Winter In London escrita por Luh Moon


Capítulo 17
Capítulo 17 – Marcas de chicote!


Notas iniciais do capítulo

Algumas revelações e uma corrida contra o tempo...



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– Devem lembrar que o rosto continua tão irreconhecível quanto antes. Talvez alguma marca de nascença ou... - prosseguiu o legista, tentando evitar um momento que sabia, por experiência, não era bonito ou agradável.

– Mildred não tem marcas, nem tatuagens, nem pintas... - disse Mycroft. - Ou tem? - voltando-se para Sherlock. - Você a conhece melhor que todos! - parecendo ao mesmo tempo contrariado e conformado. Sherlock apenas sacudiu a cabeça negativamente.

– Tem certeza que quer fazer isso? - murmurou John.

– Preciso. - atravessou o detetive. - Dadas as circunstâncias acho que sou o único que pode...

Levou uma fração de segundo para mapear mentalmente o corpo de Mildred, cada pequena marca e cicatriz que ela tinha, mas por maior esforço o que mais se fixava em sua mente era o colorido azul-esverdeado dos olhos dela. Aquilo não o ajudava e fazia com que aquela dor esquisita no peito queimasse ainda mais.

– Podem entrar... - o legista deu o lado e todos entraram.

Sherlock tentou se aproximar do corpo sobre a mesa de inox, mas sentiu seus pés grudados no chão. Ergueu os olhos dizendo a si mesmo que apenas comprovaria que não era ela. Quis sorrir quando olhou aquele corpo frio...

–Não é ela! - determinou convicto.Daquela distância podia dizer com certeza que não era ela.

– Como pode afirmar com tanta certeza? - disparou Lestrade.

– Eu a conheço! - disse simplesmente.

– Mas daqui mal consegue ver e... - retomou John.

– Eu a conheço! - disse pausadamente, dando a frase múltiplos significados.

– Ele a conhece... - repetiu Mycroft. - Mesmo assim é impossível estar tão certo. O que lhe dá certeza?

Não sabia se pela ansiedade ou pelos sentimentos confusos, não tinha segurança alguma em garantir isso. Precisava de uma prova definitiva. Não para Mycroft ou para a Scotland Yard, mas para acalmar o próprio espírito! Viu Lestrade e John se aproximarem da mesa. Havia um pano branco cobrindo o rosto desfigurado. Precisava pensar. Uma marca. Uma característica única que desse 100% de certeza que aquele corpo sem vida não podia pertencer a Mildred Arnet! Colocou as mãos nas fontes e pensou com toda a força de sua alma. A resposta veio imediatamente.

– John! - a exclamação saiu mais forte do que esperava. Apontou para o corpo. - Mildred teria marcas de algemas nos pulsos... - todos olharam para ele. - Ela é sonãmbula! - esclareceu revirando os olhos. - Costuma de algemar a cama para evitar algum acidente sério a noite! Seriam marcas antigas...

– Menos mal... - murmurou John indo ver os pulsos do cadáver.

– Eu costumo usas meias de náilon... - murmurou. Mycroft que revirou os olhos. - Não deixam marcas! - dando de ombros.

– Oh! - Mycoft deixou escapar com uma nota de desgosto.

– Impossível Sherlock! - devolveu John após alguns segundos. - O corpo estava amarrado! A corda queimou e machucou muito os pulsos. Não daria para ver se houvesse uma cicatriz aqui!

– Veja nas costas... - murmurou Sherlock virando de costas.

– E o que eu procuro? - devolveu John enquanto o legista movia o corpo.

– Marcas...

– Que tipo de marcas, Sherlock? - devolveu o outro enervado.

– Hematomas... - passando uma mão pelo rosto. - Triangulares... - sorriu para si mesmo juntando as mãos. - Como a ponta de um chicote...

– Chicote? - repetiu Lestrade chocado.

– Humm... - John procurou em toda a extensão das costas do cadáver. - Nada. Arranhões e abrasões, mas não marcas tão específicas! - disse sorrindo.

– Definitivamente: não é ela! - Sherlock sorriu para o amigo por cima do ombro e saiu.

John ignorou os olhares aturdidos dos outros e seguiu o amigo apressado. Não sabia se devia parabenizá-lo ou repreendê-lo. Limitou-se a um sorriso aliviado.

