Retalhos escrita por Mandy


Capítulo 6
Mudança de vida


Notas iniciais do capítulo

Yo amigos1
Aqui temos mais uma parte da historia de Cas, Jimmy e Gabriel quando eram jovens.
Espero que gostem. escrevi com todo o coraçao.
Overdose de fofura. Com um pouco de drama, claro.
Agradeço a todos que favoritaram essa historia. Esse capitulo é para voces!



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“Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação.”

                                                                        Clarice Lispector

Doze de julho de 1993

O jovem Castiel tinha se apressado para chegar em casa, a rotina pesada de seu novo emprego ainda era algo que ele deveria se acostumar. Quem diria que trabalhar na contabilidade de um mercado pequeno poderia ser assim estressante? Quanto mais ele pensava nisso mais ele não entendia, primeiro ele nunca poderia dizer como diabos ele tinha conseguido o emprego, o dono do mercado Gregory Hunt parecia a pessoa menos interessada em contratar um adolescente cego como ele e, mesmo que metade da vizinhança soubesse que ele era realmente muito bom com números ninguém parecia querer admitir que tinha falado bem dele para aquele homem irritante e mal encarado.

Bando de hipócritas, pensou o jovem de olhos azuis. Metade das pessoas que moravam em seu prédio pediam-lhe para fazer cálculos, ajudar em duvidas sobre orçamentos e alguns até mesmo o levavam para as grandes lojas para que ele fosse de alguma ajuda no momento da compra, afinal, ele era o cara que sabia mais sobre juros do que qualquer trabalhador de banco. Sua vizinha tinha até mesmo dito que um dia ele poderia ser um grande professor de matemática! Até parece que alguém ia querer ver um cego ensinando números complexos. Para o jovem aquilo parecia ridículo, ele não conhecia nenhuma outra utilidade para pessoas como ele, e mesmo que seu irmão insistisse em dizer que já tinha lido sobre esse assunto e que sim, pessoas cegas podem mesmo fazer de tudo ele não acreditava, não parecia real. Cas não poderia acreditar em nada do que lhe diziam pois ele era a única pessoa sem visão em seu pequeno mundo de poucos amigos. Morando em uma cidade grande e estudando em escolas regulares Cas nunca teve a chance de conhecer pessoas que viam em preto o mundo. Mesmo quando ele aprendeu Braille, mesmo quando uma amiga do pintor (Ver capitulo Dookins) o ajudou a se achar no mundo, a ser orientar espacialmente e a ter confiança em si mesmo ele não teve muitos reais contatos com pessoas cegas. Claro que a pequena Laura, uma menina de cinco anos que nasceu com a pressão alta do olho e fazia aulas junto a ele, o fazia ter cada vez mais e mais esperança.

Bem, agora ele era um quase adulto e não precisava mais de suas aulas de locomoção. Nem das de Braille. Tudo o que ele tinha no mundo era seus dois irmãos e a carta de admissão no curso de historia de Berkeley.

Ele tremia suas mãos ao pegar no molho de chaves, ele prometeu a dois de seus melhores amigos- Anna Ferrar e Doug Norman- que iria dizer a Gabriel hoje, afinal, não é todo o dia que um adolescente quem nem ao menos tem dezesseis anos passa nos testes de admissão de uma faculdade renomada como aquela. E alem do mais, Cas quase poderia ouvir a voz de Anna em sua cabeça, “você sempre quer ajudar seu irmão nas coisas de casa, agora você pode se dedicar a um emprego, um verdadeiro emprego que você sempre sonhou, ser professor pode ser ruim onde eu venho, mais aqui! Aqui você pode até mesmo ganhar um Nobel!”. Ela estava certa. Ser professor era uma das poucas coisas que ele sabia que poderia fazer mesmo sendo cego, a outra coisa era continuar trabalhando para aquele homem desagradável que sempre esquecia seu nome. Ele não aguentaria nem mais um mês naquele mercadinho de quinta! Ele queria por que queria ir para uma universidade.

Mesmo assim ele ainda estava com medo.

Como ia ser as coisas depois que ele saísse de casa?

