Crossfire escrita por Jones, isa


Capítulo 18
Capítulo XVII


Notas iniciais do capítulo

Hey gente! :)
Gostaríamos de avisar que fins de período em locais que estiveram em greve (haha) e trabalho vão fazer com que só voltemos a postar a partir do dia 21/8.

Voltamos pra concluir a história e ela está na reta final mesmo (acreditamos que o ultimo capítulo seja o de numero 21, por aí).

Sabemos que abusamos da paciência, mas infelizmente nosso tempo livre anda curtíssimo :I
Obrigada pela paciencia e carinho até aqui.
Esperamos que continuem com a gente.

Abraço!



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Quando o corpo de Alvo Dumbledore finalmente foi liberado para uma cerimônia fúnebre, fazia um dia ironicamente ensolarado. A despeito de todas as lápides de mármore envelhecido, o ar pesado do ambiente e as estátuas de bustos e de anjos, as plantas e arvores vibravam em tons primaveris na ala leste do Cemitério de Highgate.

Em outras circunstâncias, o funeral teria perdurado por longas horas e o clima tempo ajudaria a todos a se manterem de pé durante seu processo. Alvo teria sido prestigiado com toda a pompa que a força policial e a Rainha utilizavam para homens como aquele.

Porem, com os últimos acontecimentos, o modo como ele morrera e as inúmeras matérias duvidosas lançadas diariamente pela mídia, eram uma sorte que conseguissem enterrá-lo ali, com a farda e as insígnias, alem da bandeira da Inglaterra posta sob o caixão.

Segurando a mão tremula de Hermione, Ronald pensava no quanto tudo aquilo parecia errado e cruel. De seu lado direito, Harry apertava com força o maxilar. Seus olhos brilhavam com lágrimas não vertidas, raiva e uma profunda angustia.

Tinha certeza que o óbito – que atestara suicídio – estava equivocado. O fato de que Severo Snape proibira enfaticamente Greengrass de ser responsável pela autopsia do corpo fazia com que ele não tivesse duvidas a respeito da má índole do homem alto e de rosto macilento que se encontrava a postos perto do caixão. Harry tinha consciência de muitas coisas e não tinha nenhum modo de prová-las, o que quebrava seu espírito em tantas partes que ele não tinha a mais vaga noção se conseguiria um dia recuperar-se de tudo o que acontecera desde que fora chamado para investigar o assassinato do magnata Tom Riddle.

Na New Scotland Yard, policiais começaram a chamar o caso de “a caixa de Pandora” em referencia ao mito grego sobre o recipiente que continha todos os males do mundo e, uma vez aberto, liberava-os.

Harry não podia julga-los.

Observando seu rosto consternado, Ron pousou uma mão em seu ombro quando a solenidade começou. Em silencio, os três lamentaram juntos.

Do outro lado do campo, Gina – que precisara comparecer na condição de jornalista – sentiu o coração pesar com a cena. Respirando fundo, bateu uma foto do trio para fins pessoais: era para aquela fotografia que olharia quando estivesse escrevendo a matéria sobre a vida de Dumbledore, onde tentaria com todo afinco, restaurar a honra e a dignidade daquele homem através de palavras, que era o que ela sabia fazer de melhor.

A preparação chegava a sua reta final.

Ronald reunira Angelina Johnson, Oliver Wood e Alastor Moody – os detetives que iriam ajudá-lo na invasão do Imperius – bem como Dino Thomas, Katie Bell, Simas Finnigan, Cedrico Diggory, Alicia Spinnet, os irmãos Creevey, Terencio Boot, Michael Corner, Marieta Edgemcombe, Justin Finch, Shioban O’Conner, Karen Muller, Artemis Chambers e Levi Rivers, os policiais a paisana.

Do Diretório de Detecção Eletrônica vinham Tonks, Lino Jordan, Zacharias Smith, Anthony Goldstein, Susan Bones, Edwiges Porter e Henry Jones.

