POV Dean

Entramos na estrada no deserto de Las Vegas por volta do meio dia. Era uma das saídas mais rápidas do condado. Cristal estava ao meu lado, atrás de nós estavam Ellena, Nico e Violet. E atrás deles Andrew, Beatrice e Mike. O carro era tamanho família, graças aos deuses. Mais especificamente Afrodite, afinal, foi ela que nos deu esse maravilhoso transporte de motor turbo.

Os vidros fumês do carro estavam abertos; o calor estava matando todo mundo. Alguma música típica de boyband tocava na maior altura enquanto Beatrice e Ellena conversavam sobre rapazes. Violet conversava com Nico, Andrew jogava algum jogo daqueles de guerra, bem sangrentos (Ele é filho de Ares, dá um desconto) e Mike tentava não se repudiar com aquilo. E eu... Bem, não fazia nada além de dirigir.

- Meus deuses! Nós nunca vamos sair desse lugar? – Reclamou Andrew lá trás.

Olhei no GPS e vi que faltavam muitos quilômetros pra sairmos daquela estrada, ou pelo menos do deserto.

- Daqui a algumas horas. E daqui a pouco a gente troca de lugar. – Falei olhando pra ele pelo retrovisor.

- Tudo bem. – Respondeu.

- Eu quero sair daqui. – Choramingou Nico. Ele não é muito fã de calor, sabe? Odeia Apolo e odeia o Sol também. Deve ser coisa de filho de Hades... – Já estamos num deserto, não podemos piorar as coisas.

Foi aí que as coisas pioraram; sorte de semideus é pouca. Quase inexistente!

POV Cristal

– Pois é. – Disse Nico. - Já estamos num deserto, não podemos piorar as coisas.

Nesse exato momento o carro fez um som estranhíssimo e parou bem no meio do nada. Uma fumaça preta saiu do capô e entrou pelas janelas abertas. Todos tossiram e saíram do carro.

– Boca santa, hein Nico? - Falei tossindo.

– E a culpa é minha agora? - Retrucou ele.

– Mas que droga! – Gritou Ellena.

– Por que essaporcariadesse carro tinha que pararbemno meio do deserto? - Reclamou Beatrice. - Sol em excesso estraga meu cabelo.

– A gente cuida do cabelo depois, Beatrice. - Disse Dean irritado, caminhando até o motor. - O importante agora é saber como a gente vai sair daqui.

Olhei para os dois lados da estrada e não havia um único sinal de vida. Nem uma folhinha seca voando.

Andrew e Dean foram até o motor do carro e  começaram a mexer com ajuda dos outros dois. Eu e as meninas esticamos duas toalhas que ganhamos do Resort no chão, na parte da sombra projetada pelo carro.

Barulhos e palavrões vinham dos meninos enquanto eles tentavam descobrir qual era o santo problema.

- Acham que eu pareceria uma prostituta se dissesse que quero ficar de biquíni aqui? – Perguntou Ellena.

- Eu te chamaria de compartilhadora de interesses. – Respondi enquanto me abanava. – Estamos sob o sol de meio dia em um deserto de Las Vegas, porque somos tão azarados?

- Querem saber? – Indagou Beatrice. - Não estou nem aí. Vou entrar nesse carro e ficar com o mínimo de roupa possível. Alguém sabe onde esta a minha bolsa de biquíni?

- Junto com a minha. – Falei. – Vou pegar.

Relutante, me levantei e fui até o porta malas. Peguei a bolsa para Beatrice e algumas garrafas de água. Do lado do carro as meninas começaram a rir feito doidas e até atraíram a atenção dos garotos. Aproveitei e fui ver o progresso deles.

- E aí?

- Nada. – Respondeu Mike que estava escorado no capô. Dean e Andrew eram os que verdadeiramente trabalhavam. Quando se levantaram para me olhar, percebi que os dois estavam sem camisa. Fui ao céu e voltei em um segundo.

- Pode ser a bateria – Andrew disse. – Ou os cabos. Ou o óleo... Mas até agora não achei problemas.

- Hein?

- Esquece, Cris. – Dean falou. – Nós não somos bons o bastante pra consertar isso daqui sozinhos.

