Annie’s POV

Eu não sei o que deu em mim, mas eu não consegui abaixar a adaga vendo aquela lágrima descer no rosto de Jake. Eu tinha um milésimo de segundo para bolar um plano e me livrar daquela situação.

A decisão de colocar uma faca na minha perna foi estranha. Eu não tive nenhuma ideia melhor, então ficou por isso mesmo. Porque não? Eu já tinha vivido tanta coisa, tinha menos de duas semanas de vida. Uma adaga na perna não ia fazer diferença.

Mas nem mil facas na perna me faria eu me sentir pior ao escutar “prontos para morrerem?”, João estava lá. Vivo. E quer nos matar.

- João? – perguntei descendo das costas de Jake, avancei uns passos sozinha – É você mesmo? Você está vivo?

Eu vi uma ponta de dor em seus olhos, mas logo voltou para o ódio.

- Eu estou vivo, Annie. Mais vivo do que você pensa. Pena que agora eu tenho que matá-los.

Eu senti uma ponta de dor em mim.

- Matar? Depois de tudo o que passamos? O que aconteceu com você João? – perguntei.

Leo já estava com seu martelo na mão, Jake tinha tirado seu arco de não se de onde e Piper estava com sua adaga. Eu estava indefesa a frente. Se fosse morrer, eu morreria primeiro.

- Eu me juntei ao lado vencedor Annie. Eu virei o vilão agora. E como ousa falar de tudo o que passamos? Você jogou tudo fora antes mesmo de eu “supostamente” morrer, você me trocou por ele – João apontou para Jake.

A raiva zumbiu em meus ouvidos, troquei?

- Eu te troquei João? Tem certeza? Porque eu me lembro de ter dado um beijo no Jake, foi errado, eu admito. Mas e você? Que se embebedou até rabo e depois ficou com uma mina qualquer num beco? Quem foi lá pra te salvar João? – rosnei.

Jake deu uma risadinha baixa, já Leo e Piper estavam de olhos arregalados. João pareceu ficar zonzo, ele suspirou, eu podia ver que ele estava tentando conter sua raiva.

- Você nunca foi nada para mim. Desde o começo foi um jogo, desde quando você foi me buscar no Brasil para vir morar ao acampamento até a parte da minha suposta morte. Estava tudo planejado garota. Se enxerga menina, você não é digna de ser uma filha de Afrodite – ele disse.

Meus olhos marejaram. Eu me sentia fraca e impotente, tudo uma farsa? Todo o amor era de mentira?

- Todos os beijos, os abraços, suas juras de amor. Tudo mentira? – perguntei com a voz embargada.

- Tudinho – ele sorriu – pode dizer. Sou um ótimo ator não? Você nunca foi nada para mim. Só um brinquedinho, acho que vou te manter viva mais um pouco, até você morrer naturalmente por causa dessa sua mancha na barriga.

Arregalei os olhos, minha perna doía, meu corpo inteiro doía. Mas como ele sabia de tudo aquilo?

- Como você... – eu não tinha força para falar nada.

- Além de ator eu sou um espião, sei das coisas – ele deu uma piscada.

Eu não podia ceder. Como não ceder? Meus sentimentos tinham sido pisados, massacrados, triturados e digeridos por harpias. Eu queria morrer, mas não podia morrer. Não assim.

-Se entregue João – Leo disse ao meu lado – nós somos quatro e você só um.

João o olhou e deu um sorriso frio. Ele estralou os dedos e Tay brotou das sombras, ele estava com a mascara novamente.

- Olá de novo colegas. Como vai sua perna Annie? Vai querer enfiar a adaga na outra? – Tay perguntou com um sorriso no rosto.

- É melhor você ficar quietinho seu projeto de deus ou eu enfio a adaga em um lugar pior – respondi.

Pude ver Jake, Leo e Piper abrirem  um sorriso. Tay amarrou a cara e se virou para João.

- Posso fazer as honras?

João sorriu frio.