Para alem disso, ele ainda tinha Neville Longbottom, Ginevra Weasley e Remo Lupin como civis habilitados para a operação. Os três haviam recebido treinamento adequado e intensivo de segurança pessoal e combates corporais alem de aulas de tiro.

Ver todos aqueles tiras sentados, ávidos para trabalhar com ele, foi como uma injeção de animo para Ron. Ser o detetive principal do caso era uma tarefa que lhe desafiava e o afligia, mas ter Hermione ao seu lado – como assessora pessoal – era reconfortante.

Olhando para ela, Weasley ajeitou o casaco, tomando cuidado para não desconfigurar o microfone preso ao bolso interno, único meio pelo qual Harry, Astoria e Draco escutariam a reunião em tempo real.

– Ok. – Pigarreou, sem saber onde colocar as mãos. Em todas as reuniões anteriores não precisara olhar particularmente para ninguém. Seus dedos percorriam as plantas dos cassinos de maneira possessa e enquanto ele e o resto de sua equipe analisavam estratégias, Tonks e o pessoal da DDE digitavam tudo em um notebook.

Dessa vez não. Todos estavam sentados de frente para ele, esperando que ele lembrasse pela milésima vez como a operação aconteceria e, quem sabe, fizesse um ou outro comentário motivacional.

Ronald acabou fazendo tudo isso, mas não sem alguma dificuldade. No fim da tarde, ele estava esgotado, ansioso e dividido entre a esperança e o pessimismo. Não havia nada que quisesse mais do que uma long neck de sua cerveja favorita, mas adiaria o desejo para quando fechasse o caso.

– Você se saiu muito bem. – Hermione elogiou quando só restaram os dois.

Ele encolheu os ombros.

– Não fui eu. Foram todos aqueles acessórios e aparelhos tecnológicos e futurísticos que Malfoy cedeu à equipe para servir de auxilio na operação. Todos se sentiram numa produção de 007.

Hermione sorriu.

– Aquela arma de choque é realmente incrível. E os óculos-câmera. – Ron não teve como discordar. – De qualquer modo, ninguém estaria tão confiante sem você, Ronald. Estou falando sério.

– Obrigado. Significa muito... Mesmo.

Os silêncios constrangedores vinham se tornando esporádicos desde o dia em que Vitor partira. Era como se Weasley andasse o tempo inteiro com algo entalado na garganta e como se uma parte de Hermione estivesse ansiosa para descobrir o que aconteceria quando ele finalmente desobstruísse suas cordas vocais.

– Alastor Moody. – Hermione mudou de assunto rapidamente. – Foi muito compreensivo em sustentar a história de que iria sozinho ao Sun’s Town quando na verdade Harry e Gina estarão acompanhando-o.

– Olho Tonto é um bom homem. E confia em Harry e em mim. Ele que nos treinou quando ainda éramos cadetes. – E sorriu, lembrando-se do passado. – Nós o achávamos assustador. Demorei alguns meses para parar de ter pesadelos com seu olho de vidro. Mas aqui estamos, dez anos depois, e ele é quase uma figura paterna. Não posso decepcioná-lo amanhã.

– Você não vai. – E havia tanta certeza nos olhos dela que Ronald não pode fazer nada alem de concordar com a cabeça.

Sirius deixou que Potter o enganasse por toda aquela manhã do dia 14 de Maio. Conversaram amenidades e ele fingiu não perceber os pequenos e quase imperceptíveis tiques nervosos de Harry: a maneira como ele mexia as mãos, a quantidade de vezes que piscava, o aspecto febril de seu rosto...

Quando o afilhado se despediu, Sirius lhe deu um abraço, do mesmo modo que havia feito com Remo no dia anterior.

– Está perto agora, não é? – Ele inquiriu, explicando-se em seguida. – A operação...

– Sirius, você sabe que não posso falar sobre isso com você.

– Claro. – Ele abriu um sorriso condescendente. – Nos vemos amanhã?

– Com certeza.

