As Filhas De Calipso escrita por Liz Jensen, Laís di Angelo
Notas iniciais do capítulo
Inhaí
Capítulo dedicado à Livia Rebeca :)
POV Nico
Violet me contou tudo o que acontecera. Desde quando Leon, Miguel e Darriow foram buscá-la até a proposta de Titus. Meu estômago revirou por diversas razões.
— E que plano é esse pra fugir? - perguntei ao final de seu relato.
Vi olhou para a entrada.
— Não posso contar tudo agora - Ela sussurrou. - Mas posso tentar enganá-los. Talvez funcione.
— Exatamente, talvez funcione. - Retruquei. - Ou eles podem simplesmente perceber que é um plano e aí matam você.
— E se eu não concordar e eles matarem você? Quer dizer, vocês?
Suspirei.
— Não vamos chegar a lugar nenhum assim. - declarei.
Violet bufou.
— Tá bom. Eu vou descobrir mais sobre isso e falamos sobre isso depois, pode ser?
— Pode, mas você vai ter que tomar cuidado.
Violet suspirou e encostou a cabeça na parede.
— Tudo bem, mas você terá que confiar em mim. - Ela me analisou com aqueles dois oceanos em que sempre me afogava.
— Você sabe que eu confio. - Enfatizei cada palavra.
Uma sombra passou por seu rosto.
— Eu também confio em você... mas eu queria perguntar uma coisa.
Endireitei a postura.
— O que foi?
— Quando vocês estavam na missão atrás de Alexander, Hécate me fez uma visita no acampamento - Ela evitou olhar pra mim ao dizer isto, então não pôde ver a expressão de surpresa no meu rosto. - Disse que eu deveria confiar em você... E Cristal sonhou que Hécate nos tirava do nosso pai. Eu só...
— Pensou que eu pudesse estar envolvido em tudo isso? - Não consegui sentir raiva dela. Eu também ficaria confuso. Me aproximei da grade da cela dela e segurei sua mão. - Vi, eu nunca trairia sua confiança, nunca trairia você. Sei que parece suspeito...
Violet pousou seus olhos úmidos em nossas mãos juntas e depois em meus olhos.
Suspirei.
— Hécate me visitou no acampamento. Disse que precisava que você e Cristal pegassem algo para ela na casa do seu pai na Flórida, algo que ela o ajudou a esconder e que eu deveria convencê-la à ir até lá, já que Cris seria "mais fácil de manipular". Se eu não cumprisse o acordo, ela machucaria você. Teoricamente eu não deveria contar isso à você, mas se ela tentar alguma coisa, eu acabo com ela.
Vi levou minha mão até seus lábios, beijou a ponta dos meus dedos e soltou uma risada cálida.
— Nós acabamos com ela.
Desejei que não existisse aquelas malditas grades entre nós para que eu pudesse abraçá-la. Antes que eu pudesse dizer algo mais, Miguel entrou no ambiente.
— Titus está te esperando para jantar. - Ele disse para Violet. Algo no seu tom de voz sugeria um leve ciúme.
Violet soltou minha mão lentamente.
— Claro - Ela respondeu e percebi pelo brilho em seus olhos que ela já estava armando seu plano. - Será um prazer.
POV Violet
Me conduziram até uma clareira onde Titus me recebeu numa mesa maciça de madeira perto da barraca dele. Suas roupas pretas combinavam com as minhas e não gostei nada disso.
— Olá, minha querida. - Ele tomou minha mão e depositou um beijo ali.
Fiz um aceno com a cabeça, sorrindo de canto. Achava que seria fácil fingir, mas aparentemente estava errada. Titus fez um largo gesto para que eu me sentasse. Agradeci.
— Espero que tenha pensado na minha proposta. - Ele disse saboreando algo que parecia vinho. À minha frente tinha um copo cheio do mesmo líquido e um cozido de carne de origem desconhecida.
— Creio que sim - Tentei fazer minha voz sair sedutora, mas pareceu mais que eu estava miando como um gato. Pigarreei levemente.
Ele ergueu uma sobrancelha.
— E...
— Antes quero saber o que acontecerá caso eu aceite. - Olhava-o diretamente nos olhos tentando impôr minha vontade.
Ele abriu um sorrisinho torto e tive que admitir que assim ele estava realmente bonito, mas ainda mais assustador.
