Ethan e eu começamos a andar, sem rumo, eu não conseguia pensar em outra coisa. Estávamos andando de braços dados e sabia que se Ethan me soltasse, eu cairia. Ele tinha razão, eu estava de cabeça quente e não deveria tomar decisões erradas.

“Onde está me levando?” –Perguntei.

“Se eu dissesse que tenho um plano, estaria mentindo...” –Ele disse.

Sem esforço algum, sorri. Já estávamos em um lugar onde não existiam casas, apenas natureza.

“Acho que aqui, você pode ficar livre para pensar o que quiser.” –Ele disse parando de andar.

Olhei ao redor e pude ver algumas vacas ao fundo, há quanto tempo eu não via uma. Me sentei no chão, o mato estava baixo, mas algumas partes estavam bastante altas.

“Vai ficar em pé?” –Perguntei. -“Ou tem nojo de se sentar no chão?” –Perguntei rindo.

“Nojo? Não! Eu...”-Ele disse se sentando. –“...não tenho nojo.” –Completou.

Ethan fez uma cara de nojo ao encostar no mato, pude notar que ele apenas estava tentando me fazer rir, porque ninguém faz uma cara daquelas ao tocar em um simples mato.

“Está funcionando.” –Eu disse.

“O que?” –Ele perguntou. –“Esse mato coça!” –Completou.

“Isso!” –Eu disse rindo. –“Você tentando me animar.” –Completei.

Ethan apenas ficou me olhando e começou a coçar o braço. Eu simplesmente não conseguia parar de rir.

“Eu deveria estar chorando!”- Eu disse. –“Não deixa nem eu fazer um drama.” –Completei.

“Chora ai então, enquanto eu choro porque to me coçando todo.” –Ele disse.

Não conhecia esse lado do Ethan, estava gostando do que eu via.

“E o violino?” –Ethan perguntou.

“Dei o nome de Cheryl.” –Eu disse. –“Vi esse nome em uma revista.” –Completei.

“Belo nome... para um violino.” –Ele disse.

“Não sabia que você era engraçado.” –Eu disse.

“Obrigado por me chamar de palhaço.” –Ethan disse.

Me aproximei dele e o deitei minha cabeça em seu ombro esquerdo. Estava me sentindo bem.

Segunda-feira.

Não queria ter acordado, queria ficar ali pra sempre. Só dormi porque meus olhos não aguentavam mais ficar abertos, já estavam secos. Mary bateu na porta e antes que eu pudesse permitir sua entrada, ela já estava dentro do quarto.

“Não vai se levantar?” –Ela perguntou.

Neguei com a cabeça e puxei meu edredon até os meus ombros, me cobrindo quase que por inteira. Mary se sentou do lado esquerdo da cama e ficou me encarando com aqueles olhos enormes.

“Vai se deixar abater?” – Ela perguntou.

Me sentei e fiquei olhando para Mary. Eu não queria ser a fraca que chorar por um coração partido, mas eu não conseguia ser mais forte do que eu estava sendo.

“Vou sim e...” –Parei de falar.

O celular apitou, era uma mensagem. Olhei para a cabeceira e o vi piscando.

“Não vai ler?” –Mary perguntou.

“E se for o Teddy?” -Falei.

Mary pegou o celular e olhou a tela.

“Ethan.” –Ela disse.

Na hora, peguei o celular de sua mão. Realmente era ele.

“Algo me diz que você não vai querer ir para a escola hoje.” –Dizia a mensagem.

“E não vou mesmo.” –Respondi.

Não demorou muito e Ethan mandou outra mensagem.

“Não brigue comigo mas, conversei com Ed e ele disse que não vai também.” –Disse Ethan.

Ele não fez isso, pensei. Preferi não responder, liguei para o Ethan. Após tocar duas vezes, ele atendeu.

“Você fez o que?” –Perguntei.

“Bom dia!” –Ele disse rindo.

“Ethan!” –Eu disse.

“Calma, só quero o bem de vocês dois e achei que sabendo que ele não vai, você iria na escola comigo.” –Ele disse.

“Eu não acredito nisso...” –Eu disse.

“Vem, vamos pra escola, eu passo ai e te levo.” –Disse Ethan.