– Cuide-se, Harry.

– Você também. – E com um aceno, girou os calcanhares em direção à saída. Sirius lhe deu uma vantagem de dois minutos, antes de tirar o cartão que roubara de Lupin. Nesse novo duplex, a porta principal funcionava com um cartão magnético. Assim que alguém saia, a porta travava automaticamente.

No dia anterior, Sirius surrupiara o cartão do bolso do cardigã do amigo sem que ele notasse. Agora encarava o pequeno objeto retangular, sabendo que não tinha autorização para usá-lo (ou sequer portá-lo). Ele odiava estar preso, mas conseguira lidar relativamente com a situação durante todo o tempo em que tivera certeza que Harry estava seguro.

No momento, as circunstancias haviam mudado, e ele não hesitou em fazer o que julgou ser necessário. Por essa razão, foi sem nenhum traço de peso na consciência que Sirius saiu pela porta, no único intuito de seguir e proteger Harry caso a operação fosse realmente hoje, como lhe indicavam todos os seus instintos.

Poucos momentos na vida lhe pareceram tão decisivos quanto aquele.

Harry colocou o equipamento de escuta e os óculos sofisticados com câmeras que o departamento jamais teria como financiar, originários das empresas Malfoy, o dono da cidade e aparentemente da tecnologia em geral. Respirou fundo sete vezes: diante aos acontecimentos atuais, aquela era sua única chance e a de todos naquele departamento. Ronald estaria fazendo um ótimo trabalho no outro cassino e, obviamente, encontraria mais provas para que pudessem colocar Voldemort atrás das grades de uma vez. Entretanto, Harry estava em outro lugar, separado do parceiro e sem dúvidas, apreensivo. Aquele era o Sun’s Town, o cassino construído no lugar que sua mãe trabalhava e que seus pais morreram tentando derrubar e destruir e, de acordo com Lupin, foi por causa daquele lugar que os Longbottom foram torturados até a morte e tantas outras tragédias aconteceram.

Olhando para Neville Longbottom, se perguntou se ele sabia o quão importante seria aquela operação e o que aquele cassino representava para os dois. Talvez ele soubesse, apesar de não tocar no assunto e quem sabe estaria ali para vingar seus pais como Harry gostaria de vingar os dele, talvez ele soubesse que algo além de Gina os conectava mais que gostaria.

Nunca admitiria que acreditava em noções inexplicáveis como destino, porém sabia que aquele era o seu: destruir Voldemort de uma vez por todas. Não que tivesse nascido para isso, mas as circunstâncias o guiaram até ali e ele faria tudo o que estivesse ao seu alcance.

Ainda sentia-se preocupado pelas outras pessoas envolvidas no caso. Pensou na vida da sua namorada, que contra sua vontade – mas é claro que iria contra sua vontade! Aquela era Gina, por favor – colocava seus próprios equipamentos e reclamava do volume da escuta. Neville repassava detalhes da operação no sentido técnico, enquanto Dino Thomas, já dentro do cassino, repetia “entendido”. Esperavam que o pouco dinheiro repassado pelo departamento fosse o bastante para que ele estivesse perfeitamente disfarçado de cliente rico do Sun’s Town, seu sotaque irlandês talvez ajudasse na identidade secreta: vivia dizendo que deveria ser o único negro irlandês em Londres.

Ainda não sabia qual era a graça que todos viam em se disfarçar, mas aparentemente era um grande evento. Provavelmente uma maneira de aliviar a tensão de resolver o maior caso de suas vidas. Sabia que estava tenso.

– Pronto, querido? – Gina perguntou, antes de sair do furgão de Neville.

– Desde quando você me chama de-

– Sempre tem uma primeira vez. – Ela disse antes colar os lábios nos dele. – E uma última, porque foi horrível. Favor, não morra.

Ela saiu do furgão vestida em roupas pretas e justas, já que enquanto se arrumava dizia que parte da confiança vinha dos trajes que vestia: como acreditaria que era uma super espiã se vestisse a si mesma como jornalista? Torceu para que os trajes a ajudassem a ser uma d’As Panteras, como ela repetia para si mesma.

