P.O.V Percy

Fiquei andando por algumas horas enquanto procurava alguma fonte de água. Cogitei a possibilidade de voltar para a área inicial da Cornucópia, lá havia um lago. Mas é claro, também haviam os Profissionais, e com eles havia Cato, que desde o primeiro dia se tornara sinônimo de morte para mim.
Pelos meus cálculos Katniss já estaria acordada agora. Se ela tivesse sorte teria conseguido água antes de mim, o que eu espero que tenha acontecido. Nós podemos sobreviver apenas um pouco mais de três dias sem água. Espero que ela esteja se saindo bem. Talvez eu tenha a sorte de encontrá-la em um lago ou coisa parecida, e então nós podemos enfrentar tudo o que a Arena nos reserva, juntos (N/A: Juntos. Together. As long as we're together...com licença, vou ali me desidratar em lágrimas e já volto).
Na minha caminhada fiz uma rápida observação do ambiente. As árvores ficavam maiores a cada intervalo de 30 metros. Ás vezes eu pegava um vislumbre de um pássaro preto e branco que cantava diversos tipos de melodias, lembro-me de Katniss falando que eram tordos. Pássaros especialistas em memorizar e repetir canções.
Em determinado tempo quando eu parei para descansar, ouvi um pequeno farfalhar de folhas acima de mim. Me levantei rapidamente empunhando a faca de aço, esperando qualquer coisa que poderia ser perigosa. Foquei meus olhos na árvore de qual viera o barulho. Se você visse de longe não veria absolutamente nada. Mas olhando com cuidado poderia ver o resquício de um cabelo encaracolado, ou um pequeno par de botas empoleirado nos galhos mais fortes, e ainda os curiosos olhos castanhos de uma criança. Essas características só batiam com uma pessoa que eu havia, de certa forma, conhecido: Rue, do Distrito 11.
Abaixei a faca e sorri. Era bom poder ver alguém, digamos familiar.
--Hei, Rue- eu chamei.
Ela não fez nada a não ser piscar os olhos.
--Não se preocupe, não vou te machucar.
Pouco a pouco ela saiu de trás da cobertura de folhas. Ficou em um dos galhos mais altos, com os olhos fixos em mim, como se ainda estivesse pensando se deveria ou não confiar em mim. Bem, eu não tiraria a razão dela.
--Bom ver você. E então, está se saindo bem?
Ela deu de ombros em resposta. Fiquei observando-a. Com aquele tamanho poderia facilmente pular de uma árvore pra outra, o que garante que fique longe dos tributos "térreos", como é o meu caso.
--Você pode subir e pular de árvores- murmurei- deve ser isso que te deu aquela nota. É incrível!
Ela deu um pequeno sorriso e abaixou a cabeça.
--Também é silenciosa. Dificilmente alguém te perceberia nas folhas.
Seu sorriso desapareceu por um instante e ela falou em uma voz baixa:
--Os Carreiristas estão te procurando, o líder deles garantiu que você se arrependeria de ter nascido se cruzasse o caminho dele.
Suspirei. Infelizmente minhas suspeitas foram confirmadas.
--Sei disso. E também sei como cuidar...- respondi e tratei de perguntar logo- Você viu a Katniss, sabe, a garota do meu distrito?
Ela balançou a cabeça negativamente e disse:
--Ainda não. Ela deve ter corrido muito, sabe? Observei ela na Cornucópia antes de fugir, é rápida.
--Conseguiu ver pra que lado que ela foi?
--Não sei direito, é difícil se localizar com tantas árvores. Além do mas, ela com certeza muda de rota todos os dias, o que torna quase impossível saber onde ela está.
Era isso que eu temia, mas eu já deveria saber. Pensei por um tempo e disse:
--Sabe Rue, você é mais rápida do que eu com essa coisa de árvores. Você poderia, por favor, achar a Katniss para mim?
Ela franziu as sobrancelhas para a pergunta.
--Apenas observe-a- adicionei - e a ajude se for possível. Ficaria mais tranquilo se soubesse que tem alguém cuidando dela.
--Mas eu...
--Não me venha com a desculpa de que você não pode fazer nada para protegê-la. Vamos lá, não é qualquer um que consegue se esconder nas árvores tão bem. E aposto que consegue arranjar comida o suficiente, sendo você do D11 que é...agricultura, certo?
Ela assentiu.
--Então não há com o que se preocupar. Tente achar ela, ok?
Ela hesitou por um instante mas depois concordou. Antes que ela virasse e começa-se a ir embora, perguntou:
--Mas e você? Vai ficar bem?
Dei de ombros e respondi:
--É apenas questão de tempo. Eu tenho os meus truques na manga, consigo me virar. Não se preocupe, logo estarei junto da Katniss, e, se tivermos sorte, você pode ficar com a gente também, que tal?
Ela arregalou os olhos que brilhavam como se eu estivesse dizendo "E aí eu consigo os números premiados da loteria e então ficamos bilionários".
--É sério?
--Claro, você seria uma boa aliada pra gente.
Ela sorriu ficando um pouco vermelha. Ela pulou de uma árvore a outra sem o mínimo esforço. Antes que eu a perdesse de vista, disse:
--A propósito, Rue...
Ela virou a cabeça para me olhar.
--Se achar ela, diga que estou com saudades, ok?
Ela abriu um sorriso bem maior do que os outros e respondeu:
--Pode deixar! - e saiu pulando de galho em galho até eu perdê-la de vista.
Posso até ouvir o típico "Own" feminino das mulheres da Capital nesse momento. Bem, se vai fazer uma besteira tem que fazer da forma certa.

Mais algumas horas caminhando. Minhas pernas estavam doloridas, minha boca estava seca e eu começara a ter uma forte dor de cabeça por causa do calor. Tantas formas para morrer e vai ser justo de sede? Que patético.
Antes que eu pudesse desmaiar por cima das pedras, ouvi uma voz na minha mente "Siga em frente, semideus". Não era a voz de Hera, mas ainda assim uma voz feminina. Levantei a cabeça e olhei em volta, nada mais além de árvores. Não poderia responder de volta, achariam que eu sou louco. "Siga em frente, encontrará o que precisa". Certo, no momento eu preciso de água. Poderia ser uma armadilha, mas quem liga? Morreria da mesma forma se não tivesse água.
Comecei a andar novamente. Alguns minutos depois ouço: "Vire à esquerda agora". Parei e olhei ao redor, até agora nenhuma mudança. Fiz o que a voz me disse e continuei andando para a esquerda. Momentos depois ela volta "Á direita".
--Parece um GPS...- murmurei.
"Quer a água ou não, filho de Poseidon?". Me espantei com o fato dela responder ao que eu disse. Para evitar mais alguma confusão, fiz o que ela disse. Mais um intervalo em silêncio. "Vire à esquerda quando chegar no salgueiro, depois disso é só seguir em frente". Dizem que homens não gostam de pedir informação, mas acho que nenhum deles já teve a informação falando na sua mente com uma voz irritantemente fina. As últimas instruções foram seguidas. Me deparo com um pequeno riacho, não tão fundo aparentemente. A terra ao redor era coberta de grama e folhas. E no meio do curso d'água estava uma garota de orelhas pontudas e vestida com uma espécie de antiga roupa de tributos.
--E então, como tem passado, Percy Jackson?