Ela É Minha! escrita por Star


Capítulo 2
Sasuke - A stalker da minha infância, parte II




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“Ooh, aquele alí não é o herdeiro Uchiha? Pobre coitado, tem uma sorte horrível...”

“Se eu fosse o Hokage já teria lhe ensinado uma lição. Traidor sujo!”

“Kyaaa, ele fica tão bonito com essa cara de mal!”

Os comentários chegavam aos ouvidos de Sasuke vez ou outra. Todo mundo nas ruas estava olhando, todos tinham uma opinião sobre a sua vida. Desde que ele voltou as coisas estavam assim. Odiava se sentir tão vulnerável e exposto.

À distância de um braço ia Hinata, olhando impressionada para todos os lados e soltando um “aaah” surpreso toda vez que entrava em outra rua e via todos os pescoços se virarem para eles.

– Impressionante... – Sussurrou, meio distante. – Ei, Sasuke.

Ele lhe inclinou a cabeça. Ela andava a passinhos curtos e apressados para chegar mais perto, abraçada ao embrulho vermelho.

– Não olha agora, - ela sussurrou, séria - mas acho que todo mundo está olhando pros seus mamilos.

Ela falava quase preocupada. Sasuke não conseguia ter certeza se estava debochando dele ou se era realmente idiota. Por isso odiava ter de conhecer pessoas novas, em especial garotas. Nunca sabia o que elas queriam dizer de verdade.

– Se você continuar falando dos meus mamilos eu volto pra casa e você vai sozinha –resmungou, irritado.

– Desculpe – ela disse, fazendo uma mesura rápida ao seu lado.

Os dois andaram por ruas que Sasuke reconhecia vagamente e tinha a impressão de que levavam à casa do loiro. Em algum momento antes de virar a esquina Hinata falou outra vez, tentando fingir desinteresse e falhando miseravelmente.

– Ahn, garoto mami-... Uchiha-kun, aonde você tem ficado desde que voltou? – Ela pigarreou – Na casa do Naruto-kun, por acaso?

– Não. Eu preferiria dormir em um ninho de cacatuas do que com Naruto. Se bem que não teria tanta diferença – respondeu, indiferente. – Eu estou na minha casa. Mantiveram-na desocupada enquanto estive fora, me esperando voltar. Só os móveis foram vendidos.

– Entendo – Hinata mumurou, pensativa. Conhecia a história do Uchiha, todos na vila conheciam. O seu passado, as traições, mortes, o motivo da sua fuga. E agora ele estava morando sozinho, na mesma casa em que viveu com seus pais e... seu irmão? Quantos fantasmas deviam se esconder por lá. Pensou em como seria ter a mansão Hyuuga toda para ela. Todos os quartos vazios. Sem Hanabi, sem Neji, sem seu pai. Só sombras e ecos. – Deve ser... - assustador, solitário, doloroso -... frio. Lá.

Sasuke a olhou de esguelha, aquela estranha que conhecia desde a sua infância, mas que nunca tinha ouvido a voz antes. Era esse seu comentário sobre ele estar morando na casa que dividia com um homem que matou e que havia matado a sua família? Ela parecia quase envergonhada por falar. Não parecia sarcasmo, na verdade, nada do que ela dizia parecia ter intenções ruins. Cogitou pela primeira vez a possibilidade daquele ar distraído e empolgado ser uma outra coisa. Inocência, talvez.

– É, sim – Sasuke assentiu, devagar. - É bastante frio.

Sasuke imaginou ter ouvido uma voz conhecida e irritante por perto e procurou por menos de meio segundo até encontrar o loiro no seu uniforme laranja berrante a alguns metros de distância.

– Olha, o Naruto tá ali na fren... – Sua cara estava enfiada na neve antes que conseguisse terminar de falar. – QUAL É A DESSA FALTA DE RESPEITO, CACETE?

Hinata lhe tapou a boca e fez sinal para que ficasse em silêncio.

– Sssh! – Hinata repreendeu, fazendo uma careta séria. – Ele pode te ouvir!

Sasuke sacudiu a cabeça para se livrar da neve dos cabelos e do nariz. Pela dor que sentia no braço ele aparentemente fora arremessado atrás de um arbusto semicongelado, e Hinata estava ajoelhada ao seu lado, olhando furtivamente por entre as folhas carregadas de neve.

