Pov Liam.

Senti um aperto assustador em meu peito, enquanto caminhava pelo corredor de volta para meu apartamento. O choro dela era claro em meus ouvidos, que parecia torturante de ser escutado. Forcei minhas pernas a continuarem andando, até finalmente conseguir chegar até minha porta, e pousei minha mão sobre a parede, e suspirei. Apesar dela ser uma pessoa completamente maldosa, insensível e manipuladora, ela estava sendo sincera em relação a tudo. Parecia até que eu era culpado em alguma coisa nessa história, pois era assim que eu me sentia. Me sentia culpado de deixa-la naquele estado jogada no chão, me senti culpado de ter sido tão duro com ela, mesmo que ela não mereça minha culpa, mesmo que ela não mereça qualquer sentimento meu. O barulho da porta sendo aberta me fez voltar para realidade, e Candice me encarava franzindo a testa.

- O que aconteceu? – ela perguntou.

- Nada, vem – eu entrei e a puxei, fechando a porta.

- É sério Liam, o que houve? Você parece ter levado um susto – ela percebeu minha expressão.

- Princesa, já disse que não foi nada – eu tentei passar firmeza para minha voz. Ela pareceu não estar muito convencida, mesmo assim resolveu não questionar mais.

- Então, você comprou o que eu te pedi?

- Não, o mercado estava fechado – Menti. Eu só não queria tocar mais no nome de Victoria, muito menos na frente de Candice.

- Eu estava pensando... Por que nós não vamos assistir um filme? Não é legal ficar em pleno sábado em casa – ela disse, fazendo carinha daquele gatinho de filme.

- Tá legal, nós podemos ir – Apesar de eu não estar com cabeça para sair, tive que ceder. Não queria que ela percebesse algo estranho em mim.

- Então vou tomar um banho, não vou demorar, prometo – ela disse enquanto ia em direção ao meu quarto, que era uma suíte.

Segui também até o quarto, e me deitei na cama, encarando o teto entediado, ainda tentando afastar qualquer tipo de pensamento que era sobre ela, victoria. Ela sabia como me fazer ficar atordoado, ela sabia invadir minha mente quando queria, o que era um fato que eu achei ter superado, mais com toda essa história de arrependimento que ela veio para meu lado, eu me enganei. Eu não superei, é algo profundo demais para ser superado, eu não consegui esquecer meu passado, não consegui esquecer em como foi terrível passar o meu tempo sozinho pensando nela. Em como era horrível sentir sua falta e nem ao menos saber aonde ela estava. Vivi a maior parte da minha vida sozinho, assassinando pessoas inocentes e desconhecidas que caminhavam ingenuamente por lugares tenebrosos a noite. Eu me senti sozinho, por muito tempo. Eu já havia esquecido o significado da palavra amor, até eu encontrar com uma garota fascinante. Ela carregava uma tranquilidade confortadora em seus olhos, que me fez por um momento esquecer minha vida patética, e os problemas atordoantes que eu carregava nela. Candice é tudo que eu preciso, eu me sinto feliz ao seu lado. Sinto que desde que meus olhos se encontraram com os seus, eu me apaixonei por ela. Por que ela é simplesmente diferente de qualquer pessoa em que eu havia conhecido em toda minha vida. Eu a amo mais que tudo, mais parece que sempre quando minha vida recebe uma ponte para um novo rumo, essa ponte se rompe no meio do caminho, me fazendo cair novamente no abismo. Era injusto eu me sentir assim, não tinha um motivo especifico para toda essa baboseira ridícula que eu sentia. Por que ela teve que aparecer logo agora que eu me apaixonei por alguém, que finalmente me correspondeu? Parece até que quando ela detecta minha felicidade, ela se aproxima para destruí-la, por que eu sei que ela não iria desistir fácil. Com certeza Candice seria o alvo dela, em algum tipo de vingança. Eu a conheço, por mais que ela esteja incrivelmente sensível no momento, demostrando finalmente um sentimento por alguém, a maldade ainda percorre suas veias, e eu preciso ficar de olho, não posso momento algum dispersar, por é ai que ela dará o bote.

Meus pensamentos foram interrompidos, quando a porta do banheiro se abriu, e então Candice saiu de toalha para o quarto, levando um leve susto ao me ver.

- Desculpe, achei que você estivesse na sala – ela disse tímida, ficando totalmente corada.

- Não precisa se desculpar, se bem que eu preferiria sem essa toalha aí – dei um sorriso malicioso e ela ficou ainda mais sem graça, indo até a mochila, tirando umas roupas de lá e logo caminhando de volta para o banheiro –  Ah qual é, não acredito que você tem vergonha de mim.

- Eu não tenho vergonha de você – ela se virou, sendo pega de surpresa.

- Então por que está indo para o banheiro se trocar amor? – perguntei e ela pareceu ficar sem resposta por um momento – Hein?

