Winter In London escrita por Luh Moon


Capítulo 3
Capítulo 3 - A irmã que não é irmã!


Notas iniciais do capítulo

Ainda estamos no passado para compreender o presente. E se você ler isso, pode comentar mesmo que seja pra dizer que ficou muito ruim,ok? =)
Boa leitura!!!



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O telefone tocou quase até a ligação cair. Um dos assistentes de Mycroft atendeu e cumprimentou John. Em seguida ele ouviu um burburinho. Não teve tempo de dizer coisa alguma. Ouviu então Mycroft pedir para ficar sozinho e em seguida um pigarrear.

- Ela encontrou você não foi? – perguntou Mycroft sem rodeios.

- Ela? Sim! Ela encontrou! – ansioso. – Quem é ela?

- Uma criatura esperta demais para o próprio bem... – resmungou Mycroft. – Ela não lhe disse? Tenho certeza  que ela contou...

- Mildred Arnet! Sua irmã?

- Holmes. Até os dezoito anos era Holmes. – sorrindo. – Ela mesma investigou, procurou e encontrou os pais biológicos. E fez questão de usar o sobrenome deles. – resmungou. – Mal agradecida! Sempre tão parecida com ele...

- Então é verdade? Como eu...

- E por que você saberia sobre a nossa criança?  - atravessou o outro.

- Oh! É claro! Por que eu saberia? – retrucou com sarcasmo. – Por que a mandou para um internato?

- Oh! John! Não se faça de inocente. Falou com ela! Ela... – suspirando. - ... chorou?

- Compulsivamente... – confirmou John ouvindo um resmungo do outro lado da linha.

- Eu me esforcei tanto para coloca-la na pista errada... Mas enfim, quem moldou aquela mente sabia o que estava fazendo.

- Sherlock! – disparou Watson, quedando-se na poltrona.

- Ele a mimou! Transformou-a em sua fiel escudeira! Fez bem mais que isso na verdade... – queixou-se Mycroft.

- Então foi por isso que os afastou? Por que ela estava apaixonada?

- Ela? Até nisso são semelhantes. Brilhantes para deduzir qualquer coisa, menos sentimentos... – riu. – Pense, meu caro John! Isso foi a mais de dez anos! Ela não tinha nem quinze anos! Éramos  uma família importante... Eu precisava pensar em nossa posição e em todas as possíveis consequências!

-Então decidiu afastá-los! – concluiu o médico, confirmando suas suspeitas.

- E quisera eu ter conseguido! Só quando a mandei para os Estados Unidos a afastei por completo... Mas sim, era o principal objetivo. Embora eu tenha mudado de ideia uma ou duas vezes...

- Queria que ela espionasse seu irmão!

- Cuidasse dele! – corrigiu. – E honestamente, meu caro John, até você surgir eu nunca imaginei que haveria alguém, além de Mild, capaz de cuidar dele...

- E por que ela só soube agora? Por que tanto tempo depois?

- Conheço meus irmãos. Conheço minha irmã! Se ela soubesse abandonaria a faculdade, a vida, e viria correndo para Londres, para fuçar, investigar... E foi exatamente o que ela fez, não foi?

- Ela parecia desesperada Mycroft!

- Pobre criança! – foi tudo o que ele disse. – Mas eu tinha advertido a ela que era arriscado ficar tão longe...

- Foi ela quem quis ir embora?

- Mas é claro! Quem pensa que eu sou? – uma série de palavras passou pela mente de John que preferiu manter o silêncio. – Para mim, depois que ela atingiu a maioridade, era muito mais seguro que ela permanecesse aqui...

John ficou sem palavras por alguns segundos. Tudo se passou em sua mente como um filme antigo. A bonita jovem que estivera naquela sala com ele dissera a verdade! Toda a verdade! Apanhou-se imaginando como seria se aquele salto não tivesse acontecido... Teria sido interessante ver os dois juntos... Mas se ela fosse como ele... Seu pensamento foi cortado por uma agitação do outro lado da linha.

- Sinto muito John, preciso desligar, tenho... uma visita inusitada! – Mycroft desligou em seguida e John teve certeza que, definitivamente, ela pensava exatamente como Sherlock!

Mycroft estava sentado em sua poltrona, atrás de uma grande mesa de madeira escura e apenas observou aquela criatura alta e esguia andando sobre aqueles enormes saltos altos. O vestido vermelho contrastava com o sobretudo. A maquiagem estava borrada. Teve certeza que ela saíra diretamente de Baker Street para lá. Ela parecia calma e fria, mas ele podia ver pelo tremor em suas mãos e pelo modo como martelava os saltos que estava tensa.

- Não basta ser intelectualmente semelhante, precisa se vestir como ele? – questionou Mycroft com um leve sorriso.

- Eu estava com frio! – ela devolveu erguendo levemente os ombros.

- E isso não tem nada a ver com Sherlock... – murmurou.

- A não ser que Sherlock tenha começado a usar vestidos, o que eu creio, não seja o caso. – erguendo uma sobrancelha.

- Ah! O sarcasmo! – resmungou Mycroft. - Senti falta disso.

