_ E foi por isso que os dois começaram a namorar? 

Finnick balançou a cabeça em concordância, fazendo com que a namorada soltasse um suspiro baixo. 

_ Quando isso aconteceu? 

_ Um pouco depois dela ter voltado. Lembra-se da festa de Madge, ano passado? Ela chegou a te convidar, eu lembro. - Annie soltou, passando as mãos pelos cachos escuros. 

Se tinha um momento no qual ela realmente se sentia desconfortável era quando estava comentando sobre a vida de Katniss. Por mais que as duas não se falassem mais, Peeta entendia que ela sentia isso como uma deslealdade à melhor amiga. 

Katniss jamais perdeu o cargo na visão de Annie. 

_ Então, eles conversam lá e Gale a apoiou demais, a ajudou demais, sabe? Ela realmente precisava de alguém do lado dela. 

_ Foi meio o que tinha para hoje. - Finnick comentou baixo, recebendo um olhar de reprovação de Annie

_ Não foi bem assim, Finnick. Também não gosto de Gale, mas ele a ajudou. Eu sou grata à ele por isso. 

_ Qual é, Ann, ele só piorou toda a situação. 

_ Claro que não, Finnick. Foi ele quem convenceu a mãe dela à voltar para Nova York, foi ele quem a tirou da depressão.

_ Para joga-la em uma pior ainda. 

_ De qualquer forma, eles começaram a namorar quando ela voltou? - Peeta cortou os comentários, antes que os dois começassem a discutir. Não estava com paciência para agüentar briga de casal, muito menos para ficar segurando vela na hora da reconciliação. 

_ Basicamente, foi na época em que a gente parou de conversar. Quando ela voltou, ele meio que a tirou de todo mundo. - Ela revirou os olhos esmeraldas. _ Por isso que o odeio, sabe? Ele tirou minha melhor amiga para joga-la nas mãos da Glimmer. 

_ Não foi bem assim… 

_ Caralho, Finnick, não começa. - Peeta bufou irritado. 

_ Exato, não começa. - Annie sorriu vitoriosa, fazendo-o cruzar os braços no peito. _ Parece uma criança mimada. - Comentou rindo baixo. 

Finnick deu de ombros, enquanto Annie lhe lançava um beijo. 

Ótimo, Peeta sentia-se sobrando mais uma vez. A pior parte de seus dois melhores amigos estarem namorando entre si era ter que agüentar. Respirou fundo, levando as costas ao encosto da cadeira azul clara do refeitório. 

Seus olhos vagaram pelo local por vários segundos, em busca dela. Parecia impossível encontrar qualquer pessoa naquela manada de pessoas passando de um lado para o outro e falando alto ao mesmo tempo. 

Ele só queria vê-la. 

Não, na verdade queria muito mais do que isso. Queria conversar com ela, pergunta-lhe porque nunca havia comentado por tudo o que passou e principalmente porque não o chamou. Sentia-se mal por tê-la deixado em momentos tão críticos da sua vida. 

_ Eu pensei que você soubesse. - O comentário de Annie o fez erguer o olhar, frisando a testa. _ De tudo o que aconteceu. 

_ Annie te xingou por semanas, pensando que você soubesse e tivesse deixado-a na mão. - Finnick completou o comentário da namorada. 

_ Jamais faria isso, não a deixaria sozinha. Ainda mais quando sei o quanto Prim e o pai significavam para ela. - Ele balançou a cabeça, suspirando baixo. 

As coisas estavam piores do que um dia poderia ter imaginado. 

_ Desculpe por isso. É que, quando eu falava com você, sempre perguntava como ela estava. E Katniss sempre correu atrás de você quando acontecia alguma coisa, aí eu pensei. E Peeta, tente não a julga-la, tudo bem? 

_ Não estou julgando-a

_ Eu te conheço, sei que na sua cabeça está julgando-a por não ter ido atrás de você. Foi muita coisa ao mesmo tempo, eu a entendo. 

Ele balançou a cabeça por um breve segundo, absorvendo tudo que Annie e Finnick haviam lhe contado desde o começo do almoço. 

*** 

Silencio; Ela adorava tudo que envolvia essa palavra. 

Pensar aquela forma era tão mais simples, viver daquele jeito era tão mais agradável. A única parte ruim daquilo era ter que ignorar seus pensamentos. 

A voz de Glimmer, por mais irritante que fosse, conseguia afastar qualquer pensamento inoportuno. 