Como no enredo de um desses filmes, precisariam do impossível, porque não estavam confiantes de que estavam seguros, não confiavam em Snape e tinham um número reduzido de policiais à paisana, caso tudo desse errado. Se tudo funcionasse, nenhuma arma seria disparada e um caso completo sobre Voldemort seria montado, sem escapatórias. Só precisavam encontrar o que estava naquela câmara escondida no cassino e os livros registros reais, que adicionariam mais evidências ao caso que Hermione estava montando para a promotoria: entregariam Voldemort e sua condenação.

Pelas câmeras de segurança, assistiu Dino Thomas pedindo um drink após perder a mão no Black Jack, como um excelente jogador, num blefe comprado pelos ingênuos ao seu lado, fingiu não saber jogar e entregar a mão duas vezes, até limpar seus bolsos e ganhar da casa. Thomas sabia que suas habilidades de jogadores serviriam para algo, em algum momento. Também sabia que: quando você ganha na mesa dos pequenos, o cassino te move para a mesa dos grandes e era ali que queria chegar, aquele era o plano.

Em outra câmera, Gina se movia cuidadosamente pelo sistema antigo de ventilação, o que foi uma ótima sacada de Neville: Sun’s Town possuía mais de 30 anos, obviamente o ar refrigerado era central, com tubos metálicos largos que facilitariam a refrigeração comum e a chegada de Gina a sala de segurança. Precisavam de Gina no sistema de ventilação, porque, por mais que Harry não quisesse admitir, ela era a mais ágil e, mesmo alta, conseguiria se mover mais confortavelmente entre os vários níveis e corredores do prédio. E não existiam câmeras em tubos de ventilação, apenas em suas saídas.

– Estou chegando. – Avisou Gina.

– Conseguimos ver. – Harry falou, com as mãos nos bolsos, cada vez mais nervoso.

– Só queria manter contato, relaxa aí Potter. – Disse, enquanto movia-se rápida e silenciosamente pelos tubos, engatinhando com uma lanterna presa a testa. – Moody já está a postos?

– Sim, ele está aguardando nosso sinal. – Neville falou. – Estou quase pronto. Alastor, consegue nos ouvir?

– Sim, rapaz. – Ele falou, como se estivesse respondendo a uma ligação telefônica, essas escutas profissionais altamente tecnológicas atuais ainda não faziam sentido para ele, por isso segurava o celular no banheiro masculino em frente ao corredor trancado que dava acesso à sala de segurança. – Aguardando.

– Thomas, acene duas vezes se você conseguiu o código e uma se não. – Neville voltou a olhar para a outra câmera, enquanto Dino apostava as fichas que tinha acabado de conseguir, dobrando o dinheiro que o departamento tinha disponibilizado.

Esperou.

Dino acenou uma vez apenas e disse algo como “estamos chegando lá, só mais algumas apostinhas e minha esposa não vai reclamar que gastei nas mesas de black jack ao invés de trazer presentinhos de Londres, como são as mulheres, não é?”.

– Como são as mulheres uma ova. – Gina respondeu na outra escuta. – Se eu fosse sua esposa, Thomas, te daria uns bons socos.

Dino disfarçou o riso com uma tosse.

– Ninguém curte policiais sexistas, Thomas. – Um dos detetives da DDE falou também rindo.

Como conseguiam rir nessas horas? Harry se perguntou, mas se viu sorrindo: ajudava a diminuir o peso imenso daqueles ombros.

– Querida, está tudo bem aí? – Harry implicou, para ouvi-la rir.

– Querida não, Detetive Potter. – Ela respondeu em tom indignado. – Hoje sou Dylan, uma pantera.

