Ao Bater Da Meia-Noite escrita por Gigua


Capítulo 6
Capítulo 5




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A notícia de que eu estava ficando maluco ainda estava no ar, embora já tivéssemos partido daquela espelunca há um bom tempo. Agora, enquanto entrávamos na província da cidade, Stefan dirigia calma e controlamente, mas eu sabia o que devia estar passando dentro de sua cabeça.

Ele queria respostas, assim como eu. Como eu poderia ter conversado com aquela garota, se ela já devia estar morta? A não ser, é claro, que ela fosse uma vampira...

Não, pensei. Não pode ser isso.

Mesmo se ela fosse um ser sobrenatural, não havia como explicar as outras pessoas. Eu havia brigado com aquele cara; havia sentido enquanto quebrava parte por parte de seu corpo, ouvindo os estalos tão claramente quanto ouvia o som do pneu entrando em atrito com a estrada. Será que eu estava realmente ficando louco?

— Com Elena morta, você sabe que as coisas mudaram — Stefan disse em um tom casual, mas com um leve incômodo na voz. — Temos que fazer todos os preparativos.

— É, é — disse automaticamente, não dando ouvidos completamente ao que ele dizia. — Caixão, flores, túmulo... tô sabendo.

— Do que está falando? — Ele deu uma freada brusca, provavelmente tentando não atropelar algum gatinho que estivesse passando. — Enterrá-la?

— É isso que se faz quando pessoas morrem, Stefan — eu respondi, olhando para ele como se, de alguma forma, ele houvesse ficado mais burro do que o normal no caminho de volta. — São enterradas; assim, podemos chorar e dizer o quão boas elas foram enquanto estavam vivas, mesmo se o defunto for um serial killer Classe A.

— Vem comigo.

Stefan saiu do carro, indo em direção a um prédio antigo à direita, perdendo-se entre a multidão que ia e vinha pela porta. Não havia reparado antes, mas estávamos em frente ao Hospital Geral de Mystic Falls. Relutante, saí e fui atrás dele, não encontrando dificuldade em encontrá-lo.

Elena deve estar aqui, deduzi. Devem estar fazendo a autópsia neste instante, vendo se há algum sinal de homicídio.

O Conselho, no qual poucos sabiam de sua real finalidade, deve estar envolvido nisso. Eles tentam controlar a cidade, mantendo a fachada de que nada estranho ronda ao seu redor, dando aos acidentes que aconteciam uma desculpa esfarrapada. O que eles diriam que havia acontecido com ela?

Não quis saber. Eu tinha que superá-la. Afinal de contas, ela havia me chutado. Sempre vai ser o Stefan, não é mesmo? Não era isso que ela havia dito para mim?

Eu o amo, Damon. Ele chegou em minha vida quando eu precisava de alguém, e eu me apaixonei por ele no mesmo instante. Eu nunca vou deixar de amá-lo.

Tais palavras doíam mais agora que eu estava de volta à cidade. Afinal, por que eu ainda estava aqui? Sim, Elena estava morta, mas e daí? O que eu tinha a ver com tudo isso? Se eu tivesse um pingo de decência, daria meia-volta e sumiria pelo mundo... dessa vez, sem deixar rastros.

Só que eu não tinha descência. Sempre fazia o contrário do que era esperado, sempre com uma carta na manga, aquele quem desaponta os outros ao tentar ajudá-los. Eu estava fazendo um favor ao sumir da vida de todos.

— Stefan? — Uma voz feminina disse, à distância. — O que você está fazendo aqui?

A voz era conhecida, mas eu não me dei o trabalho de ir ver quem era. Como a pessoa queria falar com Stefan, eu poderia tirar uns momentos a sós e pensar em tudo que estava acontecendo, analisar como ficariam as coisas e, possivelmente, resolver todos esses problemas o mais rápido possível para poder dar o fora daqui.

Estava decidido: eu ficaria ali somente até o fim do funeral; daria minhas condolências — meio que obrigado — ao garoto Gilbert, diria umas palavrinhas encorajadoras, seria um bom exemplo e, por fim, partiria para sempre. E, dessa vez, só pararia em algum bar depois de ter passado da fronteira dos Estados Unidos.

Ao pensar naquele estranho lugar onde me encontrara mais cedo, ouvi uma risada vinda do final do corredor, às minhas costas, e ao me virar quase dei um pulo de exasperação.

Lá estava Amy, virando a esquina do corredor, indo em direção à saída. Usava a mesma camisa regata branca e a minissaia jeans que eu a vira usando da última vez — só que agora, o avental havia sumido.

Pelo canto do olho, vi que Stefan estava rígido, mesmo apesar da distância, e que ele tampava por completo a mulher com quem estava conversando.

Antigamente, costumávamos ser os mais altos da nossa turma, mas com o passar dos anos, os descendentes parecem ter crescido alguns centímetros, fazendo com que nós ficássemos pequenos.

Se Stefan conseguia cobri-la, significa que ela tinha 1,65m ou até menos.

Ignorando-os por completo, e querendo tirar aquela história a limpo com aquela garota, a segui o mais rápido possível, esbarrando ou dando tropicões em alguns médicos e enfermeiras desprecavidos que apareciam em minha frente.

Assim que virei o corredor, vi que Amy estava inclinada preguiçosamente sobre uma das portas que dava para um quarto. Quando ela percebeu que eu a encontrara, simplesmente deu um sorrisinho malicioso e entrou no quarto, deixando a porta entreaberta.

