Caixinha De Fósforo escrita por Firefly Anne


Capítulo 1
Caixinha de Fósforo: Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Bom, depois da minha primeira o/s sobre A Infiltrada, intitulada Pequena Saliência eu deixei algumas brechas para a formação dessa segunda one-short. Pretendo fazer uma terceira para fechar esse círculo e começar, quem sabe, a fazer uma short-fic. Isso são planos futuros! Bem, eu realmente espero que vocês gostem dessa o/s, e tenham uma ótima leitura!



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Quando soube que Sarah havia se tornando uma mocinha — oficialmente — as preocupações de Alan apenas tendiam a aumentar. Afinal, ao entrar na fase da puberdade, Sarah começaria a despertar o olhar masculino para si, e isso era algo que deixava o general muito, mas muito desconfortável apenas com o pensamento de adolescentes hormonais galanteando a sua menina que, para sempre seria a sua menina.

— O que é essa ruga de preocupação em você, general? — surpreendeu-se com a chegada de Claire.

— Sua filha. Tudo o que vem de você apenas me dá problemas! — coçou o queixo. Não estava maldizendo a filha que tinham em comunhão; amava Sarah assim como amava a mulher que havia montado em seu colo para enlaça-lo no pescoço e beijá-lo na bochecha.

— O que Sarah aprontou? — perguntou calmamente.

— Nada — disse, mas em seguida acrescentou: — Ainda. E é isso o que me preocupa!

— Sofrendo antecipadamente? — riu. — Isso é tão você!

— Porque não será você que terá que responder judicialmente por homicídio ao liquidar todo e qualquer filho da puta que se colocar no caminho de Sarah.

— Sarah tem apenas onze anos — frisou. — Onze anos. E ela está muito empolgada em seus estudos para notar os rapazes.

— Ainda — repetiu novamente.

— Sua preocupação é qual, afinal? — questionou içando as sobrancelhas.

— Mocinhas querem apenas saber de namorados.

— E você sabe disso por quê... — incitou-o a continuar a falar.

— Eu costumava levá-las para detrás das árvores, no orfanato, quando eu tinha mais ou menos a idade de Sarah.

— Sarah não é como aquelas garotas, assanhadas! — defendeu a filha.

A pequena discussão que se instaurara sobre o casal findou tão logo eles escutaram suaves batidas na porta do quarto em que partilhavam há mais de uma década. Claire levantou-se do colo de Alan, preocupada em não passar uma imagem errada diante da filha se estivesse acoplada entre as pernas do marido. Claire já havia alertado à sua primogênita sobre os trâmites básicos da relação entre um homem e uma mulher, nada muito apocalíptica, apenas que a existência dos bebês não era provinda de uma visita noturna de uma cegonha muito afeiçoada aos humanos. Contou-lhe apenas — de forma fantasiada — que a existência humana vinha a partir de um contato íntimo entre um homem e uma mulher.

— E como isso acontece, mamãe? — Sarah perguntou. A testa da menina estava franzida com a confusão que perfurava quase a sua pele. Não estava entendendo onde a mãe gostaria de chegar com todo aquele papo de “caixinha de fósforo”.

— Bem — deu uma pausa para tentar encontrar algo mais metafórico para ensinar à Sarah. — Digamos que você tenha uma caixinha.

— E onde está essa caixinha? — perguntou com os olhos ligeiramente arregalados com a curiosidade.

— Deixe-me concluir, Sarah — pediu, tocando os cabelos da filha. — Você tem essa caixinha e...

Sarah interrompeu novamente.

— Zoe também tem essa caixinha? — perguntou.

Zoe era a filha mais velha de Nora e Luke; a garota era dois anos mais nova que Sarah, mas a diferença de idade não impedia que as garotas fossem amigas e até compartilhassem de algumas brincadeiras tão típicas da infância.

— Sim, querida — afirmou. — Zoe também essa caixinha. Na verdade toda menina tem.

— Você tem? — perguntou curiosa.

— Tenho.

