Crossfire escrita por Jones, isa


Capítulo 1
Prólogo




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Gina não precisava ver para saber que nem tão distante dali, Tower Clock marcava mais de meia noite.

– Anda, anda, anda. – Murmurou impaciente para ninguém em especial. Era a única pessoa presente naquela sala que cheirava a mofo, papel velho e caixa de papelão, o que, em síntese, era exatamente o que a sala abrigava.

O barulho dos saltos vermelho sangue pelo piso empoeirado (provando que nenhuma alma viva estivera ali há meses) não era problema. Tampouco a câmera indiscreta que pairava no teto encardido: Gina sabia que a máquina estaria congelada pelo tempo em que estivesse ali.

Ela correu a ponta dos dedos pelos caixotes com nomes famosos, mas, na maioria dos casos, esquecidos. Cada arquivo correspondia a uma coletânea de matérias já publicadas em relação a alguma identidade digna de nota, embora, em tese, apenas o Editor Chefe pudesse ter acesso à “Câmara Secreta” como os funcionários costumavam chamar o lugar por deboche.


Ao inferno com isso, Gin respondeu à própria consciência.

Era evidente que agora tinha medo de não conseguir encontrar o que desejava. Medo de que fosse realmente só uma espécie de lenda, algo para entreter os novos jornalistas e estagiários na hora do almoço.

Corria pelos cantos – desde que ela pisara no prédio pela primeira vez - que era ali, em meio aquela pilha de coisas velhas que existia um dossiê completo sobre Aquele-Que-Não-Devia-Ser-Nomeado, suspeito de vários crimes, mas, especialmente do atentado ao Jornal, ainda na década passada, quando Gina era nova demais para saber o que queria ser ao crescer.

Felizmente, ela sabia agora. E sem falsa modéstia, era a jornalista investigativa mais promissora ali no The Daily Prophet, o jornal mais ilustre de Londres desde os anos 60, lugar que jovens universitários de Jornalismo de toda a Inglaterra aspiravam chegar um dia e, onde ela, Ginevra Molly Weasley, tinha o privilégio de estar desde que fora selecionada a uma bolsa de estágio, cinco anos atrás.

O ar faltou por um instante. Estava arriscando não só o emprego, mas todo seu futuro por conta daquela obsessão.

Vagamente, os sorrisos orgulhosos dos pais foram surgindo à mente. Era filha caçula e embora levasse uma vida modesta agora, nunca se esqueceria dos esforços hercúleos que Molly e Arthur tiveram para criar os sete filhos com uma renda que só seria suficiente para um casal sem herdeiros.

Gina meneou a cabeça. Se permitisse que seu emocional a afetasse naquele instante, estaria ainda mais perdida.

Erguendo os ombros, ela tornou a procurar e já estava prestes a desistir quando finalmente encontrou a etiqueta que buscava. O pseudônimo “Voldemort” nunca lhe soou tão idiota, e foi sorrindo que ela passou todo o arquivo para a própria pasta, substituindo o original por uma resma de papel em branco.

Tirando as luvas descartáveis, jogou-as de qualquer jeito dentro de um bolso fundo do casaco e saiu para o corredor, passando com elegância por cima do corpo temporariamente inerte de um dos seguranças a quem ela tinha oferecido chá.

Tudo seria consideravelmente mais fácil se tivesse simplesmente dormido com o Diretor Executivo, teve que assumir para si mesma, ao pegar o elevador.

Mas mesmo uma garota como ela precisava de limites às vezes.

Gina soltou o coque, fechou o sobretudo e abriu um sorriso tão genuíno ao porteiro noturno que, definitivamente, o ajudaria a ficar acordado pelo resto da noite.

Ao pisar na calçada, o carro preto – anteriormente parado no final da rua – já a aguardava.

– Como foi? – Neville perguntou ansioso enquanto brincava com um pequeno aparelho cheio de botões. Gina sabia que ele estava reabilitando o sistema de segurança do Jornal, o mesmo que havia burlado para ela horas atrás.
– Entediante. – Ela respondeu, observando as unhas feitas antes de abrir um sorriso ferino.
– Você tem uma visão deturpada sobre tédio. – Ela ouviu o melhor amigo murmurar enquanto ligava o carro, mas não se importou em responder.

Tinha os olhos cravados na pasta que faria completa diferença em sua pesquisa.

...Completa diferença em sua vida, embora não pudesse prever ainda.


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