O coração do jovem ficava pesado só de pensar. Seu irmão mais velho era um policial jovem e brilhante que estava prestes a receber uma promoção a detetive e ser transferido para a área de homicídios... se ele já não tinha tempo para nada sendo apenas um simples oficial fardado uma vez que chegar sua promoção- Cas tinha certeza que não iria demorar muito, seu irmão era realmente muito bom no que ele fazia- ele não teria tempo nem para ser o idiota e brincalhão que ele sempre foi. Em outras palavras, ele não teria tempo nem para ir para casa.

Se Gabriel não voltasse para casa ele não teria tempo para cuidar de Jimmy.

E esse era o seu outro problema. Quem ficaria com Jimmy? Se ele fosse fazer faculdade ele não poderia voltar para casa, não quando a faculdade é longe e nenhum deles tem carro, nem por causa do possível bullying que ele sofreria uma vez que seus novos colegas descobrissem que ele ainda volta para casa depois das aulas. Maldito sistema americano! Se as coisas fossem diferentes ele não estaria sofrendo com nada disso.

Na verdade, ele não sofreria com nada disso se ele tivesse uma mãe que o amasse. Mais é claro que a vida não poderia ser simples com ele, não, o filho que foge de casa deixando uma mãe malvada para que o diabo a carregasse deveria sofrer. E ele estava sofrendo.

O jovem finalmente abriu a porta. Suas mãos ainda estavam tremendo. O que ele ia fazer?

Não era assim que ele queria passar o seu aniversario.

De uma forma ou de outra, ele iria magoar alguém.

As maiores probabilidades eram de que Gabriel resolvesse largar seu trabalho para comprar uma casinha perto do campus. Assim, eles não precisariam se preocupar com quem ficaria com Jimmy e Cas teria seu curso de historia do qual sempre sonhou. Só que o trabalho de policia de seu irmão iria ser arruinado. Ou magoaria Jimmy quando dissesse para ele que não moraria mais ali, que ele iria passar três anos longe deles.

Como seria bom se ele fosse um adolescente normal que não precisaria pensar em nada como aquilo, seria realmente tudo o que ele sonhava. Ter uma família que não fosse uma ameaça, uma poupança que o permitisse entrar na universidade sem se preocupar com o magro salario de seu irmão e todos as coisas que ele ouvia falar de seus amigos e conhecidos da escola.

Mais tudo o que ele fantasiava não passava disso, fantasia. A sua realidade era marcada por uma figura materna que nem se importava se eles estavam vivos ou mortos, um irmão mais velho que matava um leão por dia para dar condições humanas de vida e educação a cada um deles e um irmão gêmeo que sabia falar pouquíssimas palavras.

E essa era a vida a qual ele estava acostumado.

Ele finalmente entrou em casa.

-Jimmy, onde você está? O silencio desconfortável foi a primeira coisa que o cumprimentou naquela tarde. Nunca em toda a sua vida ele abria a porta depois de um dia de trabalho ou de escola para não ouvir pelo menos um barulho vindo de seu gêmeo.

Cas fechou a porta atras de si com o coração ainda mais pesado. Seu irmão não o estava respondendo e ele não sabia o que deveria fazer.

-Jim? Ele perguntou mais uma vez assim que o som delicado do metal da chave avisou-o que ele já tinha chegado no limite de giros que poderia dar. Nunca era demais ser cuidadoso... O jovem garoto estava ainda mais preocupado, quando tinha saído essa manha seu irmão identico tinha deixado bem claro que estava prestes a fazer uma festa sozinho com seus gritos de alegria, afinal, aquele tambem era o aniversario dele, aquele era o dia em que os dois comemorariam mais um ano de vida no mundo e o menino especial nunca deixava passar esses dias, nem mesmo quando ele tinha pesadelos sobre o tempo em que ainda moravam na fazenda e nem nos dias quando ele percebia que as outras pessoas que nunca o viam na vida tinham uma imagem dele como sendo um doente, um retardado. Nenhuma dessas coisas tinha trazido o silencio nos lábios do adolescente e Castiel duvidava que um dia algo pudesse faze-lo infeliz, verdadeiramente infeliz... não, aquilo não era comum de seu sósia. E ele tinha de investigar.