— E — olhou para porta para observar se estava realmente fechada. Após estar convicta que estavam longe demais do olhar inquisitivo de Alan, Sarah ficou mais à vontade para continuar. — O papai sabe que você tem essa caixinha? — inocentemente ela perguntou.

Claire sentiu as bochechas fundir-se a uma tonalidade rubra com a constatação de Sarah, se o pai gostava da sua caixinha.

— Seu pai adora, querida — arrependeu-se tão logo a frase escapou. Levou as mãos até a boca, tapando-a com as duas palmas por ter sido tão imprudente nas palavras.

— Adora?

— Esqueça eu e o seu pai — fugiu pela tangente. — Como eu estava lhe dizendo — a ex-infiltrada tornou-se a falar. — Você tem uma caixinha de fósforo.

Sarah interrompeu outra vez.

— Você ainda não me disse onde está guardada essa caixinha!

— Debaixo de suas saias — apontou.

Sarah espaçou as pernas, curvando o dorso para baixo tentando enxergar a caixinha que Claire tanto se referia.

— A “caixinha” é ilustrativa — esclareceu antes que visse mais perguntas perturbadoras.

“Por que eu tive uma menina?”, lastimou em pensamentos. Em seu ponto de vista, acreditava que seria muito mais fácil ensinar a sexualidade para um menino. Na verdade, Alan seria o encarregado dessa tarefa, sendo assim ela jamais experimentaria o constrangimento em falar sobre sexo com a sua filha de onze anos de idade.

Sendo totalmente contra o ato de Claire em deixar às claras assuntos constrangedores — como sexo — para uma garota de onze anos, Alan informou que não teria nenhuma participação nessa conversa, inventando até uma saída até a NSA “para resolver problemas que apenas eu posso resolver”, ele usou como argumento. Mas sabia que ele estava mentindo, pois estava de férias. Claro que ele rebateu dizendo que, como ele era o dono daquela porra e que só havia funcionários incompetentes ele teria de sacrificar um dia de suas férias para corrigir assuntos destinados à outra pessoa.

— Mamãe você está enrolando! — a garota zangou-se.

— Ok. Você quer que eu seja direta? — indagou impaciente.

Sarah apenas limitou-se a menear a cabeça de um lado a outro, assentindo para a pergunta impaciente da mãe.

— Certo. Você é uma menina. Você tem uma caixinha. Ian — o filho caçula de Nora e Luke, ele é um menino, sendo assim ele tem... O fósforo — Claire estava suando em bicas, precisando até pescar um lenço para enxugar o suor na testa. — Quando duas pessoas se amam se amam muito, eles primeiro se casam e depois, quando estiverem sozinhos, o rapaz coloca o fósforo dentro da caixinha da menina.

— Ian não tem um fósforo! — rebateu…

— Como não?

— Ajudei Nora a trocar as fraudas dele e... O fósforo de Ian é maior que o palito de fósforo que vende do walmart! É do tamanho da metade do meu dedo!

— Que seja! Vista-se e desça para o almoço.

— Mãe...

Claire, que já estava puxando a maçaneta, voltou-se para Sarah.

— O que foi?

— São dez da manhã!

— Sim, sim. Certo, venha tomar café, então.

*

Voltando ao presente, Sarah entrou timidamente no aposento dos pais encontrando-os separados. O que era uma raridade, na maior parte do tempo eles ficavam grudados um ao outro como se um chiclete houvesse ficado preso entre os dois.

— Pai, eu posso ir ao shopping com Zoe? — perguntou dirigindo-se exclusivamente ao pai, ignorando completamente Claire do outro lado do quarto. Era como se ela não existisse.

— Quem mais estará presente? — orgulhava-se em ser o primeiro a ser contatado sobre a ida de Sarah ao shopping.

Obteve derrota quando Sarah começou a falar — optando por começar com “mamã”, mas a sua vitória estava alí. Observou a sua novato de esguelha e percebeu que ela estava se controlando para não explodir.