— Primeiro faremos um ritual de iniciação. Depois assumirá um posto de alta patente na irmandade.
Só a palavra ritual já me fazia tremer.
— E como será o ritual?
Ele deu uma risadinha como se guardasse um segredo.
— Você será apresentada para o grupo e demonstrará seu poder num sacrifício.
Se ritual era ruim, sacrifício era muitíssimo pior.
Antes que eu perguntasse novamente, Titus disse:
— Geralmente utilizamos representações, não animais reais. Não se preocupe.
Tentei relaxar mas não consegui. Senti a mentira escorrer por suas palavras, mas precisava pôr o plano em prática então, sorri.
— Será um prazer me juntar à vocês. - Antes que o sorriso tomasse conta de seu rosto, emendei: - Com algumas condições, claro.
Titus hesitou por um instante, mas acenou com a cabeça.
— Diga seus termos.
— Hoje à noite. - Confidenciei a Nico. Alexander por algum motivo não estava em sua cela.
— Mas já? - Ele parecia incomodado.
— Aparentemente estão desesperados. - Segurei sua mão tentando me acalmar. Cheguei mais perto dele e espremi meu rosto contra a grade, na direção do ouvido dele. - Pedi para deixarem você assistir. Vai estar preso ainda, mas sei como conseguir te soltar. - Contei o resto do plano. Esperei ele me chamar de maluca, mas ele apenas assentiu.
— E depois?
— Ainda não pensei nesses detalhes. - admiti.
Nico arregalou os olhos.
— Uau. Tudo bem. Gosto de um pouco de improviso.
Sorri.
— Vai dar tudo certo. - apertei a mão dele.
— Sei que vai. Já passamos por coisas piores.
Queria me agarrar a ele de qualquer maneira, mas três meninas chegaram logo para me prepararem. Apertei ainda mais a mão de Nico e as segui.
As três eram bem silenciosas e só trocavam comentários em voz baixa se necessário. Uma delas era asiática, outra loira e baixa e a terceira com jeito de ser italiana. Alguma coisa nelas me era estranho.
Enquanto me ajudavam a colocar o vestido que usaria para o ritual, a loura falou bem baixinho:
— Ayumi, me ajude com a maquiagem? - Não tinha certeza de ter escutado direito, mas estava tudo muito quieto.
Me virei para a asiática que assentiu.
— Espera um minuto! - exclamei e afastei as mãos de todas. Apontei para a menina de olhos puxados. - Seu nome é Ayumi?
As três se entreolharam.
— Não temos permissão para dizer isso. - A italiana murmurou.
— Marietta é italiano, não é? - pressionei. Minha cabeça zunia repassando a lista de desaparecidos. Me virei para a loura. - Willow! Vocês... Como vieram parar aqui?
— Como sabe nossos nomes? - A que eu deduzi se chamar Marietta parecia irrequieta.
— Vocês sumiram! Quer dizer, deveriam ir para o acampamento e sumiram!
— Estamos no acampamento. - Ayumi falou como se eu fosse louca. - Acampamento para semideuses e criaturas poderosas.
— O quê? Não! Estou falando do Acampamento Meio-Sangue! O lar para os filhos dos deuses! O verdadeiro! Isso aqui é uma mentira! Vocês foram enganadas!
Me senti enojada.
— Vou tirar vocês daqui - prometi. - Talvez não agora, mas eu vou tirar vocês daqui.
— Não queremos...
Ergui uma mão para interromper Marietta.
— Falamos depois. Agora, por favor, preciso de ajuda para parecer apresentável. Tenho um plano a executar.
Enquanto eu contava sobre o verdadeiro Acampamento Meio-Sangue e tudo sobre os deuses, elas me maquiaram e prenderam partes do meu cabelo, deixando à mostra meu rosto. O vestido era longo, estilo grego antigo e completamente negro e as sandálias, de couro. Colocaram pulseiras finas de ouro em meus pulsos e um colar comprido e, enfim, me puseram na frente de um espelho de moldura dourada.
Encarei a linda moça. Não podia ser eu. Ela parecia madura, responsável, forte e imponente. Até mais alta. Seu rosto parecia ingênuo e ao mesmo tempo firme. Os olhos dela - meus olhos - transmitiam tranquilidade e poder.
