C A P P U C C I N O escrita por the_yssah


Capítulo 1
Único




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                Me despedi de Tom no estúdio e me dirigi até a cafeteria na esquina da rua do estúdio. Bookoffee, a cafeteria e livraria era nova no bairro, bem, nova há 2 meses, mas hoje seria a primeira vez que eu freqüentaria o local.

                Adentrei e senti o forte cheiro de cafeína adentrando minhas narinas.

                O lugar estava praticamente vazio, se não fosse a garçonete que me recebeu na porta, outros 2 garçonetes do lado de dentro e...

                Uma garota no sentada em uma das mesas, quase escondida em um canto.

                Não que seria fácil não olhar para ela... Cabelo curto de um azul profundo, pele bronzeada de modo que combinava com o cabelo. Um batom vermelho que chamava mais atenção ainda para sua boca carnuda e um piercing na parte de cima do lábio, como um pequeno sinal de nascença.

                Não pude ver a cor de seus olhos, pois ela encarava seu celular como se ele fosse a única coisa no mundo, um sorriso quase imperceptível brincava em seus lábios.

                Suas vestes não aparentavam o estilo que ela parecia ter. Um vestido curto preto e uma jaqueta de couro também preta, calçava sapatos scarpin de veludo preto, salto alto. E...

                Então percebi que continuava parado no meio da cafeteria enquanto a garçonete me perguntava onde eu iria querer me acomodar.

-Me desculpe. – Falei lentamente, sem dar atenção á ela e me dirigi até a mesa da garota de cabelos azuis, parei em frente á sua mesa. Lentamente ela levantou seu olhar para mim. Olhos castanhos, profundamente castanhos. – Posso me sentar aqui? As outras mesas estão... – Olhei em volta. Não. As outras mesas, definitivamente, não estavam vazias, o local estava praticamente vazio. Voltei á olhar para ela e sorri sem graça, pronto para me desculpar e sair dali o mais rápido possível.

-Claro! Fique á vontade. – Disse sorrindo. Voz aveludada e cheia de afeto, sua voz me acalmou instintivamente e eu me sentei ao seu lado, tendo o cuidado de não me encostar nela, como se meu toque pudesse tirá-la de minha visão.

                A garçonete persistente colocou um cardápio na minha frente e eu comecei á olhar para ele, mas as letras pareciam embaralhadas, eu não enxergava realmente o cardápio.

-Seu cappuccino, querida! – Disse uma voz masculina, um homem rechonchudo de meia idade colocou uma xícara com cappuccino na mesa, em frente á garota.

-Obrigada! – Disse ela. – O que são esses corações aqui dentro?

-Juro que não fui eu! – Disse o homem olhando agora para mim. – Corações dão sorte para arranjar um namorado, ela devia saber disso.

-Eu não estou procurando um namorado Ismael! – Disse ela risonha. – Não escute o que ele diz, está caquético! – Ela disse para mim, eu me permiti rir. O homem revirou os olhos para ela e sorriu gentilmente para mim.

-E você, o que deseja jovem? – Perguntou.

-Aqui eles servem o melhor cappuccino, tem algum tipo de creme aqui em cima... – Ela disse apontando para o próprio cappuccino.

-Claro! Meu delicioso creme de mel!  - O homem sorriu para mim.

-Bom, vou querer um então. – Falei. Ismael assentiu pedindo licença e se retirou.

                A garota olhou rapidamente para seu celular e o pousou em cima da mesa com graciosidade, sorriu para seu cappuccino e tomou um pequeno gole dele. Fiquei ali a encarando até que o homem chegasse com o meu cappuccino, com os mesmos desenhos de coração na espuma caramelada. Ela olhou para a minha xícara e soltou uma risadinha.

-Não faça isso com o moço Ismael, ele pode ser comprometido. – Disse ela.

-É comprometido, meu jovem? – Perguntou ele para mim.

-N-não. – Respondi sem jeito.

-Ótimo. – O homem sorriu vitorioso para a garota e voltou para a cozinha.

-Não ligue para ele. – A voz macia da garota me despertou. – É um velho solitário, e a pessoa mais legal que conheço. Um grande piadista, se é que me entende.

-Se conhecem á muito tempo? – Perguntei de repente querendo prolongar aquele diálogo. Qualquer conversa. Qualquer coisa que a deixasse soltando aquela voz tão macia para os meus ouvidos, pensei. O que será que ela pensa sobre a minha voz? Ela me conhece...?

-Não. – Disse sem me olhar. – Na verdade, eu freqüento o Bookoffee desde que ele abriu, pois amo ler e beber café, então viramos amigos. Passo todas as minhas tardes aqui.

-Conte-me mais, por favor. – Pedi em um sussurro que eu não gostaria que ela ouvisse. Mas ela olhou para mim e sorriu envergonhada e sem graça. Senti meu rosto esquentar de vergonha e me calei no mesmo instante.

-O que achou do cappuccino? – Perguntou tentando diminuir a tensão. Eu nem havia me lembrado do cappuccino até aquelas alturas. Então tomei um gole, e outro... Meu Deus, que divino!

