- Será que Glimmer têm cérebro? – questiona Clove

Finjo pensar um pouquinho.

- Obviamente não! – digo

Nós ficamos falando mal de Glimmer o dia inteiro, não paramos um segundo sequer. Mesmo sabendo que Peeta não têm culpa pelo que ela fez e nem sabe da ameaça, acabo por ignorar ele o resto do dia e dessa vez ele não me manda uma mensagem perguntando o que aconteceu.

De qualquer modo, o sinal bateu há uns quinze minutos e continuamos falando mal de Glimmer, e não pretendemos parar tão cedo.

Depois de dar risada com um comentário de Clove, eu, Madge e ela saímos para dar uma volta e adivinha? Acabamos por encontrar a vadia... Opa, Glimmer.

- Olha só! Justo de quem eu estava falando! – diz

Reviro os olhos e dou um sorriso cínico.

- Que coincidência! – digo – Também estava falando sobre você.

- Continua mal educada não é? – ela diz fingindo-se decepcionada

- E o que você tem a ver com isso? – digo venenosa

Ela sorri, mostrando os dentes impecavelmente brancos.

- Nada, nada – diz e se vira

Como se lembrasse repentinamente de alguma coisa, ela vira-se de novo para mim.

- Ei Kat, você não deveria estar na detenção? – diz – Peeta tinha me falado pra te avisar, mas sabe, acho que acabei me distraindo e esqueci.

Meu cérebro processa a informação e eu começo a correr para a sala de detenção.

Caramba! Como pude me esquecer? A professora vai me matar! E talvez Peeta também... Como ele pode confiar uma informação assim a ela? Às vezes me pergunto onde está o cérebro das pessoas.

Escancaro a porta e a professora e os outros alunos dentro da sala me olham surpresos.

- Olhe só quem resolveu aparecer! – diz a professora – Sente-se Srta. Everdeen.

Sento-me ao lado de Peeta, que nem olha para mim.

- Como eu estava dizendo, até a Srta. Everdeen me interromper – ela me olha com raiva – Vocês vão cumprir a detenção hoje. Cada ano terá uma tarefa.

Obviamente ficarei com Peeta.

Nós fomos atarefados de limpar o pátio da escola, acho que a maldita professora fez de propósito.

O pátio está um lixo, literalmente. Agradeço aos céus por todos os alunos terem ido embora. Pego um borrifador de água e vou molhando todas as plantas do pátio.

Depois de muito trabalhar em silêncio, resolvo falar com ele.

- Então... – começo – Como foi o dia? Não pudemos nos falar direito.

Ele me olha com um sorriso cínico não habitual estampado no rosto.

- Lembrou que eu existo é? – diz – Não pudemos nos falar ou você me evitou o dia inteiro? Pra variar...

- Eu não...

- Você não o que Katniss? – ele diz com raiva – Às vezes me pergunto qual o seu problema.

Olho incrédula para ele.

- M-meu problema?

- É, por que sempre faz isso? – Peeta cospe as palavras – Nem imagino o que fiz e você já para de falar comigo. Não acha que isso já perdeu a graça?

- Que graça Peeta? – pergunto

- Isso de você ficar me ignorando por motivos inexistentes – ele diz

Sinto a raiva subir e meu rosto fica vermelho.

- Não são inexistentes! – rebato

Ele ri sarcástico.

- Cite um por exemplo. – diz Peeta – De preferência, um que tenha acontecido de verdade.

- Não tenho que dar satisfações a você – digo com raiva

- Que eu saiba deve sim – ele diz indignado – Eu sou seu namorado lembra-se? Ou vai fingir que nada existiu entre nós também?

Argh, por que ele tem que estar sempre certo?

- Não é isso Peeta... – massageio a têmpora

- Então me explica, porque não entendo mais nada – ele diz

- Eu vi você e a Glimmer hoje – digo – Não finja que não aconteceu.

- O que? – ele pergunta – Que ela me abraçou?

- É...

De repente ele começa a rir.

- Foi só por isso? – ele pergunta

- Só? – digo indignada – Ela é uma atirada!

- Ciúmes – ele analisa a palavra como se fosse até... divertida – Toda essa ceninha por causa de ciúmes?

- Ceninha? – repito – Ceninha?! Isso não é ceninha, é sério!

- Katniss, se eu ficasse bravo toda hora que alguém te abraçasse você, ia morrer revoltado – diz ele se aproximando

Sem pensar, dou um passo para trás.

- Problema seu – digo com raiva – Aposto que ela não queria um simples abraço.

Ele ri e dá mais um passo.

- Ah é?

Engulo seco.

- É.

Mais um passo. Agora está a poucos centímetros de mim.

- Então me diga Katniss – ele diz com uma voz sedutora – O que ela queria?

Fecho a cara.

- Pensa um pouco, talvez você encontre a resposta.

Ele dá mais um passo.

- Ela queria... Um beijo? – ele diz perto do meu ouvido

Não respondo.

- Pois acho que ela sabe, que eu só beijo você – ele diz chegando mais perto, se é que isso é possível.

