Transtorno De Boderline escrita por Liz03


Capítulo 25
Aborto espontâneo


Notas iniciais do capítulo

Espero que o capítulo esteja como eu gostaria que estivesse. Agonizante. No melhor e pior sentido da palavra. Não tomem muitas conclusões precipitadas. Ou tomem. Não sei bem, mas vamos aos fatos:



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Aborto espontâneo ou Interrupção involuntária da gravidez é o término acidental de uma gravidez com menos de vinte semanas de gestação. A causa mais comum é um defeito cromossômico no embrião ou feto que impede seu desenvolvimento natural. O defeito pode ser hereditário, causado pela exposição da mãe a certos medicamentos ou radiação, ou resultar de doenças infecciosas.

Um dia, talvez não muito longe, tudo vai estar melhor. Ela gostava de mentir assim para ela mesma, assim a dor poderia sair um pouco e dar um passeio em outro lugar. Não precisa de muito para saber que eles foram condenados, só que a situação de saúde de Victor- que piorara consideravelmente- não permitia que este ficasse preso.

Pan se sentia extremamente indisposta, como alguém fora de forma subindo uma ladeira de bicicleta. Tudo que ela conseguia pensar era em parar no meio da ladeira e se atirar ali mesmo, no meio do asfalto. Quem se importaria? Quem se meteria na causa se a bicicleta e a vida eram suas? Mas continuou pedalando como que por inércia das circunstâncias.

Caminhou de pés descalços até a cozinha. Não tinha sede, mas também não tinha mais o que fazer na cama já que dormir parecia impossível. Sentiu a água ser derramada por dentro de seu corpo. Olhou compenetrada para o relógio do microondas, 03:39 a.m, sentiu uma pontada abdominal, fechou os olhos por alguns segundos e pensou o que seria. Cólica? 03:41 a.m, outra pontada, dessa vez mais aguda. Tentou tocar na área para ver se descobria algo, se deu conta de como estava negligente com sua própria saúde, 03:42 a.m, dessa vez a ponta fez com que ela, involuntariamente, se apoiasse em algo, repousou o copo. Respirou fundo. Apendicite? Esperou um pouco para ver se a dor voltava, com a trégua decidiu caminhar lentamente de volta para o quarto.

Cozinha, 03:45 a.m

Sala, 03:45 a.m

Corredor, 03:46 a.m.

03: 46, no corredor já perto do quarto a pontada voltou, mas incrivelmente mais aguda do que antes. Pôs a mão na parede. Precisava chegar até a cama, pensou. E deu dois passos antes de perceber que não podia caminhar, a dor parecia prendê-la ao chão. Respirava de maneira rápida e ofegante às 03:47 a.m. Seu objetivo passou a ser chegar até algum telefone, não queria reconhecer que precisaria incomodar alguém, mas definitivamente era o caso de atormentar, mais uma vez nesse período turbulento, alguém com seus dramas. 03:48 a.m e começou a jornada até seu celular na cômoda do quarto, resolveu andar curvada.

Quarto, 03:49 a.m.

A pontada fazia suas pernas tremerem, sentiu que revirava os olhos. Vários possíveis diagnósticos vinham a sua cabeça, e aumentavam de gravidade na proporção que a dor crescia. 03:50 a.m, sentou no chão do quarto, não conseguia mais manter-se de pé. Deixou o corpo curvar-se até o chão, e só quando se sentou percebeu que sangrava. 03:52 a.m , arrastou-se até a cômoda o mais rápido que as mãos trêmulas conseguiram, com a maior agilidade que pôde com o corpo frequentemente retorcendo-se com a dor que já não era uma pontada, tornara-se constante.

03:58 a.m, chegou até a cômoda, seus dedos sujos de sangue apressaram-se em pegar o celular, desbloqueou a tela rapidamente, mas então encarou o telefone, ofegante. Não sabia para quem ligar. Pensou em ligar para sua mãe, no entanto, ela já tinha visto demais de sua situação degradante, e já havia se importado demais também. Não, não daria mais esse golpe, na verdade, seria melhor que ela não soubesse desse fatídico episódio. Carol. Não. A irmã já tivera que adiar o casamento por sua casa, porque não seria “condizente com o momento”, ela não disse expressamente que o “momento” era sua desgraça, mas era, com clareza meridiana, era sua desgraça o que não combinava com o clima de final feliz, de recém-casados. Ligou para Bernardo, esperou chamar apenas uma vez, desligou. Tinha vergonha dele. Vergonha que a visse numa escala exponencial de degradação. Então procurou Zoe nos contatos e praguejou com palavrões contra ela mesma por não ter pensado nisso antes, o telefone chamou duas vezes, a dor parecia perfurar seu corpo. Deixou o celular cair no chão, fechou os olhos com força e apertou os dedos. Engoliu em seco.

– Alô? – ouviu a voz vir do chão ,procurou sentindo que perdia a consciência, percebeu que havia deixado um rastro de sangue no caminho e viu sua visão desfocar um pouco, percebeu que o brilho da tela vinha de debaixo da cama – Alô, Pan? Tudo bem? – Precisava falar. Tentou pegar o telefone. Os dedos sujos de sangue reproduziam pontos no chão. Encostou no aparelho, mas não conseguiu segurá-lo. 04:07 a.m, soube naquele instante que não conseguiria pegar o celular de volta, então teve a ideia de gritar para que a amiga a ouvisse- Pan? Pan, ta tudo bem? Ta acontecendo alguma coisa? – E ela realmente quis gritar, só que a dor tinha lhe roubado a voz. Tentou. Mas a boca se abriu sem ímpeto e sem som. Sentia as lágrimas escorrerem furiosamente, pela dor, pela frustração, por tudo.

Às 04:13 a.m, não conseguiu ver mais nada.

ÀS 04:13 a.m, soube que havia caído da bicicleta ladeira abaixo.


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Notas finais do capítulo

E então? Como estamos nesse recomeço?



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