“Talvez ele esteja doente” foram as palavras mornitas que cruzaram sua mente enquanto ele caminhava pela casa com a confiança de alguém que sabia de seu caminho. Esse pensamento o fez acelerar os passos e ir diretamente para o quarto de seu irmão e quando chegou lá mais uma vez seus lábios repetiram o nome daquele que era-lhe muito caro.

E mais uma vez o silencio foi tudo o que o cumprimentou.

Agora ele estava realmente nervoso. Tateando no escuro que era seu mundo ele não encontrou nenhum sinal de que Jimmy pudesse estar escondido em seu quarto, a cama estava forrada como se nunca tivesse sido utilizada e nada estava fora do lugar, nenhum brinquedo faltava nas prateleiras, nada estava dentro do armário senão roupas e não havia nenhum único cheiro que indicasse algo fora do comum. Desesperado ele começou a buscar sinais de Jimmy em outros cantos da casa. Depois do que lhe pareceu uma hora não foi muito difícil classificar a busca como infrutífera, seu gêmeo não estava em lugar nenhum e aquilo não era mais uma brincadeira de esconde-esconde de alguém com humor pueril.

O jovem Castiel estava reduzido a lagrimas em menos de um minuto depois de sua busca. O que diabos ele ia fazer, o que tinha acontecido com seu irmãozinho?

No ápice de seu ataque de panico seus ouvidos sensíveis pegaram no som da porta se abrindo. Em menos de um minuto ele tinha corrido para a frente da porta, seus pensamentos eram de que Jimmy tinha sido encontrado por algum vizinho, por alguém, ou talvez ele apenas estivesse escondendo fora de casa... quando o menino pensou sobre a ultima coisa que seu cérebro processou ele não pode deixar de pensar o quanto ele era burro, não seria a primeira vez que Jimmy teria saído de casa enquanto estava sozinho esperando por ele voltar da escola, não seria a primeira vez que alguém desconhecido iria bater em seu apartamento dizendo que “encontrou o garoto chorando e perdido no meio da rua”. Definitivamente ele e Gabriel teriam uma conversa seria assim que ele encontrasse Jimmy, definitivamente não era mais seguro deixar um adolescente em meio as mudanças hormonais e cheio de curiosidade sozinho em casa. Eles teriam de resolver isso e mais uma vez Castiel sentiu-se mal, ele não poderia mesmo ir para a faculdade, não quando Jimmy não estava mais obedecendo eles e se metesse em vários tipos de confusão sozinho. Alguém precisava estar ali para supervisiona-lo.

-Yo maninhos. Cheguei!

A voz alegre de Gabriel era a ultima coisa que Castiel esperava ouvir. O que diabos ele estava fazendo ali a uma hora daquelas?

O queixo dele tinha atingido o chão.

-Gabe? Que raios tu tas fazendo aqui? Se a voz dele não denunciasse que tinha algo muito serio acontecendo, Cas não saberia como ele contaria a seu mais velho que tinha perdido Jim.

Por sorte o tom nervoso tinha sido pego pelas orelhas de um jovem policial. Gabriel se apressou a tirar seus óculos de sol. Sua cara era seria quando ele falou:

-O que foi dessa vez Cas?

Castiel tinha as maos em seus bolsos. Ele não sabia por onde começar. Ele não sabia se deveria dizer nada, falar em alto em bom som que o seu irmão deficiente mental estava oficialmente desaparecido não era fácil, na verdade dizer aquilo em voz alta fariam com que ele finalmente percebesse que era tudo de verdade. Ele não queria sair de sua ilusão, ele queria continuar acreditando que tudo era uma sonho, um pesadelo do qual ele acordaria em breve.

Infelizmente para o jovem sua boca forçou-o a alarantes mesmo que seu cérebro percebesse o que ela estava fazendo. Aquilo deveria ser resolvido o quanto antes!

***

-Aonde estamos indo Gabriel?