— Apenas Nora e Ian.

— E o... — queria dizer “e o filho da puta do Luke”, mas controlou a sua língua. Não era do seu desejo que Sarah começasse a usar palavras chulas em seu vocabulário. — Luke também estará presente?

— Acho que não. — mordeu os lábios com a mentira. Sarah havia sido aconselhada pelo “tio Luke” a não dizer que ele estaria presente. O loiro era conhecedor que as possibilidades de Alan proibir a saída da menina com a sua presença seria grandíssima.

E ele não estava enganado.

— Sendo assim você pode ir — disse apenas.

Sarah correu para o pai para abraçá-lo. Alan correspondeu ao ato de afeto da filha rapidamente, recebendo uma alvejada de olhares demoníacos em suas costas.

Quando Sarah se afastou para sair do quarto, Claire manifestou-se.

— Sarah — chamou-a.

A menina virou-se para a mãe.

— Sim?

— Você não está se esquecendo de algo? — perguntou, remexendo nos cabelos.

Alan, como um expectador atento, depositou toda a sua atenção ao “surto de mãe ciumenta” que Claire se dispôs a interpretar.

— Não. — concluiu após uma vistoria em seu corpo.

— Você não me consultou se estava autorizada a sair.

— Mas o papai...

— Eu também sou a sua mãe! Eu engordei, tive meus adorados seios inchados de leite para ter como amamentá-la, passei noites insones porque a barriga incomodava na hora de dormir, senti dores sufocantes na hora de dar à luz, para você lembrar-se apenas do seu pai? — fungou, quando percebeu que chorava.

— O papai disse que não precisava... — defendeu-se.

— Claro que precisa!

— Papai disse que nessas questões eu devo consultá-lo, apenas. Diz que a “hierarquia” dele lhe concede esses “privilégios”.

— Hierarquia é o cacete! — gritou para Alan.

Querendo fugir do humor negro da mãe, Sarah saiu à francesa, deixando os pais discutirem.

Seria como nos velhos tempos.

Eles brigariam, brigariam mais um pouco e no final terminariam com as pernas entrelaçadas na cama ou sofá depois de uma “maratona de sexo”.

*

— Você precisa se controlar — Claire tocou os ombros de Alan.

— Controle? Controle? — zombou da palavra que Claire estava usando nos últimos trinta minutos. — Você fala como se isso fosse fácil.

— É muito fácil, você que está dificultando as coisas.

— Ela... — puxou os cabelos. — Sarah é tão nova...

— Sarah completou quinze anos.

— Quinze! Ela só está autorizada a namorar depois dos dezoito!

— Alan...

— A culpa é sua! — apontou o dedo indicador. — Você que deu liberdade demais a Sarah. Se ela estivesse fazendo atividades para preencher tanta lacuna de ócio em seu dia, ela não sentiria a necessidade de arrumar um namorado!

— Ela é uma moça. Moças têm que namorar.

— Não a minha filha — sibilou entre dentes.

— Seja um pouco dócil. Sarah deseja por sua aprovação...

— Eu não aprovo nada.

— Então você ficaria feliz sabendo que sua filha namora às escondidas? Que rapazes como você a levam para detrás da igreja, árvore ou o diabo a quatro?

— Claro que não! — sentiu as veias da testa saltarem apenas com o pensamento da filha recebendo as mesmas carícias e beijos libidinosos que oferecia para as adolescentes, no tempo em que ainda estava no orfanato de Mary.

A campainha da porta toca. Alan permanece estático no mesmo local. Claire acaricia o rosto do marido, depositando um beijo nos lábios do homem.

— Mantenha-se calmo — pediu, enquanto caminhava para abrir a porta.

— Luke? Nora? O que fazem aqui?

Nenhum dos dois se pronunciou sobre o assunto. Zoe foi quem esclareceu para Claire o motivo dos pais estarem alí, quando o namorado de Sarah seria formalmente apresentado.

