Back To Baker escrita por Mel Devas


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Bem, como eu estou começando a explicar as coisas não vai ser um capítulo genial, mas botem fé que eu juro que vai ficar interessante!!
Enfim, boa leitura!!



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            Com um suspiro encarei o sinal que olhava orgulhosamente vermelho para mim, parecendo que ia demorar uma eternidade para abrir. A minha mochila pesava por causa dos livros do colégio e com os meus adicionais e fiéis livros policiais. Em geral o peso me reconfortava, mas o sol, bem alto, mais alto do que nunca vi, me transformava em geleia. Encarei com raiva mais uma vez o sinal, que continuou impassível. Derrotada, apreciei as rajadas de vento que os carros faziam quando passavam velozes à minha frente.

            Olhei para o céu azul, sem nenhuma nuvem, e me surpreendi sendo empurrada por uma multidão afobada, como se tivessem dando milkshake de graça. Olhei para o teimoso sinal, havia ficado verde, exultante, segui a multidão com pequenos pulinhos enquanto algumas pessoas me olhavam estranho. Não via a hora de chegar em casa e cultuar o meu ventilador.

            Abrindo a porta apressada, larguei os sapatos na porta, gritei para minha mãe que tinha chegado e subi depressa as escadas, quase tropeçando no meu gato no meio do caminho enquanto ouvia minha mãe resmungando algo sobre “jovens desesperados torturadores de gatos.” Pelo visto, Salem, meu gato, não se abalou, e continuou se enfiando entre meus pés, ronronando. Depois de quase cair a escada com a esfregação, segurei o gato no colo e ele miou vitorioso – se isso for possível – e me encarou com os olhos muito azuis.

            Chutei a porta do quarto e a primeira coisa que eu fiz foi jogar a mochila na cama para depois aterrissar pesadamente, ligando o ventilador com o pé. Salem se enrodilhou em minha barriga, me dando mais calor ainda.

            - Salem, eu sei que sempre uso você de aquecedor, mas me dá uma trégua hoje... – Reclamei com o gato, sim, eu sou uma maluca que fala com gatos.

            Ele soltou um tipo de resmungo, agitando preguiçosamente a cauda, sim, eu sou uma maluca que acha que gatos me respondem.

            Acariciei seu pelo preto e brilhoso enquanto tirava os sapatos e sentia uma imediata sensação de alívio. Corri a mão pelos meus cabelos enquanto amarrava eles em um rabo de cavalo. Levantei, tirei o uniforme substituindo-o por uma regata e um short jeans curto. Ouvi as cigarras cantarem do lado de fora e me arrependi, só deixava o ambiente mais quente.

            Deitei de novo na cama e puxei um livro da minha mochila, Sherlock Holmes, Salem deitou-se ao meu lado, numa boa distância, magoado, cocei suas orelhas como desculpa. Ele abriu os olhos azuis, deixando claro que só me perdoaria se eu lhe desse um biscoito. Refleti se vencer minha preguiça e calor para buscar comida valia a pena em troca de fazer as pazes com meu gato. Abri Um Estudo Em Vermelho, que eu lia pela centésima vez e folheei as páginas em procura da que eu parei. Salem que me espere.

--x---

            - Holly!!! – Gritou minha mãe debaixo, uma hora mais tarde. Torci o nariz ao ouvir meu nome.

            - Tô indo!!! – Gritei de volta enquanto enfiava um pedaço do lençol no meio do livro como marcador, Salem bateu com a pata, derrubando o livro no chão em vingança, dei de ombros.

            - HOO-OO-LLY!!!!! – Gritou minha mãe ainda mais alta, com a costumeira surdisse maternal.

            - JÁ DISSE QUE TÔ INDO!!!!! – Respondi mais alto ainda, com a costumeira e ingênua convicção de filhos na audição da mãe. Desci as escadas rápido antes que minha mãe desse um berro supersônico e um chinês viesse do outro lado do mundo para reclamar sobre o barulho.

            - Pensei que não tivesse ouvido. – Minha mãe franziu as sobrancelhas quando eu desci. Revirei os olhos com um sorriso.

            - Devo ter respondido baixo demais. – Falei ironicamente, minha mãe realmente olhou confusa, passando as mãos no avental para limpá-las. Ela tinha prendido seus cabelos castanhos-claros e cacheados em um coque, suas roupas estavam mais molhadas do que de costume, apesar dela sempre inundar a cozinha quando lavava a louça. Ela devia ter se aproveitado do festival de água periódico para se “refrescar” mais.