- Com prazer.

Tay fechou os olhos e o ar tremulou, ficou frio. O parque se encheu com uma névoa branca e espessa, eu não conseguia ver um palmo a minha frente. Escutei gritos, uivos, gemidos, nomes. Por impulso agarrei a mão de Jake. Era bom saber que havia alguém vivo naquele lugar.

Eu podia pressentir que algo estava errado. Eu sentia alguma coisa chegando mais perto, mais perto, mais perto. Algo gelado tocou minha garganta e então eu apaguei.

[...]

Piper’s POV

Eu acordei com frio, estávamos num lugar escuro, eu podia sentir o cabelo do Valdez tocando minha nuca. Eu estava amarrada de costas a ele. Olhei ao redor e... Estávamos na mesma caverna de antes, eu e Leo praticamente no mesmo lugar.

Eu não vi Jake, Annie, Tay ou o traidor do João em lugar algum. Eu ainda estava chocada com a relação que João e Annie tiveram. Quer dizer que Annie beijou Jake e João bebeu todas e comeu uma menina num beco? Estranho, muito estranho.

Fui tirada dos meus pensamentos por uma voz que eu amava.

- Piper?

- Leo?

- Você está viva? – ele perguntou e eu revirei os olhos.

- Não Leo, to morta, ta vendo não?

- Ah – ele respondeu.

Um silêncio desagradável se formou no ar. Meu cérebro trabalhava a mil para pensar em possibilidades de nós sairmos de lá com vida. Que eram quase nulas.

- Piper? – Leo me chamou.

- Oi? – eu olhava envolta, procurando minha adaga.

- Posso te falar um negócio? – ele perguntou mas eu nem prestava atenção, eu precisava me esticar um pouquinho para pegá-la.

- Eu sempre gostei de você.

Gelei. Meu coração parou.

- Como? – eu estava atônita.

Senti ele respirar fundo.

- Eu não sei se você sente a mesma coisa por mim Piper, mas desde que estávamos naquele internato, antes mesmo de sabermos que éramos semideuses eu te amava. Aí o Jason chegou e te roubou de mim – ele fez uma pausa – eu sempre te amei Piper, você não sabe o quanto doía ver você com ele. Não sabe quando doía ver você chorar quando ele foi embora. Se formos morrer agora, eu queria que você soubesse que eu sempre te amei.

Engoli em seco, eu estava sem palavras. Me estiquei mais um pouquinho e peguei a minha adaga, comecei a cortar freneticamente as cordas.

- Não vai falar nada? – ele perguntou e eu me mantive concentrada nas cordas – olha, se você não gosta de mim é só falar...

Terminei de cortar  e me levantei num salto, levantando Leo junto. Eu o prensei na parede e olhei fundo naqueles olhos castanhos.

- Você achar que eu não gosto de você foguinho?

E simplesmente selei nossos lábios, não passou disso, mas o simples selinho de Leo me fez sentir como se eu pudesse fazer qualquer coisa.

Desgrudei nossos lábios.

- Continua achando? – perguntei.

- Nem um pouco – ele sorriu travesso.

Agarrei a mão dele e saímos correndo a procura dos outros, passamos por várias salas. Até chegarmos a uma menor. Parei bruscamente na porta e pude ver Annie e Jake no centro da sala, ajoelhada. João estava a sua frente  e Tay estava no canto.

- Qual de vocês eu mato primeiro? – ele começou a andar ao redor deles – eu disse que me vingaria não disse? E aqui estou eu.

João sorriu vitorioso e apontou para Jake.

- Eu vou matar você primeiro,está decidido – ele soltou uma risada maléfica.

Annie levantou a cabeça bruscamente e encarou João nos olhos.

- Um mano a mano – ela disse – eu, você e mais ninguém. Escolha suas arma. Se eu ganhar você nos deixa livre e nos entrega o vento, se eu perder você mata todo mundo.

João sorriu calorosamente.

- Aceito.