A voz hesitante de Cas o despertou de seu furor. Eles estavam dentro de seu carro- um velho cadillac dos anos oitenta que estava quase aos pedaços- correndo a todo vapor pelas ruas de São Francisco. Ele sabia que seu irmãozinho poderia estar um pouco nervoso com o fato de ele estar quase voando, e provavelmente quebrando algumas leis de transito também, mais eles tinham que continuar, tudo estava em jogo e eles deveriam encontrar Jimmy o mais depressa possível.

Só de olhar para Castiel ele poderia ver o garoto tremendo de medo. Sendo cego, a experiencia de estar em um carro em alta velocidade era desafiadora, ele tinha quase certeza de que se fosse o contrario ele não ia aguentar a sensação de estar voando sem controle. Mesmo assim ele não fez nada para reduzir a velocidade.

Ele simplesmente colocou a sua voz mais delicada e disse:

-Você ouviu a ligação de Miguel. Uma mulher ligou para o 911 dizendo que encontrou um jovem com as características de Jimmy ferido, nos temos que checar isso antes que seja tarde demais. Ele poderia até ouvir Castiel engolindo em seco. O menino estava realmente assustado.

Os dois ficaram em silencio. Cas não tinha forças para dizer que aquele garoto poderia ser qualquer um. Ele não podia ver, mais não era necessario de olhos para saber que existiam muitos outros jovens caucasianos de olhos azuis e cabelos negros no mundo. Poderia ser qualquer um. Mesmo assim uma pequena voz dentro dele dizia que era realmente Jimmy. Eles realmente tinham de ir lá investigar.

Com todas as curvas e a velocidade que Gabriel estava dirigindo ele não poderia ter a minima ideia de onde eles estavam e para onde eles estavam indo. Tudo tinha virado bastante confuso em seu senso de direção. Ele apenas tinha a confiança em seu irmão mais velho para que ele os levasse ao lugar correto.

E não tinha demorado muito para que os dois fizessem uma parada.

Foi só então que o jovem percebeu que não tinha trazido sua bengala. Com toda a pressa ele tinha saído sem o instrumento que o ajudaria a nadar livremente pelas ruas sem se preocupar com os obstáculos invisíveis.

Gabriel desceu do carro com o rosto ilegivel, ele estava bastante ansioso e quando percebeu que seu irmão não estava saindo do carro ele se lembrou que o idiota não tinha trazido a guia. Bem, assim seria mais fácil... ele pensou, sem sua bengala era certo que Cas não iria sair correndo e se meter no meio das situações perigosas. Ele pensou assim e abriu a porta do banco do lado do motorista puxando delicadamente o jovem pela mão e o levando para dentro do local indicado. Ele poderia ver uma senhora esperando ansiosamente por eles um pouco a frente.

A mulher nem ao menos os cumprimentou, ele foi direto ao que importava:

-Eu estava aqui quando vi ele chegar. O menino parecia perdido e entrou no bar sozinho, eu sou uma mulher curiosa e gosto de saber quem são as pessoas estranhas, mais quando eu menos esperei ele já tinha irritado alguém e uma briga de bar tinha começado. Meu cunhado é dono desse bar e eu pedi para ele expulsar todo o mundo, mais eu não soube o que fazer com o menino.

A mulher falava muito rápido e Cas teve que prestar bastante atenção para entender tudo em meio ao sotaque carregado dela. Mesmo com toda a preocupação que ele estava sentindo, não foi difícil notar que a voz da senhora parecia com a voz de uma mulher que morava em seu prédio, mesmo assim ele não conseguiu lembrar quem era dona da voz. Gabriel tinha cortado todas as linhas de pensamento que ele poderia abrir quando perguntou em um tom firme se Jimmy estava muito ferido.

O que a mulher respondeu fez com que Cas e Gabriel corressem para dentro do bar. E antes mesmo que o cérebro do jovem contador pudesse processar seus lábios estavam gritando pelo nome de seu irmão gêmeo.

-Jimmy? Sua preocupação era tamanha que foi difícil reconhecer a voz como sendo sua.

Pelo menos dessa vez houve uma resposta.

-Cassy.

A voz pequena foi o convite perfeito para que Castiel e Gabriel corressem em direção dela. Jimmy estava no meio do bar escuro com lagrimas nos olhos.

