E Eu Vos Declaro... escrita por mulleriana, Nina Guglielmelli


Capítulo 16
Os hormônios




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BPOV

De todas as coisas estranhas que eu já tinha vivenciado até ali com a minha gravidez, certamente a maior aconteceu durante aquela semana: Edward Masen e sua repentina vontade de me ajudar.

Passado o susto com meu bebê, eu finalmente estava mais tranquila de que não acontecera nada de errado com ele, e imediatamente avisei Angela que voltaria ao trabalho. Edward me proibiu. Não é como se ele fosse o homem mais atencioso do mundo e me enchesse de beijos e mimos, mas ele, de seu jeito torto, me fez seguir a recomendação médica à risca e repousar durante uma semana inteira. Eu recebi até mesmo comida na cama, mas nunca um sorriso ou alguma palavra gentil. Na verdade, eu apenas agradecia, sem tocar muito no assunto. Talvez ele estivesse me bajulando para que eu tentasse transar com ele outra vez (episódio que, aliás, foi esquecido após algumas ameaças). Bom, ele estava tentando.

Alguns dias depois da nossa ida ao hospital, Esme, é claro, quase surtou com a notícia e exigiu que fôssemos até seu apartamento. Eu estava passando lentamente da fase das lágrimas para a fase da impaciência, e sabia que essa não seria uma ótima ideia, mas fui obrigada a concordar. Pelo bem do plano. Sempre pelo plano.

Rosalie e Jasper estavam fora durante aquele almoço, e eu não sei se isso era uma coisa boa. Os tios de Edward nos trataram como os adultos responsáveis que estávamos longe de ser. Eles puxavam assunto sobre o cotidiano de um casamento, e nós ríamos e concordávamos apenas com a parte ruim. Às vezes Edward entrava em seu personagem e passava a mão em minha barriga para eles verem. Não havia nada mais constrangedor.

– Então, Bella, acho que agora você está na melhor fase, não é? – Carlisle perguntou amigavelmente enquanto sua esposa tirava a mesa. – Sem mais enjoos ou cansaço?

– Eu me sinto um pouco pesada, mas estou bem. – Respondi com um sorriso sincero. – Nós temos Leah para nos ajudar com as tarefas em casa, e o trabalho no ateliê não é nada pesado. Poucas coisas incomodam.

– Ainda mais com Edward o tempo todo disposto a mimá-la, não é? – Ele respondeu com uma risada, o que foi suficiente para nós dois corarmos.

Edward, ao meu lado, soltou outra risadinha em resposta, mantendo o braço ao redor dos meus ombros. Nossos assuntos mal acabados estavam se tornando cada vez mais constrangedores. Ele sabia que eu estava pensando na última semana, em que ele realmente me mimou, e seu rosto ficou vermelho como uma criança que não sabia demonstrar um sentimento.

Antes que eu pudesse responder algo que provavelmente pioraria tudo, Esme nos salvou, voltando da cozinha.

– Quando vamos saber o sexo do bebê? – Ela perguntou com um sorriso enorme.

– Eu já estou com a consulta marcada. – Respondi quase imediatamente. – Daqui dois dias.

– Que ótimo! Edward, você certamente está dispensado, querido. Será um dia muito importante para vocês, nem pense em aparecer na loja. Só depois, é claro, para me contar! – Ela riu, apoiando as mãos nos ombros de Carlisle.

O sorriso em meus lábios desapareceu imediatamente ao ouvi-la, mas ainda tentei forçá-lo por mais algum tempo. Edward nunca sequer cogitou me acompanhar em alguma consulta, por que agora ele mudaria de ideia? Eu olhei de relance para seu rosto, mas não entendi sua expressão. Seu semblante envergonhado mudou de repente.

– Obrigado, tia. – Ele sorriu e seu abraço ficou mais forte ao meu redor. – Mas eu já adianto que com certeza será um menino!

– Como você pode ter tanta certeza? – Ela riu um pouco mais, balançando a cabeça.

– Bom, precisa ser, porque se for uma garota eu vou mimá-la demais... Não vai ser bom.

Todos riram juntos com o comentário de Edward, inclusive eu. Foi a primeira vez em que eu quase acreditei em suas palavras. Uma imagem se formou rapidamente em minha mente; Edward com uma menina em seus braços, brigando com qualquer um que tentasse pegá-la de seu colo. Seria doce e engraçado, se não fosse tão impossível. Ele podia estar tentando, mas eu ainda não o via feliz com a ideia de ser pai.

Algumas lágrimas tentaram escapar de meus olhos, e eu me xinguei em silêncio por estar preocupada com aquele idiota.

Era o meu bebê. Não dele. Eu precisava sempre me lembrar disso.