Ela suspirou, e deixou a toalha cair, me fazendo ficar até surpreso com a atitude. Veio caminhando em direção a cama, enquanto eu apenas observava suas lindas curvas... wow, como ela era perfeita! Ela começou a colocar cada peça de roupa lentamente, com certeza para me provocar, e meus olhos subiam e desciam, acompanhando cada detalhe de seu maravilhoso corpo.

- Você é linda, sabia? – eu sorri, enquanto ela colocava a última peça de roupa que faltava.

- Não tanto quanto você nessa jaqueta – ela respondeu, e então eu reparei que eu estava realmente de jaqueta.

- Vamos logo princesa, se quisermos pegar a última sessão – eu a apressei.

Fiquei um pouco inseguro de ainda encontrar Victoria pelo corredor, mais ela já não estava mais lá. Pegamos meu carro e fomos para o cinema, no caminho ficamos apenas escutando algumas músicas que tocava em uma rádio qualquer. Quando finalmente chegamos ao estacionamento do cinema, me surpreendi por ainda ter alguns carros lá, o que significava que a última sessão não estaria tão vazia quanto eu pensei, talvez por que fosse sábado.

- Quer pipoca? – perguntei a Candice, enquanto estávamos na pequena fila formada para comprar o ingresso do filme.

- Aceito. Mais que filme nós vamos ver? – ela perguntou enquanto olhava para uma tela acima de nós, que informava os filmes disponíveis.

- Você que escolhe – falei. Ela pareceu pensativa por alguns segundos, e então logo suspirou.

- Jogo de amor em Las Vegas, tá bom pra você? – ela perguntou fazendo uma careta, como se estivesse com medo da minha resposta.

- O que você quiser amor – eu sorri de lado, e continuei esperando a fila andar.

Um cheiro enlouquecedor invadiu minhas narinas, me fazendo esquecer tudo ao meu redor. Eu conhecia aquele cheiro maravilhoso, que me faz ficar fora de controle, que me faz delirar completamente, que me dá água na boca. Eu sentia um cheiro de sangue. Meu corpo automaticamente foi seguindo o cheiro, minhas pernas mexiam involuntariamente, enquanto eu tentava detectar de onde vinha. Eu podia escutar alguém me chamar no fundo, mais eu simplesmente não dei ouvidos, e ia me afastando cada vez mais. Abri a porta do cinema, sentindo o vento cortante bater em meu rosto, o que não é um problema pra mim. Mais alguns passos e pude avistar uma garota sentada em um banco próximo dali, com os olhos fixos em seu próprio braço, que havia um belo corte, e sangrava sem parar. A essa hora meus caninos já estavam ampliados, assim como meu rosto já deveria estar transformado. Eu fui em sua direção, dessa vez acelerando os meus passos. Quando eu já estava próximo o suficiente, senti algo puxar meu braço, e virei com ódio, amostrando meus dentes como se fosse uma tentativa de defesa. Mais quando vi que era o rosto de Candice, meu corpo simplesmente estremeceu. Ela me olhava apavorada, como se estivesse com medo de mim, e ela com certeza estava. Pude sentir meu rosto voltando ao normal, e eu olhei de volta para a garota que estava ali no banco, mais ela já havia saído.

- Eu sinto muito – eu finalmente consegui pronunciar algo.

- Você está a quanto tempo sem tomar sangue?

- Desdo do dia em que nós nos beijamos, e eu descobri estar apaixonado por você.

- Achei que você fosse perder o controle comigo  –  ela encarou o chão. Claro que ela ficou assustada por eu ter reagido daquela forma com ela. Me aproximei e passei a mão por baixo de seu queixo, levantando sua cabeça e fazendo-a olhar para mim.

- Eu jamais te machucaria... Candice, me desculpa tá legal? Esse tipo de coisa eu simplesmente não posso me controlar, e eu quero que você saiba disso se quiser continuar comigo.

- Liam, eu só não quero que você mate mais alguém inocente, por favor.

- Eu não vou, eu prometo.

- Mais você precisa de sangue, como você vai sobreviver?

- Não vamos falar sobre isso agora, tá frio aqui fora pra você e também nós iremos perder a sessão, vamos – eu passei minhas mãos pelo seu ombro e fomos para dentro do cinema novamente. Quando eu ia encostar a porta, pude ver do outro lado da rua Victoria. Seu olhar carregava ódio, seu punho estava fechado, e ela provavelmente estava nos seguindo. Um carro passou por ela, e logo ela desapareceu, sumindo completamente da minha visão.

Eu não queria ter assustado Candice daquela forma, eu jamais me perdoaria se eu a machucasse. E eu também não sabia o que aconteceria se ela não tivesse me puxado, pois tenho certeza que eu não conseguiria me controlar. Não adianta, por mais que eu vire um “bom rapaz”, o instinto assassino vive dentro de mim, isso é uma coisa que eu não posso negar.