Jake’s POV

- Já quer meu corpo nu Annie? – perguntei me jogando na cama.

Ela trancou a porta e me olhou séria

- Jake, eu vou te mostrar um negócio, só me responda se é o que eu estou pensando. – Ela disse.

Ela levantou um pouco a blusa, até o umbigo e eu pude ver uma marca negra, que rodeava o umbigo, não era possível. Aquilo era... aquilo era...

- É a maldição negra não é? – ela me olhou com lágrimas nos olhos. Eu me aproximei para analisar mais.

Com certeza aquela marca era a maldição, passei anos estudando essa doença no acampamento. Deixe-me explicar, alguns semideuses quando atingem a adolescência criam essa marca na barriga, quando ela aparece verdadeiramente a pessoa não tem mais de um mês de vida. É incurável. São raros os semideuses que tem, as chances de contrair essa doença são de uma para mil.

- Jake? – ela chamou.

Encarei seus olhos, eu podia encontrar dor neles, eu senti meus olhos umedecendo também e disse:

- É. Annie você sabe... – fui interrompido por ela.

- Eu sei, eu também aprendi sobre isso no acampamento. Não tem cura, muita dor, blá-blá-blá. Quer dizer que eu vou mesmo morrer em um mês? – ela me perguntou e seus olhos se encheram de água um pouco mais.

Eu não resisti e a abracei, eu não queria que nada a machucasse, eu tinha visto alguns semideuses com a doença, e no final eles não ficavam nada bem.

- Não Jake, eu não quero morrer. Não me deixa morrer. – ela me abraçou mais forte ainda. Meu coração foi se partindo, um mês pra viver? Isso não era vida.

- Ei ei, calma, escuta, não chora, por favor. – eu disse chorando também.

Ela não respondeu, ficamos lá, abraçados, por muito tempo, eu não queria que isso acabasse, eu não queria que ela morresse. Um mês! Só um mês pra viver.

- Jake, não tem cura né? – ela me olhou, eu podia ver medo em seus olhos, eu podia ver suplica em seus olhos.

- Annie...

- Né? – ela continuou.

- É. – eu disse por fim.

- Não me deixa morrer Jake, me ajuda, por favor.

Cravaram um punhal em mim, eu sei como é no final, a pessoa não come, não fala, sente horríveis dores, no fim do mês ela tem falência dos órgãos e morre. Simples assim.

- Não vamos pensar nisso Annie, você tem que dormir agora. Vem, eu canto uma música pra você dormir.

Vi um sorrisinho se formar em seus lábios.

- Você cantar? Essa eu quero ver.

Ela deitou na cama e eu deitei ao seu lado. Comecei a cantar “Perfect” do Simple Plan para ela, era sua música preferida, ela deitou no meu colo e eu comecei afagar seus cabelos.

Annie era simplesmente a pessoa mais incrível que eu já conheci na minha vida, ela poderia (está para falar a verdade) morrendo, mas sempre vai esconder isso com uma armadura de sorrisos, o mundo vai estar desabando mas ela vai estar lá para dizer “está tudo bem”. Por dentro de toda essa armadura tinha uma menininha indefesa, carente e solitária, que precisa de atenção, precisa de alguém para lhe dar um sorriso sincero, para dizer um “bom dia minha pequena”. Não era justo que essa menininha só tivesse mais um mês de vida.

João’s POV

Eu estava indo a cozinha para pegar um pouco de água, mas escutei alguns choros e conversas vindas do quarto da Annie. Acabei escutando tudo, foi sem intenção é claro. Ok, foi de propósito, escutei sobre a maldição, sobre o mês de vida e eu fique atônito. Escutei Jake parar de cantar e continuei andando para a cozinha. Abismado, é claro.

Eu era tão idiota, ela devia estar sofrendo tudo sozinha, é claro que Annie não contaria para ninguém sobre sua doença e não deixaria Jake contar também, eu fingiria que não sabia de nada.

Mas como? Sempre que eu olhasse para aquele rosto eu pensaria na maldição negra, pensaria na dor que ela sentiria, pensaria em tudo que ela perderia, um casamento? Ficar preocupada quando seu filho demorar para voltar para casa? Chorar ao ver ele saindo de casa para morar sozinho? Envelhecer ao lado de seu grande amor? Ela não teria isso. Ela não teria como viver tudo isso em menos de um mês.

Meus olhos se encheram de água, mas os roncos de Valdez me trouxeram a realidade, eu tomei minha água e sentei no chão da cozinha mesmo, enfiei a cabeça entre as mãos e chorei, eu não queria perde-la.

[...]

- João?

Levantei a cabeça rapidamente e quase fiquei cego com a luz do sol. Olhei para cima e vi Piper me encarando.

- Ta tudo bem? – ela perguntou.

Esfreguei os olhos para me livrar do sono e dos rastros de lágrimas.

- Ta sim, eu só adormeci aqui... ér, quando eu vim pegar um copo d’agua.

Ela me olhou desconfiada mas suspirou e me estendeu a mão para levantar.

- É melhor você arrumar as suas coisas, Rachel ta vindo aí, Annie já ligou para Sally Jackson e ela disse que ficará de olho no apartamento enquanto estiverem fora.

Annie, porque eu tinha a leve impressão que não ela não iria voltar para cá? Cumprimentei Valdez que assistia televisão e vi Jake colocando algumas roupas numa mochila, Annie deveria estar no banho, decidi fazer a mesma coisa, coloquei roupas em uma mochila e tomei uma ducha rápida, tentei deixar o quarto arrumado e quando estava saindo a campainha tocou, era Rachel.

- Espero que estejam todos prontos. – ela disse entrando.

- Estamos, eu só vou fechar a janela. – Annie respondeu, ela estava com uma cara boa, aquilo deveria ser apenas uma máscara para o que ela estava realmente sentindo.

Alguns minutos depois estávamos dentro de uma mini-van do pai de Rachel, o caminho até foi tranquilo, apenas três monstros apareceram, eu acabei com um corte no braço e Leo um roxo na perna, fora isso nada mais.

O acampamento estava animado, conseguíamos ver isso ao longe, estava um calor digno de Apolo, cada vez piorava mais,  descemos a colina em silêncio, Quíron apareceu para nos saudar e Rachel foi colocar ele a pá de todas as novidades.

Nós cinco fomos direto para área dos chalés, muitos semideuses cochichavam entre si. Adivinha quem nos recebeu?

- Olha só, a feiosa fugitiva resolveu voltar, não aguentou ser zoada pelos mortais Annie? – Drew disse dando risinhos.