O assunto continuou enquanto eu mantinha minha mente muito distante. Eu nunca havia realmente pensado se teria um menino ou uma menina, e não me importava. Mas agora, sempre que eu tentava me imaginar com um dos dois, a imagem irritante de Edward invadia o pensamento, tentando tirá-lo de mim. Eu quase pisei em seu pé embaixo da mesa, irritada com meus próprios devaneios, mas eu não podia mais deixar meus hormônios tomarem conta de mim.

– Bom, crianças, o almoço estava ótimo, mas eu preciso voltar para o hospital. – Carlisle se desculpou, levantando devagar. – Vocês aceitam uma carona?

Eu e Edward olhamos para a janela, fazendo uma careta para a neve fina caindo, típica do mês de novembro.

– Seria ótimo. – Meu marido agradeceu, levantando e estendendo a mão para me ajudar.

– Eu acho que deixei a chave do carro no escritório. – Seu tio pegou o jaleco do sofá e apalpou os bolsos, franzindo a testa. – Só um minuto.

Eu fiquei em pé e discretamente afastei as mãos de Edward de mim, andando sozinha até a porta. Ele praticamente rosnou atrás de mim.

– Desculpe por tentar ajudá-la. – Murmurou sem que Esme, perto de nós, ouvisse.

– Você já fez demais. – Rebati, orgulhosa. – Eu sei me cuidar, obrigada.

Ele parou quase atrás da porta, contrariado, e nós fomos obrigados a sorrir de novo quando Esme se aproximou para se despedir. Eu recebi um beijo na bochecha e meu bebê recebeu um afago, me fazendo rir. Quando foi a vez de Edward, eu dei um passo para o lado, perto do buffet cheio de enfeites.

Virei o rosto automaticamente, analisando os porta-retratos. Edward estava na maioria. Ele realmente fazia parte da família como um filho. Dei mais alguns passos, tentando olhar todas as fotos – até que outra coisa me chamou a atenção. Um vaso de flores enorme, bem no meio do buffet. Não consegui parar de olhar, nem mesmo quando Esme passou por mim dizendo algo sobre seu marido.

– Bella? – Edward se aproximou, sem se importar em me tocar agora que estávamos sozinhos. – Tudo bem? – Seu tom era quase zombeteiro, apesar da preocupação.

– Elas são cheirosas, não é? – Aproximei meu rosto de algumas pétalas e respirei fundo. – Parecem boas...

– O que? – Ele riu, abaixando o rosto para tentar encontrar meu olhar. – Boas? Como assim?

Eu engoli a seco, e só então percebi que estava salivando. – É, parecem apetitosas... – Mordi o lábio, erguendo uma mão até elas. Então, arregalei os olhos. – Ai, meu Deus! Eu estou ficando maluca! – Quase gritei.

– Totalmente. – Edward concordou, se divertindo até demais com meu desejo estranho.

– Mas eu... Acho que não vai fazer mal, né? São só flores. Eu preciso disso! Pelo bebê! – Tentei justificar, quase pra mim mesma.

– Você vai realmente comê-las? Isso é nojento! – Ele fez uma careta.

– Esme nem vai perceber. – Murmurei, olhando de relance para ele.

Como se roubasse algo de uma loja, eu segurei o vaso, puxando algumas pétalas azuis delicadamente. Edward parou de rir e fez uma careta, analisando enquanto eu levava a flor até a boca e experimentava calmamente.

Antes que eu pudesse compreender o gosto inédito, Esme e Carlisle voltaram do escritório, quase nos pegando no flagra. Eu mastiguei o mais rápido que podia e engoli com uma careta pior que a de Edward. Tinha um gosto de terra misturado com alguma salada sem tempero. O casal parou na porta do escritório por algum tempo a mais, conversando algo que não ouvimos. Eu grunhi para Edward.

– O que está acontecendo comigo? – Eu reclamei ao perceber o que acabara de comer, a ponto de chorar.

– São só alguns hormônios. – Edward zombou. – E aposto que é muito melhor do que algumas coisas que a Sue cozinhou pra você a vida toda. Você vai superar!

Ele ainda estava rindo quando Carlisle se aproximou e abriu a porta, sem entender sua diversão.

(...)

– Todas as grávidas tem desejos malucos, Bella. – Minha melhor amiga disse distraidamente, mais atenta à revista que lia do que à conversa.

– Sim. Com coisas realmente comestíveis! – Arregalei os olhos.

– Existem muitas pessoas que comem flores, na verdade. E você está irritada porque Edward ficou rindo da sua cara, isso sim. – Alice respondeu, e estava certa.

