todos nós. Não havia preocupação com nada, com nenhum perigo.

- Finalmente, todos aqui – você disse. Eu tive que sorrir, por que achei o seu sorriso encantador. Mas aí notei que você se diminuiu um pouco. Era ele.

O Aang estava ali, e você não estava pronta para vê-lo. Eu notei que você estava receosa de vê-lo.

Então fui te abraçar. Fui te passar um pouco de alegria e aconchego, segurança. Funcionou, pelo o que eu pude notar. Você se sentiu mais animada, mais contente. Parecia outra Katara...

Sokka começou com suas brincadeiras sem nexo sobre a gente. E, quanto eu me defendia – quer dizer, nos defendia – você continuava corada. Depois, você saiu.

Por um tempo, não te vi, mas senti vontade de te procurar. Encontrei você e o Aang conversando. Lembro-me que ouvi uma parte mais ou menos assim, e foi ele quem disse.

– Aang, eu me sinto culpada por que eu fiz você sofrer. Eu... Só tive consciência do que fiz quando parei para pensar, Aang. Sinto muito.

– Alguém ia sofrer, Katara. Se não fosse eu, seria o Zuko ou você. Mas fui eu, e fico feliz por isso. – disse.

– Feliz por eu ter feito você sofrer?

– Não, Katara – e ele se virou.– Me fez abrir meus olhos para meus sentimentos. Me fez mudar. Me fez crescer.

E então... Eu entrei. Vocês se abraçaram, mas eu fiquei com ciúme? Não. Não fiquei. Sabe por quê? Por que eu soube que ele estava sendo sincero. E eu senti que você o abraçou como uma mãe. Como uma amiga protetora. E sorriu, até.

Eu entrei, e me juntei a vocês. Naquela hora, senti que não havia mais barreira nenhuma, mais resistência alguma.

Até que...

Esperando uma resposta,

Zuko.


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Notas finais do capítulo

Até.