– Não seria bom Naruto-kun nos ver juntos – ela disse, de rosto enfiado dentro do mato. - Ele pode pensar coisas erradas.

– Nós estávamos andando a um metro de distância um do outro!

– É, mas... – Hinata virou-se para ele, hesitante. – Você fica andando por aí seminu e eu ainda vi os seus mamilos... Ele poderia desconfiar de alguma coisa...

– Não aconteceu nada.

– Mas eu vi os seus mamilos!

– Para de falar dos meus mamilos.

– NÃO DÁ! Eu consigo sentir esses troços cor-de-rosa me encarando, me julgando! EU SEI QUE SOU FRACA, SINTO MUITO, PAREM COM ISSO!

– São só mamilos, porra.

– NÃO SÃO, SÃO OS OLHOS DO MAL E DA VERGO—

Dessa vez foi Sasuke que lhe tapou a boca, porque outra voz conhecida e talvez tão irritante quanto a que ouvira antes chegou aos seus ouvidos. Ele olhou por cima do arbusto e Hinata o imitou. A uma pequena distância, completamente alheios ao drama sofrido, Naruto e Sakura estavam conversando e andando juntos. Frases soltas chegavam até o arbusto, junto de risadas.

– Naruto-kun, me desculpe, eu te fiz esperar?

– Não tem problema, Sakura-chan! Mas vamos depressa, o restaurante fica um pouco longe daqui.

– Você não fez reserva em nada muito chique, não é? Não estou com tanto dinheiro assim e nem um pouco arrumada pra esse tipo de coisa.

– Eu acho que você está bem assim, Sakura-chan.

– Ei, se vai elogiar uma garota não diga que ela está “bem”, isso parece quase ofensivo!

Naruto riu e os dois começaram a andar, bem próximos um do outro. Sasuke sentiu um suspiro na sua mão e percebeu que ainda tapava a boca da Hyuuga. Teve a impressão de ouvi-la murmurar “Naruto-kun” enquanto o via se afastar com um olhar desolado, as duas mãos apertando seu embrulho vermelho.

– Sakura-chan... – ela falou um pouco mais alto, em outro suspiro. – Ela está bonita hoje, não é?

Era isso, então? Sakura e Naruto iam juntos pro diabo que os carregue – embora, Sasuke admitia, fosse uma imagem meio perturbadora os dois juntos, principalmente se considerasse a chance de procriarem. Argh. Um monte de moleques irritantes de cabelo cor-de-rosa montando no seu pescoço e o chamando de tio. Aaaargh. Devia dar um fim nas bolas de Naruto antes que o mal nascesse. -, Hinata desistia e ele finalmente poderia passar algum tempo só. Mal começara a comemorar internamente quando viu a garota ao seu lado se levantar e recomeçar a andar.

– Vem, vamos logo, se ficarmos muito atrás podemos perdê-los de vista.

– Você vai segui-los?

– É claro – Hinata girou nos calcanhares para ele, abraçando o embrulho e sorrindo. – Eu vou entregar meu presente para o Naruto-kun, você vai assistir, e ninguém vai me impedir de fazer isso. Em frente, garoto mamilo!

Sasuke resmungou algum palavrão sobre o apelido vergonhoso, bateu a neve das roupas e a seguiu meio a contragosto.

Hinata era uma stalker ardilosa e experiente e mesmo com o desânimo de Sasuke - que ficou especialmente mal-humorado e carrancudo depois de escorregar em um gato raivoso quando se escondiam atrás de uma cerca - os dois conseguiram acompanhar Naruto e Sakura sem serem vistos até um restaurante no meio de uma clareira cercada por árvores altas e escuras na floresta. O restaurante mais parecia uma versão maior e mais sofisticada do Ichiraku, com decorações em vermelho natalino se destacando dentre o branco da neve e luzes amarelas fortes da recepção irradiando calor.

– Eles entraram – Hinata falou, ajoelhada atrás de uma árvore no caminho para o restaurante.

– Finalmente, já tô morrendo de fome.

– N-não, espera!

Sasuke tentou andar, mas teve uma das pernas agarradas e caiu, afundando as mãos na neve fofa.

– Não podemos ser vistos juntos!

– Porcaria – virou, sentando-se de frente para ela e sentindo o estômago roncar. - Qual é a sua ideia, então?

Não gostou do que viu. Hinata puxou um canivete de algum lugar, sorrindo, as veias saltadas ao redor dos olhos.