Assobiou a canção tema do filme enquanto se movia pelos tubos, ninguém a escutaria até que chegasse a parte administrativa do cassino que, de acordo com Neville, seria em vinte minutos. Harry esperava ansiosamente pelos próximos vinte e três minutos que marcariam sua entrada no cassino e tirariam Gina dessa situação de perigo, talvez voltasse a respirar regularmente. Enquanto isso Neville digitava algoritmos ininteligíveis rapidamente no seu laptop gigantesco, como se estivesse em uma daquelas cenas de Matrix e se colocasse um sobretudo preto e óculos escuros poderiam chamá-lo de Neo.

– Estamos quase prontos, Longbottom. – Zacharias Smith, da DDE, disse.

– Então você está me dizendo que para entrar na parte realmente interessante do cassino eu preciso de um convite? – A voz de Thomas os interrompeu, enquanto ele recebia cartas na mesa mais importante da casa. – E como eu recebo esse convite?

“É um convite oral” respondeu a voz de um senhor, um tanto quanto alterado pelo álcool que pensava estar sussurrando. “Ninguém poderia receber um escrito, já pensou? As coisas que acontecem lá embaixo... Nem eu sei se quero voltar”.

– Eu com certeza quero ver. – Thomas falou ansioso e jogando verde continuou. – É verdade o que dizem?

“Você nem imagina.” O homem respondeu. “Para entrar você só tem que saber falar a língua das cobras”.

– E alguém sabe falar a língua das cobras? – Dino riu, porém dava para escutar o quão concentrado ele estava.

“Rapaz, ninguém. Mas parece que os donos do cassino têm alguma fixação por cobras e acreditam falar a língua das cobras.” O homem bêbado perdeu mais uma mão para Dino, que atento, sorria e fazia piada da situação.

– Thomas, temos pouco tempo. – Neville disse pelo microfone. – Você vai precisar se mover rápido.

Dino acenou duas vezes disfarçadamente com a cabeça.

“Você precisa dizer “abra” O senhor disse.

– Deixe-me ver se consigo gravar. – Dino olhou para o cara com bastante atenção, enquanto Neville acionava o gravador.

“Juro que funciona toda vez, você só precisa terminar dizendo ‘Basilisco’”.

– Então para abrirem a passagem para você, você só precisa dizer “abra, basilisco”? – Dino perguntou rindo, esperando Neville confirmar que entendeu. – Parece estúpido.

“Eu sei”. O homem o acompanhou nas risadas. “Se você tiver a sorte que abram para você, você vai ver que o que acontece lá não é nada estúpido”.

– Vou tentar qualquer uma dessas noites em que estiver aqui em Londres. O que a patroa não ver, não aconteceu, certo? – Thomas disse, pedindo mais cartas. – E pode deixar que nunca vou te dizer quem me deu as dicas.

Harry olhou para o cadete Dino Thomas admirado, talvez ele merecesse um aumento após esse caso. Se algum dia voltasse a pisar na New Scotland Yard, o colocaria em alguns casos mais importantes se fosse o detetive responsável novamente.

Respirou fundo mais algumas vezes, agora era sua vez.

Próximo ao cassino Imperius, Ronald repetia o gesto. O detetive Oliver Wood havia entrado há dez minutos no estabelecimento. Tonks e seus rapazes da DDE batiam em teclados e confirmavam ações enquanto Weasley se concentrava dentro do furgão.

– Entrada liberada, senhor. – A voz de Lino Jordan soou.

– Hora de chutar algumas bundas. – Angelina Johnson estalou o pescoço, preparando-se.

– Johnson, na minha contagem... – Uma gota de suor escorreu pela testa de Ronald enquanto ele encarava uma das telas onde Oliver e a oficial Alicia Spinnet verificavam mais uma vez a entrada dos funcionários. Perto deles, quatro corpos de seguranças jaziam imóveis ao chão. – 3... 2... – Oliver emitiu o sinal. – 1. Agora!

Eles correram de maneira paralela e no mesmo ritmo até adentrarem o cassino pela passagem dos funcionários.

