POV Cristal

O que foi aquilo?

Num momento estamos eu e Violet na floresta, esperando o jogo acabar e de repente Bum!

Olhei para Violet. Seus olhos estavam arregalados e cheios d'água. Ela devia estar muito, muito assustada.

– Vamos, Violet. - disse Quíron, esperando que minha irmã se mexesse.

– Cristal deve ir também. - disse Nico. - Ela é irmã.

Quíron assentiu.

– Nico pode vir também? - perguntou Violet, sem olhar para ninguém.

– Sim, já ia chamá-lo. - concordou Quíron.

– Para completar o quarteto eu também vou, tudo bem? – Dean se manifestou.

Quíron assentiu. Nós o seguimos até a Casa Grande. Violet olhava para o chão. Nico andava ao lado dela, olhando-a preocupado. Dean e eu andávamos um pouco atrás, para deixar espaço, por respeito.

Tentei entender o que se passava pela cabeça de Violet. Não consegui. Afinal de contas, não fui eu quem lançou a garota mais forte do acampamento numa árvore sem encostar um dedo nela. Mas estava preocupada. O que seria de Violet agora? Ninguém iria querer matá-la, não é? Minha intuição apontava que sim.

Entramos na Casa Grande em silêncio.

– Sentem-se, por favor. - disse Quíron.

Violet se largou em um sofá, com o olhar perdido. Nico se sentou ao seu lado e colocou sua mão sobre a dela. Nenhuma reação por parte de Violet. Ela estava realmente mal.

Eu e Dean permanecemos em pé. Quíron entrou atrás de nós, agora em sua cadeira de rodas.

– Como está, Violet? - perguntou ele, estacionando sua cadeira em frente à minha irmã.

Violet levantou a cabeça, relutante, fez que sim e a abaixou novamente.

– Violet - continuou Quíron. -, sinto muito, mas preciso que me conte exatamente o que aconteceu.

Ela ergueu a cabeça novamente, dessa vez com lágrimas nos olhos. Nico passou um braço por sobre os ombros dela.

– Não se preocupe, Violet. Ninguém quer te fazer mal.

Ela respirou bem fundo e assentiu.

– Cristal. Dean. Nico. - disse Quíron. – Eu acho melhor esperarem lá fora. Apenas alguns minutos...

– Tudo bem. - disse Dean já abrindo a porta.

– A gente já volta, tá? - disse Nico apertando o braço dela.

Violet balançou a cabeça. Nico beijou sua testa e se levantou, saindo da Casa Grande assim como nós.

POV Nico

Eu estava preocupado com Violet. Muito, muito preocupado. Não é muito normal semideuses soltarem auras de energia arroxeadas por aí. Gostaria de saber o que eles conversavam dentro da casa. Encostei o ouvido na porta e tentei ouvir a conversa.

– Foi isso. - disse Violet.

– Realmente, tenho a impressão de que você e sua irmã são descenden...

De repente Cristal soltou um berro dizendo que viu uma aranha perto de seu pé; pronto! Eu não ouvi o final da frase!

– Obrigado. - ironizei. - Muito obrigado mesmo.

Ouvi passos dentro da casa e me afastei o mais rápido possível da porta. A porta se abriu e Violet saiu, sorrindo. Ficava linda sorrindo...

– Quíron disse que não é tão ruim quanto pensava. – Ela disse, mas parecia que tinha alguma coisa a incomodando.

– Ótimo! – Falei, tentando não pressioná-la.

– Alguém aí tá com fome? – Dean indagou.

– Acabamos de jantar! – Cristal respondeu.

– Mas eu ainda estou com...

– Por que não vamos comemorar? – Eu interrompi meu amigo. – Nós ganhamos, cara!

Um brilho assassino apareceu nos olhos de Dean e ele assentiu.

– Violet, ignore os olhares homicidas e aproveite! Você é nossa heroína, menina! – Dean falou.

Eu e ele fomos até ela e antes que ela descobrisse e esperneasse a colocamos no ombro e a levamos para a floresta, enquanto a menina gritava e implorava para a colocarmos no chão.

Ao chegar no lugar da tal comemoração, o clima teria ficado tenso, não fosse os maravilhosos filhos de Hermes com seu senso de piadas. Logo, todos esquecerão o feito de Violet e era apenas mais uma noite em que nosso time havia ganhado na Captura a Bandeira.

Quem dera o dia seguinte também fosse assim.

POV Violet

Quem dera Quíron tivesse dito apenas que não era tão grave. Não havia contado os detalhes a meus amigos, mas que diferença faria?

Depois de comemorarmos com nossa equipe de captura à bandeira, eu e Cristal fomos para o chalé de Hermes, acompanhadas por Nico e Dean. Assim que chegamos à porta, Nico me puxou para um canto um pouco afastado de Dean e Cristal.

– Tá tudo bem mesmo? - perguntou ele, preocupado.

– Sim. - respondi, mas minha voz fraquejou.

Nico ergueu uma sombrancelha, em dúvida. Mas em seguida deu de ombros.

– Se quiser falar alguma coisa... Não conto pra ninguém.

Percebi que ele estava tentando ser gentil. Quase contei à ele, mas não era nada de mais. Não era necessário, certo?

– Tá tudo bem. - Falei, com a voz mais firme. - Obrigada.

Sorri para ele e ele retribuiu o sorriso. Escutei o toque de recolher á distância.

Nico suspirou.

– Bem, boa noite. - e me deu um beijo na bochecha.

– Boa noite. - respondi enquanto ele se afastava, na direção do chalé 13.

