Como se eu fosse esquecer de escrever uma música com Ed, eu estava ansiosa para que isso acontecesse, para que nossos pensamentos se unissem em um texto.  Ainda no banco, folheei meu caderno até a folha onde eu já havia anotado alguns trechos.

“Bom, eu estava lendo meu caderno e gostei desses trechos.” – Eu disse entregando o caderno pro Ed.

Ed leu os trechos por uns minutos e sorriu.

“Eu gostei, daria uma linda música.” –Ele disse me olhando.

“Então dá pra escrever algo agora?” – Perguntei.

“Estou sem meu violão, me esperem aqui que eu vou lá pegá-lo.” – Ele disse se levantando.

“Não, a gente te leva na sua casa.” – Eu disse.

“Aproveitem esse tempo sozinhas, mais tarde apareço na sua casa.” – Ele disse.

Fazia sentido o que ele havia dito, eu precisava desse tempo com a Mary. Agora eu fazia parte da família Lane e um dia iria conhecer meus novos parentes. Queria mesmo ter conhecido Amy, mas agora ela voltou para sua casa ou foi ensinar a felicidade a outra pessoa. Sabe, além de estar fazendo bem a mim, tinha certeza de que isso era muito importante para Mary, como já disse, não vou substituir sua filha, mas ela vai substituir minha mãe. Temos o mesmo objetivo, mas com sentidos diferentes. Me sentiria mal se um dia ela me dissesse que não sente mais a falta de Amy, queria que ela estivesse sempre presente, em lindas lembranças. Talvez o destino estivesse me reservando a Mary desde sempre, porque parece que eu a conheço há muito tempo. Nesse momento sozinha com Mary, eu não sabia o que fazer, não sabia de conversava, mas me faltavam palavras, não sabia se eu a abraçava...Sou horrível para quebrar silêncios.

“Nunca achei que fosse adotar alguém tão parecida comigo. Esperei por tanto tempo...” – Ela disse me olhando.

“E sabe de uma coisa? Sempre imaginei como seria uma ótima mãe e você já passou das minhas expectativas.” – Eu disse sorrindo.

Finalmente nos abraçamos e me senti quente. Seu abraço encaixava perfeitamente no meu e abraços assim são difíceis de se encontrar. Ao me soltar, Mary ficou me olhando.

“E você e Ed?” – Ela perguntou.

“O que que tem?” – Perguntei.

“Andam tão próximos. Melhores amigos ou...?” – Ela insinuou algo.

“Melhores amigos!” – Eu disse rapidamente.

Mary me olhou desconfiada, parecia que já me conhecia bem. Tinha medo de descobrir que o que sinto pelo Ed, na verdade era carência ou eu não sei diferenciar amizade. Mas sei que não, a maneira que Ed trata as pessoas, é tão diferente, que deixa seu coração confuso e apaixonado. O meu agora estava confuso, a um passo do caminho sem volta. Mary decidiu voltar para casa e a acompanhei. Mal nos sentamos no sofá, para assistir um filme que passava, Ed tocou a campainha. Abri a porta e ele estava com seu violão pendurado no ombro direito. Nos sentamos no sofá e Mary ficou nos observando.

“Não vai lhe incomodar?” – Ed perguntou.

“De forma alguma! A menos que eu atrapalhe vocês.” – Disse Mary.

“Claro que não, pode ficar!” – Disse Ed.

“Bom, vou procurar mais trechos aqui no meu caderno.” – Eu disse o abrindo.

“Me diz que eu anoto.” – Disse o Ed pegando a caneta.

Li várias páginas e poucas coisas absorvi. “Com outro grito, eu vou procurar outro lugar para eu morrer”. Não aguentava meus pais gritando comigo o dia todo. “Você jogou a minha vida no lixo”. Trechos que escrevi ainda no Brasil. Ed começara a tocar seu violão em busca de um ritmo. O ajudei a juntar as palavras, mas Ed fez grande parte sozinho.

“Acho que está pronta!” – Disse Ed olhando para o caderno.

Ed começara a cantar a música a qual ele deu o nome de e Folhas de outono, Autumn Leaves, porque graças a essas folhas, eu cai em frente a sua casa. Ed começou a cantar e um filme passou pela minha cabeça. A música definia tudo o que já me acontecera até este momento. Sempre há uma verdade em suas músicas e isso que me deixava cada vez mais encantada. Minha vida não era exatamente como na música, mas grande parte dela estava presente nela.

“Por que tem ‘Miss you’ na música?” – Perguntei.

“Não é uma música nossa? É tudo o que sentiria se você fosse embora.” – Ele disse.

Acho que meu coração parou por alguns segundos e não era uma sensação ruim. Queria poder ouvir Ed dizer isso novamente, mas ele poderia sentir minha falta com relação a amizade. Eu tenho mesmo que parar de confundir as coisas, isso não faz bem. Eu não conseguiria dizer que essa é a música mais perfeita de Ed porque, ele escrevera outras em minha presença e tão lindas quanto. Mary aplaudiu a música e a acompanhei. A história de Ed estava apenas começando, agora eu tinha certeza.