Ao Bater Da Meia-Noite escrita por Gigua


Capítulo 4
Capítulo 3




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Ela está morta, Damon.

A frase continuava a martelar em minha cabeça, constantemente, mas eu não conseguia acreditar. Parecia surreal demais, como se fosse algo que jamais pudesse acontecer.

Tentando focar-me de volta à realidade, olhei para Stefan, que parecia estar mais abalado do que nunca, e disse:

— O que foi que você disse?

Relutante, e com uma expressão de dor, Stefan olhou para trás, para o pub que há pouco eu estava, e ficou encarando aquela velha construção, absorto em pensamentos. Percebi que ele, assim como eu, ainda estava em negação, mas Stefan sempre fora de sofrer calado. Ele sempre foi assim. Eu, por outro lado...

— Precisamos limpar essa bagunça — Ele disse, mudando de assunto. — Não seria nada bom ter a atenção dos repórteres nesta região.

Bufei.

— Tanto faz. Faça o que você bem entender.

— Vai estar aqui, quando eu voltar? — Ele perguntou inseguro. — Eu realmente preciso de sua ajuda, irmão.

— Minha ajuda? Por que diabos você precisaria dela?

— Elena... Elena...

— Está morta! Eu já sei disso.

— Não, não é isso — Stefan sussurrou, incapaz de aumentar seu tom de voz. — Ela...

Sem dizer o que estava acontecendo, ele se virou, indo em direção ao bar. Sem pressa, ele foi se aproximando cada vez mais, como se tivesse todo o tempo do mundo para fazer isso.

O que, na verdade, ele tem, pensei com desgosto.

Começando a ficar muito irritado, eu o segui, alcançando-o rapidamente — sem nem ao menos usar qualquer tipo de vantagem que nós, vampiros, tínhamos.

Ele adentrou na pequena casa, sem nem ao menos se importar em pisar nos pedaços de madeira que, um dia, foram belas mesas ornamentadas. Seu olhar não demonstrava descontentamento ou repulsa; ele estava neutro, como se estivesse acostumado a fazer esse tipo de coisa com frequência.

— Que bagunça — Ele comentou. — Ainda bem que não havia ninguém aqui, não é?

Eu olhei para os lados e vi que, agora, o local estava vazio. Não havia ninguém ali para contar a história, nem mesmo aqueles caras que haviam ficado para ver o desfecho da minha briga.

— Cadê a Amy? O Steven? — Perguntei, soltando em palavras o que estava preso em minha mente. — E aqueles velhos idiotas que estavam ali agora pouco?

Stefan se virou para me encarar, olhando para mim como quem se olha para uma pessoa doente: com dó e piedade.

— Não sei do que você está falando — Ele simplesmente disse. — Quando eu cheguei, você já estava saindo daqui, mas pude ouvir de longe que você havia feito um grande estrago.

— Como você me encontrou, afinal?

— Você fez um rastro pelo caminho — Ele informou, apontando com o dedo para noroeste. — Não foi difícil segui-lo até aqui. Bastou eu recolher os corpos pelo caminho.

— Corpos? Do que você está falando?

— Damon, eu não estou aqui para fazer brincadeiras — Ele seguiu em frente, indo para os fundos do bar. — Vamos resolver isso e dar o fora daqui.

— Mas...

Ele não ouviu.

Stefan já estava indo ao balcão, onde, há pouco, Amy havia me servido um pouco de uísque, procurando por alguém que talvez pudesse estar ali e que possivelmente havia visto toda a confusão que acontecera.

Mesmo de costas, pude perceber que Stefan estava aflito com alguma coisa. Ele exalava essa preocupação, igual animais exalam seus odores próprios na época de acasalamento. Mas essa coisa dele vinha tal jeito que parecia ser até natural...

— Vocês já a enterraram? — Eu perguntei, acabando com o silêncio repentino.

Ele travou, repentinamente, como se eu tivesse dito algo imperdoável, sujo e desnecessário; como se a palavra enterrar não devesse ser aplicada naquela conversa, ou em momento algum das conversas futuras.

— N-Não — Stefan disse de repente, meio sem fôlego. — Ainda não.

Mesmo ele estando de costas para mim, eu lhe lancei um olhar questionador. Por que eles ainda não a enterraram? E o principal, como ela havia morrido? Ela estava naquele carro, com Matt, indo para casa... Para Stefan. O que...

Foi como se uma luz me atingisse naquele momento.

— Ela se afogou — Eu simplesmente deduzi.

Stefan não respondeu, mas o modo como ele estava vacilante deu a entender que fora exatamente o que acontecera. Então, era isso? Todo esse esforço fora à toa? Klaus morreu, mas mesmo assim não conseguimos salvar Elena, quem mais precisava de nossa ajuda?

Não pode ser, eu pensei. Não pode ser! Não, eu devo estar sonhando ou coisa do tipo...

Só que não estava.

Tudo era bem real. As cadeiras e mesas destruídas, as paredes de pedra, o piso de madeira. Tudo mostrava que eu estava acordado — e pior, sóbrio. Uma bebidinha cairia bem agora...

Ao me lembrar de Amy e de Steven, eu comecei a vasculhar o local, tentando tirar Elena da cabeça. Eu teria o tempo do mundo para ficar amargurado. Stefan tinha razão em um ponto: deveríamos mesmo limpar aquela bagunça. Fazer com que nada tivesse acontecido, como se hoje fosse um dia de trabalho normal.

Ignorando Stefan, subi para o segundo andar, onde descobri que havia dois quartos, uma pequena sala, onde metade era destinada para a cozinha, e um banheiro minúsculo que nem um Smurf poderia caber ali. Tudo isso em cima daquele velho e poeirento bar...

