Naquela noite eu e minha mãe dormimos na casa de uma tia minha. Na verdade, minha mãe dormiu e eu passei a madrugada inteira acordada, chorando.

No dia seguinte, não comi praticamente nada. Minha mãe fez eu comer uma maçã as três da tarde, mas foi tudo o que eu consegui. As cinco horas da tarde era o velório.

Como o meu pai estava muito machucado quando morreu, eles não deixaram seu corpo exposto no velório, e deixaram o caixão fechado. De certa forma senti um alívio por não ter que ver meu pai naquela situação, mas por outra senti uma tristeza por saber que jamais o veria novamente.

A caminhada até o lugar em que enterrariam meu pai foi difícil. Minhas pernas estavam bambas, então foi realmente complicado chegar até lá. Mas mais difícil ainda foi dar adeus para o meu pai. Saber que eu teria que deixá-lo ir para sempre não era fácil. 

Dois dias depois.

Era sábado de noite e eu já estava em N.Y desde sexta. Durante todo o tempo que eu estava em casa eu havia apenas ficado deitada na cama assistindo filmes. Não chorava mais porque todas lágrimas haviam secado, mas a tristeza continuava.

- Selena, vamos sair. – Maddie disse. – Eu cansei de ficar triste, você não cansou?

- Maddie, meu pai morreu. – Eu disse séria.

- Eu sei. – Ela suspirou. – Mas pensa um pouquinho... Você acha que seu pai ia gostar de ver você assim, triste?

Parei para pensar. Maddie estava certa. Meu pai era o cara mais bem humorado que já havia conhecido, e ele sempre fazia questão de ver um sorriso em meu rosto.

Eu precisava me distrair.

- Tem uma festa hoje à noite na casa de uma menina de outra turma do terceiro ano. Mas eu preciso que ela me convide, o que vai ser difícil já que metade da escola me odeia. – Ela deu de ombros.

- Mas ela não me odeia. – Demi disse entrando no quarto. – Bem pelo contrário, nós éramos super amigas na quarta série.

- Demetria, o que você está fazendo aqui? – Perguntei sorrindo, talvez pela primeira vez nos últimos dias.

- Eu queria te ver, oras. E aproveitei e dei uma escutada na conversa. Então meninas, levantem-se já e vamos se arrumar. Alguma de vocês vai ter que me emprestar uma roupa. Vamos, levantem! – Ela nos apressou.

Nos arrumamos para a tal festa. Eu fiquei pronta em questão de minutos, mas as minhas queridas amigas demoraram séculos.

Pegamos um táxi e fomos para a casa da menina. Era grande, bem grande. E estava lotada. Foi difícil entrar lá sem levar alguns socos, empurrões ou ser atingida por algum objeto da casa que meninos bêbados tocavam longe.

Maddie estava meio que de caso com um garoto, então foi atrás dele. Demi também estava, apesar de não querer me contar nada sobre que garoto era esse. E eu? Bem, eu fiquei sentada no sofá, no meio de alguns casais que se beijavam.

Quando aquela situação passou a ficar desconfortável, resolvi ir para o jardim. Sentei na grama e fiquei observando as pessoas, até que uma chamou minha atenção. Era Justin. Eu queria muito falar com ele, então me levantei.

Quando eu estava indo em direção a Justin, vi uma garota chegar nele e os dois começaram a se beijar. A raiva, nojo e vergonha de mim mesma que senti naquele momento estavam simplesmente tão grandes que eu quase explodi.