O hospital não ficava muito longe dali, apenas 15 minutos de carro. Mas esses 15 minutos pareciam uma eternidade. Jade chorava silenciosamente, assim como todos os outros. A mão da garota não saia do pingente da corrente que ganhara no dia anterior. Será que seu sofrimento não teria um fim nunca? Primeiro perdera a mãe junto com a futura irmã e agora corria o risco de perder seu primeiro e grande amor.

Ao chegarem no estacionamento, a morena de olhos azuis foi a primeira a sair do carro, mais precisamente escancarou a porta e pulou por ela, correndo para a recepção. Cat foi logo atrás, seguida de Claire e Tori. Andre ainda estava no estacionamento, trancando o carro.

- Por Deus, moça. O que houve? - A recepcionista falou em choque ao ver a turma de garotas entrando chorando no local.

- Estamos procurando um garoto que acabou de ser trazido pra cá. - Jade falou rapidamente, quase atropelando as palavras uma nas outras.

- Nome?

- Beck Oliver.

- Motivo?

- Levou um tiro no ombro.

- Ah, sim. Ele acabou de chegar e está na emergência. Infelizmente as senhoritas não podem entrar. Por favor, sentem-se na sala de espera, bebam uma água e se acal...

- Não. Termine. Essa. Maldita. Frase. - Jade disse entredentes. - Não vou me acalmar até ver o meu Beck. Eu preciso saber se ele está bem ou não.

- Senhorita, por favor. Os médicos farão de tudo para ajudá-lo.

Ela bufou e foi se sentar em uma cadeira qualquer. Claire a seguiu e foi sentar-se em seu colo. Sabia o que lhe acalmaria, então começou a mexer em seu cabelo. Mas infelizmente nem aquilo estava ajudando. A morena não se encontrava naquele mundo, estava viajando em seus próprios pensamentos, em suas lembranças.

- Nossa, você é agente da segurança nacional. - Ela disse fingindo surpresa.

- Sim, eu sou. - Beck disse com um largo sorriso. Parecia se vangloriar do cargo. Fora a primeira vez que Jade sentira seu coração acelerar e teve de fazer força para não se perder nos gentis olhos castanhos do garoto.

- Eu queria ser agente também, mas me faltam oportunidades. - Ela suspirou de forma triste e deu um gole em seu cappucino.

- Posso dar um jeito nisso, se você quiser. O senhor presidente está mesmo precisando de agentes novos e talvez se interesse pela ideia de ter uma garota em sua equipe.

- Você acha mesmo? - Foi então que foi pega de surpresa.

- Mas é claro que sim. 

O dia em que se conheceram rondou a sua mente, cada palavra, cada gesto. Quando fora admitida no cargo, quando ele a abraçou em comemoração. O coração dela começou a bater forte. Será que nunca mais iria poder abraçá-lo novamente?

- Bom dia. - Era Beck com dois copos de café nas mãos, um para ele e o outro o garoto entregou à Jade.

- Bom dia... - Ela pegou o copo um tanto desconfiada. - O que faz aqui tão cedo?

- Te dar bom dia. - Ele sorriu inocentemente. - Não posso?

- Pode... - Jade se afastou, sentando-se novamente na cama. - Vai ficar aí plantado até quando? - Ela perguntou, dando um gole no café.

Beck sorriu e entrou no quarto, sentando-se em uma cadeira perto da cama.

- Fecha a porta. - Ela disse seca.

Ele tentou não rir enquanto se levantava e ia fechar a porta, voltando a se sentar na cadeira.

- Tudo bem, Oliver, o que você realmente quer? - Jade ergueu uma sobrancelha.

Dessa vez Beck deixou a risada escapar.

- Você não deixa passar nada, não é?

- Desembuche logo, estou com pressa.

- Tudo bem, tudo bem... - Ele ergueu os braços como alguém que se rende. - Eu queria saber se você está livre no sábado.

- Você esqueceu que sou a nova "babá" da Claire? - Ela enfatizou "babá" fazendo aspas com as mãos. - Não tenho tempo pra nada.

- Eu posso falar com o senhor presidente. Vamos, Jade... Vai ser legal. Tem um clube aqui perto...