– O-o que diabos você vai fazer com isso?

– Fique quieto, sim, garoto mamilo? ♥

– Tira isso de perto de mim!

– Feche os olhos, vai ser bem rápido.

– ONDE AS SUAS MÃOS-...

– Sssh.


~*~

– É um prazer tê-la aqui no nosso restaurante, senhorita Hyuuga.

O recepcionista do restaurante falava com a voz pomposa e o nariz empinado, parecendo um pinguim gordo dentro do seu terno de trabalho. Hinata abriu um pequeno sorriso tímido e educado.

– Devo pedir uma mesa para a senhorita e o seu... sua... ahn... companhia?

O recepcionista pinguim olhava para Sasuke, desconfiado. Hinata tinha lhe esfregado cereja nos lábios, posto uma presilha no cabelo e puxado a camisa para que parecesse um vestido. Sasuke fervia de raiva, metade do corpo ainda dormente pelos golpes que levou para ficar quieto.

– Essa é minha prima distante, Hyuuga Sakakibara, senhor – Hinata disse, gentil e convincente. – Ela veio do estrangeiro visitar a mansão da família. Não está muito acostumada com ambientes cheios e barulhentos. Pode nos arranjar uma mesa mais afastada, por favor?

O pinguim olhou para Hinata que sorria doce e novamente para a prima feia que estava quase rosnando.

– Certamente. Por aqui, senhoritas.

O salão do restaurante tinha cheiro de canela e vinho. Hinata e Sasuke sentaram-se em uma mesa perto da cozinha, debaixo de uma lâmpada que piscava desobediente, na mesma fileira de mesas de Naruto e Sakura, que estavam próximos à janela.

– Isso é ridículo – Sasuke bufou, desabando em uma das cadeiras.

– Não use palavras feias, você é uma menina agora – Hinata censurou, e olhou para a mesa onde o loiro estava. Não havia nada entre Naruto e Sakura além da cesta de pães de cortesia. Então, eles não pediram nada ainda? Deviam estar muito ocupados um com o outro...

Uma garçonete loira interrompeu seus pensamentos, com um sorriso educado, um avental preto e um bloco e uma caneta nas mãos.

– Boa tarde e bem vindos, posso anotar seu pedido?

– A-ainda não vou pedir nada, obrigada.

– E você? – A garçonete virou-se para Sasuke transvestido. – O senho-... senhorit-... Você já quer pedir?

Sasuke abriu a boca para falar, estava morrendo de fome, o estômago entoando Hallelluiah em dó maior. Levou um chute de Hinata por baixo da mesa e soltou um gemido no lugar.

– Sakakibara-chan não fala – falou em um tom que poderia ser amável para a garçonete, mas ameaçador para Sasuke.

– Oh, que horrível – A garçonete disse, sentida. – É de nascença? É tão raro encontrar pessoas que sobrevivam até essa idade com essas condições.

Sasuke lhe deu um chute por baixo da mesa, algo como um “Minta direito!” silencioso e uma revanche dolorida.

– Na verdade Sakakibara-chan fez um voto de silêncio – Hinata consertou, olhando da garçonete para ele, e acrescentou. – Em nome de seu falecido marido.

A garçonete soltou um suspiro surpreso e comovido.

– Sakakibara-chan tinha a voz mais bonita do mundo. Não me lembro muito bem porque era pequena antes de tudo acontecer, mas Papai me conta que era como se um anjo soprasse pétalas de rosas ao sol toda vez que ela abria a boca. As nuvens se afastavam e todos os doentes se curavam só de ouvi-la cantar – Hinata falava com uma naturalidade tão forte que Sasuke quase acreditava na história, mesmo sendo um dos personagens. - Foi assim que seu marido se apaixonou por ela. Ele era um artista de rua pobre, mas encantador. Criaram muitas melodias deliciosas juntos e espalhavam alegria e calor pela vila até nas noites mais chuvosas. Ela cantando com os cabelos revoltos no ar e seu majestoso kimono azul celeste e ele a acompanhando com o alaúde e olhos amorosos.

Duas garçonetes suspiraram pesadamente, uma estava com lágrimas nos olhos. Desde quando todas elas estavam alí? Sasuke não sabia dizer, mas agora estavam aos montes, ajoelhadas, sentadas e inclinadas ao redor de Hinata, como crianças comportadas ouvindo uma boa história.

