Olhei desesperadamente em volta, confusa, dando de cara com um Will igualmente confuso atrás de mim. Agora fazia sentido ele ter sido transportado para antiga Londres também. Eu normalmente faria uma piada, chamando-o de stalker ou coisa parecida. Mas obviamente, nenhum de nós estávamos no clima pra esse tipo de bobeira.

De repente, uma ideia atravessou de supetão pela minha mente, corri até minha mãe - eu estava morrendo de saudades dela, apesar de parecer que não se passou nenhum segundo aqui, em 2012 - porém pedi que fosse pra casa sem mim, e que eu não demoraria a voltar. Ela aceitou sem grandes discussões, sabe que eu odeio ter que voltar à pé ou de ônibus para casa, então meus motivos deveriam ser realmente bem fortes.

Enquanto o carro da minha mãe desaparecia após uma curva, fui até Will, segurando o braço dele.

– Vamos para um lugar mais privado. - Murmurei. Vi o moreno ficando vermelho e revirei os olhos. No que aquele idiota estava pensando?

Perto do nosso colégio, havia uma rua sem saída com vários terrenos baldios, e foi pra lá que arrastei Will. Sentei na ponta da calçada, e dirigi um olhar cortante pro menino, indicando que ele também o fizesse.

Remexi minha bolsa afoitamente, até conseguir sentir aquela textura de couro… O caderno do Watson. Me permiti rir interiormente, no final, nem utilizamos as anotações do médico para resolver o caso como tínhamos planejado, mas foi legal mesmo assim.

Will percebeu (finalmente!) o que eu estava tentando fazer, folheei várias páginas, vários casos, até eu achar o que eu queria.

“ Se teve um caso que Sherlock não pôde resolver até hoje foi o aparecimento de dois jovens, tecnicamente do futuro, e seu desaparecimento igualmente. Mas não era exatamente um caso, fenômeno era uma explicação melhor. Desapareceram misteriosamente, sem nenhum rastro, da mesma forma que apareceram. Mas a vinda dos dois jovens aqui e sua estadia havia, sim, deixado rastros, lembranças divertidas.

“ Esses jovens, assim como com Holmes, me impuseram um fenômeno que não pude resolver até agora. E esse fenômeno foi transformar Sherlock em uma criancinha implicante. Por mais que o meu parceiro tentasse disfarçar e se recompor, estava extremamente fascinado nos dois jovens. Mas realmente, acho aparições tão misteriosas pegaram-no de surpresa. Aparições que não conhecia, nem sabia como lidar. Acho que a mágica dos dois era ser do futuro.

“Espero, apenas, que o desaparecimento deles tenha implicado na volta dos dois ao seu tempo de origem, nada mais justo.

“Além disso, espero que, em algum livro sobre as encrencas que me meti com Holmes, algum desses jovens descubra que meu parceiro, como presente de despedida, conseguiu amenizar os crimes de Tony e Vince, usando a psicopatia do pai como fator amenizador. Porém sem expor a homossexualidade deles, claro, ou seriam presos por indecência.

“E quero também que saibam que Sr. Hudson está esperando-os para tomar chá e comer biscoitos, Lady Harvey está doida para mostrar-lhes a nova coleção de porcelanas asiáticas que adquiriu, e que todos nós, inclusive Sherlock, se isso for possível, sentimos saudades de sermos babás.”

Senti lágrimas escorrendo pelo meu rosto e, ao me virar pra Will, vi que este não estava em condições lá muito melhores, não.

– Acho que seria mais emocionante se Watson tivesse omitido a parte do “sermos babás”. - Ri. - Mas me sinto aliviada em saber que deu tudo certo… E que você ainda está aqui comigo.

– Sempre estarei, seja você transportada pro Império Romano ou pro Acre. - Ele riu, abraçando-me e beijando o topo da minha cabeça.

–-x--

Dia seguinte, no cursinho, os amigos de Will davam cotoveladas em suas costelas para chamar-lhe a atenção.

– Acha que pode esconder que foi com Hollyson para um lugar super safado? Claro que não? E aí, como foi? Sexo selvagem.

O garoto alto deu um soco bem forte no topo da cabeça do amigo, vermelho que nem um pimentão.

– Para de falar merda, cara! Que tal procurar uma garota? Até eu consegui, depois de você ter me zoado tanto… Cadê seu Deus agora?

E, realmente, o forninho tinha caído para o amigo que estivera provocando Will esse tempo todo.

A conversa foi interrompida, quando ao longe, ouviu-se uma voz feminina:

– Hotwillson? Já tá pronto pra gente ir embora? - Holly apareceu com um sorriso.

– Nunca vou estar pronto, Hollyson. - Will riu nervosamente, ambos decidiram que era melhor que ele conhecesse sua sogrinha de uma vez, mas agora que tinha chegado o momento, o garoto só queria enterrar sua cara no chão e passar o resto da vida vivendo feliz como um avestruz.

– Vai dar tudo certo, minha mãe é tranquila…

Pela primeira vez, Holly não pensou em ir à pé para casa como um tormento. Ficava feliz de poder apreciar a companhia do mais novo dono de seu coração e sentir a mão grande deste segurando a sua, passando uma deliciosa sensação de conforto, apesar do calor infernal.

Holly já havia previamente falado com sua mãe sobre Will, claro, mas queria botar um pouco de medo no garoto. Mas foi menos divertido do que pensava, e depois de um tempo, ficou de saco cheio. A única parte da conversa que processou foi:

– Só achei que o namoro de vocês foi tão de repente!! - A mãe da garota riu.

– É que um segundo que passei com a Holly pareceu dias! - Sorriu, lançando um olhar de cumplicidade pra Holly.

– Pois é. - Completou.