Era uma sexta-feira à noite. Eu estava arrumando meu quarto, dobrando algumas roupas e guardando livros, coisa meio solitária a se fazer, mas eu não me importava. A maioria do tempo eu não era uma adolescente que iria para todas as festas, e nem que pegava todos. Eu sou uma menina comum que era fissurada por livros, acredite em mim. Mas coloque uma música eletrônica, bebidas e uma pista de dança, e verá quem eu posso me tornar.

         Eu estava cantarolando uma música aleatória, quando me surpreendi ao ouvir saltos pesados batendo contra a madeira escura de nosso piso do corredor. Cloc, Cloc, Cloc. Enfio minha cabeça no corredor através da porta e observo minha tia vestida com certa elegância.

        – Balada, tia? Tá linda. - Perguntei rindo, indo em sua direção e dando uma voltinha nela com seu braço.

        – Obrigada, meu amor. Na verdade irei a um jantar, Jessie. Avise a sua prima que irei voltar tarde. Não me esperem acordadas se forem ficar em casa. - Minha tia me disse me dando um beijo na testa e descendo as escadas com seus saltos pesados e me lançando uma piscadela. Cloc, cloc, cloc, cloc...

         Voltei para meu quarto, terminando minha arrumação. E fiquei pensando que tal "jantar" era esse que minha tia iria. Talvez fosse um encontro, pois minha tia é mãe solteira e tudo mais. Eu fiquei feliz por ela, espero que ela se divirta essa noite, o contrário de mim.

        Eu estava jogada na minha cama em uma sexta à noite, eu não era uma adolescente comum. Resolvi terminar de ler um livro que estava pela metade. Mas meus planos foram acabados quando uma Maddie enrolada em uma toalha rosa choque entra voando pelo meu quarto com um cabide com uma roupa em suas mãos, jogando-o em minha cama.

          – Levanta, você vai a uma festa. - Ela disse sorrindo.

– Huuum... Eu não quero, pode ir sem mim. - Respondi voltando pro meu livro, na esperança que ela murmurasse um 'ok'. Mas logo meu livro foi fechado e tomado de minhas mãos gordinhas como mãos de criança.

– Você não entendeu. Você vai à uma festa. É uma ordem. - Ela disse autoritária e depois deu um sorriso.

          – Ok, ok... - Me rendi, pois discutir com Mad é a mesma coisa que tentar respirar em baixo da água. - Posso ao menos me arrumar sozinha, sargento?- Perguntei batendo continência que nem uma retardada, o que de fato sou.

         – Pode, mas te quero gostosa hoje, hein gata?- Disse minha prima com certa masculinidade, dando um tapa em minha bunda e deixando meu quarto rindo. Eu ri também, afinal eu amo essa idiota.

[...]

         Assim que eu estava pronta, desci as escadas e encontrei Mad na sala ao telefone com alguém. Sentei-me no sofá, com esperança de não amassar minha roupa, e esperei ela terminar a ligação enquanto mexia no meu Iphone. Logo ela terminou e se jogou do meu lado.

         – Para onde nós vamos? Não quero ser sequestrada. - Perguntei sorrindo.

         – Para casa da Rachel. Os pais dela viajaram. – Mad respondeu com seu cabelo castanho na cara.

         – Vamos então?- Perguntei me levantando.

         – Nós vamos de carona. Eles já estão virando a esquina. – Mad disse checando a mensagem no celular.

         – Então tá. - Respondi pondo minhas chaves na minha bolsa e voltando pro meu Iphone. Cinco minutos depois ouvimos uma buzina lá de fora, e sabíamos que era nossa carona. Assim, fechei a casa e corri pro carro com meus saltos fazendo barulho no concreto da calçada. Abri a porta do carro depois que Taylor já havia entrado, e assim que sentei no banco, notei um menino lindo ao meu lado. Cabelo em um topete desmaranhado, olhos mel, lábios rosados e carnudos, um sorriso doce e bem educado. Tudo isso me parecia familiar, mas ignorei esse pensamento, porque eu acho que nunca conheci alguém assim em toda a minha vida. Percebi que ele sorria e murmurava um 'oi', fui obrigada a fazer o mesmo. Logo minha prima quebrou o silêncio desse momento enquanto o menino loiro motorista da vez, que eu tinha acabado de descobrir a existência, dirigia.