Voltei para junto de Cristal, que se encontrava sozinha e com o rosto mais vermelho que um tomate. Ela não fez perguntas, o que me deixou aliviada. Ela me conhecia bem, saberia a hora certa de me colocar contra a parede.

Deitamos em nossas camas/sacos de dormir e adormeci instantaneamente.

E gostaria de continuar adormecida.

Acordei de um sobressalto. Todos no chalé andavam de um lado pro outro, colocando os sapatos ou pregando peças nos irmãos. Percebi que eu fui a última a acordar, o que não é normal. Cristal se aproximou de mim colocando uma pulseira. Ela usava uma calça jeans clara e uma camiseta laranja com os dizeres Acampamento Meio-Sangue. Onde ela havia conseguido a camiseta eu não sei.

– Bom dia, mana! - desejou ela, prestando atenção na pulseira. - Dormiu bem?

Tentei falar, mas minha língua parecia algodão.

– Que horas são? - perguntei num sussurro rouco.

– Sei lá. Umas oito horas. Tá atrasada.

Levantei rapidamente, peguei uma roupa qualquer e me enfiei no banheiro. Me vesti o mais rápido que pude e prendi meu cabelo numa trança única.

Ao sair do banheiro, metade dos campistas de Hermes já haviam saído do chalé, indo pro refeitório. Entrei na fila atrás de Cristal e fomos andando.

Ao entrar no refeitório, um burburinho percorreu as mesas de piquenique. Alguns campistas olhavam pra mim e apontavam e tentei ignorá-los.

– Aura de poder...

– Não é um poder de Calipso...

Fingi que não era comigo e me sentei a mesa de Hermes. As ninfas vieram trazer pratos com o café da manhã: panquecas com calda, ovos mexidos e bacon, suco de laranja, torradas, morangos vermelhos e cereal. Estava tudo uma delícia, como sempre. Acabamos de comer e fomos para nossas atividades diárias. Cristal e eu encontramos com Nico, Dean e Beatrice a caminho da arena.

POV Cristal

Não fazia ideia do que Quíron dissera a Violet, mas acho que é melhor perguntar depois. Ela deve estar se sentindo confusa. Mas decidi que hoje vou colocá-la contra a parede.

Quando encontramos com os meninos, Nico arregalou os olhos ao ver minha irmã. Ela estava com uma regata rosa escura, uma bermuda jeans e sapatilhas.

– Dormiu bem? – Nico perguntou a ela.

– Sim. Pelo menos isso...

Seguimos para a arena, mas eu e as meninas não treinamos. Apenas os campistas dos chalés de Hermes, e Atena estavam ali, sem contar eu, minha irmã, Beatrice, Nico e Dean.

Percy entrou na arena puxando uma caixa grande com a ajuda de um filho de Apolo. Eles a depositaram a um canto e Percy se virou pra nós.

– Venham até aqui por favor. – ele pediu.

Nos reunimos em torno dele.

– Eu vou treinar vocês hoje. – Anunciou. – Trouxe aqui uns escudos e armas para vocês utilizarem. Vou formar duplas para treinarem. Formem uma fila e peguem o que precisarem aqui.

Fizemos o que ele pediu e formamos a fila. A maioria pegou apenas um escudo e foi treinar. Provavelmente tinham as próprias armas. Quando me aproximei da caixa fiquei impressionada com o que tinha ali. Pensei que só encontraria grandes peças de metal, mas não era só isso. Havia uma aljava com flechas e um arco, uma espingarda antiga, uma arma de paintball e, o que mais chamou minha atenção, uma lança. Mas não era só uma lança. Ela tinha o cabo lustroso com desenhos feitos à mão, sua ponta era de bronze, e bem abaixo dela, no cabo, se encontrava uma corrente de ouro com um pingente de uma planta, com as folhas prateadas. A segurei como se fosse dinamite e fiquei surpresa ao perceber que tinha o peso exato.

– Onde conseguiu tudo isso? – perguntou Violet pegando uma marreta de plástico, daquelas que fazem um barulho irritante. Como isso pode matar um monstro, eu não sei.

– Peguei no arsenal. – respondeu Percy, com um sorriso orgulhoso. – A ideia foi de Annabeth.

– Posso usar essa aqui? – sussurrei, maravilhada.

– Claro, Cristal. – respondeu Percy, caloroso. – Sinta-se á vontade pra usar qualquer arma daqui. Não são explosivas.

Senti a ironia na frase dele mas estava ocupada demais contemplando a arma.

– Formem duplas agora e comecem a treinar. Não quero ver ninguém machucado, então tome cuidado. Apenas desarmem o oponente. Vamos começar!

– Quer fazer dupla comigo, Cristal? – ofereceu Dean.

– Claro.

Nós fomos até um lugar mais afastado dos outros. Dean usava uma espada de dois gumes de quase um metro de comprimento. A lâmina era estranha... Parecia não ter reflexo, mas assim que ele a passou na frente da camiseta preta percebi que a lâmina refletiu a cor. Estranho. Bem, decidi deixar pra lá.

– Pronta? – ele perguntou.

Assenti e ele investiu contra mim. Desviei facilmente seu golpe e tentei investir. Parecia que eu tinha lutado com aquela lança desde sempre. A cada investida de Dean, eu desviava e atacava. No começo vi que ele não estava fazendo o máximo que podia, mas agora percebia que ele estava ficando com a expressão séria, se concentrando. Finalmente consegui desarmá-lo com um movimento e ele me olhou espantado. Parecia que todos tinham visto e ficaram assustados. Escutei um comentário:

– Pensei que elas fosse fracas.