Katniss suspirou baixo, jogando-se na cama desarrumada de seu quarto enquanto encarava fixamente o celular nas mãos. Estava com saudades de ouvir a voz dele, por mais ignorante que ele, com toda a certeza, seria. Só queria ouvi-lo, por alguns segundos. 

As vezes queria voltar no tempo, só para não perde-lo de vista. Não gostava da forma como se sentia completamente exposta ao mundo sem ele para lhe ajudar, para alinha-la em seus braços e dizer que tudo ficaria bem. 

Nele ela realmente acreditava. 

E tinha certeza que, se prometesse de novo, voltaria a acreditar. 

Sentia-se uma idiota por ser tão dependente de um ser que não estava nem aí para ela mais. O pior era pensar que, por mais de uma vez, chegou a acreditar que era a - ou uma das - pessoa mais importante de todo o mundo dele. 

Sentia seu coração palpitar rápido, enquanto o barulho da discagem ecoava. Um, dois, três toques… Talvez estivesse ocupado demais ou… 

_ Alô? - Seus olhos começaram a arder, indicando as lágrimas chegando. 

_ Ei, p- 

_ Katniss? O que você quer? Já te dei dinheiro esse mês e eu… 

_ Só liguei para dizer que estou com saudades, não ia pedir nada. - Respirou fundo, ignorando o bolo em sua garganta.

_ Ah sim. Vou ter que desligar, estou ocupado. Depois eu te ligo, sim? - Antes que ela pudesse responder porém, ele já havia desligado. 

_ Talvez quando eu estiver morrendo, você tenha tempo para falar comigo. - Murmurou baixo, abraçando o travesseiro e enterrando seu rosto ali mesmo. 

Não entendia porque ainda ligava para ele ou porque ainda tinha tamanha necessidade de traze-lo de volta à sua vida. Estava claro, mais de uma vez, que ela não estava mais na vida dele. Que ele estava pouco se importando para como ela estava ou deixava de estar. 

Na verdade, até ela parou de se importar com isso. 

***

Louça lavada, casa perfeitamente arrumada e cheirando ao agradável odor do bom ar. Para que empregada quando se tinha uma escrava? 

Subiu as escadas de dois em dois degraus, entrando no quarto e batendo a porta forte atrás de si. Não suportava mais aquela vida.

Tinha exatos vinte minutos para se arrumar antes de Gale aparecer e ainda não havia nem mesmo escolhido a roupa que usaria naquela  - como a mãe gostava de lembrar - ocasião especial. 

Só queria, naquele momento, enfiar-se debaixo de suas cobertas e esquecer o mundo por várias horas, como sempre fazia quando tinha um tempo livre. Era segunda feira, sua cabeça parecia estava a passos de explodir e… Bem, ainda havia Peeta. 

Na hora da saída, tentou escapar dos braços ágeis do namorado e procura-lo para conversar, nem que fosse por poucos minutos, mas foi impossível. 

Ao que parecia, apesar de Peeta ter voltado à rotina de Katniss há apenas poucas horas, Gale desenvolveu um nível de ciúmes completamente ridículo e desnecessário. Por mais de uma vez, ficou a um passo de manda-lo ir a merda naquele dia. 

Tomou um banho rápido, pegando o vestido comprado pela mãe mesmo pela falta de tempo para se arrumar e colocou seu par de sapatilha favorito. Ajeitou os cachos rapidamente, antes de fazer uma leve maquiagem e prender a franja para trás. 

Saiu a procura de seu celular, enquanto ouvia o irritante toque avisando que uma mensagem havia chegado. Não precisava ver para saber que era de Gale, ou avisando que estava perto e manda-a descer ou dizendo que estava saindo de casa. 

Recebeu sua confirmação quando ouviu a campainha de baixo tocando e, com um bufar alto, passou a jogar tudo para cima, encontrando seu celular branco no meio das toalhas. Jogou-o dentro da bolsa, antes de sair e bater a porta do quarto atrás de si. 

_ Estou descendo. - Gritou assim que a campainha tocou mais duas vezes. 

Abriu a porta da frente, dando de cara com um enorme buque de rosas vermelhas, um urso de pelúcia gigante e um Gale bem arrumado. 

Ela sorriu um pouco diante a cena, puxando o urso e o buque para as mãos e dando um beijo rápido no namorado. 

_ Você está linda. - Ele murmurou em seu ouvido. 

Em momento assim esquecia-se porque odiava tanto o namorado e lembrava dos primeiros meses juntos, quando ele a fazia rir das bobagens que dizia, que ficava com ela uma madrugada inteira conversando pelo celular porque acordara de um pesadelo. 