- Eu já disse que não!

- Por favor... - Jade cruzou os braços e virou o rosto de lado. - Vai mesmo querer passar seu sábado a noite aqui brincando de Barbie ao invés de se divertir com gente da sua idade?

Os argumentos dele foram extremamente bons para convencê-la a sair com ele. E é claro que a loirinha também a havia empurrado.

- Bom dia, Clairezinha.

- Oi de novo, Beck.

Jade observava a cena se aproximando de braços cruzados.

- Ora, ora... Se não é a nossa morena rabugenta. Vai estourar a Terceira Guerra Mundial se eu te abraçar?

- Sim! - Jade fitou Claire que a olhava com ar de reprovação. - Quer dizer...

- Wow, Claire. Você consegue fazê-la mudar de ideia. Será que pode convencer a Jade a sair comigo no sábado?

- Você não quer sair com ele no sábado? - Claire perguntou surpresa.

- Bom, é que eu preciso ficar tomando conta de você e...

- Jade, sem essa. Eu posso ficar assistindo DVD's e brincando. Depois que você voltar a gente tenta fazer alguma coisa, ou então no domingo. Pode ir...

- Claire... - Jade se ajoelhou de frente para a garotinha. - Você tem certeza disso?

A loirinha acentiu.

- Pode ir, não tem problema. Eu quero que se divirta.

E assim ela se convenceu de sair com Beck. Infelizmente o encontro fora na praia, mas havia valido a pena. Jade se lembrou do momento do beijo.

Fora depois do jantar, eles andavam pela areia da praia, Jade não se equilibrava bem por causa do salto. Além de tudo ela estava muito nervosa, mas se esforçava para não deixar transparecer. Infelizmente para seu azar Beck pegou em sua mão e começou a puxá-la para beira-mar.

- Não! Beckett, me solta! - Ela começou a gritar, puxando seu corpo para o lado oposto.

- Jade, o que houve? Você tem medo?

- Não te interessa. Só não me leve pra lá se quiser continuar vivo!

Beck se aproximou dela.

- Eu não temo você. - Então a pegou, colocando-a por cima do ombro direito, andando para aonde as ondas terminavam.

- Socorro! Me solta! Sequestrador! Alguém me ajuda! - Jade gritava e se debatia, tentando se livrar. Beck a colocou na areia e segurou firme em sua cintura, impossibilitando que ela escapasse. - Me solta, Beck. É sério, por favor.

- Não sem você me dizer por que está tão nervosa.

- Eu odeio o oceano, ok? Agora me solta. - Por que odeia?

A garota suspirou.

- Fiquei traumatizada na terceira série quando conheci estúpidos golfinhos!

- Mas eles são tão simpáticos...

- Não me importa! - Ela gritou novamente, cortando Beck.

- Pare de gritar! - O moreno ergueu o tom de voz como se ela fosse uma criança mal criada que ele tinha que repreender. 

- Me obriga! - A garota rebateu, o tom de voz ainda extremamente alto.

E então ele a beijou.

Ela suspirou e secou algumas das várias lágrimas que ainda escorriam de seus olhos. Deu um leve sorriso para Claire e beijou-lhe a testa. Só de lembrar do susto que havia passado por causa dela... Estremeceu. As lembranças da noite anterior ainda a afetava bastante.

- Eba! Eu amo presentes! - Por um segundo ela parecia Cat falando, o que não era de muito de espantar. A ruiva vez ou outra se comportava feito criança.

Claire pegou na mão da protetora que chegou primeiro e começou a puxá-la para fora. Enquanto seguia a menininha, Jade obervou um brilho estranho nos olhos de Andre, quase como se ele estivesse implorando por desculpas. Ela não conseguiu entender até que sentiu Claire sendo puxada e então ela estava sendo segurada firmemente nos braços por Andre. Tori gritou e tentou soltar a amiga, mas o namorado a afastou.

- Fica fora disso, Tori! - O garoto tinha dificuldades de segurar a morena em seus braços que se debatia.