 - Basta agora de jogos Mycroft! – ela gritou batendo as mãos espalmadas sobre a mesa.

- Que surpresa tê-la aqui, irmã adorada...

- Não sou sua irmã, Mycroft! – em pé diante da mesa.

- Mas é como a considero e sabe disso... – apanhando a mão dela e beijando-lhe o dorso.

- Sim, eu sei. Mas não vim para ser bajulada. – espalmando as mãos sobre a mesa. – Exijo que me diga onde ele está!

- Perdoe-me minha adorada criança, mas não a compreendo... – disse com um ar inocente, cruzando as mãos sob o queixo.

- Ora! Não brinque comigo Mycroft Holmes! – erguendo uma sobrancelha. – Eu estive no telhado do St. Batholomew’s, fiz as medições, cálculos... Eu vi a calçada... Eu fiz meus testes e meus experimentos. Sher pode ter saltado, mas não morreu. Não ali! Não naquela tarde!

- Sher? – com ar sardônico. – Receio ser aquele apelido que o fazia revirar os olhos, toda a vez.

- Ele não está aqui para ouvir! – gritou Mildred em resposta.

- Ah! Minha irmã! Eu... – foi interrompido por uma batida forte na mesa.

- Não sou sua irmã!

- Como queira! –dando de ombros. – Mas, havia um corpo... – disse com ar fúnebre.

- Sei que havia! Vi os relatórios da necropsia, e vi as fotos. – sorrindo. – Foi quando tive absoluta certeza de que ele estava vivo! Como eu disse, ele poder ter saltado, mas nunca bateu naquela calçada!

- Mesmo? – em tom de desafio. – E o que te dá tanta certeza?

- Eu o reconheceria mesmo triturado e mergulhado em uma jarra de ácido! – garantiu com os olhos faiscantes. – Além disso... – puxando a cadeira em frente a mesa e sentando-se. – Sherlock tinha marcas bastante especificas em um local bem peculiar. – sorrindo com o canto dos lábios.

- Oh! Eu posso imaginar... Eu posso mesmo imaginar! – lamentou Mycroft levando uma mão ao rosto. – Só espero que não seja nenhum lugar inapropriado...

- Depende do que você chama de inapropriado... – salientando a ultima palavra. – Nádega esquerda é muito inapropriada?

- Oh! Deus! Oh! Deus! – passando os dedos pela testa. – Como sabe disso?

- Como eu sei? – parecendo surpresa. – Eu fiz as marcas!

- Oh! Deus! Sei que vou me arrepender... – sacudindo a cabeça. – E de eu tipo de marcas estamos falando?

- Marcas de dentes...- sorrindo. – Meus dentes!

- Oh! Deus! Eu não quero saber como foram parar lá...

- Ora! Do modo convencional Mycroft! – espichando-se sobre a mesa. – Eu o mordi!

- Já chega! Não quero mais ouvir! – cobrindo as orelhas.

- Mas é agora que a historia começa a ficar interessante, irmão! – piscando os olhos com meiguice.

- Impertinente e irritante...

- Eu posso dizer como e onde foi que...

- Vivo! – sussurrou Mycroft.  – Está vivo! Satisfeita? – contrafeito.

- Eu sabia! – com os olhos faiscando de satisfação. – Onde? Onde ele está?

- Da última vez que tive noticias... – abrindo uma gaveta e tirando um postal. – Copenhagen! – jogando o pedaço de papel sobre a mesa.

Mildred apanhou o papel e observou-o com cuidado. Nenhuma digital, nenhuma marca, nada escrito. Olhou contra a luz. Era um postal ordinário, que podia ser comprado em qualquer banca de revista. Ele sabia como se esconder... Só havia um carimbo do correio e uma impressão eletrônica em um rótulo adesivo com o endereço do escritório de Mycroft. Quem mais iria enviar um postal como aquele? Sorriu mais uma vez.

- Por quê? Por que tudo isso? – levantando-se e andando de um lado para outro. – Moriarty, certamente. Devia tê-lo encurralado! Depois de todas as mentiras, o suicídio era a conclusão perfeita! “A fraude morre em desgraça!”. É perfeito! – manifestando imensa excitação.

- Fico feliz que fique tão animada com os planos que arruinaram a vida dele...

- E você acha mesmo que eu não sei quem contribuiu para tanto? – olhando-o com olhos apertados. – Só não entendo por que fui excluída da historia...

- Por que tratamos nossa criança como um pequeno segredinho... – sorrindo com maldade.

- Sem jogos, Mycroft! Eu odeio enigmas!

- Eu sabia que podia estar arriscando demais... – desviando o olhar. – Não me tome por obtuso. Não ia arriscar os dois. Mesmo por que... – suspirando. – Se aquele maníaco soubesse de você, não estaríamos tendo essa conversa.

- E agora? – sentando-se outra vez.

- Agora eliminamos os riscos que restaram e... Bem, eu não tenho ideia do que se passa naquela cabeça!

- Riscos? – levantando-se. – Entendi.

- Onde pensa que vai?

- Ajudar! – sorrindo.