“Não vou!” –Insisti em dizer.

“Quando minha mãe buzinar, quero você arrumada na porta da tua casa!” –Ele disse.

Ethan desligou na minha cara. Tá, eu vou fazer o que ele pediu. Me levantei e coloquei meu uniforme, não penteei meu cabelo, apenas o ajeitei e o prendi em um rabo de cavalo alto. Não tomei meu café e antes que Ethan chegasse, eu já estava na porta de casa. Dez minutos depois, o carro de Eunice para em minha porta e Ethan sai dele.

“Me dá sua mochila.” –Ele disse.

Tirei a mochila das costas e entreguei a ele. Ethan voltou para o carro e fui atrás dele. Cada passo meu, era um grande esforço. Me sentei no banco de trás e, para a minha surpresa, Ethan foi ao meu lado.

No corredor para a sala, encontrei April. Acelerei meu passo até ela e parei em sua frente.

“Olá, queri...” –Ela dizia.

Até eu acertar um soco no meio de seu nariz perfeito. Seu sangue escorrendo até sua boca era confortante para mim. Pena que isso não aconteceu. April passou por mim e apenas a ignorei, como eu queria ter feito isso sempre. Aposto que Teddy já havia ligado para ela dizendo “Ela descobriu tudo entre a gente”. Tá, não acredito mesmo que tenha algo entre eles, sempre repetirei isso para mim. Entrei na sala e Teddy estava lá. Que vontade que eu estava de bater nele e no Ethan. Acabei sentando ao lado de Lori.

“Você está bem?” –Ela me perguntou.

“E você se importa?” –Perguntei.

“Talvez.” –Ela disse.

“Teddy e April...” –Respondi.

“Estão juntos? Mas...” –Lori disse.

“Ele me traiu.” –Eu a interrompi.

“Não, não, não.” –Ela disse. –“Isso não se parece com o Ed, Yolanda.” –Ela completou.

“É, mas eles estão se encontrando escondido, eu descobri, não me contaram, eu vi, vi as mensagens...” –Eu disse.

Lori nada respondeu, parece que viu que realmente isso estava acontecendo. Teddy nem tentou vir falar comigo, permaneceu em seu lugar, como se estivesse preso a ele.

“E eu achei que você era meu maior problema...” –Eu sussurrei para Lori.

Lori me olhou e deu um sorriso simpático, o que era bem estranho vindo dela. As aulas passaram tão rápido. Ethan me esperava na porta da sala e fui de encontro a ele.

“Você mentiu.” –Eu disse.

“Eu tinha que tirá-la da cama. Me perdoe.” –Ele disse.

Ethan agora me passava uma calma a qual eu sempre busquei em minha vida. Seu olhar tocava o meu com uma delicadeza que me deixava encantada. O abracei e deitei minha cabeça em seu ombro direito. Pude observar Teddy passar no final do corredor, olhando para a gente, mas nem me importei. Sabe, acho que minha vida está entrando em um rumo paralelo ao qual imaginei. Lori não estava mais sendo aquela pessoa a qual sempre sonhei em bater, esse era o papel da April. Ethan estava sendo o meu porto seguro, agora, quem eu depositei minha esperança, minha coragem, estava jogando tudo em um mar aberto, e que depende das ondas para voltar, se voltar.

Lori me dispensou do treino de hóquei, porque Ethan pediu.

“Você diz que não tem planos mas sempre me leva em algum lugar.” – Eu disse a Ethan.

“O meu plano é te fazer parar de pensar no Ed, agora não tenho planos sobre onde te levar, apenas levo.” – Ele disse.

“Então me leve.” –Eu disse sorrindo.

Fomos para o centro de Framlingham e no sentamos em um banco perto de uma estátua.

“Gosto de observar as pessoas. Gosto de imaginar o que elas são.” –Disse Ethan.

“Como aquela garota e aquele senhor, acho que ela está com ele por dinheiro.” –Eu disse.

“Ou ela é só a neta dele, Yolanda.” –Ethan disse.

Começamos a rir. Eu estava gostando desse jogo, ou eu estava gostando de passar o dia com Ethan? Estávamos sentados tão próximos, a perna esquerda dele tocava a minha e ainda assim me sentia longe dele. Quero ficar com ele.