- Sério? – Sussurrei tentando não olhar para o tanquinho dele. – Alguém quer água?

Andrew e Mike pegaram as duas garrafas da minha mão e agradeceram.

- Seus egoístas. –Dean falou. Ele tirou as mãos sujas de graxa do motor e foi indo para porta malas. Eu o segui.

– Por que alguns de nós não tentam procurar ajuda - Sugeri. – Enquanto os outros tentam consertar o carro?

– É uma boa ideia. - Disse Dean me lançando um sorriso radiante que quase me fez desmaiar. – Você provavelmente não está em nenhum dos grupos, não é?

Sorri pra ele e não respondi.

Ele abriu o porta malas, mas antes que encostasse as mãos sujas nas bolsas, eu segurei seu pulso e peguei uma das toalhas que não estávamos usando para ele limpar as mãos sujas.

- Obrigado.

Lhe entreguei uma garrafa de água e esperei que ele bebesse para ver se ele diria alguma coisa.

- Mike, Beatrice e Ellena podiam buscar ajuda e Nico, Andrew e eu tentamos fazer o carro funcionar. – Ele disse quando acabou de beber. – Pra que esta carregando essa bolsa?

- É da Beatrice. Ela e as meninas vão colocar um biquíni. – Dei de ombros.

- É, acho que é melhor, porque não sairemos daqui tão cedo.

- Não precisa me dizer isso...

Dei a volta no carro e joguei a bolsa no colo de Beatrice e me ajoelhei ao seu lado.

- Preciso que se levante daqui a dez segundos e diga que precisa andar. – Sussurrei pra ela.

- O quê? – Ela indagou.

- Apenas faça isso.

- Qual é o seu problema?

- Sete. Seis. Cinco...

Continuei minha contagem olhando Mike e os meninos conversando.

- Um. Levanta logo.

Beatrice me encarou como se eu fosse louca, mas se levantou. Me virei para Ellena e comecei a fingir que estava conversando com ela.

- Por que esta fazendo isso? – Ela me perguntou.

- Apenas cale a boca.

Nesse instante Mike chegou.

- Preciso urgentemente andar um pouco. – Disse Beatrice.

- Ótimo, pode me acompanhar em minha caminhada para a civilização! – Ele disse sarcástico.

- O quê? – Indagou Beatrice.

Ellena sorriu e começou a cantar a música do Missão Impossível.

- Você é muito incrível. – Ela me disse baixinho.

- Boiei. – Violet se intrometeu na conversa.

- Meninas, eu e Mike vamos ver se encontramos alguma coisa. – Beatrice falou. Em seguida olhou pra mim e fez um silencioso “obrigada”.

Ela e Mike foram caminhando pela estrada, em busca de ajuda.

Suspirei vitoriosa. Depois eu e as meninas acabamos não aguentando mais e entrando na missão impossível de colocar o biquíni por cima da blusa, enquanto Ellena continuava cantando aquela musiquinha fantástica. Coloquei o biquíni por cima da camiseta e depois a tirei. Não foi fácil, mas era melhor que ficar coberta de tecido de algodão naquele calor!

Violet teve a maravilhosa ideia de abrir as portas do carro e colocar a toalha por cima pra fazer sombra, já que ela disse que não ficaria no carro naquele calor. Ela e Ellena se sentaram escutando musica nos fones de ouvido, enquanto eu aproveitava o conforto do banco do passageiro totalmente deitado. Eu já nem pensava mais que estávamos ferrados. Fingia que estava tomando banho de sol na beira de uma piscina com meus amigos e com uma garrafa de água sobre a barriga.

- Você realmente é uma ótima amiga. – Dean falou se sentando no banco do motorista e tentando ligar o carro.

- Eu sei. – Me gabei. – Mas aqueles dois tem que se acertar logo.

- Nem que seja nesse deserto. – Dean concordou.

Me sentei abruptamente fazendo com que a garrafa que estava na minha barriga voasse para o chão abaixo do volante. Me estiquei para pegar a garrafa, mas Dean foi mais rápido. Quando ele a entregou a mim, percebi que era a segunda vez que estávamos a uma distância perigosa um do outro.

