A Vida Secreta Dos Imeros escrita por Kalyla Morat


Capítulo 25
O torneio


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal! Capítulo novinho... até sexta que vem eu posto outro... já está quase pronto. Meus agradecimentos a Jess e a cecipms pelos comentários! Obrigada, é por leitores como vocês que continuo escrevendo... Boa leitura!!



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- Eu estou com pena dos competidores de hoje – disse Alex do nada, enquanto caminhávamos lado a lado. Estávamos quase chegando aos campos da CETI.

- Por que Alex?

- Eles vão ter problemas de concentração com você lá hoje – ele declarou.

Eu ri.

- Ah! Seu bobo.

- Bobo? Você já deu uma olhada pra suas pernas garota? Porque eu dei e olha...

- Alex! – repreendi constrangida, depois de analisar disfarçadamente minhas pernas. Elas estavam bastante à mostra para meu descontentamento. Eu deveria ter notado isso antes, principalmente porque tinha sido minha irmã a escolher minhas roupas. Elas eram tão Laura.

Pensei que chamar sua atenção tivesse resolvido o problema com o repentino ataque galanteador de Alex, mas pelo contrário, ele não se deteve:

- Você faz muitos exercícios não é? Elas são tão...

- Alex! – eu falei mais alto dessa vez e ele riu.

- Eu sabia que você era irritante, mas eu não sabia que “conquistador barato” estava na lista de coisas que você é.

- Eu posso ser muitas coisas se você quiser.

- Meu Deus, alguém esqueceu a timidez em casa hoje! Quer parar de flertar comigo? Está me deixando constrangida.

Ele riu mais uma vez, mas logo depois seu tom ficou triste.

- Nós nunca poderíamos ficar juntos.

- Por que eu sou apaixonada pelo Victor – eu disse a verdade. Pela primeira vez, eu tinha declarado isso, mais pra mim mesmo do que pra Alex. Não tinha mais como esconder, estava bastante claro, agora.

Mas fugindo do obvio, foram suas palavras seguintes que me surpreenderam:

- Eu faria você esquecê-lo. O problema é que você é quase uma princesa, enquanto eu sou um mero plebeu.

Eu ri pela sua convicção. “Eu faria você esquecê-lo” não era uma possibilidade, Alex tinha certeza que conseguiria superar Victor, no entanto, sua desculpa para não ficarmos juntos era totalmente medieval.

- Oh Alex, que antiquado. Sua natureza plebeia não teria problema algum pra mim. Você sabe disso não é?

Ele parou ficando em minha frente e me analisou por alguns segundos. Um sorriso triste surgiu de seus lábios e antes que eu pudesse ter alguma reação, voltou para meu lado e falou como se soubesse de uma terrível verdade, que eu ainda não fazia ideia:

- Existem planos pra você, Luiza, e eu não me encaixo neles.

Estávamos na CETI agora. Centenas de pessoas se espalhavam pelos seis círculos que formavam o campo parecido com uma flor. O círculo central ou o miolo estava cercado com fenos impedindo a passagem de quem não fosse competir. Bandeirolas coloridas se espalhavam penduradas em mastros, cobrindo a cabeça da plateia. Á direita, barracas de comida estavam cheias de pessoas analisando seu conteúdo. Uma música animada tocava alto  enquanto todos conversavam.

- Vem Luiza, quero te apresentar para minha família – disse Alex me puxando pela mão.

- Espera Alex – interrompi mantendo-me parada - o que você quis dizer com “existem planos pra você, e eu não me encaixo neles”.

Achei que ele fosse me responder, mas ao invés disso, ele tornou a me puxar e com a mão livre, acenou para uma garota alta de cabelo curto a uns 10 metros a nossa frente.

- Olha! Ali está minha irmã mais velha! Vamos, vou te apresentar à Lohana.

Percebendo que ele não me diria nada eu o segui.

Lohana em nada se parecia com Alex. Ela era alguns centímetros mais alta que o irmão, seus cabelos eram mais escuros e assentavam-se ao redor do rosto em um estilo despenteado. Ao contrário de Alex, ela parecia bem mais calada e não precisava preencher cada segundo de silêncio com uma frase sem sentido. Quando nos aproximamos, ela me cumprimentou com um beijo no rosto e nos levou até seus pais.