Castiel o abraçou com bastante cuidado. Se Jimmy tinha irritado alguém dentro de um bar a ponto de o dono fechar o estabelecimento ele deveria estar péssimo. Pela primeira vez o jovem agradeceu a Deus por não poder ver. Certamente o que quer que Gabriel estivesse vendo nesse exato momento não era algo que ele desejava ver por si mesmo.

Ele passou as mãos pelos cabelos loucos de Jimmy. Suas lagrimas estavam caindo de cinco em cinco.

Jimmy parecia encontrar conforto no gesto e se inclinou melhor para ser abraçado por seu irmão mais novo. Ele colocou sua cabeça na curva do pescoço de Castiel e sussurrou em seu ouvido:

-Desculpa Cassy.

Castiel o abraçou ainda mais apertado. Ele era capaz de sentir que Gabriel tinha se afastado um pouco deles. Provavelmente o mais velho estava fazendo a ligação que traria uma ambulancia correndo para onde eles estavam. Finalmente o medo de Cas se diluiu e ele apenas pode sentir tristeza por si mesmo, ele nunca iria para a faculdade, era bastante Claro que Jimmy precisava de sua total atenção. Por um momento ele pensou que era exatamente sobre isso que Jimmy estava pendido desculpas, sendo sensível como ele é não seria difícil de descobrir o que estavam passando pelos seus pensamentos agora. Era logico que Jim se culpava assim como ele por tudo, e era logico que Jim não se sentiria bem sendo a causa da tristeza de seu irmão.

-Tá tudo bem Jimmy, tá tudo bem.

Ele repetiu essas palavras como um mantra.

Atras de Castiel Jimmy poderia ver seu outro irmão andando na direção deles. Gabriel se apressou a ligar as luzes do estabelecimento e Jimmy sabia que era a hora de dizer o que tinha vindo fazer ali.

-Cas?

A voz dele era muito mais leve agora.

-O que foi Jimmy?

O jovem menino de dezesseis anos abaixou a sua voz ao máximo para que só o outro pudesse ouvir. Seus olhos eram brilhantes e azuis quando ele começou a recitar sua fala;

-Feliz aniversario!

Depois de Jimmy Castiel pode ouvir outras nove vozes dizendo a mesma frase.

E foi finalmente nesse momento que ele percebeu o que estava acontecendo. Os bastardos assustaram ele até a morte para lhe fazer uma festa surpresa!

Em vez de medo ou raiva, as lagrimas que desciam pelas bochechas do jovem eram de alegria, a mais pura alegria.

Eles tinham feito tudo aquilo por ele.

Mais tarde naquele mesmo dia os amigos mais íntimos estavam reunidos na varanda do apartamento da Pine Street. Miguel tinha um copo de cerveja em suas mãos, Gabriel um pirulito em sua boca, Cas, Jimmy Anna e Doug estava desfrutando do que tinha sobrado do bolo e todos eles estavam em um silencio constrangedor. Todos eles estavam esperando para que Cas falasse alguma coisa, o menino tinha ficado calado desde que eles transferiram a festa para dentro de casa e todos sabiam muito bem que ele tinha muito o que falar.

Não demorou muito depois de final do bolo para que o jovem finalmente abrisse a boca:

-Quer dizer que esse tempo todo Jimmy estava no bar aqui do lado?

-Sim. Todos responderam em unissonismo.

Ok, ele poderia acreditar naquilo. Ainda tinham algumas outras perguntas que ele queria saber antes que o assunto fosse para o lado onde a sua ansiedade estava.

-Quer dizer que a ideia toda foi de Anna?

A jovem garota sorriu e apertou o braço de seu amigo. Isso era a única confissão que ele iria ganhar dela. Ele tinha certeza que a mente por detrás de tudo tinha sido ela, era a única explicação para a insanidade do plano.

Antes que ele pudesse perguntar mais alguma coisa que não tinha nada a ver com o que ele realmente queria perguntar seus ouvidos pegaram o som de um copo de vidro sendo colocado em cima da mesa. Antes mesmo de ouvir a voz ele sabia que ela pertenceria a Miguel:

-Cas quando você vai perguntar se nos já sabemos ou não sobre a sua aceitação na universidade?