— Papai está aqui para segurar Alan caso ele queira matar Ethan. Bem, mamãe está aqui como enfermeira. Ela teme que papai não consiga segurar nenhum dos dois, por isso trouxe equipamentos até para ressuscitar alguém, caso o pior aconteça.

— Não precisava... — ainda estava sem saber o que dizer.

— Saia da frente, Evans — Luke pediu. — Nós queremos entrar, Ian não está muito confortável aqui fora.

— Muito gentil de a sua parte nomeá-lo como Ian — disse Claire emocionada.

— Não tinha como ser diferente. McCarthy era um tremendo de um filhodeumpai!

*

A situação era semelhante a um julgamento. Sentados — separados por ordem de Alan — Sarah e Ethan estavam sendo “interrogados” por Alan, que andava de um lado a outro com um cassetete em suas mãos, apenas para intimidar o rapaz.

— Como é o seu nome? — perguntou duro.

— E-E-E-E-than, senhor — Claire sorriu com o déjà vu. Lembrava-se de certo rapaz loiro que estava em situação semelhante, logo que entrou na NSA para o treinamento militar onde a missão seria matar o generalíssimo que se tornou seu marido e pai de sua filha.

— Isso eu já sei, novato — inquiriu-o.

— Alan... — Nora tentou alertar o general. — Não está sendo grosseiro demais com o garoto?

— Em silêncio, Campbell. O assunto é entre eu e o moleque.

— Moleque não, senhor! Eu trabalho!

Ethan arrependeu-se de ter confrontado o futuro sogro tão logo recebeu um olhar mordaz como resposta.

— Não o autorizei a dar nenhum palpite, novato. Diga seu nome e essa é a última vez que irei lhe perguntar.

— Clayworth. Ethan Clayworth.

— E quais as suas intenções com a minha filha, Sarah Beckert?

— As melhores possíveis, senhor.

— Esclareça-me. De forma clara e objetiva.

— Pretendo namorá-la. Se o senhor autorizar o nosso relacionamento, é lógico. Pretendo pedir sua mão em noivado para em seguida irmos ao altar.

— Isso é tão fantasioso — grunhiu. — Acha que eu não sei no que está interessado?

— O senhor está fazendo julgamentos preliminares ao meu respeito totalmente errados, senhor.

— Estou? Diga-me a que ponto foi essa relação.

— Papai! — Sarah manifestou-se pela primeira vez, completamente envergonhada com a inquisição feita por Alan.

— Conheço sua filha tem pouco tempo, senhor. O máximo que eu consegui foi pegar em suas mãos.

— Nada de beijos?

— Nada.

— Se estiver mentindo... Ah, se você estiver mentindo, rapaz, irá se arrepender amargamente de ter vindo ao mundo. Isso eu posso garantir.

— Disse apenas a verdade, senhor.

— Sendo assim... Namoro autorizado — completou vencido, pegando mãe e filha completamente de surpresa.

É. Talvez não fosse tão ruim a filha ter um namorado, Alan pensou. Ruim seria quando Sarah quisesse ultrapassar as “bases” e isso com certeza aconteceria.

Dois anos após a aprovação de Alan para o namoro de Sarah e Ethan, Alan andava de um lado a outro com a demora na “conversa feminina” que Sarah e Claire estavam tendo há mais de uma hora.

Pouco se importando se receberia uma bronca por ser invasivo, ele andou silenciosamente até o quarto da filha, abrindo uma brecha da porta para escutar o que estava sendo dito. Alan arrependeu-se amargamente da espionagem ao ouvir o que a filha de dezessete anos confessou para a mãe.

— Ethan e eu estamos nos preparando para transar.

Definitivamente ele mataria o bastardo, pensou encaminhando-se para fora de casa.


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Notas finais do capítulo

Olá novamente! Acho que vocês devem ter uma breve noção sobre o que se tratará a próxima one-short AI que eu farei!
Se vocês chegaram até aqui, que tal me contar o que acharam através de reviews... recomendações também são bem-vindas!
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Se gostarem não se esqueçam dos comentários! ♥