        – Jessie, esses são Justin...- Ela apontou pro menino ao meu lado, que me deu outro sorriso. Estremeci ao ouvir este nome, mas tentei ignorar o que me lembrou esse nome, afinal deviam existir bilhões de Justins no mundo. - E Cameron.- Ela continuou e apontou pro loiro musculoso que dirigia, que me de um 'oi', e me deu uma olhada no retrovisor.

          Logo minha prima começou a tagarelar coisas insanas e todos entraram na conversa. Eles eram muito engraçados, e faziam piadas inteligentes, e eu ficava de fora de algumas piadas por opção própria. Percebi que Justin me olhou muitas vezes durante o trajeto até a casa de Rachel, acho que isso era bom. Não era?

         Assim que Cameron estacionou o carro na frente da tal casa, pude ouvir a batida da música, o que me deixou mais elétrica ainda. Assim que peguei minha bolsa, desci do carro e fui em direção à festa. Dei uma olhada em volta, e a decoração estava horrível, não que eu ligasse... Todos dançavam e conversavam animadamente, e alguns estavam mais bêbados do que deviam. E percebi que muitos estavam usando drogas, decidi que iria dar uma passada naquele grupinho depois. Madison já havia entrado com Cameron, e Justin... Bom Justin, eu não sei. Não me lembrei dele no calor do momento, eu só queria dançar e me divertir.

        Assim que adentrei ao terreno, fui automaticamente à mesa de bebidas. Eu sempre gostava de beber antes de dançar. Tomei duas doses de tequila enquanto dançava e eu podia sentir os olhares em mim, e minha garganta queimava. Procurei uma bebida outra bebida e vodka foi a opção. Misturei-a um refrigerante de limão que tinha ali, e tomei um gole pura. Assim que me virei pra sair dali e ir dançar na pista fervente novamente, dei de cara em uma parede. Ou melhor, uma pessoa. O copo que estava cheio, agora estava vazio, e o liquido em toda a minha roupa e na do sujeito.

        – Oppa. Desculpa aí, vou me secar...- Respondi me virando e ficando de costas pro sujeito e indo em direção ao banheiro. Mas o maldito pegou meu pulso. Virando-me pra ele, antes mesmo de eu dar um passo.

       – Aonde você vai?- Ele perguntou e eu olhei pra ele. Era Justin.

       – Eu ia me secar ué. Desculpa de novo. - Respondi me desvencilhando de seus braços.

       – Esquece isso. Vem dançar. - Ele disse me puxando para a pista, sem nem me dar chance de resposta.

         Fomos para a pista, arrumei meu pé no salto e dancei no ritmo da música que tocava. Ora pulava, Ora rebolava lentamente. Mas sempre cantando. Resolvi dançar com Justin, e quando me virei pra ele, o mesmo me puxou pra si. Resolvi que iria provocá-lo e ver até onde ele ia em meu próprio jogo. Por sorte a música a seguir era agitada e tinha a voz sexy da Britney. Colei meu corpo no dele e deixei a música me levar. Eu roçava meu corpo no seu até que me virei pra ele e deixei nossos rostos centímetros de distância. Mordi seu lábio inferior, e ri fraco e me afastei dele. Continuei dançando e pude ver seus olhos me seguindo. Ele foi chegando mais perto de mim, até que estávamos centímetros um do outro de novo... Então a música para e um estouro enche meus tímpanos, seguido de uma frase dita por muitos em uníssono:

       –Polícia! Todos pro chão. Agora!

        Ouço gritos e todos correndo para fora dali. Eu tentei sair dali, mas por onde? Logo fui puxada por um braço forte e deixei que me levasse. Assim que me liguei sobre o que estava acontecendo, eu estava correndo ao lado de Justin. Fora ele quem me puxara. Corremos por algum tempo, mesmo eu estando de salto. Então ele correu pra atravessar a rua, pois um carro vinha na mesma. Eu simplesmente segui seus passos sem nem mesmo me tocar do que estava acontecendo. Então escuto uma buzina e sinto meu corpo em contato com algo duro, e sinto meu tornozelo doer. Doer, MUITO. Logo tudo ficou turvo e preto.