Biblioteca. escrita por Hingrid Stilinski


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

Primeira one-shot de algumas! Continuação já disponível nas notas finais, muahahah.
Leiam, nos vemos no final do capítulos.
PS: Tá bem merdinha, mas wee.



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O quão bonita uma pessoa pode ser? Qual é o limite da beleza para que não esmague os sonhos alheios? Bom, essas são as perguntas que andam pela minha mente nesses últimos meses, porque cara, realmente não tem como uma pessoa ser tão bonita assim como...

Como ele.

Se você não acredita em amor à primeira vista, meu amigo, eu tenho que te avisar: eu também não... Até botar os meus olhos medíocres e masoquistas naquela figura esguia e bela, que emana uma aura negra, séria. Tão séria. E pesada. E atrativa. Muito atrativa pra dizer a verdade. Tão atrativa que fez as pernas dessa pobre garota idiota de dezesseis anos tremerem como o terremoto no Haiti. Mas mais atrativa que a presença dele é seu ser por inteiro – do primeiro fio de cabelo castanho, até a ponta de seus tênis gastos. E eu nunca, jamais, em hipótese alguma, me apaixono. Muito menos tenho amores platônicos. Mas ele...

Ah cara, que merda eu fiz da minha vida? Agora eu sento aqui, nessa mesa apática e brilhante da biblioteca municipal, em quase todos os malditos dias da semana, esperando para que ele apareça com sua cara fechada. E é sempre a mesma coisa: Ele entra. Olha sua prateleira de livros favorita – ficção cientifica, que original. Pega um livro qualquer. Lê a sinopse. Senta em uma mesa similar a minha a uma distancia curta. Abre o livro. Lê o livro. E eu o observo, disfarço, observo mais um pouco, finjo que leio, observo. E no final, quando ele finalmente vai embora com uma pilha de livros novos, eu só consigo encarar a saída com uma tremenda vontade de bater minha cabeça nessa merda de mesa marrom brilhante. Que garota, em sã consciência, se apaixona por um cara sem nem ao menos saber o nome do individuo? Só alguém tão estupida quanto eu, é claro.

Caro leitor (ou leitora), por favor, pode parar de conter sua vontade de revirar os olhos e me xingar. Eu sei como você se sente. Uma pessoa apaixonada é a coisa mais irritante que você pode encontrar pelas ruas, isso eu posso garantir. E se essa paixão vem de mim, cara, então realmente a coisa é feia. Não que eu tenha me apaixon... Ah. Merda.

Ele chegou.

Tá. Ok. Respira. Isso garota, fica calma. É só um garoto estúpido. Ok. Ah não, ele passou por mim. Porque eu fui escolher sentar justo ao lado da maldita prateleira de ficção cientifica? É oficial: eu me odeio. Mas não paro de olhá-lo.

Ele observa os livros atentamente, como se fossem as relíquias mais preciosas de um tesouro egípcio. Os olhos castanhos claros estão meio apertados, analíticos. O cabelo meio longo, preso num rabo-de-cavalo não muito alto, curto. As sobrancelhas se franzem, como se algo estivesse errado e de repente seu rosto de vira. Pra mim.

Ah, merda.

Viro o rosto rapidamente e abaixo a cabeça, fingindo – muito mal, por sinal – que leio um livro sobre mitologia moderna, que eu já lera tantas vezes e agora era meu amigo de disfarces. Meu coração grita e pula em meu peito, em pânico e êxtase. Nem pra stalker eu sirvo direito. Talvez se eu me levantar agora, posso ir sem ele perceber. É, é realmente isso que vou fazer.

Tento agir naturalmente, forçando meus movimentos a ficarem despreocupados e acabo parecendo robô que precisa de mais óleo. Uma performance realmente horrenda, se querem saber. Minha cadeira até faz barulho quando me levanto, deixando tudo mais constrangedor. Há, há, há. Um belo besteirol americano.

Franzo os lábios em uma linha reta e encaro meus sapatos, não ousando a encarar algo se não seja o mármore cinza que preenche o chão do segundo andar onde estou. Dou alguns passos calmos, mas escuto uma cadeira arrastar perto de mim e com um pulo, viro para a mesa onde estava sentada até agora.

– Não precisa fugir de mim. – A voz dele surge, alta, grave, completando a miragem que eu parecia estar encarando, mas não respondo. Cara, o maldito imbecil estava sentado na minha mesa, lendo despreocupadamente um livro que de relance percebi que era do Stephen King e abriu a boca pra falar comigo.

Ele só pode tá de brincadeira!

– O que foi? – Fala novamente, tirando os olhos do livro e olhando diretamente para mim. – Vai se sentar ou prefere me observar de longe?

Definitivamente, era uma brincadeira. Das mais sem graças possíveis. Bufo então, tentando passar a imagem de não estar dando a mínima pra ele, mas soa tão falso quando minha tentativa desesperada de fuga.

