I-Desejo

Você coloca os fones de ouvido, e sem perceber suspira. Seu caderno está aberto e você segura sua caneta preta favorita, mas não consegue realmente pensar em nada para escrever, e não se dá ao trabalho de copiar a matéria da lousa. Não é como se você conseguisse prestar atenção, afinal. A falta do sorriso sempre presente em seu rosto é o único indicio de que você está triste, mas você prefere pensar que ninguém percebe isso porque você parece estar se concentrando em algo, não porque ninguém realmente se importa ou repara em você, mas tem a incômoda sensação de que a segunda opção é a mais verdadeira. E pensar que você achou que seria diferente...

Você solta a caneta com certa irritação e volta a retirar os fones, o som abafado das conversas e risos silenciosos lhe irritando extremamente enquanto você se força a olhar para o professor que começou a falar. Você se obriga a esconder qualquer traço de tristeza que possa aparecer em seu rosto, tentando se convencer de que, se não precisava de ninguém até um ano atrás, não precisava agora. E você sabe que essa é uma grande mentira que conta para si, mas não se importa. Se tivesse sinceridade o suficiente, admitira que tudo o que realmente deseja é um amigo. Não precisa de um circulo completo, apenas alguém pra perguntar se está tudo bem com você e realmente ouvir a resposta ou te chamar pra sair. No fundo, você só quer se sentir feliz de novo.

Você suspira e morde o lábio, resistindo a tentação de mandar um monte de gente calar a boca, mas ainda assim lançando um olhar irritado que parece funcionar perfeitamente bem. Se foca novamente na frente da sala, e por algum motivo, se lembra de algo que tinha aprendido há algum tempo:

Você vai ter que esperar até sair dessa cidade para começar a conseguir as coisas que quer.