– Apenas me diga como... - não resistiu a curiosidade quando saíram do necrotério. - Quero dizer, eu entendo as marcas de algemas, mas...

– As marcas de chicote? - ainda sorrindo. - Eu fiz as marcas! - acenando para o táxi que passava. - Vamos John! Ela está viva e nós precisamos voltar até aquele acampamento!

No armazém, onde Gregor mantinha Mildred, apenas um homem mantinha guarda enquanto a jovem permanecia presa, suspensa no ar. Estava imensamente cansada e começava a sentir que o ar escapava aos pulmões pela posição que estava. Mas desistir não era uma possibilidade! Confiara sua vida a Sherlock Holmes quando mal sabia juntar duas palavras em uma frase e ele parecia ser apenas um “garoto legal”! Não fraquejaria agora. Mas era difícil!

Seria muito mais simples desistir, melhor para todos, inclusive para Sherlock, mas quando pensava nisso era o sorriso de Sean que a fazia aguentar um pouco mais e os olhos de Sherlock eram o horizonte no qual ela mirava. Apenas desejava que ele não demorasse demais, ou não conseguiria mais se forçar a resistir.

Todos os policias e peritos já tinham feito o seu trabalho e Sherlock continuava farejando cada centímetro do lugar feito um cão de caça. John já havia visto aquela obstinação milhares de vezes, mas havia qualquer coisa de feroz no olhar com detetive que o médico nunca vira antes! Apenas o seguia e atendia quando era chamado. Era melhor não interferir quando ele estava tão empenhado. Mas a medida que a noite ia dando espaço para uma manhã fria, John começou a se preocupar.

E se não a encontrassem a tempo? Se o que ele tinha visto antes era uma amostra dos sentimentos do amigo, não queria estar por perto se alguma coisa de ruim acontecesse. Tentou pedir ajuda a Mycroft, mas o irmão mais velho se limitou a informar que tinha colocado seus melhores homens vasculhando cada “buraco” de Londres. John achou que era melhor esquecer. Não cooperariam um com o outro.

– Está amanhecendo... - resmungo Sherlock, agachado perto de uma moita. - Pense! - disse a si mesmo juntando as mãos e andando de um lado para o outro. - Ela é um gênio! O que ela faria? - fechou os olhos com força. - Oh! - exclamou uns minutos depois.

– Descobriu algo? - John estava ansioso.

– Migalhas de pão! - sorrindo. - Ela tinha medo de se perder quando era criança e sempre deixava pistas para que eu a encontrasse... - andando em redor do acampamento. - Se eu a conheço bem... - encontrando as pegadas que queria. - Se seguirmos as pegadas dos homens que estiveram aqui e a levaram... - saiu do acampamento, seguindo as pegadas. John seguia-o de perto.

As pegadas terminavam os começava o rastro de uma roda. Sherlock murmurou e anotou a marca e o modelo do veículo e fez algumas pesquisas enquanto seguia a marca contínua que serpenteava para fora do parque. Foram dar em uma estrada calçada, de pouco tráfego. John sentiu-se desanimado.

– Fim da linha!

– Não, meu caro! - sorrindo. - É aqui que ela começa a mostrar o quanto é magnifica! - abaixou-se perto de onde a marca de pneu terminava e a estrada começava e juntou as mãos perto do rosto em silêncio. - Vê?

– Não! Não vejo! - exclamou John aproximando-se.

– Ela devia estar tonta, quase inconsciente... - ainda com um sorriso. - Mas o instinto de sobrevivência é muito mais forte!- apanhou uma pequena pedra avermelhada.

– Sherlock! Isso é uma pedra!!! - nervoso.

– E você viu alguma dessas por aqui? Viu algo além de lama e mato?

Mildred esperava que Sherlock encontrasse as pedrinhas! Sabia que tinha sido uma péssima ideia, mas foi o melhor em que pode pensar enquanto era arrastada pelo chão. Encheu a boca com pedrinhas! Umas pedrinhas nojentas que sua mão apanhara ao acaso antes de receber o golpe que quase a fizera desmaiar. Tinha engolido uma ou duas, mas espalhou as que foi capaz em boa parte do caminho. Achava que seria o suficiente. Pelo menos para dar uma direção a ele... Sabia que era tudo o que ele precisava. Uma direção para seguir...