Esse é meu Peeta.

Ele me beija calmamente, e só então percebo que é a primeira vez nessa semana. Não conseguindo ficar brava com ele por mais tempo, entrelaço minhas mãos em seus cabelos, puxando-o mais perto e ele me envolve em seus braços.

Quando o ar faz falta, ele planta um selinho em meus lábios e passa a mão por minha bochecha.

- Achei que tinha deixado isso bem claro, Srta. Everdeen – ele diz

- Deixou sim – sussurro fazendo-o rir

Ele chega mais perto de novo e então percebo que é ele quem está mantendo o controle.

Borrifo água na cara dele.

- Não desta vez, Mellark – e saio rindo

Peeta não deixa barato e me empurra, fazendo com que eu caia na grama.

- Ei – ele diz – Eu tenho direito de beijar você quando quiser.

- Quem te disse? – digo provocando-o

- É o que você demonstra – ele sorri e planta beijos por todo o meu rosto

- E você adora me derrubar não é? – digo rindo

- Amo – ele diz – Assim como amo você.

Ele consegue né? Pra variar, coro.

Depois me ajuda a levantar para acabarmos de limpar o pátio.

Enquanto varremos as folhas do imenso gramado verde, fico pensando no que ele me disse no momento de raiva e sei que ele tem razão. Sei que não tenho o tratado justamente, só não quero que Glimmer faça algo para acabar com o que temos. Nunca senti isso por ninguém antes, é quase como se eu tivesse acabado de sair de um transe e meu coração tivesse voltado a bater. É incrível como em tão pouco tempo ele conseguiu me acordar, me fazer pensar um pouco antes de fazer. Ele têm esse efeito em mim, Peeta me faz bem, me mantém longe de encrenca e consegue me acalmar. Só ele.

Jogo a pequena vassoura no chão e abro os braços.

- Vem cá.

Ele me olha sem entender, mas não nega o abraço.

Ficamos assim por um tempo, apenas abraçados, como se nada pudesse nos separar, e na verdade não pode mesmo.

- Obrigada Peeta – digo ainda abraçada a ele – Obrigada por tudo. Obrigada por me ajudar, obrigada por gostar tanto assim de mim. Obrigada por existir.

Posso perceber um sorriso em sua voz quando ele fala:

- Estarei aqui ta legal? Sempre.

Quando ele me solta, entrelaça nossas mãos e vamos até a sala da diretora, pedindo permissão para sair, pois acabamos de cumprir a detenção.

- Vocês podem ajudar seus colegas a arrumar a biblioteca não? – diz Coin – Ainda não acabou o tempo...

Assim que saímos da sala bufo irritada.

- Maldita Glimmer – resmungo – Idiota, idiota, idiota! Se não fosse por ela poderíamos estar na sua casa agora.

- Acho ela meio bipolar, se você quer saber – disse ele me abraçando – Vamos Kat, biblioteca.

Vamos para lá e encontramos vários companheiros de detenção, alguns bufando irritados e jogando livros nas estantes com agressividade, outros até animados e conversando com a bibliotecária, que é uma tiazinha que não gosta mesmo de barulho. E tem os avulsos, que babam em cima das mesas e roncam alto.

Eu e Peeta nos dirigimos a uma das inúmeras estantes repletas de livros, pegando, limpando e devolvendo as prateleiras.

Nós começamos a conversar e acabamos rindo um pouco alto demais, fazendo com que a bibliotecária chegue inesperadamente, nos dando um susto.

- Shhhhhhhhh – ela coloca o dedo sobre os lábios – Fiquem quietos!

Ela sai e nós rimos mais ainda.

Depois de um tempo, meu braço e minhas pernas começam a doer e resolvo sentar no chão e limpar a estante de baixo.

Acho vários livros com capas interessantes e começo a ler o primeiro capitulo. Peeta foi procurar outro pano, pois o dele está preto, então separo uma pequena e discreta pilha de livros embaixo da estante.

Estou lendo um livro sobre uma garota meio depressiva quando Peeta me surpreende.

- Você está... lendo? – ele pergunta surpreso e começa a rir

- Qual o problema? – fecho a cara

- Nenhum – diz ele se sentando ao meu lado – Nenhum mesmo.

Ele fica sorrindo igual a um bobo pra mim.

- Que foi?

- Nada – diz ele – Estou só admirando a paisagem.

- Jura? Essa é sua melhor cantada? – digo rindo – Vai ter que melhorar isso aí ein...

- Claro que não – Peeta se defende indignado – To pensando em tirar uma foto e mostrar pra todo mundo “Katniss Everdeen, ela sabe ler.”

Dou-lhe um tapa e ele começa a rir.

- Mas fala a verdade – diz Peeta – Você prefere eu lendo pra você né?

- Claro – digo sincera – É bem melhor.

- Quer que eu leia pra você? – diz ele obviamente brincando

Digo sem hesitar:

- Quero.

Ele me olha surpreso e encosta na estante, pega um dos livros da pilha e eu deito em seu ombro.

Lá vamos nós de novo.