– Ele não estava rindo tanto quando eu fui parar no hospital, não é? Ou quando ele levantou de madrugada pra me comprar um hambúrguer que eu não quis comer!

– Você tem que admitir que é um pouco engraçado. – Ela abaixou a revista pela primeira vez, começando a rir. Meu olhar sério a fez parar imediatamente. – Vamos, Bella, foi só um desejo, uma história pra contar aos netos!

– Eu não aguento mais ter tantas histórias para os meus netos. – Grunhi. Uma mulher muito mais grávida do que eu entrou no consultório, mal conseguindo andar. – Cadê aquele glamour da gravidez que todo mundo fala? Por que eu não posso ser como aquelas gostosas grávidas em capas de revista? Aquelas que ficam apalpando a própria barriga e falando sobre como gerar uma vida é maravilhoso? Se uma dessas revistas quiser minha opinião, eu vou ter uma bastante diferente, e meus gases vão falar por si só!

– Essa é a mesma Bella que veio aqui pela primeira vez dizendo que “hormônios eram frescura”? – Alice zombou.

– Ora, o que é que você sabe? – Eu quase rosnei para ela, cruzando os braços e sentando reta na cadeira.

Não trocamos mais nenhuma palavra e eu me acalmei aos poucos. Meus hormônios estavam tornando minha vida um inferno – eu ficava triste com qualquer coisa, ficava nervosa por ficar triste, gritava com as pessoas por estar nervosa e ficava triste outra vez por destratar quem tentava cuidar de mim. Em certo momento, eu era puro arrependimento por ter respondido a ela daquela maneira e, antes que começasse a chorar por um motivo ridículo como aquele, peguei sua mão e sorri como em um pedido de desculpas. Ela retribuiu o sorriso, e eu fiquei mais leve.

Puta que pariu, como eu odeio Edward e aquele espermatozoide filho da puta.

Eu estava voltando ao estágio da raiva quando uma mulher saiu do consultório onde eu entraria, aos prantos, comemorando ao lado do marido. Ela quase gritava algo sobre ter gêmeos. Eu não pude conter um sorriso, soltando a mão de Alice para abraçar minha barriga quase automaticamente. A imagem que tive alguns dias antes voltou à minha mente – mas, dessa vez, sem Edward. Eu carregava um bebê enrolado em um cobertor minúsculo, e não conseguia decidir se o tecido era rosa ou azul. Clichê, eu sei. Mas eu estava completamente feliz.

Alice precisou cutucar meu ombro quando fomos chamadas. Eu pisquei, me afastando de meus devaneios, e ela ofereceu a mão para me ajudar a levantar e entrar no consultório. Num último momento, confesso que olhei para trás, esperando que por algum milagre meu marido estivesse entrando na sala de espera. O que eu vi foi tão óbvio que eu nem me decepcionei.

A Dra. Goff sempre me perguntava sobre Edward, e eu sempre escapava disso com alguma desculpa esfarrapada. Mas, desta vez, ela não se importou com a ausência dele. Principalmente depois de tê-lo conhecido naquela madrugada no hospital. Acho que ela o desaprovou instantaneamente. Eu cheguei a acreditar que, depois de tantas mudanças repentinas, Edward iria me acompanhar a uma das consultas mais importantes, mas acho que estava exigindo demais. Sua família provavelmente achava que ele estava comigo, mas era Alice quem me apoiava enquanto eu estava prestes a descobrir se teria a menina doce ou garoto sapeca que imaginava.

– Finalmente chegou o dia, não é? – A médica sorriu enquanto espalhava o gel gelado pela minha barriga. Eu já estava acostumada com aquela sensação. – Antes de qualquer coisa, alguma reclamação? Voltou a ter dores?

– Estou bem. – Respondi com um suspiro, e minha impaciência estava estampada em meu rosto.

Ela apenas assentiu enquanto descia o aparelho pela minha barriga. Quando focalizou a imagem do bebê na tela, Alice deu um passo ainda mais perto de mim, quase pulando no lugar. Eu ergui um pouco a cabeça, tentando ver melhor, mas ainda não identifiquei o que queria. A médica franziu a testa, parecendo triste.

– Essa posição não é muito boa. Acontece às vezes. – Ela usou a mão livre para apalpar minha barriga com certa força. O bebê começou a se mover, mas sua perninha continuava atrapalhando nossa visão.

Eu e Alice suspiramos juntas enquanto a Dra. Goff tentava mais alguma coisa. Ela continuou a empurrar minha pele, e sua outra mão mudou a posição do aparelho, tentando outro ângulo. Quando eu já estava quase desistindo, ela começou a rir baixinho, congelando a imagem do ultrassom para apontar para a tela. Eu quase sentei para ver mais de perto.