– O que aconteceu depois? – Uma delas perguntou, abraçada ao cardápio.

– Depois... A guerra chegou à vila onde eles moravam – Hinata continuou, pausada e grave. - Houve sangue, medo e fuga. O amante não era um lutador, mas precisou se mostrar forte e defender a sua terra por todos os que ele amava e queria proteger. Sakakibara-chan foi deixada sozinha em sua casa silenciosa, apenas com um beijo de despedida e o seu kimono gracioso. Todas as noites ela cantava com lágrimas aos olhos para a lua, suplicando para Deus que tivesse piedade e protegesse o seu amor. O tempo passou e, um dia, Sakakibara-chan encontrou uma caixa na entrada de casa. Era o velho alaúde, já sem as cordas. Ela soube o que significava. Seu amor nunca mais voltaria.

Todas garçonetes choravam nesse ponto, dividindo ombros, lencinhos de papel e a toalha da mesa para amparar as lágrimas emocionadas.

– Ferida pelas suas preces não atendidas, Sakakibara-chan jurou que nunca mais usaria sua voz bela e inútil novamente. Estava cansada de ser iludida pelas melodias bonitas que não levavam a dor embora. Acabou se isolando de todos os amigos que tentavam lhe consolar, porque estava amargurada demais, e ficou trancada dentro da sua casa vazia por anos, usando apenas o seu majestoso kimono azul celeste... Com o tempo Sakakibara-chan esqueceu-se de como era sua própria voz. Então papai achou que seria melhor se ela viesse morar conosco, para que nós pudéssemos ajuda-la a voltar a ser feliz.

Pelo final da história Sasuke viu garçonetes, cozinheiras, clientes e todas as mulheres em um raio de três metros soluçarem profundamente e soltarem murmúrios de lamento. Droga, ela era boa.

– Deve ter sido tão difícil!

– Tão triste. Oh Keiko-chan, traga um pudim para elas.

– V-v-vou fazer agora mesmo, senhora!

Sasuke sentiu o estômago roncar mais uma vez, não estava gostando daquilo. Derrubou o embrulho vermelho de Hinata para ver se ela lhe dirigia o olhar, mas estava ocupada consolando uma garçonete de maria-chiquinhas. Deu um tapa na cabeça dela e apontou nervosamente pra debaixo da mesa, depois se enfiou pela toalha vermelha com bonecos de neve bordados.

– Desculpe, preciso fazer uma coisa em outro lugar. – Hinata se desculpou amável para as garçonetes e entrou debaixo da mesa.

Pegue logo esse troço e resolva as coisas – Sasuke sussurrou, apontando na direção da mesa em que Naruto estava.

Oh, sobre isso... Talvez seja melhor deixar para outro dia.

O QUE? – Sasuke bateu a cabeça na mesa.

– Naruto-kun parece bem ocupado, não seria educado incomodá-lo. E também aqui não parece ser um bom lugar. Acho que vou esperar um pouco mais...

– O que aconteceu com o “nada nem ninguém vai me impedir”? Do que infernos importa o lugar onde você está? Se você tem alguma coisa importante para dizer então diga de uma vez, droga!

Hinata abaixou a cabeça, ainda estava sorrindo, algo que não combinava em nada com seu ar de vergonha e tristeza.

– Naruto-kun está com a Sakura e eu... O que eu tenho a dizer não é tão importante assim... Para atrapalhar. São só... coisas bobas. Não tem importância...

Ela estava brincando? Ela PRECISAVA estar brincando. Mas ela não parecia estar brincando. Sasuke já não tinha mais nervos para serem fritados. Ele não tinha se tranvestido, engolido terra e lutado com um gato – perdendo miseravelmente - a toa. Furioso, fez a única coisa que estava ao seu alcance, fora explodir aquela porra daquele restaurante. Agarrou a própria blusa e puxou até a cintura.

– AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAK!!!

A reação de Hinata foi instantânea. Ela levantou, virando a mesa no caminho, berrando e apertando os olhos com a mão.

– EU VI! EU VI DE NOVO! AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAK!!

– Hinata! – Ela abriu um espaço entre os dedos e viu Naruto em pé, lhe acenando. – Oe, Hinata! Não sabia que você também vinha nesse restaurante!! – Ele gritava, sorridente, da sua mesa.

– Você não viu? Ela estava nos seguindo desde que você foi me buscar – Sakura disse.