Lembra-se o quanto perfeito ele conseguia ser quando queria. 

_ Você também não está nada mal. - Comentou de bochechas coradas, enquanto entrava em casa novamente seguida por Gale. 

_ Estou um charme, pode dizer. - Seu tom metido a fez rir baixo. _ Tem sorte de ter um namorado tão lindo assim. - Completou. 

Katniss colocou as flores em um vaso antes de leva-las ao quarto, com a ajuda de Gale. 

_ Depois dizem que quartos de meninos que são bagunçados. Diga-me Kat, como não se perde no meio de tamanha bagunça? 

_ Gale, não me enche o saco. - Revirou os olhos acinzentados, com um pequeno sorriso nos lábios. _ E vamos logo antes que a minha mãe chegue. 

_ Não vai mesmo me contar para onde está me levando? - Perguntou pela milésima vez desde que havia entrado no carro da mãe de Gale, a minutos atrás. 

As ruas iluminadas de Nova York passavam rápido pela janela fume do carro, enquanto ela tentava pensar qual seria o destino daquela noite. 

O sol aos poucos começava a se encontre atrás dos enorme arranha-céus da cidade que nunca dormia, fazendo-a pensar em Peeta quase que de imediato. 

Laranja, como o por do Sol. 

_ Ainda não percebeu? - Ele sorriu divertido, pegando a mão fina da menina e acariciando docemente. 

_ Se eu tivesse percebido não estaria perguntando. 

_ Kat, pensa. Há um ano atrás, onde foi que a gente se encontrou? 

_ Na festa da Mad. 

_ E depois? 

_ Fomos ao Central Park e … A gente vai jantar no Central Park? - Ela mordeu o lábio inferior, segurando uma risada baixa. _ Você quer ser assaltado ou quer que eu seja estuprada, Gale? - Ergueu as sobrancelhas, fazendo-o rir. 

_ Menos, Katniss. 

*** 

_ Não sei não, Annie. Tenho que arrumar as coisas aqui em casa e… 

_ Pare de ser tão chato, Mellark. Vai ser legal, além do mais, é apenas um sorvete, não é como se você fosse chegar em casa de madrugada ou alguma coisa do tipo. 

Persuadir. Annie conhecia muito bem todos os significados do verbo e o realizava com perfeição. 

_ Para ficar de vela com você e Finnick? Muito obrigado, já me basta o almoço. - Ele bufou baixo, enquanto se jogava na cama bem arrumada de seu quarto completamente lotado de caixas. 

A preguiça ainda não havia deixado com que ele arrumasse as coisas. Quando tinha criado o mínimo de coragem, Annie havia ligado. Ao que parecia, o destino estava a favor da bagunça. 

_ Não vai ficar de vela! Além do mais, não vamos só nós três. Johanna, Clove e Gloss também vão. Sabia que Gloss está ficando com Johanna? Ela me contou isso hoje, fiquei pasma. - As vezes Peeta sentia que Annie achava que ele era sua amiga menina, para contar tais coisas. 

Como se estivesse interessado em saber com que Johanna ficava ou deixava de ficar. 

_ Legal, dois casais e apenas Clove e… Annie, eu sei o que está fazendo. Pode parar nesse exato momento. 

Ela soltou uma risada alta do outro lado da linha. Peeta revirou os olhos azuis para o teto.

_ Ei, sabe o que Clove comentou sobre você hoje? 

_ Não estou interess-

_ Disse que você está lindo demais para a saúde mental dela. E que sentiu sua falta e ficou chateada por você não ter ido atrás dela hoje. 

Claro, porque sempre foi incrivelmente próximo à Clove. 

_ Não me lembro da época em que éramos amigos, Annie. 

_ Finnick disse que vai passar aí para te buscar em três minutos, é melhor colocar uma roupa decente. 

Qual era o sentido em discutir com Annie Cresta mesmo? Ela sempre conseguia tudo o que queria. Seja por bem ou por mal. 

_ Tenho escolha? 

_ Não. 

_ Certo, onde vamos então? 

_ Finn está querendo tomar ir à uma sorveteria quase na frente do Central Park. Ele disse que em nenhuma outra há milkshake igual de lá. 

_ Finnick está com umas manias estranhas ultimamente. 

_ Nem me fale. - Ouviu o suspiro baixo de Annie. _ De qualquer forma, se arrume. Estamos passando aí.