- Oh! Deus! Oh! Deus! Que criança impertinente! – sacudindo a cabeça.

- Hei! Irmão! Pode omitir a minha volta a Londres?

- Agora sou seu irmão outra vez? – sorrindo ironicamente. – Não se preocupe. – viu a garota sorrir. – Mas e quando o garoto resolver voltar?

- Vemos isso depois... – acenando e desaparecendo através do corredor.

Mycroft juntas dos dedos e sorriu. Ela tinha se tornado mais atrevida do que imaginou que pudesse. Era incrivelmente fascinante ver como ela realmente se esforçara muito em se parecer com aquele que admirava. Achou graça de suas lembranças.

Quando Mycroft levara Mildred para casa, Sherlock a repeliu imediatamente. E ele tinha bons argumentos: ela era pequena, descuidada, barulhenta. Mas com a mesma intensidade que o pequeno garoto cuidava em manter distancia da pequenina, ela se esforçava em persegui-lo  espreitá-lo por trás das portas e segui-lo pela casa e pelo jardim. Ela passou a andar medindo os passos e a apertar os olhos para ver as coisas de perto.

Olhos atentos veriam o que estava acontecendo. O outro que antes se queixava constantemente da presença da menina, passou a aceita-la com mais facilidade, até começar a ir ele mesmo apanhá-la pela mão e carregá-la com ele. Eram apenas crianças com uma diferença de cerca de cinco anos de idade entre eles. Eram crianças crescendo juntas, aprendendo uma com o outro. A única diferença é que aquelas duas crianças eram mais inteligentes que qualquer adulto poderia supor.

E ela era uma menina! Havia um grande risco envolvido. Ela estava crescendo rápido e sua admiração tomava contornos perigosos. O sonambulismo foi o primeiro sintoma de que alguma coisa estava fora de compasso. E Mycroft conseguiu controlar os passeios noturnos e sonâmbulos por algum tempo, até perceber o que a estava despertando em pleno sono, o que era tão forte a ponto de tirá-la da cama sem, no entanto acordá-la.

Depois que ela acordou acidentalmente uma noite, não houve mais como vigiá-la. Era esperta demais para ser contida dentro do quarto! Ela sempre encontrava um meio de escapar. Até o problema tornar-se grande demais para ser contornado. Alguma coisa ia acabar dando errada! Alguém ia acabar atravessando a linha e as consequências podiam ser desastrosas. O internato foi a única saída... E foi uma ideia que partiu dela própria.

“E o que vamos fazer a respeito?” lembrava-se de ter perguntado num genuíno tom de preocupação.

“Não posso evitar!” ela devolveu com sua voz infantil, escondendo as mãos nas costas. “Não consigo dormir”

“Sabe que não está certo..."

Ela não lhe deu resposta. Baixou a cabeça e esfregou a ponta do pé no chão, suspirando em seguida. Não tinha uma explicação que a livrasse de uma punição. Aliás, todas as explicações que tinha era muito piores que as deduções a que ele pudesse chegar sozinho. Ergueu os olhos úmidos e apanho a mão de Mycroft.

"Me mande embora!"

"Não posso fazer isso! Mildred!"

"Não para sempre! Só para longe daqui! Para longe dele!" depois disso, ela chorou no ombro de Mycroft por alguns minutos e voltou silenciosa para o quarto.

Ele achou que era uma boa idéia e sequer deu muita atenção ao irmão menor espreitando pelos cantos da casa enquanto tratava de todos os preparativos para enviar Mildred para o internato. Nunca, em mil anos lhe passaria pela cabeça a cena que estava prestes a presenciar no dia em que os tutores surgiram para levá-la. Foi a primeira vez que entendeu o quanto a menina tinha razão em querer estar bem longe dali.

"Por quê Mycroft? Por quê ela tem que ir?" a pergunta saiu aos borbotões, vinda de um rosto vermelho, parte de raiva, parte das lágrimas que tinha visivelmente derramado.

"Acho que precisam de outras companhias. Vocês dois!" o pensamento lhe ocorreu apenas no momento em que olhou para aquele rosto. Nunca tinha visto lágrimas naqueles olhos, nem mesmo quando ele quebrara um braço.

"Mas ela é a melhor! A mais inteligente! E eu..." engasgando com as lágrimas. O modo como o rosto do irmão se contraiu e a respiração acelerou provou a Mycroft um ponto. Estavam todos prestando tanta atenção em Mildred que esqueceram que aquela equação tinha dois elementos.

"É exatamente esse o ponto!" Mycroft esperou que bastasse para dar a ideia da profundidade do problema .

"Por Deus! Ela só uma criança!" ele parecia ter entendido, mas parecia que não concordava.

"Mas não será uma criança para sempre. Ela está crescendo..." e deixou-o lá remoendo seus pensamentos, tendo a impressão que cometia um erro.

Sabia que a vigilância sobre Mildred só daria tempo a ele para evitar o inevitável... Agora, ali sentado em sua sala, tantos anos depois tinha certeza disso. Perguntou-se o que ia acontecer quando ele retornasse e desse de cara com sua mais prodigiosa pupila, parceira e companheira. Sorriu...


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