— Obrigada, garotas. - murmurei.
— Vai mesmo nos tirar daqui? - Willow sussurrou pra mim.
— Assim que possível. - sibilei de volta.
— Vamos levá-la para o ritual. - Marietta nos conduziu para o lado de fora.
Havia uma espécie de palco baixo de madeira onde se encontravam uma coluna com cordas. Pessoas começavam a se juntar ao redor do palco e fui guiada por uma passagem lateral e discreta. Engoli em seco.
O trio me guiou para uma barraca que ficava logo atrás do palco. Virei-me pra elas, com os olhos em súplica.
— Meninas, preciso que acreditem em mim. Me ajudem a fugir e eu prometo que ajudo vocês também a sair daqui.
As três se entreolharam.
— Por que devemos confiar em você? - perguntou Marietta, a mais cética.
— Porque aposto que o sacrifício dessa noite será um dos meus amigos.
POV Andrew
— É uma coincidência esquisita, não acha? - Ellena questionou e eu concordava completamente.
Os dois garotos do Arizona que desapareceram - John e Victor - estudavam na mesma escola. Eu e Ellena estávamos parados na frente do prédio de tijolos que era a St. Anthony High School.
— Acho que coincidências não existem no nosso mundo, Elle. - rebati e percebi que ela ficara corada.
— Elle? - Sua voz expressava o quanto ela gostou do apelido.
Dei de ombros.
— A vida fica mais divertida com apelidos.
— Tem razão, Drew. - Ellena gargalhou e eu me maravilhei com o som. - Vamos entrar.
Os corredores estavam vazios e havia um burburinho baixo vindo das salas de aula. Uma senhorinha baixa e rechonchuda surgiu de uma curva no corredor.
— Posso ajudá-los? Vocês não estudam aqui, não é? - Sua voz era melodiosa e logo pensei se ela não seria um monstro disfarçado.
— Estamos procurando Victor Phelps. - Ellena tomou a frente da situação. - Somos primos dele.
A mentira saiu tão sutilmente dos lábios de Ellena que até eu quase acreditei.
A mulher franziu os lábios.
— Victor não aparece há dias na escola. Ele sempre foi meio rebelde, mas já passou dos limites.
Como já esperávamos uma resposta similar, apenas fingi preocupação.
— Ninguém sabe onde ele está?
A senhora negou.
— Já falaram com seus tios? Os pais dele?
— Ainda não. - Ellena balançou a cabeça. - Acabamos de chegar à cidade. Perdi o endereço dos nossos tios no ônibus. Só tinha o endereço da escola porque estava salvo no meu celular. Resolvemos passar aqui para ir com Victor. - Elle se virou pra mim. Sua atuação estava excelente. - Titia não nos contou nada.
A senhora pôs as mãos em nossos ombros.
— Venham, queridos. Vocês podem pegar o endereço na secretaria.
Começamos a segui-la à distância.
— A senhora conhece John Esker? - perguntei.
— Como não? Ele e Victor são como irmãos. Sumiu também. Não consigo deixar de pensar que estão cabulando aula juntos.
A senhora - que Ellena descobriu chamar-se Celia - nos passou o endereço dos pais de Victor no papel e deu dicas de como chegar até lá.
— John e Victor são vizinhos. - Celia revelou entregando-nos o papel com os dados. - Se os virem, digam que estamos todos preocupados.
Celia havia dito que ambos eram rebeldes e mesmo assim, sentia falta deles. Isso apertou meu coração.
— Obrigado por tudo. - falei e apertei o ombro da mulher. Ela parecia sofrer.
— O que foi aquilo? - Ellena questionou quando já estávamos andando à procura da rua dos Phelps.
— Ela parecia sofrer. - Dei de ombros. Filhos de Ares têm que parecer durões. Ajustei a postura.
— Que amor - Ellena passou as mãos em meus ombros. - Vamos achá-los e logo eles voltam a atormentá-la.
Tive que rir. Ellena era realmente incrível.
A casa dos Phelps era germinada e feita de tijolos de barro com um minúsculo jardim na entrada. Bati à porta e logo uma mulher baixa de cabelos avermelhados presos e bagunçados atendeu.
— Pois não?
— Nós somos... - comecei, mas a suposta Sra. Phelps me interrompeu.
— Vocês sabem do Victor? Ele está bem?