- Não! Claire! - Ela gritava em meio ao choro. Seu pesadelo estava se concretizando. Os vultos que a cercava, Claire sendo sequestrada. Ela havia falhado? Não!

Deu um pisão forte do pé de Andre, se soltando. Mas na hora que ia atrás da loirinha, foi surpreendida com uma forte pancada na cabeça, logo em seguida desmaiando. A última coisa da qual se lembrava era Claire sendo levada embora.

Lembrava-se daquilo com aperto no coração. Pior havia sido o susto que levara ao ver a verdadeira face do quase-assassino.

- Claire, você está bem? - Jade perguntou.

- Agente West, é tão bom vê-la novamente... Totalmente previsível vir até aqui tentar resgatar sua doce loirinha. É claro que eu também não iria fazer mal a ela. Claire é minha amiga, não é mesmo? - A garotinha de vestido lilás de encolheu com a pergunta. Os olhos de Jade se arregalaram ao ouvir a voz do rapaz.

- Deixa ela em paz! - A morena disse tentando controlar seu tom de voz, ainda sem olhar para trás.

- Não sei não... Você tem alguma coisa para oferecer em troca?

[...]

O vento frio soprava pelo espaço causado pela quebra da janela, causando calafrios em Claire e fazendo com que seus vestido e o de Jade esvoaçassem para trás, assim como seus cabelos.

- Eu. Deixe ela em paz... Eu fico no lugar dela, Beck.

O moreno sorriu com a resposta e tirou a máscara. O coração de Jade se apertava cada vez mais e mais. Não conseguia acreditar que seu pior inimigo estava ao seu lado a todo momento. "Manter os amigos perto e os inimigos mais perto" provavelmente era o lema do rapaz. - Ouvir conversas por trás das portas é feio, não sabia Andre?

Então a porta se abriu e dois capangas empurraram Andre para dentro do cômodo, mas com tanta força que o fez cair.

- Jade, não faça isso. - O garoto que se levantava do chão implorou suplicante.

- É, Jade... Por que se arriscar por uma criança?

- Seu sarcasmo não me fará mudar de ideia, Oliver!

- Muito bem, eu aceito a troca. Mas que fiquem avisados vocês dois - Beck disse para Andre e Claire enquanto agarrava o pulso de Jade, puxando-a para perto de si -, se a polícia vir atrás de mim, não irei deixar barato. - Ele disse passando seus olhos diretamente da dupla para a garota que segurava.

[...]

- Pra que fazer isso? O que você iria ganhar sequestrando-a?

- Assuntos pessoais, doce Jade. - Ele sussurrou em seu ouvido, então desceu seus lábios para o pescoço da garota, beijando o mesmo.

Ela lhe de um pisão forte no pé e o afastou.

- Não se aproxime mais. Eu tenho nojo de você! - Então ela tirou a correntinha do pescoço e jogou em Beck. - Não quero nada que venha de você!

- Mas o que é isso? - Ele perguntou ainda calmo se aproximando mais uma vez e tirando a máscara da garota. - A corrente foi um presente.

Beck olhava fundo nos olhos esverdeados de Jade, que tinha que fazer muita força para não se perder novamente.

- De um criminoso! - Ela rebateu, ainda lutando contra um possível transe. - Você ia matar uma criança inocente!

Olhou novamente para Claire. Ela não era tão inocente, às vezes se comportava feito uma adolescente. Mas não vinha ao caso naquele momento. E antes que pudesse lembrar-se de mais coisa, um senhor de jaleco branco, aparentemente tinha 46 anos, chegou.

- Quem são os familiares de Beck Oliver? - Ao ouvir o nome do amado, Jade se levantou da cadeira imediatamente, tomando cuidado para não derrubar Claire. - A senhorita quem é?

- Namorada dele. - Não era totalmente verdade, mas também não era totalmente mentira. Ambos estavam muito próximos de serem namorados. Talvez se Alex não tivesse interrompido, fossem oficialmente um casal naquele momento. Ou então aquele momento não estaria acontecendo. - Como ele está, doutor?

- Por favor, me acompanhe senhorita...

- West.

- Por aqui, srta. West. - O médico indicou para a porta da ala de emergência.