– Ótimo trabalho, senhores. Permaneçam aqui. Se algo acontecer, Justin Finch, Shioban O’Conner e Karen Muller estão na escuta, prontos para reforço.

Oliver e Alicia concordaram, observando os seguranças temporariamente inconscientes.

– Johnson...

– Diretório principal. Segunda sala a direita. Quinto andar. – E fez sinal com o polegar.

– Eu estarei a apenas 78 passos de distancia.

– Sei disso, senhor. – Ela piscou e entrou no cassino por uma porta giratória enquanto Ronald pegava o elevador de serviço.

Será que eles o reconheceriam no ato?

Harry se encaminhou lentamente para o lado oposto da rua, escondendo-se no ponto cego das câmeras. Se tudo ainda estiver certo, Gina estaria em cima da sala de segurança agora e Thomas, assim como os outros detetives à paisana, estariam prontos para irem para seus lugares definitivos. Fora uma operação bem ensaiada. Neville apenas precisava acertar os últimos caracteres para que sua parte do plano fosse executada.

Lembrou-se que se não estivesse trabalhando para a polícia, aquela ação lhe renderia bons anos de cadeia. Assim como tudo o que tinha feito para ajudar Gina naquele caso, recentemente aprendera dela também, uns bons dias depois de hackear o cassino e fazer todas aquelas ilegalidades, o que ganhava uma vez que aquele caso fosse solucionado: Justiça. Justiça para Alice e Frank, para a sua vó e para ele mesmo. Quando soube disso, desejou ter posse de uma arma e atirar ele mesmo na cabeça do tal Lord Voldemort, que bom seria se ele perdesse a cabeça como seus pais, porém de uma maneira mais literal. Mas a voz de Luna sempre ecoava em sua mente quando ele tinha esses tipos de pensamento “você tem um coração tão bom, não deixe que ele se manche nesse tipo de sujeira”. Não se mancharia, porque há coisas que são piores que a morte: o resto da vida em Azkaban.

– Potter que está nos escutando, gostaria que eu os lembrasse: todos os civis não podem em momento algum disparar armas. Um por questões de somos civis e dois porque nosso plano é entrar e sair do cassino silenciosamente. – Neville disse, pelo microfone do furgão. – Agora, menos de 30 segundos para a ação. Harry esperou que a luz do refletor se acendesse e bateu na porta.

– O que faz aqui? – Disse uma voz de tom muito grave, levemente rouca. Harry não sabia que deveria responder perguntas.

– Vim conhecer a melhor parte do cassino, como me disseram. – Imitou um tom jocoso, como se estivesse um pouco bêbado. – Não me disseram que haveria um interrogatório.

– Você tem dois segundos. – O homem disse.

– O que faz aqui?

– Abra. – Harry disse simplesmente. – Basilisco. Isso que eu deveria dizer, certo?

O homem por trás da porta estava acostumado com clientes perdidos, mas não reconhecia aquele ali.

Deveria ser novo, quis perguntar pelo fone se alguém da sala de segurança conhecia aquele ali, mas lembrou-se que o refletor estava ligado, ninguém os veria ali e se demorassem muito as câmeras da rua com certeza os flagraria. Tinha sido treinado, para isso: o deixaria entrar e daria algumas porradas caso fosse mais um enxerido.

Ele falava a tal língua das cobras, afinal.

Ron andou pelo corredor acarpetado, sem se incomodar com as câmeras de vigilância no gesso ornamentado do teto. O pessoal da DDE estava controlando e hackeando o sistema de segurança, de modo que ele poderia caminhar tranquilamente. A essa hora, todos os seguranças do andar deviam estar atrás de Katie Bell – que serviria de distração – e os sócios do lugar não costumavam passar as horas noturnas sentados em seus escritórios trabalhando.

O detetive parou frente à porta que sabia pertencer a Bartolomeu Crouch Jr.

Ronald demorou apenas cinco minutos para invadir a porta do escritório.

