Aparece em minha mente a escuridão que não quero ver:

“Por que não conseguimos juntos viver?”

Então meu coração sangra,

me recolho em minhas crises e defeitos.

“Limitada, eu?”

Não queria admitir.

Mas sou humana, parte podre

que cai sobre meu coração.

Tonta por entre os escombros

ando à procura de chão firme.

Não quero apelar para o que não sou

mas é difícil ver apenas costas viradas pra mim.

Afundo cada dia que passa

num buraco que eu mesma cavei,

tranquei e joguei a chave fora.

Quero sair, mas não consigo agora.

Nada me resta senão ouvir o som de vozes,

olhar o céu marcado pelas grades,

tocar as raízes das árvores, imaginar como são,

conviver comigo mesma...

Tenho vontade de sair correndo e gritando,

mas, Deus, há tão pouco espaço!

Gostaria tanto de poder esticar as pernas novamente,

respirar e sentir o ar puro.

Quero a minha vida de volta,

vida que nunca tive...

Quero me envolver, sentir,

mas pra isso devo precisar renascer...

Arrumo um pouco mais de terra,

torno meu buraco um pouco mais apertado,

me sinto mais presa ainda,

e cubro mais espaço com terra de novo.

Meu sonho de liberdade fica mais nítido,

mas também fica mais sonho

cada vez mais longe, uma bolha flutuando

no pano de fundo da escuridão.

Talvez eu devesse valorizar minha carcaça,

enfeitá-la tanto quanto der,

preocupar-me com o de fora, esquecer o de dentro,

é isso mesmo que eu quero fazer?

Quero ter uma vida!!!

Ser eu mesma, sem véu, sem máscara.

Quero que todos me aceitem

Independentemente da minha cara.

Por que ninguém consegue?

Por que não consigo?

Não me deixem dizer,

que estou aqui por estar cercada de rostos vazios.