– Está vendo ali? – Ela continuou com dedo próximo a tela, olhando de relance para nós. – É um garotão, mamãe! Parabéns!

Eu já estava chorando antes mesmo que ela falasse, mas só entendi realmente o que via quando confirmou. Alice jogou os braços ao redor do meu pescoço, chorando baixinho, mas eu não consegui olhar para mais nada além do bebê na tela. Era um menino, o meu menino. Agora a imagem na minha cabeça estava completa, nítida. Eu o amava tanto que nem mesmo meus pensamentos podiam descrever isso.

A Dra. Goff me entregou algumas folhas de papel para que eu limpasse minha barriga, e eu demorei algum tempo para reagir e realmente usá-las.

– Você já tem alguns nomes em mente? – Ela perguntou amigavelmente, me ajudando a levantar quando eu já estava pronta para sair da sala.

– Não, eu ainda não pensei nisso. – Dei os ombros com a voz um pouco rouca, sorrindo levemente para ela. – Ainda tenho tempo.

– Com certeza. – Ela riu, abrindo a porta para mim e me entregando alguns papéis. Alice veio logo atrás, com o rosto inchado. – Meus parabéns, Bella. Nos vemos em breve, sim?

Eu me despedi rapidamente, deixando que Alice segurasse meu braço enquanto andávamos. Ela ainda estava chorando um pouco. Eu estava atordoada demais para encontrar mais lágrimas, mas o sorriso não deixava meu rosto.

Eu a guiei de volta até a sala de espera lotada. Não sei o que realmente me obrigou a olhar para o lado ao passar pela recepção, mas eu o fiz – e precisei parar no mesmo segundo. Um pouco a nossa frente, estava Edward, debruçado no balcão mexendo nos próprios dedos com nervosismo. Claramente pedia alguma informação. Antes que eu pudesse me afastar sem dizer nada, ele virou o rosto e encontrou meu olhar. Eu apenas suspirei, em dúvida se sua presença me alegrava ou me preocupava. Eu saí do consultório tão feliz que nem lembrava mais de sua existência. E agora... Bom, acho que ele merecia uma chance.

Olhei de relance para Alice ao me afastar dela, e ela assentiu, entendendo. Eu me aproximei dele, sozinha, colocando as mãos para trás igualmente nervosa. Edward não sabia o que fazer, como se tivesse sido pego em flagrante. Ele virou o corpo e apoiou apenas um cotovelo no balcão.

– Eu não esperava ver você aqui. – Disse após alguns segundos desconfortáveis.

– Eu não sei porque vim. – Ele respondeu quase por cima de mim. – Esme me dispensou, e eu fui pra casa do Emmett, e aí... Não sei. Eu senti que precisava vir. Você entende?

– Não. – Respondi, e nós rimos juntos. – Mas... Obrigada.

Ele quase sorriu, se afastando completamente do balcão. Parecia estar formulando as palavras certas.

– Então... Eu cheguei tarde, não é? – Ele murmurou.

Eu sorri abertamente, não por sua frase triste, mas pela notícia que soltei em seguida. - É um menino. – Disse em alto e bom som.

Edward apenas ergueu as sobrancelhas antes de começar a rir, parecendo pensar no assunto. Ele estava claramente emocionado. As lágrimas voltaram com força para o meu rosto, e apenas dei os ombros, sendo pega de surpresa por um abraço de urso. Eu ergui as mãos, sem saber o que fazer, mas então foi quase automático retribuir seu gesto.

Nós ficamos ali, juntos, e eu não sei dizer se ele chegou a chorar. Eu, por outro lado, inundei sua camiseta. Edward definitivamente estava se esforçando, e eu deixei de lado minha teimosia, pelo menos por enquanto. Não foi estranho como eu pensei que seria; permaneci ali com ele, abraçada, dividindo algo que era exclusivamente... Nosso.


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Notas finais do capítulo

Pois é, gente, é um menino!!! Olha, vou confessar que até eu fico um pouco confusa escrevendo todas essas mudanças de humor da Bella! Hahahaha Mas, finalmente, parece que o casal tá começando a se ajeitar, né? Edward ainda tem um longo caminho pela frente, mas ninguém pode falar que o coitadinho não tá tentando. E, pra provar isso, aqui vai o teaser do próximo:
"Eu andei pelo corredor indicado, confiante, até que cheguei ao meu destino e paralisei. Havia muito mais opções do que eu pensava. É como se todos os tipos de mamadeiras, fraldas, roupinhas, carrinhos de bebê e chupetas estivessem ali. Eu não tinha ideia do que fazer primeiro."
Até semana que vem!