Por duas semanas inteiras havia se especializado em grampos e em como usá-los na substituição de chaves; era um prazer constatar que sua fixação lhe rendera bons resultados em um espaço tão curto de tempo.

Em seu cronograma, liberara ¼ de hora para aquela atividade.

– Estou dentro. – Avisou à equipe através do microfone ao adentrar a antessala

Abrindo uma pequena maleta que levava à mão, observou os materiais que dispunha: moldes de plástico e gel, um erlenmeyer, suportes universais, pinças, algodões, papeis de fita, iodo sólido em palhetas e outros elementos químicos separados por divisórias precisas.

– Isso é tão Breaking Bad. – Ronald ouviu a voz entusiasmada de um dos detetives.

– Calado, Jordan. – Tonks ralhou, mas quando Ron usou um molde para cobrir a superfície da mesa escura e, em seguida, usou um borrifador cheio de mistura química (feito ali, às pressas, pelo próprio detetive) para evidenciar as digitais e elas surgiram fosforescentes como se fosse mágica, mal pode conter a frase pronta:

– Ciência, Mr White!

– Calada, Tonks. – Ronald pediu, mas sorria.

Recortando o molde onde as digitais se encontravam em maior evidência, abriu os registros policias que tinha sobre Bartô para conferir se a digital dele estava ali. Ele sabia que sim, porque a secretária do homem era uma de suas informantes e depois de uma longa conversa trivial sobre rotinas em escritórios, a moça finalmente decidira contar a Ronald que, embora estivesse se guardando para o matrimônio, costumava manter relações sexuais por outras vias com o chefe em cima da mesa de mogno que ele manejara com luvas plásticas naquele instante e que a funcionária encarregada pela limpeza das salas só entrava ali depois das 21.

Apesar disso, foi com apreensão que analisou os resíduos até encontrar a digital que batia com a dos registros. Muita coisa estava em jogo e até agora tudo estava correndo bem demais.

– Achei. – Murmurou exultante, dirigindo-se ao leitor biométrico que lhe conferiu acesso sem nenhum problema.

– Finalmente! – A voz era de Angelina. – Quase pensei em tirar um cochilo.

– Como estão as coisas por aí, Johnson? – Weasley perguntou no momento em que a porta de metálica se abriu.

– Do jeito que elas sempre estão quando estou presente, chefe.

– Você está tentando me tranquilizar?

Angelina riu.

– Você precisa relaxar, Weasley. Estou certa de que você seria quase interessante se fosse mais divertido.

– Você está falando com o irmão errado, Johnson.

– Espera. Você tem um irmão?

– Eu adoraria continuar essa conversa casual com você, Johnson, mas acontece que estou tentando obter informações realmente importantes de uma das minhas detetives encarregadas.

– Tá, tá. – Suspirou. – Estou com os livros de registro.

O pulso de Ronald acelerou.

– Você o que?

– Eu disse que já estou com os...

Um chiado de interferência e então ele perdeu o sinal.

Toda a confiança de Ronald ruiu naquele instante.

– Johnson?

Silêncio.

– Tonks, vocês estão recebendo sinal?

– Não, senhor. – O timbre apreensivo fez com que Weasley se movesse de um lado para o outro, incomodado. Sabia que o certo a fazer era permanecer onde estava e seguir com o plano para não comprometer a operação. Entretanto, sabia que não conseguiria dormir nunca mais se algo de grave tivesse acontecido com Angelina enquanto ela atuava em uma força-tarefa sua.

– Qual o tempo recomendado para espera nesses casos?

– Cinco minutos, senhor.

– Inferno! – Grunhiu e começou a procurar por papéis que poderiam ajudar na causa, agora sem se preocupar em ser discreto. Gavetas foram reviradas com displicência e ele jogou várias pastas na maleta sem sequer pensar nos vários problemas que aquele rompante poderia lhe causar. Quando acreditou ter material suficiente para analise e para servir como prova, saiu do local e correu em direção a sala que Angelina estava, ignorando todas as precauções que recebia de Tonks.


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