Espera, poeirento? Não havia poeira alguma quando eu cheguei aqui, disse para mim mesmo. Como é que isso pode estar certo?

Vasculhando melhor o local, percebi que os móveis e os eletrodomésticos estavam cobertos por um pano longo e grande, de cor branca, o que mostrava que os habitantes daquele local haviam muito tempo se mudado — e, por algum motivo, deixado seus pertences para trás.

Fui novamente à sala-cozinha, percebendo que os sofás, apesar de estar sob os panos, possuíam uma aparência antiga, do tipo que não mais se fabrica nos dias de hoje. Com um puxão avassalador, eu tirei aquele pano imundo, levantando 

ao ar várias partículas de pó que deviam estar se acumulando durantes longos anos.

Se eu fosse um humano normal, teria espirrado loucamente, estando agora com os olhos lacrimejando e com o nariz entupido. Mas como eu não era, eu simplesmente ignorei a sensação de desconforto próxima à narina e continuei em frente.

— Por que a Amy e o Steven morariam num lixo como esse? — Eu perguntei a mim mesmo. — Não faz nenhum sentido.

— Não faz mesmo — Stefan disse, atrás de mim. — A propósito, quem são esses?

Eu não havia percebido que ele havia subido as escadas. Ou ele havia aprendido a voar, evitando fazer barulhos desnecessários em um mausoléu como aquele, ou eu devia estar distraído demais com meus pensamentos para poder notar qualquer coisa que fosse ao meu redor.

Preferi acreditar na segunda opção, pois era mais plausível.

— Damon — Stefan me chamou —, essa tal de Amy é sua amiga?

— Não — Eu disse, com repulsa. — É somente mais uma humana qualquer, uma verme loira com quem eu estava me divertindo.

E estava mesmo. Se não fosse aquele maldito Steven, o irmãozinho bom samaritano, agora eu e ela estaríamos bem longe daqui, provavelmente na província dos Estados Unidos. Ou mais longe, quem sabe?

— Eu quero que você venha ver isso — Stefan sussurrou. — Acho que é importante.

Sem dizer nada, eu o segui, deixando para trás aquela casa abandonada.

* * *

Quando chegamos ao térreo, tudo havia mudado.

As paredes rochosas estavam em ruínas, com um pouco de musgo colado em algumas partes, dando a impressão de que ela estava sagrando. O piso de madeira, que antes dava um toque de sofisticação ao local, agora estava tão encardido que mal se podia vê-lo direito, com toques de poeira em determinadas partes, como se fosse um enfeite feito pela Mãe Natureza.

E as mesas... Bem, se antes elas já pareciam estar em condições precárias, agora é que demonstravam quão acabadas e destruídas elas estavam. Parecia que aquele pub não era visitado há séculos e não somente há alguns minutos.

O que é que aconteceu aqui? — Exclamei perplexo. — O que você fez, Stefan?

— O que eu fiz? — Ele me encarou de volta com cara de dúvida.

— Sim, você — Eu fiquei apontando para ele com o dedo. — Quando eu subi, o bar estava às mil maravilhas. Não era lá essas coisas, mas estava em um estado decente!

— Damon, acalme-se — Ele ergueu as duas mãos, como se falasse com um animal enfurecido. — Venha cá ver o que eu encontrei.

Estava perdendo o controle, eu sabia disso. Mas a sensação era tão boa, tão relaxante, que parecia errado ter que parar agora, justo naquele momento. Eu estava tentando respirar fundo, tentando não fazer nenhuma bobagem, mas a tentação era muito grande. Stefan estava me irritando — e já não era de hoje. Quem sabe se eu...

Não, outra voz, diferente daquela primeira que havia falado em minha mente, disse, confiante. Não faça isso. Você é melhor do que isso, Damon.

Eu tentei dar ouvidos a ela.

Aos poucos, vi que a raiva desnecessária estava se esvaindo de mim, tão rapidamente quanto havia chegado. Começando a me concentrar mais, dando foco em Stefan, eu fui até ele, até o local onde, antes, era o lugar onde os prêmios conquistados durante os anos costumava ficar.

Agora não passava de uma parede imunda e vazia, com algumas partes mais claras — onde os troféus e as medalhas costumavam ficar. Aquelas minúsculas partes demonstravam que realmente havia alguém que morava ali... Só que há muito tempo atrás.

— Veja isso — Stefan disse, dando-me um porta-retratos antigo e malcuidado. — E preste bem atenção na data.

Eu olhei... E quase fiquei sem fôlego.

Na fotografia, em preto e branco, havia alguns homens e mulheres, bebendo e se divertindo. Com vários copos erguidos no ar, eles pareciam brindar alguma coisa, alguns até dando sorrisos discretos. E lá estava ela!

Amy, ao lado de Steven, estava brindando junto com os outros caras, ela com o rosto mais escuro na área das bochechas — talvez devesse estar corando —, enquanto ele era um daqueles que dava uns sorrisinhos.

— Não estou entendendo — Eu disse, entregando-lhe novamente o porta-retratos.

A data, Damon — Ele disse, apontando para alguns números escritos sobre a fotografia. — Olhe bem para a data.

1855.

— Tá, o bar está aberto desde 1855 — Eu disse, com desdém. — Essa garota se parece muito com a que estava aqui agora pouco... Talvez, talvez... Ela seja uma vampira, igual a nós.

— Damon, você não está entendendo — Stefan disse. — Esse lugar não é habitado faz muito tempo. Pelo menos, não depois do incêndio.

— Do incêndio?

— Sim — Stefan disse pausadamente, como se estivesse com medo de prosseguir. — Damon, preste bem atenção: houve um incêndio aqui. Esse bar não deve estar funcionando há mais de cento e cinquenta anos!


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