O vento frio soprava pelo espaço causado pela quebra da janela, causando calafrios em Claire e fazendo com que seus vestido e o de Jade esvoaçassem para trás, assim como seus cabelos.

- Deixe ela em paz... Eu fico no lugar dela, Beck.

O moreno sorriu com a resposta e tirou a máscara. O coração de Jade se apertava cada vez mais e mais. Não conseguia acreditar que seu pior inimigo estava ao seu lado a todo momento. "Manter os amigos perto e os inimigos mais perto" provavelmente era o lema do rapaz.

- Ouvir conversas por trás das portas é feio, não sabia Andre?

Então a porta se abriu e dois capangas empurraram Andre para dentro do cômodo, mas com tanta força que o fez cair.

- Jade, não faça isso. - O garoto que se levantava do chão implorou suplicante.

- É, Jade... Por que se arriscar por uma criança?

- Seu sarcasmo não me fará mudar de ideia, Oliver!

- Muito bem, eu aceito a troca. Mas que fiquem avisados vocês dois - Beck disse para Andre e Claire enquanto agarrava o pulso de Jade, puxando-a para perto de si -, se a polícia vir atrás de mim, não irei deixar barato. - Ele disse passando seus olhos diretamente da dupla para a garota que segurava.

Quando viu a amiga sendo puxada, Claire tentou pegar na mão de Jade e puxá-la de volta, mas Andre a deteve. Não era a hora. E a loirinha não devia se arriscar. O garoto sabia da prioridade do momento e indo completamente contra o seu bom-senso teve de fazer aquilo.

- Não iremos contar. - Ele assegurou.

- Bom. Agora vão antes que eu mude de ideia.

- Não! - Claire gritou chorando enquanto Andre a pegou no colo e a levou para fora.

Jade chorava silenciosamente durante todo esse tempo. Beck permaneceu alí a segurando por mais alguns minutos verificando se ela não iria fugir, mas a garota não moveu um músculo sequer. Mentalmente ela xingava o rapaz de todas as formas possíveis, todos os xingamentos em todos os idiomas que conhecia - e não eram poucos.

Quando sentiu o aperto afrouxar tentou escapar, mas Beck a segurou pelo ombros impedindo-a.

- Não, não... Você disse que ficava no lugar de Claire e agora vai ficar. Honre sua palavra, senhorita West.

- Pra que fazer isso? O que você iria ganhar sequestrando-a?

- Assuntos pessoais, doce Jade. - Ele sussurrou em seu ouvido, então desceu seus lábios para o pescoço da garota, beijando o mesmo.

Ela lhe de um pisão forte no pé e o afastou. - Não se aproxime mais. Eu tenho nojo de você! - Então ela tirou a correntinha do pescoço e jogou em Beck. - Não quero nada que venha de você!

- Mas o que é isso? - Ele perguntou ainda calmo se aproximando mais uma vez e tirando a máscara da garota. - A corrente foi um presente.

Beck olhava fundo nos olhos esverdeados de Jade, que tinha que fazer muita força para não se perder novamente.

- De um criminoso! - Ela rebateu, ainda lutando contra um possível transe. - Você ia matar uma criança inocente!

- Você acha que eu ligo pra isso?

- Eu nem te reconheço mais... Cadê o garoto incrível que eu conheci em New York? Aquele que me levou à praia e me encorajou a não fugir no nosso primeiro encontro? Cadê o Beck Oliver que eu conhecia?

- Ele nunca existiu!

- Pelo contrário. Você o matou e tomou seu lugar. - Jade observava as novas feições do garoto com o coração partido. Os olhos gentis deram lugar ao brilho de maldade e seu sorriso doce havia se contorcido em algo inexplicável. Beck de fato não parecia o garoto que havia conquistado seu coração. Ela tinha razão, a maldade havia se apossado dele.

- Bobagem!

- Tem razão, foi tudo uma bobagem. Meus sentimentos são uma bobagem. Foi tudo uma brincadeira, não é? Um jogo? Faz de conta? Era uma vez uma garota estúpida que se apaixonou por quem não devia, um monstro malvado que a enganou, fingiu que sentia o mesmo e então a apunhalou pelas costas! Parabéns, o joguinho acabou. Eu te amo e você nem liga! - Mais uma lágrima caiu de seus olhos. Não sabia o que havia dado nela, aquele impulso de coragem a fez dizer toda a verdade contida em seu coração. Era como o fim para Jade, ou até mesmo pior. Por um momento ela havia acreditado em Beck e então ele lhe provou ser diferente do que aparentou.

O sorriso no rosto do garoto se apagou após ouvir aquilo, ele havia sido pego de surpresa. Apaixonada? Me ama?, ele pensou. Ela só pode estar brincando! Então, olhando mais uma vez fundo em seus olhos enxarcados, viu a mais pura verdade. Ela estava sofrendo por culpa dele. Por impulso ele a puxou para perto de si e a beijou. Jade lutou de primeiro momento, mas então finalmente cedeu. Fez questão de depositar todo amor que sentia por ele, e também todo o sofrimento que estava passando.

E assim pela primeira vez Beck Oliver se sentiu culpado. Quando terminou o beijo, Jade estava paralisada, sem reação. Queria meter-lhe um forte soco por tê-la beijado daquela forma, mas não se lembrava como fazia para se mexer.

Beck colocou novamente a correntinha no pescoço de Jade e lhe deu mais um selinho. Alguns minutos se passaram, Jade ainda chorava se forma silenciosa e Beck olhava para ela, repassando mentalmente tudo o que haviam vivido juntos, sentindo-se cada vez mais culpado.

- Me desculpe. - Sussurrou. Foram as únicas palavras que ele conseguiu pronunciar, dessa vez sendo totalmente verdadeiras.

O coração da morena batia forte e rápido, sua respiração estava desregular. O pedido de desculpas que Beck havia feito estava rondando sua cabeça, assim como suas várias perguntas pessoais. Por que ele a beijou? Por que você não se afastou dele? Ele é um mentiroso, Jade. Sabe que é super provável que essa seja mais uma de suas lorotas! Era o que dizia - ou gritava - sua mente. Mas por outro lado havia seu coração. Ele te beijou, Jade. Ele te ama e está querendo se redimir de alguma forma. Quem sabe essa história de "troca" não seja uma maneira de mostrar que se arrependeu? Dê-lhe mais uma chance, talvez aquele Beck gentil ainda exista! Sim e não. Certo e errado. Direita e esquerda. Lágrimas e sorrisos. Uma estrada de duas mãos aonde apenas teria destino. Com a outra ficaria perdida eternamente tentando achar o caminho de volta. Jade não tinha uma resposta certa para dar, não tinha uma decisão tomada. Precisava ganhar tempo, e também precisava de motivos. Beck teria de convencê-la.

Então cruxou os braços e uniu as sobrancelhas enquanto fazia a pergunta crucial do momento. Olhou fundo nos olhos dele, não iria deixar que a enganasse novamente. Queria apenas a verdade, nada mais que a verdade. Talvez seu coração não fosse aguentar mais nenhuma mentira.

- Por que eu deveria?