Destino escrita por Eve


Capítulo 38
Capítulo Trinta e Oito


Notas iniciais do capítulo

Olha eu aqui de novo, depois de quinze dias apenas. Nem deu tempo de sentir saudade que eu sei. Queria agradecer por todos os reviews que me deixaram no capítulo passado, acho que foi uma das maiores interações que tive nos capítulos mais recentes. Fico muito feliz de ver novos leitores vencendo a timidez e me escrevendo pela primeira vez, e igualmente contente de ver aqueles que sempre me deixam algo mantendo a tradição ♥



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XXXVIII

 

 

— Por favor, Bia. - Poseidon implorou pelo que poderia ser a milésima vez. - Já se passaram três dias.

A criada permaneceu irredutível em sua posição, insensível a seus apelos desesperados. Ele só podia fazer qualquer tentativa de se aproximar da sua esposa reclusa quando não era Ulisses que guardava sua porta, pelo bem da integridade física dos dois. Mas a experiência havia lhe provado que as damas de Atena não eram nem um pouco mais fáceis de se persuadir, por mais dedicadas que fossem suas tentativas.

— Lady Atena foi clara quando pediu que não fosse incomodada. Ela especificamente frisou que não gostaria de ser incomodada pelo senhor. - A moça explicou pacientemente e Poseidon revirou os olhos porque já havia enjoado de ouvir aquele mesmo discurso. Sabia que no momento era desprezado e até odiado por todos que viviam sob seu teto - por Atena principalmente - mas queria uma chance de pelo menos tentar explicar a situação. A noite de sua chegada havia sido confusa em muitos aspectos - poucas horas antes Poseidon fora surpreendido pela afronta de Ulisses e em seguida pela aparição de Medusa, e guiado pela raiva e pela confusão de seus sentimentos, havia repetido de forma estúpida o mesmo erro de antes. A jovem plebeia permanecera em seus aposentos mesmo depois que Poseidon adormecera, e uma vez que Atena não era esperada em Atlântida naquele dia, a última coisa que ele havia imaginado fora que sua esposa chegaria ali e os surpreenderia no ato.

Ao ser confrontado por Ulisses ele chegara a imaginar alguns possíveis cenários onde confessaria o que tinha feito e imploraria para que Atena o perdoasse. Agora que isso já não era mais uma escolha, percebeu com algum constrangimento que ele provavelmente nunca teria contado. Preferia acreditar que estaria agraciando-a com a bênção da ignorância. De qualquer maneira, gostaria de olhar nos olhos cinzentos da esposa mesmo que fosse apenas para ouvi-la chamá-lo de todos os nomes degradantes que merecia ouvir. Gostaria de uma chance para reparar o que havia feito na medida do possível.

— Pelo menos me diga se ela está bem. - Ele pediu, e o olhar cético que a serva o lançou foi o suficiente para fazê-lo corar. Claro que ela não estava bem. Na noite do incidente ele permanecera todo o tempo seguinte à confusão ajoelhado próximo à porta que separava seus quartos, sem coragem para cruzar a pequena distância e enfrentá-la, e havia sido capaz de ouvir os soluços abafados que perduraram por longas horas até que ele mesmo adormecesse no chão frio. Mas não era a isso que se referia no momento. - Sabe que me preocupo com a saúde dela.

Bia suspirou, claramente cansada da sua amolação.

— Minha senhora está perfeitamente saudável, se é o que deseja saber. Nenhuma crise ou fraqueza súbita nos últimos dias. Ela apenas deseja um pouco de privacidade e nós fazemos o possível para respeitá-la em sua decisão. - A jovem esclareceu com um tom sugestivo. Poseidon supunha que merecia aquela e tantas outras broncas veladas. Um servo nunca ousaria levantar a voz ou criticar diretamente seu senhor, mas a reprovação de seu séquito de criados não precisava ser proferida em palavras para que ele a percebesse.

Finalmente admitiu sua derrota e recuou.

— Tudo bem. - Foi o que conseguiu murmurar, completamente tomado pela exaustão. Voltou ao seu quarto e deitou-se na cama malfeita, sem mais saber como agir. Não poderiam superar aquilo enquanto não conversassem sobre o que acontecera, mas Atena parecia muito determinada a fingir que ele não existia e barrar cada uma das suas tentativas de reaproximação.

Talvez fosse assim que tudo aquilo acabaria. Parecia um fim coerente à sucessão de acontecimentos desacertados que havia sido seu casamento até ali. Não tinha dúvidas de que era isso que Atena desejava - que ela havia desejado desde o momento em que oficializaram a união - e depois daquela desastrosa mágoa talvez fosse a hora de admitir que seus planos de conquistar a afeição da esposa estavam mais do que fracassados.

Foi obrigado a seguir seus dias e suas tarefas sem a presença de Atena. Ela não dava qualquer sinal de que planejasse voltar ao seu convívio e já se completava uma semana sem que ele tivesse sequer um vislumbre de sua esposa. A aflição já o fizera ultrapassar as barreiras do decoro e vez ou outra ele batia à sua porta ou chamava por ela do lado de fora do seu quarto, mas até agora não havia obtido resposta. Por esse motivo ficou mais do que surpreso quando, numa que deveria ser outra manhã qualquer, a encontrou por acaso em meio aos preparativos para a chegada de seus vassalos.