Mesmo sabendo que era essa a pergunta que o outro policial faria ele não conseguiu deixar de engolir em seco. Ele apenas inclinou a cabeça na direção onde ele sabia que o outro estava. Não era necessariíssimo que ele falasse mais nada, conhecendo Miguel como ele conhecia era muito claro que o parceiro de seu irmão iria falar por horas agora.

-Bem Cass, acontece que, coincidentemente, eu estava na sua escola no dia em que você contou para esses dois que recebeu uma carta da Berkeley. Eu tinha que ir interrogar uma testemunha de uma briga de bar e depois passei na frente de sua sala exatamente na hora em que você, Doug e a Anna estavam conversando sobre o “Seu medo de ir para faculdade e deixar os outros dois idiotas que você chama de irmãos sozinhos”. Ai eu sabia que tinha de fazer alguma coisa. Sai correndo de lá, e como era uma semana antes do seu aniversario eu pensei que eu bem poderia fazer os arranjos necessários com Gabe para que você realmente pudesse seguir seu sonho sem se preocupar.

Ele poderia ouvir a risada discreta de Anna a sua esquerda e a nem tao discreta de Jimmy a sua direita. Era certo que os dois estavam até as orelhas dentro do plano do policial. Ele continuou em silencio por alguns minutos, quando finalmente percebeu que ninguém mais ia falar ele disse em uma voz aliviada e agradecida:

-Então você foi para a policia e disse a seu chefe que não ia aguentar trabalha o expediente inteiro, abriu mao de seu trabalho e foi dizer a Gabriel que estava na lista para os mais indicados a baba de Jimmy por um ano inteiro?

Ele pode ouvir o som do copo de cerveja ser mais uma vez levantado. Depois um brinde foi feito. Ele não precisava de olhos para saber que eram os copos de Miguel e do seu próprio irmão.

-Basicamente é isso. Ao contrario de Gabe aqui eu não acho que vou se promovido tao cedo assim... e outra, quem mais vocês confiariam para ficar de olho em Jimmy alem de mim? Ao contrario da maioria das pessoas eu não o acho tao cheio de energia assim.

Aquilo era impressionante. O cara era definitivamente insano, mesmo assim Cas jamais poderia estar tao agradecido. Era certo que Jimmy jamais iria entender o que estava sendo dito por tras das linhas alegres de Miguel, mesmo assim não durou muito tempo para que alguém jogasse um travesseiro na cara do policial loiro. Cas não poderia imaginar quem foi essa pessoa, todos ali gostavam de Jimmy o suficiente para ficarem ofendidos com o comentário.

Mais um minuto de silencio passou e foi quebrado. Gabriel tinha puxado seus dois irmãos para junto de si e os abraçava com bastante força:

-Viu Cas? Foi exatamente como eu tinha dito. Nossas vidas agora só podem melhorar! Você vai para a faculdade ser um professor de historia.

Cas não conseguiu conter as lagrimas.

-Obrigado pessoal.

Gabriel o abraçou ainda mais forte.

-Feliz aniversario Cas, espero que da próxima vez você conte comigo antes de esconder seus sonhos, quem sabem juntos nos dois poderemos dar um jeito até mesmo de ir a lua!

Castiel estava muito emocionado. Todos os seus medos e ansiedades de repente eram tao bobos. Ele realmente poderiam confiar em seus irmãos para descobrirem juntos formas de transformar seus sonhos em realidade.

-Eu amo vocês. Foi tudo o que ele conseguiu falar.

-Feliz aniversario Cas, feliz aniversario Jim.

O coro que ele ouviu com os votos de felicidade para ele e seu irmão gêmeo seria uma das coisas que Castiel jamais esqueceria. Aquelas vozes seriam gravadas em sua memoria para todo o sempre.

Aquilo tinha sido o começo de seu futuro.

E ele era grato a todos que fizeram seus sonhos virarem realidade.

Não havia mais espaço para duvidas ou ansiedade. A vida estava ali para ser vivida.


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Notas finais do capítulo

Comentários sao sempre bem vindos.
Mandy



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