– V-você s-sabia? – Hinata perguntou, em choque. A cor de seu rosto ia gradativamente de um rosado envergonhado para a explosão vermelha do desespero.

– Nos seguindo? Você estava brincando de pique-esconde, Hinata-chan? – Naruto perguntou, divertido.

– E-e-e-e-eu... Nn-n-na...

Hinata tinha certeza de que ia desmaiar. Sua garganta de repente estava seca demais e era capaz de ouvir as batidas do próprio coração tão altas que era como se ele tivesse subido para suas orelhas. Ao contrário da vista escurecida e o baque no chão, porém, o que sentiu foi um golpe na cabeça, e de repente o seu embrulho vermelho estava aos seus pés. Hinata olhou para trás e percebeu que alguém o havia tacado de trás da mesa virada.

– Quem tá aí atrás? Faz parte do pique-esconde? – Naruto perguntou curioso, aproximando-se para dar uma olhada. – Eu tenho que descobrir? É de comer?!

– Naruto-kun – A voz parecia a sua, mas Hinata não sentia nada sair dos seus lábios. Mal tinha certeza se estava respirando. – Eu preciso falar com você, tudo bem?

– Por que essa cara? Você tá com febre? Aconteceu algum problema?

– Não, n-na verdade...

O restaurante parecia imerso em uma bolha de silêncio. Hinata tinha a impressão de que todos haviam parado de conversar e viver para olhar a cena. As garçonetes, as cozinheiras, as senhoras que comiam macarrão, e até o pinguim. Mas o lugar não importa quando se tem algo importante a dizer, não é? Hinata suspirou, prendendo todo o ar que podia dentro de si e fez uma mesura profunda.

– Eu quero me desculpar, Naruto-kun!

Teve a impressão e que Naruto ia dizer alguma coisa e o interrompeu. Precisava cuspir de uma vez tudo o que andara praticando com a sua samambaia nas noites de insônia antes que lhe faltassem forças e fosse levada pra uma UTI por excesso de sangue nas bochechas.

– Eu sinto muito por todos esses anos ter sido tão obcecada por você. Sinto muito por sempre fugir e ao mesmo tempo sempre te perseguir. Sinto muito por não ter tido coragem o suficiente para lhe ajudar ou lhe abraçar quando você estava precisando. E, também... Sinto muito por ter te amado tanto. É estranho, eu sei, mas eu precisava disso. Naruto-kun, você me deu forças e esperanças de um dia me tornar uma pessoa melhor e graças a você eu pude crescer e sorrir todos os dias. Mas... eu andei pensando, e sei que isso não é certo. Eu estava me prendendo a você mais do que deveria. Você se tornou mais que um amor. Você virou a minha necessidade. E isso... Não é certo, não é mesmo? Por isso eu queria... Não, eu precisava falar com você hoje. Para dizer que finalmente eu te liberto. Eu te liberto desse meu amor que te perseguiu por anos. Eu te liberto de mim. Pode parecer bobo, mas isso me significa muito. Eu prometo que continuarei lutando para ser uma pessoa boa ao seu lado, mas, dessa vez... Você aceitaria estar comigo... como meu amigo?

Seus braços estavam estendidos e dormentes, segurando o embrulho vermelho completamente amassado como uma oferenda. Agora havia somente o silêncio. As outras pessoas do restaurante ainda estavam alí? Hinata não ouvia nem mesmo um respirar. Então sentiu o peso em suas mãos sumir. Levantou, sentindo um peso enorme nos ombros, e viu Naruto olhando quase perdido do embrulho para ela. Nenhum dos dois dizia coisa alguma.

– Você! – Sasuke pulou a mesa virada, arrancando as presilhas do cabelo, e deu um tapa na cabeça de Hinata. – Não acredito que me fez ter esse trabalho todo pra dar uma confissão de amizade!

– Sasuke-kun? – Sakura engasgou.

– Oh Senhor, Sakakibara-chan está falando novamente!

– Ela não tem a voz um pouco grossa?...

– É um milagre dos Céus!

– Keiko, traga o pudim! Vamos celebrar!

A comoção das garçonetes, cozinheiras e madames foi instantânea e logo estavam todas batendo palmas, dando gritinhos animados e comentando umas com as outras sobre os milagres do amor. Por entre as comemorações Sasuke ouviu Sakura chamando, atravessando o salão do restaurante.