— Viemos para falar exatamente sobre seu filho. - Ellena disse com cuidado.
— Entrem - A mulher puxou-nos pelo braço. A casa cheirava à lavanda e parecia bem organizada. A seguimos até a cozinha. Havia vários papéis espalhados pela bancada embaixo de uma assadeira repleta de muffins de mirtilo.
— Peguem um. - Ela tentou ajeitar o cabelo rapidamente, juntos os papéis e colocou a bandeja perto de nós. - Sentem-se.
Escolhi um muffin enquanto me acomodava na cadeira alta, pensando em como iniciar o assunto.
— A senhora é a mãe dele, certo? - Ellena questionou com cautela, girando um muffin nas mãos pequenas. A mulher apenas assentiu rapidamente.
— Pode me chamar de Felicity.
— Ok, Felicity. O que sabe sobre o pai do Victor?
— Ele era um homem de negócios, viajava muito. Ficou comigo apenas um verão.
Segurei a mão de Elle por baixo da bancada e a apertei para mostrar que eu assumiria o controle da situação.
— Você sabe que seu filho é especial, não é? - Péssimo começo. - Quer dizer, ele é diferente...
— Sim, eu sei. O pai dele me contou sobre isso.
Tirei um pedaço do bolinho e o girei entre os dedos.
— Temos um lugar, um acampamento, onde jovens como Victor podem ficar durante o verão ou o ano inteiro, um lugar seguro.
— Vocês são como ele, não são? - Felicity perguntou, ansiosa.
— Somos. - respondi sem olhá-la diretamente. - Ele deveria estar no acampamento, mas...
— A senhora tem ideia de algum lugar que ele possa ter ido? - Ellena disse. - Com John?
Felicity riu.
— Eles tinham um sonho de ir pra uma cidade praiana, surfar e abandonar os estudos.
— Onde? - insisti.
A mãe olhou os muffins e depois, os papéis. Ela remexeu a pilha até encontrar uma passagem de avião que deslizou pela mesa.
— Flórida.
Troquei olhares com Ellena. Minha companheira de viagem segurou a mão daquela mulher que parecia envelhecer de preocupação a cada minuto que se passava.
— Vamos encontrar seu filho. É uma promessa.
Saímos da casa e assim que Felicity fechou a porta, toquei o ombro de Ellena.
— Precisamos falar com nossos amigos.
Encontramos uma fonte numa praça deserta e logo fizemos uma oração à deusa Íris.
— Mostre-nos nossos amigos na Flórida. - pedi, mas o arco-íris permaneceu ignorante.
— O que está acontecendo? - Ellena sussurrou.
— Deusa, mostre-nos Cristal, Dean... - Antes de terminar a fala, uma imagem tremulou no ar.
No retângulo mágico era possível ver algumas palmeiras ao fundo junto a um sol poente, entretanto, o que mais chamou minha atenção foram as mãos dadas do casal.
— Ei! - chamei.
— O que vocês estão fazendo?! - Ellena abriu um sorriso enlouquecido ao mesmo tempo em que Cristal soltava a mão de Dean e ficava vermelha como um tomate.
— Nada! - disse Cristal, mas o sorriso malicioso de Dean evidenciava a mentira. - O que aconteceu?
Relatamos tudo desde a escola até a saída da casa dos Phelps.
— Precisamos ir praí. Flórida. - Concluí.
Quando prestei atenção aos dois, notei sinais de cansaço e preocupação. Cristal passou a mão no cabelo preso e suspirou.
— Violet, Nico e Alexander foram sequestrados - As palavras saíram com dificuldade. Ela explicou tudo o que aconteceu no ônibus. Ao final, Ellena estava com uma expressão de horror.
— Já tentaram mandar mensagens de Íris? - questionei como um idiota.
— Várias vezes - Dean respondeu. - Mas não há... como podemos dizer, hã, sinal.
— Onde vocês estão? - Ellena apressou-se em dizer.
— Estamos em Jacksonville agora.
— Vamos encontrar vocês aí. - Eu e Ellena falamos ao mesmo tempo. Entreolhamo-nos surpresos.
— Mantenham contato. Já suspeitamos do local pra onde foram levados.
Dean olhou para Cristal, que admitiu ainda meio engasgada:
— Miami. Achamos que levaram Violet de volta pra casa.
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