Não tinha ideia do que aquele homem queria com ela. Por intuição acreditava que se tratava de simples e vil vingança! Ele queria se vingar de Sherlock por terem escapado da recepção e terem recuperado a joia que ele leiloaria. Não era uma questão de dinheiro! Era apenas orgulho e arrogância. Além de que, ela sabia, Gregor Smith gostava de dor e o sofrimento, especialmente quando ele era a fonte!

– O que está dizendo? - questionou John concentrado na pedra.

– Ah! Meu bom amigo! É por isso que ela é única! - andando até a estrada. - Ela foi pega de surpresa! Estava distraída, fumando... Foi apanhada! Oh! É perfeito! Ela caiu e não sabia o que ia acontecer, mas pensou que podia sobreviver... E foi arrastada. O que faria? O que podia fazer? O que você faria?

– Gritaria? - arriscou.

– Não! Não! Ela não grita! - fazendo uma careta. - Ela deixou um rastro! - mostrando a pedrinha.

– Está dizendo que ela sabia que você encontraria a pedra? - surpreso.

– É claro que sabia! - andando em direção a sua esquerda.

John ficou parado e observou. Temeu pela sanidade do detetive, mas teve que apertar os olhos quando o viu se curvar a alguns metro de onde estava. Começou a andar devagar ao encontro dele e antes que percebesse estava correndo. Sherlock exibia uma segunda e uma terceira pedrinhas idênticas na palma da mão.

– Eles foram por aqui!

– Ótimo! - disparou o amigo sinceramente feliz. - E agora?

Sherlock ficou sério de repente e apanhou o telefone. Digitou com rapidez alguma coisa e visitou algumas páginas online! Consultou alguns mapas, voltou a digitar alguma coisa. Continuou com aquele ritual por alguns minutos, enquanto John impaciente andava de um lado para o outro a espera de uma definição.

– Essa estrada não tem nenhuma saída ou retorno, termina fora do parque onde eles só teriam duas opções. Uma delas levaria de volta ao centro. Muito lugares para se esconder. Mas fiz uma busca rápida e descobri algo bastante interessante. - mostrou o visor do celular para John. A imagem mostrava um conjunto de armazéns que pareciam abandonados, pelo estado de conservação.

– E onde fica isso?

– Na direção da outra opção! - informou Sherlock andando através da estrada. - E sabe o que é mais interessante?

– Não sei, mas você vai me dizer... - tentando acompanhar as passadas largas e apressadas do detetive.

– O complexo todo pertence a Gregor Smith!!

– O contrabandista? - retrucou John.

– Exato! - Sherlock parou de súbito. - Acho que aqui está bom...

– Para o quê exatamente? - mal tinha terminado de falar, um carro preto surgiu do parque e estacionou perto deles.

– Mas o quê? - balbuciou o médico aturdido. E então a porta se abriu.

– Vamos! Não temos tempo a perder! - disse um Mycroft muito mais agitado do que John já vira em todos aqueles anos. Sorriu ao pensar que estava errado sobre eles cooperarem um com o outro.

– Algum dos dois avisou Lestrade? - perguntou assim que o carro se pôs em movimento.

– É claro que não! - disse Mycroft no que pareceu um rosnado. - Não pretendo pôr em risco a integridade física da minha irmã!

– Não a chame assim, Mycroft! - sugeriu Sherlock, recebendo um olhar gelado do irmão.

– Não me importa o que os dois pervertidos fazem! Ela é e continuará sendo minha irmã! - enfatizou Mycroft, fazendo Sherlock rolar os olhos e John sorrir. - Um chicote! - sacudindo a cabeça.

– É ela quem gosta de chicotes... - murmurou Sherlock com um meio sorriso.

Tudo continuava sendo fantástico demais na mente de John, mas a imagem de Sherlock empunhando um chicote, de repente, diante daquele sorriso cinico que ele exibia, não pareceu um absurdo tão grande. Agora tinha outra coisa que o preocupava... O que faria quando chegasse ao lugar? Como enfrentariam Gregor Smith? Quantos homens ele podia ter consigo? E mais uma vez o pensamento que não o abandonava: e se não chegasse em tempo?

– Não se preocupe, John... - disse Sherlock de súbito. - É uma vingança pessoal e Smith gosta de testemunhar a dor que causa. Ele vai querer estar frente a frente comigo no instante final...

John não teve certeza se aquilo devia tranquilizá-lo ou deixá-lo ainda mais aflito.


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