– Sasuke-kun, o que você está fazendo fora de casa? O que aconteceu com a sua boca? Isso é batom?? Espera aí!!

– Vamos embora daqui – ele disse, e saiu rebocando Hinata pela mão.

Quando Sakura alcançou a mesa dos fundos os dois já tinham sumido em meio às garçonetes animadas que iam de um lado pro outro.

– Naruto, você viu pra onde eles foram? – perguntou, frustrada, espichando o pescoço para olhar entre as garotas uniformizadas em preto e branco.

Naruto não respondeu e isso não é algo exatamente comum de se acontecer. Sakura o olhou, ele ainda segurava o embrulho vermelho que Hinata havia lhe dado, a boca meio aberta, os olhos perdidos.

– O que há com você? Parece que deu tilt nessa cabeça – Um pensamento rápido e absurdo lhe passou pela cabeça. Absurdo o suficiente para ser verdade, considerando de em quem estava pensando – Será que você... Não, não pode ser tão lerdo assim... Naruto, você nunca percebeu nada antes?

– Sakura... – Naruto murmurou, parecendo arrancar as palavras de uma garganta extremamente seca. – A Hinata-chan... Gostava de mim?



~*~

Estava escuro lá fora. Talvez já passasse da meia-noite. Sasuke se remexeu no seu futón velho e emprestado que não esquentava coisa alguma. Ainda estava com fome.

Teve um dia meio corrido, com toda aquela baboseira de confissão, deveria estar cansado. Mas não conseguia manter os olhos fechados por mais de dois minutos.

Virou para o outro lado. Agora já era Natal em Konoha. Imaginou que a maioria das crianças estaria dormindo, roubando o sono que ele não conseguia ter, enquanto seus pais botavam presentes idiotas debaixo de árvores e bebiam vinho. Imaginou que isso poderia estar acontecendo agora na mansão dos Hyuuga. Só não tinha certeza se Hinata seria uma das pessoas dormindo ou espalhando presentes e luzes coloridas.

Hinata. Ela era uma pessoa engraçada, ela. A garota que sempre conheceu sem nunca notar. Quem mais se esforçaria tanto para dar uma declaração boboca daquelas? E Naruto. Naruto era um completo imbecil. Só ficou parado como um idiota. Tinha certeza de que se não puxasse a garota para longe ele acabaria dizendo algo estúpido demais e a faria chorar. E já estava irritado demais para ter de suportar alguém chorando. Sem contar na surra que precisaria dar em Naruto demais, para ficarem quites.

Depois de fugir do restaurante Hinata o agradeceu pela ajuda, se ofereceu para pagar alguma refeição quente, mas ele era orgulhoso demais para aceitar, então se despediram. E agora ele estava só, com frio e morrendo de fome.

Sasuke ouviu ruídos que interromperam seus devaneios. Pensou que estava imaginando coisas, mas eles continuaram, até que ele ouvisse uma sonora e realista batida na porta. Quem poderia ser a uma hora dessas? Papai Noel, pensou consigo mesmo, enquanto atravessava a casa vazia e gelada.

Abriu a porta. Não havia ninguém do lado de fora, só neve que por acaso andava caindo aos montes. Já tinha quase entrado quando percebeu algo grande no chão, que chegava até seus joelhos. Estava escuro demais para saber o que era. Sasuke pensou em levanta-lo, como se fosse uma caixa, então seus dedos afundaram no tecido macio e quente. Eram cobertores. Uma pilha deles. “Deve ser frio, não é?”. A voz de Hinata vagou pela sua cabeça. Então, ela se lembrou disso?

Levantou a pilha de cobertores e ouviu um estalido quando algo caiu do meio delas. Olhou por cima do endredon fofo e azul claro do topo e encontrou um embrulho amarelo no chão da sala. Abaixou-se para apanha-lo, ele ainda estava quente. Cheirava a biscoitos.

Só então Sasuke percebeu que estava sorrindo. Deu uma última olhada em volta, mesmo sabendo que não veria ninguém. Ela deve ter ido embora correndo. Imaginou se não tropeçou em nada e saiu rolando por aí, mas descartou logo a idéia. Aquela garota, ele sabia, não era tão idiota assim.



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Notas finais do capítulo

Para mais histórias do garoto mamilo, da stalker e do loiro mais lerdo de Konoha, por favor, insira um comentário abaixo!