-Perfeito! – Falei bebendo mais. Observei enquanto os corações dentro da xícara se desfaziam e se juntavam em um só e sorri internamente. Olhei rapidamente para ela e vi que fazia o mesmo. Olhava para os corações se tornando um e sorria bobamente para a imagem. Seu celular tocou e ela olhou para o visor, então ela olhou para mim e eu desviei meus olhos rapidamente. Tão rapidamente que tive que procurar outro canto para encarar, tipo... O teto. – Puxa! – Falei fingindo interesse infinito no que eu via. – Parece que vai chover.

-Com certeza! – Disse ela rindo, uma gargalhada graciosa. – Dentro do Bookoffee, é bem provável. – Ri mais sem graça ainda, de onde diabos eu tirei essa?

                Eu sou idiota?

                Sim.

                Será que é por isso que estou solteiro á tantos anos?

                Claro.

                E é por isso que ela está sorrindo para mim, me dando tchau enquanto pega seu celular e deixa um pouco de dinheiro em cima da mesa?

                Está se levantando e se dirigindo até a saída. Ela saiu. Estou olhando para seu percurso e não faço nada.

                Eu sou idiota?

                Olhei para o caminho que ela seguiu, onde não havia mais nada nem ninguém, então olhei para a xícara dela vazia, e para a minha pela metade.

                Fiquei um bom tempo fazendo essas mesmas ações idiotas. Olhando para as nossas xícaras e para o caminho que ela havia tomado.

                De repente...

                Bebi o cappuccino quente em dois goles rápidos, joguei um bolo de dinheiro em cima da mesa, peguei a xícara vazia dela e saí correndo pela rua procurando seus graciosos cabelos azuis.

                Não queria, Não poderia deixá-la sumir de minha vista!

                Corri para qualquer direção, e sem motivo algum, mudei de direção e comecei á correr para o lado do qual eu havia acabado de sair. Fui mais além, o final da avenida, atravessei algumas ruas, virei outras, então...

                Em frente á um lago, sobre uma ponte, ela estava conversando calmamente com um senhor de cabelos grisalhos que lhe entregou um pequeno cachorro de pelos lisos e brancos. Ela agradeceu e acariciou o cachorro quando o senhor se foi.

                Colocou uma coleira azul no cachorro e o pôs no chão, pronta para ir, mas eu me aproximei e fiquei de frente para ela que levantou o semblante para mim e sorriu meio confusa.

-Olá! – Disse ela.

-Hey! – Falei sorrindo e apertando a xícara com as minhas mãos trêmulas.

-Tudo bem?

-Hm... – Respirei fundo. – Esqueceu seu... Cappuccino. – Levantei a xícara para ela que ergueu as sobrancelhas, mas continuou sorrindo gentilmente.

-Oh! – Ela pegou a xícara de minhas mãos e encarou seu interior. – Muito obrigada!

                Definitivamente, eu sou idiota.

                Por que eu levei a xícara para ela? Ela não havia terminado de tomar seu cappuccino? Eu poderia ter levado aquela xícara da cafeteria? Grande idiota!

                Olhei para o pequeno cachorro como se pedisse ajuda para ele. O pequeno latiu e pulou em minhas pernas, o peguei e acariciei-o em silêncio. Estava muito constrangido para dizer algo.

-Diga olá para Sir Sid Vicious! Sou uma grande fã de Sex Pistols... – A voz risonha dela me disse. – Pode chamá-lo de Sid.

-Hey Sid! Sou Bill Kaulitz, mas me chame de Bill. – Falei sorrindo fraco e olhando para ela. – Sou um grande fã de Green Day...

-E aí Bill! Estávamos indo ao veterinário, o que acha de nos acompanhar?

-Eu adoraria! – Falei alegre. – E como se chama essa bela moça que te acompanha, Sid?

Aí fica pela imaginação de vocês.

Eu a conheci, fomos ao veterinário, jantamos juntos, nos encontramos durante toda a semana no Bookoffee e levamos nossos cachorros para passear em um parque, no fim de semana fizemos um piquenique, na segunda-feira eu a levei ao estúdio e a apresentei ao meu irmão, voltamos á nos encontrar no Bookoffee e no parque e jantamos juntos todas as noites, e fizemos mais piqueniques, e jantares, almoços, fomos ao cinema diversas vezes juntos, e sempre fomos bons amigos.

                E até hoje eu estou aqui, ao lado dela, aguardando o momento certo de dizer o que sinto, o momento em que terei a certeza de que ela sente o mesmo que eu. Estou aqui, sendo desastrado e sendo eu mesmo com ela. Sem perfeições para o público, sem medo de ser eu mesmo. Simplesmente agindo, e acima de tudo, sendo idiota.

                Ela me disse uma vez que isso é muito lindo em mim... A minha maneira desajeitada de agir perto dela...

                Bem, estarei aqui esperando até que ela me note de verdade.

                Até lá, fica pela imaginação de vocês, que, tenham certeza, não fazem menos planos do que a minha.

                Cappuccino para todos!


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Notas finais do capítulo

Reviews, por favor, REVIEWS!!!!
*O*
Até a próxima, meus divos!



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