– Quem disse que eu tô aqui pra te secar, amigo? Desculpa, mas você precisa rever seus conceitos. – Minha voz sai, fluindo mais naturalmente que meus movimentos. Cara, pelo menos nisso eu soava convincente!

– Bom, eu não sou cego – Ele continua, mas seus olhos agora já estão voltados para o livro. – e sei bem que você fica me olhando sempre que venho aqui. Então eu apenas deduzi. – E da de ombros, como se aquilo fosse mais natural do que espirrar.

– Humildade mandou lembranças. – Falo por fim, mas meu rosto está completamente corado e, que merda, minhas mãos tremem e suam dentro de meus bolsos. Então ele sabia que eu existia. E que eu o observava. E com isso podia deduzir que a estupida aqui estava apaixonada por ele. Como todas as outras garotas que ele deve ter conhecido na vida.

Que divertido. Muito divertido. Agora, tem como isso ficar mais embaraçoso?

– Cabel Foster – ele sussurra e eu volto para a realidade, ignorando meu surto interno – Chamo-me Cabel.

Oh. Cabel. Ele combina com Cabel.

– Cabel – Sussurro involuntariamente e o tom sonhador na voz me faz xingar. Ele sorri com o canto dos lábios, mas é tão rápido que pensei ter imaginado aquilo tudo. Caramba, eu nunca tinha visto Cabel (agora o nome parece tão certo que é difícil não pensar nele) sorrir.

Por alguns instantes eu apenas fico ali parada, tentando me decidir se me viro e me recolho na vergonha ou se me sento na frente dele, realizando meu desejo de meses. Opções difíceis, mas eu fico com a segunda.

Quando puxo a cadeira barulhenta, ele olha para cima e lentamente suas sobrancelhas sobem, seus olhos me encarando como se pudesse ler até o fundo da minha alma. A aura ameaçadora e atrativa que ele possui parece mais pesada do que nunca e cara, não consigo desviar meu olhar dos olhos dele.

O contato visual não é quebrado rapidamente, deixando o clima estranho. Meus dedos tremem no meu colo e sem perceber umedeço meus lábios, ficando mais nervosa do que nunca. Os cantos dos lábios de Cabel se levantam um pouco, como se ele gostasse do que via. Mas que...

– Você não me disse seu nome – Ele fala de repente, me fazendo piscar muitas vezes e perceber que eu o encarava com a boca entreaberta. Ah, que legal, além de stalker, eu agora aparento ser uma completa idiota.

– Ahn... – Pigarreio e solto uma risada breve e forçada – Christina Johnson. Mas, pelo amor do meu anjo caído, me chama de Chris. – Concluo meio afobada e respiro fundo, inalando sem querer o cheiro da colônia não tão doce que ele usa.

– Chris – Ele sussurra de volta e balança a cabeça em aprovação, para logo depois voltar seus olhos castanhos e fundos para o livro. – Combina com você. – E então dá de ombros, como se ele não soubesse que aquilo faria meu coração disparar que nem o Usain Bolt. Que joguinho de merda! Se ele queria me fazer ter um ataque cardíaco, que achasse um Death Note, não ficasse me provocando. Eu estava apaixonada por um sádico, aparentemente.

O silencio volta a reinar, e cara, por incrível que pareça, de uma forma confortável. Não que eu tivesse confortável ao redor dele, claro que não, mas mesmo assim o ar estava mais calmo, tranquilo. A única coisa que parecia não querer tranquilidade eram meus batimentos cardíacos. E eu que pensava que agir como uma maluca apaixonada já era chato, imagina ficar refém do próprio órgão vital que não para quieto.

Ah cara, porque esse tipo de merda só acontece comigo?

– Parece nervosa, Chris – Ele volta a falar, me dando um susto. De novo. – Isso tudo é por mim? – Pela terceira vez, milagrosamente, seus lábios se esticam num sorriso torto.

– De novo, cara, a humildade manda lembranças – Respondo prontamente, erguendo o queixo numa tentativa de mostrar alguma dignidade, em vão. Eu era uma boa mentirosa, mas puta que pariu, naquela situação era meio impossível usar meus melhores dotes.

– Não precisa disfarçar, já disse que sei que me observa há dias, lembra? – E finalmente ele fecha o livro, cruzando os braços e se apoiando no encosto da cadeira, o rosto sem expressão. – Só me pergunto por quê.

– Já disse que... – Começo a mentir novamente, mas o olhar que ele me lança me faz ter um calafrio – Tá. Talvez eu tenha te observado por ai, nada demais. Você deve tá acostumado com isso mesmo. Uma stalker a mais, big deal.

– Na verdade você é minha primeira. – Ele diz isso com tamanha naturalidade que faz meu ar ir embora. – Não gosto de atenção e acho que deixo isso claro. – Agora sua voz é mais baixa, ameaçadora.