            - Enfim... – Ela balançou a toalha, tentando fazer um tipo de leque. – Você pode dar uma arrumadinha no sótão enquanto em varro a casa. Ê-ê – Ela me interrompeu quando fui protestar. – Aposto que lá em cima vai estar bem mais fresco que aqui, se quiser trocar...

            Rapidamente balancei forte a cabeça em negativa, catei uma vassoura, uns panos e produtos químicos e fui para o segundo andar, puxando uma portinhola com uma escada portátil no teto de um dos corredores.

            Joguei tudo para cima e subi depois, quase caindo quando senti que Salem pulou em minhas costas, pegando carona.

            - Bichano, quer me matar de susto ou o quê? – O gato ignorou, saltando do meu ombro para o sótão como uma sombra. Parou na borda da portinhola, lambendo a pata satisfeito.

Com um impulso, me joguei no chão imundo e empoeirado do aposento, realmente estava fresco, mas meu nariz coçava de tanta poeira. Procurei por um interruptor e me decepcionei quando vi que a lâmpada estava queimada. Decidi limpar no escuro mesmo, alguma luz saía de frestas das telhas de barro do telhado e outras da porta de acesso. Decidi começar com os objetos, limpei um canto para apoiá-los, esfregando até o teto, coberto de teias de aranhas.

Olhei para o resto do lugar, os antigos donos da casa – a gente tinha acabado de chegar – tinham deixado um baú grande, livros apoiados em todos os cantos e uma bicicleta velha. Senti pena deles abandonados ali, pensei em pegar para mim, eram realmente muitos livros, o que fazia ser impossível eu não achar um que me agradasse.

Decidi começar com a bicicleta, o que seria mais fácil. Lustrei o guidão e seu corpo até brilhar, espanei entre as rodas grandes demais, em estilo antigo, descobrindo que ela tinha uma cor meio bege. Tentei desencaixar a cesta de vime na sua frente, mas não consegui, me contentei em só limpar as partes alcançáveis. Terminei e levei-a para o cantinho limpo reservado, ouvindo feliz o som das correias e das rodas, ela ainda era utilizável.

Esfreguei o lado de fora do baú até deixar a madeira lustrosa, girei a chave de ferro que já estava dentro do cadeado, levantei com dificuldade a pesada tampa e ela caiu com um baque forte no chão. Talvez você se pergunte se eu não me sentia constrangida mexendo nas coisas de outra pessoa. Não, nunca tive problema com isso, (sou fuxiqueira de berço) a família que ali morava havia se mudado para outro país mesmo, seria um desperdício não aproveitar.

Remexi o baú, era preenchido por roupas, mas não pareciam comuns, olhei com curiosidade. A maioria eram peças feitas de tweed, casacos, blazers e até calça. Camisas sociais brancas, gravatas borboletas, um chapéu xadrez como se fosse um estranho boné, amarrado em cima e com duas partes soltas dos lados. Observei divertida, era exatamente assim que eu visualizava as vestimentas quando lia Sherlock Holmes. Ouvi algo batendo no fundo de madeira do baú e me interessei, tudo ali até agora eram roupas.

Com cuidado levantei um cachimbo, era escuro e entalhado, a curva que descrevia era suave e eu podia sentir um leve cheiro de fumo. Passei as mãos em cima hipnotizada, só faltava mais uma lupa e eu já estaria feita! Ri internamente. Comecei a imaginar como seria se eu fosse da época de Sherlock, me imaginei usando aquelas roupas e andando pelas ruas apedrejadas de Londres, na Baker Street.

Fui interrompida dos meus devaneios com minha mãe batendo o cabo da vassoura no chão (teto dela, nossa, que confuso). Gritou sarcasticamente se eu estava indo bem, bati de volta e respondi que tudo estava sob controle. Com um suspiro coloquei o cachimbo e as roupas no lugar e fechei o baú. Com dificuldade arrastei-o para junto da bicicleta.

Com satisfação cheguei perto da pilha de livros, não gostava de limpar, porém sabia que a tarefa ia me dar tempo para olhar sua capa, e, quem sabe, até dar uma olhada sobre o que falava.

Na ponta dos pés peguei o primeiro livro da pilha, sentindo o couro macio da lombada. Observei-o de perto, a capa, marrom tinha uma inscrição no cantinho. J.H.Watson.


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Notas finais do capítulo

Bem!!! Esse foi o primeiro capítulo, espero que tenham gostado!!! Provavelmente no próximo capítulo vou apresentar melhor a história e os personagens.