Interrompeu imediatamente seu caminho ao que quer que estivesse indo fazer no momento e por alguns minutos ficou apenas observando atônito a cena tão comum. Ela estava parada no centro do maior salão do castelo, onde o baile aconteceria, com as mãos na cintura e expressão aflita enquanto dois criados tentavam pendurar uma imponente tapeçaria na parede que ficava atrás do estrado e diretamente à frente da entrada principal. Ele viera até ali por um dos acessos laterais, por isso conseguia observar claramente a cena sem denunciar sua presença.

— Não, não, não. - Ela os repreendeu altivamente, e parecia que anos haviam se passado desde que ele ouvira sua voz pela última vez. - O lado esquerdo está ficando mais alto… Não, James, fique onde está, Henry é que deve… Não se mexam. Deixem que vou até aí.

Ela saiu de seu campo de visão para auxiliar os jovens e Poseidon deu mais alguns passos salão adentro para que fosse capaz de continuar observando a cena. Ela subiu alguns degraus ao lado de um dos intendentes e tomou o tecido de suas mãos, posicionando-o como queria. Em seguida ordenou que o rapaz voltasse a segurá-lo no lugar e desceu do estrado rapidamente para admirar o posicionamento de longe.

— Assim está perfeito. - Foi seu veredito. - Podem fixá-la agora, sem mexer nenhum centímetro.

— Então foi com isso que esteve ocupada todos esses dias? - Ele perguntou de onde estava, e Atena rapidamente virou-se na direção de sua voz. Sua expressão foi de surpresa a puro desgosto em apenas um segundo, e ele estaria mentindo se dissesse que não fraquejou um pouco frente à frieza de seu olhar. Ela não lhe concedeu a graça de uma resposta antes de virar-se novamente para supervisionar o trabalho dos servos.

Poseidon cruzou os poucos passos de distância entre os dois e posicionou-se ao seu lado, determinado a não deixar escapar aquela chance de finalmente conversarem.

— É um belo trabalho. - Ele elogiou, observando o padrão intrincado de ramos de oliveiras que preenchia toda a tapeçaria. O fundo era negro e as folhagens em tons de verde e dourado. Havia também outros desenhos e símbolos que daquela distância ele não conseguia distinguir muito bem.

Atena suspirou, impaciente.

— O que você deseja, Poseidon?

— Não acha que precisamos conversar?

— Esse não é o momento ou o lugar adequado para isso.

Ele indicou uma das antessalas à sua direita com um gesto. Atena considerou por um segundo e então cedeu, claramente contrariada enquanto caminhava até lá. Poseidon a seguiu e fechou a porta atrás dos dois.

Atena acomodou-se tão distante dele quanto possível, próxima à janela, e aguardou com os braços cruzados na frente do corpo e a expressão austera. Todo o seu cabelo estava preso para trás numa única trança que corria pelas suas costas e ela usava um vestido de peça única, sem manto e sem véu, cinza como seus olhos. Parecia mais do que nunca régia e inalcançável em toda sua simplicidade.

Ele havia pensando em mil maneiras diferentes de abordá-la durante esse tempo afastados, mas todas desapareceram de sua mente como bruma quando ele a encarou ali pela primeira vez.

— Eu sinto muito. - Foi o que conseguiu verbalizar.

Atena deu uma pequena e seca risada.

— Isso é tudo?

Ele remexeu-se desconfortavelmente.

— Há algo mais que eu possa dizer? - E a pergunta tinha um tom de lamento.

— Não. - Os olhos delas faiscaram ao responder, e pela primeira vez ele percebeu que debaixo de toda aquela aparência sóbria, ela estava verdadeiramente furiosa. - Não há nada que possa dizer para se redimir.

Poseidon hesitou, rendido mudo por alguns instantes frente à intensidade daquela declaração. Seus pensamentos estavam mais embaralhados do que nunca e ele tropeçou nas palavras antes de replicar:

— Não achei que fosse se importar. - E ele percebeu o quanto aquilo soou errado assim que as palavras deixaram sua boca. Atena ergueu as sobrancelhas e partiu os lábios, estupefata.

— Essa é realmente a sua ideia de um pedido de desculpas?!

— Não! - E a frustração o consumia por não conseguir se expressar corretamente. De fato, no fundo havia pensado que ela não se importaria. Lembrava do alívio dela quando ele sugerira um casamento de fachada e lembrava também do que havia lido… Mas essa não era a questão. - Não foi o que quis dizer. Não há nada que eu deseje mais nesse momento do que o seu perdão. Mas não acho que esteja inclinada a concedê-lo. Nem mesmo acho que eu o mereça.

— Sábio. - Foi só o que ela respondeu, e ele suspirou aborrecido. Ainda permaneceu em silêncio por um momento antes de por fim dizer a única coisa que veio à sua mente:

— Não quero mantê-la descontente dessa maneira. Sei que nunca desejou nada disso. Não deve querer permanecer aqui depois do que fiz, e eu entendo. Não desejo que viva tendo que se esconder pelo castelo para evitar minha presença e permaneça infeliz ao meu lado. - E o motivo egoísta pelo qual faria aquela oferta: não suportaria tê-la para sempre daquela maneira, sabendo que o desprezava e o odiava. - Nosso casamento não foi consumado, portanto posso fazer um pedido formal pela sua anulação. Poderá ter sua liberdade de volta se assim desejar.


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Notas finais do capítulo

Como prometido, a atualização foi dupla e o próximo capítulo já está postado; quem quiser deixar aqui seu grito de indignação antes de seguir em frente também pode.