- A Profecia. – Falei engolindo seco, nervosa pelo fato de estarmos tão próximos...

- Está falando do beijo?

Talvez eu tenha movido a cabeça afirmativamente, mas não me lembro bem. Dean chegou mais perto ainda. Nossos narizes estavam prestes a se tocar quando Andrew gritou do lado de fora:

- Já tentou fazer a ligação direta?

Me afastei e voltei a me deitar.

- Estou tentando! – Dean gritou de volta.

- Quem sabe se os dois se beijarem o carro simplesmente não funciona? – Falei com a voz até um pouco trêmula.

Dean olhou rapidamente pra mim e depois desviou para o volante.

- Os dois... Claro.

POV Beatrice

Aquele sol estava me escaldando e levando meu cabelo perfeito junto. Não havia nenhum sinal de vida e o sol estava a pino. Achei que podia cair dramaticamente nos braços de Mike, mas não achei que isso fosse adiantar muito.

– Acho melhor voltarmos. - Disse Mike, olhando pra trás.

– Tem certeza? - Perguntei decepcionada.

– É melhor. - Respondeu. - Quem sabe eles já tenham concertado o carro?

- Ah, claro. – Falei irritada. – Sem você lá provavelmente isso tenha acontecido. – acrescentei baixinho, mas ele escutou.

- O que foi que você disse?

- Nada. – Fiz um gesto displicente com as mãos. Aquilo estava me matando. Por que ele não fazia nada?

Ele se virou e começou a caminhar me ignorando. O calor nos deixava ainda mais irritados e chatos do que já estávamos.

Não aguentava mais isso. Por que ele não tomava nenhuma atitude?

– Mike! - Gritei.

– Sim? - Perguntou se virando para me olhar.

– Por que você não faz nada?

– Nada o que? - Perguntou o garoto se fazendo de desentendido. – Você esta bem?

Ele colocou as mãos em meus ombros e me encarou preocupado.

– Você sabe do que estou falando! – Falei, mas pela cara dele, acabei desistindo. – Quer saber? Esquece!

Eu sacudi os ombros e me desvencilhei dele. Eu não tinha dado nem dois passos quando ele segurou meu braço e me puxou para perto dele.

- Sobre o que você está falando? – Ele perguntou de novo. Dessa vez com leveza, como se soubesse a resposta.

- Sobre o fato do meu coração bater mais forte sempre que você esta perto, e sobre saber que isso também acontece com você quando eu me aproximo. E você não faz nada. – Falei ressentida. – Como se quisesse esconder que está apaixonado por uma filha de Afrodite fútil e burra como eu. Enquanto você está rodeado de gente que pode te corresponder melhor aos seus interesses. E isso vem me machucando, por mais que eu tente esconder essa sensação terrível.

Meus olhos queimaram de forma dolorosa. Aquelas palavras até então não tinham saído do pequeno e frio canto da minha mente em que eu as escondera. Mas agora saíam por minha boca e queimavam minha garganta.

Minha visão ficou turva. Fechei os olhos e esperei por uma resposta concreta, mas ele não respondeu. Lentamente ele soltou meu braço e vi aquilo como uma deixa para recuar: novamente eu tinha estragado tudo.

Quando finalmente controlei meus músculos para que pudessem dar um passo para trás, ele passou os braços pela minha cintura. Abri os olhos surpresa e o vi colocar o polegar abaixo do meu olho enxugando uma lágrima que insistiu em cair.

- Estou muito feliz em ouvir que seu coração acelera quando estou perto. E fico surpreso por saber que isso acontece comigo.

Ele pegou minha mão e colocou sobre seu peito. A leve camada de malha da camisa dele não era o bastante para esconder os pulos que o coração dele dava.

- O meu não esta nem um pouco diferente. – sussurrei.

 Mike se aproximou de mim e eu cortei o restante da distancia rapidamente, beijando-o como sempre sonhei. Ele retribuiu no mesmo nível de felicidade que o meu.

Nos separamos em busca de ar, ainda abraçados.

– Era isso que eu estava esperando. - Falei.