O corredor estava vazio, então não me contive e usei meus Poderes para corta a distância em um tempo recorde, antes mesmo que o próximo tique do relógio batesse.

Ao adentrar no quarto, a escuridão tomou conta de minha visão por alguns segundos. Rapidamente me adaptei a falta de luz e vi o contorno de um corpo deitado sobre uma maca.

Amy se levantou e, apesar da escuridão, pude perceber que havia um sorriso insolente em seu rosto, como se a brincadeira de esconde-esconde houvesse apenas começado, no qual ela estava se divertindo bastante às minhas custas.

— Quem é você? — Eu perguntei na lata, não perdendo tempo para formalidades. — O que você quer?

A garota doce e delicada que eu havia encontrado no bar havia mudado por completo. Ela ainda vestia as mesmas roupas, mas ela exalava uma essência mais sombria, algo muito mais obscuro do que eu já tivesse visto na vida.

— Com o tempo, você vai saber — ela respondeu, limitando-se a sentar na cama e me encarar. — Quer fazer o favor de acender a luz?

Não despregando os olhos dela, com medo de que ela pudesse sumir ou algo assim no intervalo em que eu estivesse distraído, fui até o canto esquerdo da sala, próximo à porta, e acionei o interruptor.

Em questão de uma batida de coração, as luzes se acenderam e eu me encontrei em uma sala fria, cheia de gavetas acopladas à parede. A “maca” onde Amy estava deitada era, na verdade, uma mesa de inox feita para... examinar os mortos.

Estávamos no necrotério do hospital.

— Legal, não? — Amy disse após perceber que a ficha finalmente havia caído.

Por que está fazendo isso comigo? O que é você?

— Eu não estou fazendo nada — Ela exclamou de uma forma ofendida, dramatizando ao pôr a mão direita sobre o peito. — Você me seguiu por livre e espontânea vontade.

— Chega com esses joguinhos e me diga logo o que você é e o que quer comigo.

Erguendo os braços em sinal de rendição, ela disse:

— Eu preciso de sua ajuda.

— Que tipo de ajuda?

— Não posso entrar em detalhes, porque se ele descobre que voltei, eu e você estaremos no menu do dia seguinte — ela disse enquanto se levantava e vinha em minha direção. — Mas prometo que vamos nos divertir bastante.

E assim, ela me lascou um beijo.

No começo, resisti; mas com tempo, percebi que isso era bobagem e logo me entreguei de corpo e alma. Aquele não era o melhor lugar para se fazer aquilo, mas não me importei. Segurei sua cintura com uma mão, colocando levemente a outra em suas costas, enquanto ela prendia ambos os braços em volta de meu pescoço.

Não era um beijo normal. Seus lábios eram agressivos e famintos, como se ela não beijasse alguém há séculos, tirando o atraso naquele momento. Ela estava afobada demais, desejosa demais, tudo muito demais. Não sei quantas vezes havia sido apalpado, quantas vezes havia apalpado, mas a química entre nós era inegável.

Não que eu fosse sair dali e casar com ela, mas tinha que admitir que ela despertava uma parte em mim que há muito eu não sentia. A última vez que eu me sentira daquele jeito fora com Katherine, aquela vadia manipuladora.

Ela me puxou para perto da mesa de inox, subindo em cima dela para poder ficar mais ao menos na mesma altura de meu rosto, e senti que ela estava começando a tirar minha jaqueta de couro a todo custo. Ajudando-a, eu comecei a escorregá-la pelo braços.

As carícias estavam começando a se intensificar quando eu, por alguma razão, abri os olhos e vi uma gaveta com um adesivo datando o ano de 1855.

Foi aí que eu lembrei da fotografia.

Ao afastar, bati com tudo minha cabeça na porta. A dor inundou meu corpo todo, mas não me dei ao trabalho de ligar para essa coisa tão humana.

Pegando Amy pelo braço — de uma forma nada gentil, devo acrescentar —, exigi por uma resposta:

— Você deve estar morta. Eu vi a fotografia. Como isso é possível?

— O que você acha que eu sou? — Ela perguntou em um tom de deboche.

Examinando-a bem, o pensamento de que ela poderia ser uma vampira voltou à minha cabeça. Mas ela tinha uma aura sombria demais, até mesmo para uma vampira Original. Ela era algo mais escuro, algo mais maligno.

— Eu não sei — admiti. — Só sei que você é sinônimo de encrenca.

— Não quer se meter em encrenca? Vamos, vai ser divertido.

Ela riu de sua própria piada.

— Qual é, Damon, eu sei que você está cansado dessa vidinha aqui nessa cidade — ela disse. — Você deu a entender isso, lá no bar.

Eu estava com uma resposta na ponta da língua quando me toquei que ela havia me chamado por Damon, e não por Stefan, como eu havia dito que me chamava.

— Então você sabe meu nome — constatei o óbvio. — E qual é o seu? Sinto muito, baby, mas você não tem cara de Amy.

— Continue me chamando assim, eu gosto mais. Meu verdadeiro nome é... como posso adjetivá-lo? Antiquado?

Não respondi, pois naquele momento a porta atrás de mim havia sido aberta. Sobressaltado, eu me afastei, ficando ao lado de trás da porta, vendo se o intruso era alguém com quem eu devesse me preocupar. Se fosse para alguém cair, que fosse Amy — e de preferência, sozinha.


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