– Desculpa. – Respondo mais envergonhada do que nunca. Ele não gostava de atenção e eu dava a ele muita. Agora podia entender o porquê daquela conversa estar se quer acontecendo – Sério. É só que... Cara, você já se olhou no espelho? É a porra de um gostoso! – Assim que as palavras saem, a vontade de bater minha cabeça na mesa volta. Meu santo anjo caído, eu realmente deveria calar a boca. Mas, infelizmente, eu continuo – Quer dizer, você é lindo. Cara, mesmo com toda essa sua camada protetora que grita “não me toque”, é meio impossível não querer se aproximar.

– Belas palavras. – Ele ri, um som baixo, divertido e extremamente discreto. – Então pra você eu sou assim? Uma “porra de um gostoso” misterioso.

– Não precisa ficar me lembrando, né? Já é bem difícil falar com você, ainda mais sem gaguejar. Tenha piedade, Cabel.

– Desculpe, não queria constrangê-la – ainda mais, acrescento mentalmente à fala dele – mas é engraçado ver suas reações.

– Que bom que eu te divirto. – Encolho os ombros e franzo meus lábios, meio irritada. Maldito sádico. Lindo, mas um maldito sádico.

Por um momento, sinto que preferia que ele se levantasse e fosse embora de uma vez com seus malditos livros de ficção. Sério, ele já tinha deixado claro que não queria minha atenção, obrigada, então eu não iria mais vê-lo. Evitaria a biblioteca, sei lá, mas não o constrangeria. Não queria que ele me odiasse. Meu Deus, era o que eu menos queria.

Amor é um troço complicado.

– Não me importo se for você. – Ele diz por fim, casualmente como sempre. Levanto o olhar, atônica.

– Quê?

– Não me importo se minha stalker for você, – Cabel pisca, mas não desvia os malditos olhos sádicos de mim – Chris. – Ao dizer meu nome, seus lábios parecem desenhá-lo no ar, como se ele mesmo apreciasse o jeito que saiam de sua boca. – É, eu realmente não me importo. – E com um mais um sorriso inesperado, ele consegue me deixar mais perplexa ainda.

– Por quê? – Consigo perguntar depois de alguns pasmos segundos.

– Porque é você. Simplesmente por isso. – Ele pega sua mochila e põe uma das alças no ombro. – Não tenho um motivo melhor, desculpe. Mas isso basta, não?

– Basta pra mim – Respondo rápido.

– Ótimo. – O barulho que a cadeira dele faz quando se levanta parece música para meus ouvidos. Cabel olha pros lados por um momentos e se inclina pra mim, deixando seu rosto tão próximo que me faz ter calafrios (dos bons).

Os olhos dele se fixam nos meus por alguns segundos, pedindo permissão para algo que eu não deduzi tão rápido quanto o movimento. Logo sua boca já estava na minha, pedindo – exigindo – espaço, autoritariamente. Mal consigo entreabrir meus lábios que logo já sou atacada por uma língua do sádico e misterioso Cabel. Com um suspiro, correspondo rapida e avidamente, tentando acompanhar seu ritmo intenso e logo sua mão passa delicadamente por trás do meu cabelo, apertando de leve minha nuca.

Meu santo e pecaminoso anjo caído.

Muito cedo, ele se separa de mim. Os olhos agora demonstram diversão com um sadismo não tão recém descoberto. A língua veloz passa por seus lábios, umedecendo-os mais ainda, como quem gosta do que vê. Eu devo mesmo estar com uma cara idiota, mas senhoras e senhores... Caleb Foster tinha me beijado. Voluntariamente.

– Até amanhã, Chris – Novamente, seus lábios desenham meu nome no ar e, com um sorriso discreto e quase imperceptível, ele vai embora, descendo as escadas de mármore cinza e some da minha vista.

Cara, ele é irritante, sádico, misterioso, rouba beijos de pobres garotas de dezesseis anos, mas ainda sim, eu estou apaixonada por ele, um estranho que não me parece mais tão estranho. Riu de mim mesma, tentando botar meus neurônios no lugar e meus batimentos cardíacos numa frequência que não fosse suicida.

Se eu soubesse que aquilo aconteceria, teria me sentado mais cedo perto da estante de ficção cientifica. Definitivamente teria.

xxx


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Notas finais do capítulo

Pronto. Legal.
Enfim, Chris e Cabel são meus tchutchucos. Amo demais os personagens e eles saíram até que de modo satisfatório pra mim, então acabei continuando uma "série" com eles - apenas momentos fofos que eu queria escrever com esse casal.
Desculpem a desbocada da Chris, porque ela é tipo meu alter-ego. Enfim, para caso de dúvidas: Cabel tem uns 20 anos, talvez 19. E a Chris, como ela menciona, 16.
Acho que é isso.
Se gostaram, deixem reviews. Se não, deixem reviews também! Podem xingar a vontade, eu sou legal, mesmo e posso te ajudar a xingar.
Enfim, tchau :3
CONTINUAÇÃO - http://fanfiction.com.br/historia/267214/Dezembro./