Eu estava sentada fora da sala da diretora, aguardando um aluno sair. Ele finalmente saiu e eu entrei. Sentei na cadeira em frente a sua mesa.

“Eu juro que foi sem querer, ela não tentou se defender e ...” – Eu fui interrompida pela diretora.

“Calma, Yolanda, eu acredito em você. Tudo não passou de uma coincidência” – Ela disse colocando seus óculos. – “Te chamei para fala da aula de biologia.”

Eu demorei para lembrar o que havia acontecido. Até que ela me mostrou o papel que eu havia deixado para o professor. Ela o guardou e permaneceu me olhando.

“Fique tranquila, te tirei de todas as aulas que você tinha com James.” – Ela disse.

Respirei aliviada e acabei sorrindo. Ela me entregou um papel com os novos horários e pude notar mais aulas com Ed. Meu dia começara a ficar bom, mas já sei que não por muito tempo. Logo após essas informações, ela me liberou. Quando sai, James estava sentado no mesmo banco que eu havia sentado. Ele se levantou assim que me viu e segurou meu braço direito com força.

“Você mexeu com a pessoa errada, garota!” – Ele disse.

Pensei em responder, mas a diretora o chamou. Ele soltou meu braço e a marca de seus dedos permaneceu ali por alguns segundo. Fui andando para fora do prédio, em direção ao banheiro da quadra para pegar minhas roupas. Faltavam vinte minutos para a saída, as outras garotas estavam no banho, porém eu não tinha tal coragem. Apenas me troquei e sai do banheiro. Vi Ed sair do banheiro masculino, com os cabelos ainda molhados. Ele não me viu e o aguardei se aproximar. Quando finalmente me viu, contei a ele tudo o que a diretora me disse. Ed parecia feliz com o fato de eu ter mais aulas com ele. Fomos caminhando para a saída, para esperar o ônibus.

“Você já foi traído?” – Eu perguntei.

“Acho que não...”- Ele disse, prestando atenção no caminho.

“E se eu disse que você já foi?” – Eu disse.

Ed parou de andar e olhou para mim.

“O que disse?” – Ele perguntou.

“Ouvi a Lori dizer que te usava, mas queria reconquistá-lo e ... “- Ed me interrompeu.

“Chega! Pare de inventar essas coisas!” – Ele disse.

“Mas, eu estou dizendo a verda...” – Ele me interrompeu novamente.

“Mentira!” – Ele disse.

Ed foi andando na frente e me deixou falando sozinha. Decidi segui-lo.

“Você a ama ainda, não é?” – Eu perguntei, andando atrás dele.

Ed nada respondeu. Só parou de andar quando chegou no ponto de ônibus escolar.

“Ed, olha pra mim!” – Eu disse colocando a mão ombro esquerdo dele.

“Eu sei que odeia a Lori, agora me meter nas suas histórias conta ela já é demais!” – Ele disse aumentando o tom de voz.

Tirei a mão do ombro dele, meus olhos encheram de lágrimas. Fiquei olhando para ele e eu sabia que se eu piscasse, a lágrima fugiria de meus olhos. Pisquei...

“Quer saber? Deveria voltar para ela, e voltar a escrever músicas. Quem sabe aquela ‘I love you’ não tenha sido para ela!” – Eu disse olhando para ele.

“Não duvide de mim!” – Ele disse.

“MAS É ISSO QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO COMIGO!” – Eu gritei.

As lágrimas corriam sem controle algum, isso era bastante comum. As sequei e Ed ficou me olhando.

“Não fale comigo, enquanto você preferir acreditar na Lori do que em mim!” – Eu disse.

O ônibus chegou, e não me sentei ao lado de Ed, nunca achei que sentiria raiva dele. Mais do que os outros dias, minha casa demorava a chegar. Quando isso finalmente aconteceu, desci sem nem olhar para Ed. Respirei fundo antes de entrar em casa, queria deixar meus problemas aqui fora. Entrei em casa e nem falei com Mary. Me sentei ao lado dela e fiquei vendo tv. A campainha tocou e Mary foi atender, ela olhou pelo olho mágico.

“É o Ed, querida.” – Ela disse baixo.

“Não atende!”- Eu disse e corri para o quarto.

“Mas...”- Disse Mary.

Ed tocou novamente, eu já estava no meu quadro, olhando pela janela, mas a cobertura da varanda me impedia de vê-lo. A campainha parou de tocar, mas não vi Ed indo embora, esperei mais um pouco e nada. Decidi descer, ele estava na sala com Mary.

“Eu sabia que sua curiosidade a faria descer!” – Disse Mary.

“Falei para não atender!” – Eu disse cruzando os braços.

Evitei olhar para Ed, não iria permanecer brava olhando o rosto dele, apesar de eu estar muito chateada mesmo. Mary saiu da sala, eu permaneci de braços cruzados e olhei para ele, nada contente.

“Você deveria estar na sua casa!” – Eu disse.

“E a gente não deveria ter brigado!” – Ed disse.

Engoli seco e desviei o olhar. Ed foi se aproximando, e eu dava passos para trás.

“Você duvidou de mim... achei que não fosse igual a eles!” – Eu disse.

“E não sou. Olha, Landy, assim como você, também tenho segredos e eu sabia que a Lori me traia, mas não podia fazer nada, se não ela colocaria a escola toda contra mim e eu não teria a paz que tenho...” – Ele disse, já bem próximo a mim.

Fiquei olhando nos olhos dele, que pareciam tão sinceros quando os meus.

“Não acredito que aceitou viver assim, por seis meses...” – Eu disse.

“E você, que aguentou por 14 anos? Landy, desculpa, eu...”

O que ele disse, me chocou de tal maneira.

“Você...”- Bati no braço dele. – “É um...”- Bati novamente. – “Idiota!” – Comecei a chorar.

Ed segurou meus braços e em um movimento rápido, me abraçou. Demorei a ceder, mas acabei abraçando-o também.

“Desculpa... me expressei errado, eu não queria dizer isso!” – Ele disse fazendo carinho na minha nuca.

Parei de abraça-lo e olhei em seus olhos, seu rosto estava tão próximo ao meu, que eu sentia sua respiração quente. Não me sentia uma idiota por já estar amando alguém que conheci há uma semana, demorei 14 anos para descobrir isso, amor. Mas eu tinha certeza que se, algo acontecesse entre a gente, um dia nossa amizade iria por água abaixo.

“Vamos aproveitar o fim de semana juntos, em outro lugar. O qual será surpresa amanhã, topa?” – Ele disse me olhando.

“Topo!”- Eu disse sorrindo.

Não pensei duas vezes ao responder, assim como não pensei duas vezes em perdoá-lo porque, eu perdoei meus pais, por que eu não perdoaria a melhor pessoa do mundo? Afinal, era Ed quem me mantinha viva naquele lugar. Sabe quando você começa a pensar no seu futuro e sempre tem aquela pessoa ao seu lado? Essa pessoa para mim, era Ed. Um garoto tão transparente, mas não aos olhos de todo mundo. Ed foi embora e eu passei o resto do meu dia pensando em como seria meu final de semana.