O senhor e a senhora Alvez eram duas pessoas simpáticas. Eles não pareciam ter mais que cinquenta anos e eram donos de uma alma tão jovem quanto à de seus filhos. Eles eram um casal apaixonado, dava pra notar pela forma que eles se olhavam: como se todo o mundo estivesse ali diante de seus olhos. Eu podia ver de onde tinha vindo o bom humor de Alex e pensei que a garota que se envolvesse com esse garoto tão especial, seria muito feliz.

Enquanto Lohana me contava sobre seu noivo, que estava em uma missão em Venezian, ajudando a reconstruir a cidade depois da ultima invasão, notei que Alex nunca desviava seu olhar de mim. Vez ou outra, eu via alguma garota bonita se aproximando, mas ele agia igual com todas elas: as cumprimentava, porém não lhe dava mais que um segundo de atenção, então elas desistiam e se afastavam, e ele tornava a me analisar.

Quando eu já estava ficando constrangida com seu repentino interesse, alguém veio por trás e tapou meus olhos com suas mãos. Eu demorei mais que três tentativas para descobrir que era Maicon. Ele me deu um abraço apertado e chamou a mim e a Alex para segui-lo até o centro, onde ele tinha reservado um lugar especial pra nós. 

Devo confessar que os lugares que Maicon nos reservou tinham uma visão bem melhor do que a de onde estávamos. Dava pra ver exatamente o campo de batalha montado especialmente para o torneio. Enquanto Alex me explicava o motivo de tantos pneus, carros  enferrujados e pilhas de pedra no campo, Maicon nos deixou sozinhos com a desculpa que ia trazer alguém pra que eu conhecesse. Pelo jeito, hoje seria o grande dia da socialização.

- Alex, você não tem que estar lá se preparando com os outros competidores? – lhe perguntei ao me lembrar de que ele tinha me dito que iria participar da competição.

 - Eu deveria, mas não quero te deixar sozinha.

- Ah! Isso é muito fofo Alex, mas eu posso me cuidar. Além do mais, nós não queremos que você perca o campeonato por minha culpa, não é?

- Ah! Isso é muito fofo Luz, mas eu tenho tempo – ele respondeu, numa tentativa engraçada de me imitar.

Eu ri e mudei de assunto.

- Então, você tava me explicando o porquê de todas essas pedras, pneus e carros velhos...

- Ah! Sim, eu me lembro. Você pode ver aquele baú de madeira bem ali na ponta do campo?

Eu concordei e ele continuou:

- Tem um de cada lado, vê? – ele apontou para o baú do lado oposto ao que ele tinha me mostrado antes - Então, são dois times oponentes, um baú para cada time.

- Até ai eu entendi.

- Bom. Agora, está vendo essas bandeirinhas espalhadas pelo campo? Tem vermelhas e amarelas, certo? Tudo que você tem que fazer é pegar as bandeirinhas da cor do seu time e coloca-las no seu baú. O campo do meu time é o da direita, então o meu baú é o da esquerda.

- Hmm! Mas isso é fácil!

- É ai que entram as pedras, os carros e os pneus. Eles atrapalham bastante, principalmente por que todos podem movê-los.

- Mas se eu posso mover essas coisas com a mente, eu também posso fazer as bandeirinhas voarem até o meu baú, não posso?

- Sim você pode, mas isso não quer dizer que eu vá deixar você fazer isso.

- Isso vai ser interessante.

Nesse momento, Alex olhou para a multidão atrás de nós e sua expressão se tornou carrancuda. Eu procurei por entre a massa de pessoas pelo que o estava chateando e foi quando finalmente eu o vi.

Victor vinha em nossa direção com uma expressão que era o espelho da expressão de Alex: carrancuda, se não furiosa. Eu me preparei para o que viria a seguir, já temendo pelo pior. Estava claro em seu olhar que ele ia armar uma cena.

Como se para piorar ainda mais a situação, Alex, mais que depressa, pegou em minha mão e eu imaginei o que Victor estaria pensando.  Eu tentei me desvencilhar de seu aperto, mas ele me segurou ainda mais. Alex estava pronto para a briga se isso fosse necessário.

- Luiza eu preciso falar com você – declarou Victor assim que chegou até nós. Seus olhos se detiveram em minhas mãos nas mãos de Alex.

- Você pode falar – eu respondi.