POV Violet

Estávamos esperando pelo que pareceu horas, até Nico aparecer sem camisa. O Hades nunca pareceu tão perto, quase tive um ataque do coração.

– Cristal - Chamou ele. -, Pode dar a partida, por favor?

– Claro, Nico. - Respondeu ela, me lançando um sorriso de cúmplices.

Ela passou para o banco do motorista e ligou o carro que emitiu o mesmo som estrangulado de antes.

- Espere aí. – Pediu Andrew. – Acho que talvez devêssemos trocar os cabos que o Dean pegou, talvez aguentasse até a cidade.

- Estão aqui. – Dean entregou a ele uma coisa que parecia tudo menos um cabo, mas como eu não entendo absolutamente nada disso, não comentei.

Segundos depois, Andrew pediu para Cris ligar novamente.

E então, o barulho estrangulado foi substituído por um ronco que soou como musica para os meus ouvidos.

- Finalmente! – Gritamos enquanto os meninos se socavam pra comemorar. Nunca vou entender os garotos.

            - E onde será que estão aqueles dois? – Ellena perguntou.

            - Acho que são eles aqueles pontinho lá em baixo. – Respondeu Nico.

            Quando ele disse pontinhos não estava mentindo. Os coitadinhos estavam mesmo longe.

            - Todos para dentro, nós vamos embora! – Dean gritou.

            Colocamos as coisas para dentro novamente e entramos no carro. Eu e as meninas ainda de biquíni, os garotos ainda sem camisa. Dirigindo na direção de Beatrice e Mike. Alguns minutos depois e estávamos perto dos dois que nos encararam estupefatos... Espera, eles estavam de mãos dadas??

            - Vocês conseguiram?! – Beatrice indagou, estupefata.

            - Não, vocês conseguiram! – Cristal falou e acabou saindo do carro para abraçar os dois. – Não precisa nem comentar que vou ser a madrinha de casamento, não é?

            - Claro que não. – Mike respondeu.

            - Então, estão tipo, juntos? – Perguntou Nico se espremendo ao meu lado para falar com eles enquanto entravam no carro. Detalhe: ele ainda estava sem camisa.

            - Sim. – Respondeu meu novo casal favorito.

            – Parabéns! – Falei com um sorriso enorme.

– Isso é ótimo! - Continuou Ellena.

– Até que enfim! - Concordou Cristal.

Beatrice e Mike se sentaram nos últimos bancos enquanto nos apertávamos na frente já que ninguém queria segurar vela.

- Vamos para casa. – Nico falou sorrindo.

- Estou doida para conhecer o Acampamento. Tem muito menino bonito? – Ellena perguntou.

Andrew fechou a cara.

- Se tem. – Respondeu Cristal ficando de joelhos no banco da frente. – Provavelmente você irá se derreter pelo Percy, mas ele é super comprometido. Os filhos de Apolo geralmente são os mais gatos...

- Peter. – Eu a interrompi.

- Will. – Ela discordou.

- Will seria um ótimo partido para Ellena! – eu falei.

- Ou algum filho de Ares. – Beatrice resolver se intrometer.

- Ares é o quarto Chalé mais bonito. – Cristal falou com desdém e Andrew bufou.

- Quem são os primeiros? – Ellena quis saber.

- Aí depende. Generalizando, Apolo, Hermes, Afrodite, Ares...

- Mas e você? – Perguntou Dean se intrometendo.

Sorte de Cristal ela estar ajoelhada no banco, assim ele não podia ver a vermelhidão que ela ficou. Podia até sentir a vontade dela pra falar “Chalé de Nix”.

- Apolo continua em primeiro lugar. Depois Hefesto. - continuou Cristal.

- Hefesto? – Indagou Nico. Os meninos não estavam gostando nem um pouco dessa conversa, tirando Mike é claro, que nem estava prestando atenção.

- É. Eu acho Jake uma graça. E depois...

- Diz que é Nix, minha auto estima está muito baixa. – Dean pediu rindo.

- Vou deixar você na duvida.

Abruptamente, Cristal mudou de assunto. Continuamos a viagem de carro tranquilamente. Com a Profecia Cumprida.