Olhei para Mary Poppins com descrença. Eu tinha sobrevivido afinal? Não havia nenhum resquício de minha dor de cabeça. Não ouvia mais o zumbido, nem o som aterrador que parecia que ia engolir a cidade de Volterra.

Tudo estava calmo e tranqüilo. Eu estava sentada na cadeira, em frente à Sra. Poppins, que me olhava com curiosidade e preocupação.

"Criança, o que aconteceu?"

Eu era incapaz de falar. Eu estava com medo. De súbito, olhei para a mesa. Lá estavam os quatro livros de Stephenie Meyer. Pulei da cadeira e abri Breaking Dawn.

Estava tudo lá. Todas as letrinhas, toda a história! Dei uma lida no prólogo, por cima. Só para checar. Abri Eclipse, tudo como era antes.

Com medo, abri Lua Nova. Fui até a página de Volterra. Li a parte em que Bella olhava para Edward. Estava tudo como era antes. Com uma exceção. Bella fazia menção a "uma moça de vermelho", que dissera pensar ter visto um rapaz brilhante num beco ao lado da torre, fazendo-a decidir sobre a direção que iria tomar, já que havia visto dois pontos brilhantes, um de cada lado da torre do relógio.

O resto, permanecia igual.

Um detalhe sem importância. Fechei o livro e me sentei pesadamente na cadeira.

"Ah, Mary Poppins, eu quase sofri um colapso!"

"O quê? Você chegou perto de você mesma?"

"Mais do que isso." eu admiti. "Meu outro eu ouviu minha voz e me chamou. Eu estava de costas. Foi horrível."

Eu me sentia estranha agora. Era como se minhas lembranças tivessem se alterado. Melhor: aumentado de tamanho. Eu tinha lembranças de quando fui ao livro da primeira vez, de quando fui esta última, e agora, tinha lembranças diferentes, de quando fui da primeira vez.

Eu me lembrava de ter me visto, no meio da multidão, de costas pra mim. Eu me lembrava de ter chamado a mim mesmo, e de ter achado o cabelo tão parecido com o meu, e de ter notado a roupa igual a minha.

Eu tinha as lembranças do meu outro eu naquela segunda vez, somadas as minhas. Nada foi substituído. Nada foi esquecido. Mas tudo foi somado.

Era estranho tudo isso.

Mas ao menos, eu pude lembrar de ter vislumbrado Edward e Bella abraçados, entrando mais nas sombras.

Eles tinham que se encontrar com os Volturi. Era a sina deles naquele momento. Fora assim que a história fora escrita. Eu não poderia mudar.

As coisas estavam bem agora. Eu não havia matado ninguém, afinal. E com isso eu me sentia aliviada, ainda que fossem personagens de livros.

Eles eram reais para mim. Assim como minha patroa, ali, na minha frente. Ela era um personagem de um livro também, não era? No entanto, ela era muito humana, muito real, de carne e osso, sentada à minha frente, me olhando.

Olhei no relógio. Eram seis e quinze da tarde. O tempo era relativo... tantas coisas aconteceram, e só se passaram quinze minutos.

"Sinto muito pelo seu relógio" lamentei, pelo relógio de parede dela. "Este plano deu errado, mas ao menos, tudo no fim deu certo."

Mary Poppins sorriu.

"Ao menos, você teve uma experiência única, e eu espero que o meu presente não tenha sido um castigo."

"Claro que não! Apesar de tudo, foi maravilhoso estar lá. Apesar do medo e tudo, foi uma aventura maravilhosa! Eu é que pus tudo a perder. Mas seu presente foi lindo. Da próxima vez..."

"Da próxima vez? Haverá uma próxima vez?" Mary Poppins não acreditava que eu fosse ter coragem. Eu já havia provado que era muito perigoso entrar em livros, ainda mais em livros de vampiros tão perigosos como os vampiros de Stephenie.

"Claro que sim! Eu espero que não se importe..." eu olhei para ela, achando que ela me proibiria.

"Eu não me importo. Só temo por você. Por sua segurança."

"Bem, só conseguiremos aprender se tivermos prática, não é? Eu prometo que não vou mais interferir na história. Ao menos, não propositadamente..."

"Lisa..." ela franziu o cenho.

Olhamos uma para outra.

E caímos na risada.

Olhei para meus livros. Acariciei-os com carinho.

"Ainda bem que eles não desapareceram." Murmurei. Então, eu estava de volta à vida normal.