- A sós.

- Eu não tenho nada a esconder de Alex, Victor. Eu confio plenamente nele, você pode falar.

- É pessoal.

Eu dei um olhar sugestivo a Alex com a certeza de que ele entenderia. Seu semblante seguinte foi de derrota, mas isso não o deteve.

- Bom, já que o Victor chegou, eu posso deixar você sobre seus cuidados. Eu tenho que ir pra concentração de toda forma.

- Obrigada, Alex – eu disse sinceramente.

Ele concordou com a cabeça e começou a partir, mas aparentemente ele mudou de ideia e se voltou pra mim novamente.

- Só mais uma coisa – ele disse – Eu vou ganhar esse jogo pra você, Luz! – me deu um demorado beijo no rosto e saiu com um sorriso triunfante, deixando a mim e Victor a sós.

Victor não demorou mais que dois minutos para soltar suas garras:

- O que você está fazendo com ele, Luiza? Eu não gosto disso, não quero você perto dele.

- Ah! Não me diga! Você vai querer controlar minhas amizades agora também? – eu perguntei ironicamente.

- Se você são só amigos, então eu acho que não há problema.

- Como se isso fosse da sua conta! – eu falei mais alto dessa vez, impondo minha voz.

- Você está linda hoje – elogiou ele, com um sorriso tímido no rosto.

Primeiro eu me senti lisonjeada e um pouco sem jeito, mas depois eu me lembrei de que eu estava à cópia perfeita de Laura e a raiva me dominou completamente.

- Céus Victor! O que você quer comigo? Você não acha que já me usou o suficiente? – eu gritei dessa vez e um casal que estava próximo ficou nos encarando.

- Eu acho que precisamos resolver isso, Luiza. Eu não usei você, não como você pensa. Talvez no início, mas não...

- Victor! Olha o que você está falando! – eu gritei mais uma vez e o casal se afastou alguns passos. Resolvi baixar meu tom de voz – Você não percebe? No início ou no final, não importa, eu me sinto usada. Uma segunda opção. Me diz com sinceridade que você não sente nada pela Laura.

- Eu não sinto nada pela Laura.

- Diga olhando em meus olhos – eu desafiei.

Ele me prendeu com seu olhar e eu fiquei lá esperando pelas palavras que nunca viriam. Ele se afastou e desviou o olhar para baixo.

- Eu estou confuso, eu não sei o que eu sinto – revelou e eu ouvi a sinceridade da sua confusão em sua voz.

- Então não me procure até que você esteja certo do que quer – eu pedi, mais triste do que com raiva, talvez com pena.

 - Eu sinto sua falta – ele declarou como uma última tentativa de me convencer a voltar pra ele.

- Eu também sinto sua falta – eu revelei antes que eu tivesse se quer percebido as palavras que saiam de minha boca – mas então, você também sente falta da Laura, de todo jeito.

- Ei, Luiza! Victor! – gritou Maicon do meio da multidão se aproximando – Onde está Alex? – ele perguntou assim que chegou e não viu a presença dele.

- Ele já foi para a concentração. Ele tem um torneio para ganhar – eu respondi torcendo para que Victor entendesse que essa era a hora para ele nos deixar.

Ao que pareceu, ele entendeu a deixa e partiu com a desculpa que tinha algumas coisas pra checar antes que o torneio começasse. Maicon o convidou para se juntar a nós assim que o torneio começasse, mas ele recusou dizendo que tinha que fazer a escolta de Cássia e que, portanto, deveria estar ao lado dela. Por que minha mãe precisava de uma escolta eu não entendi. Todos pareciam adora-la, não imaginei que ela corresse algum perigo entre os imerianos, mas agradeci de toda forma, porque Victor não ficar entre nós hoje. Não depois do que tínhamos conversado.

Fui eu quem pediu que ele se afastasse, é verdade, mas isso não fazia a coisa menos dolorida. Eu era apaixonada por esse garoto independentemente de ele ter me usado ou não, eu o amava. Saber que ele estava confuso em relação a mim e a minha irmã, já era ruim o bastante. Ter que ficar ao seu lado, sabendo dessa duvida, seria pior ainda. Foi só então que eu notei a garota ao lado de Maicon. Não só ao lado, eles estavam de mãos dadas e com um sorriso no rosto.


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