Eu estou segura, eu estou segura, eu estou segura...

Respirei fundo recitando várias vezes.

O vento batia em meu rosto me causando arrepios. Eu temia olhar para baixo, pois podia entrar em algum tipo de colapso-nervoso. Prendi minhas mãos ainda mais no pêlo do Pégasos, ele estremeceu um pouco.

Apertei os olhos, mas parecia não funcionar. Tentei abrí-los, mas era quase impossível não olhar para baixo naquela altura. Respirei fundo novamente para não desmaiar. Uma corrente gelada percorreu o meu corpo inteiro.

— Já chegamos? — Falei fechando os olhos novamente com força.

— Estamos quase. — Disse uma das caçadoras, não consegui identificar a voz pois o medo estava gritando dentro de mim.

Estavamos indo para o acampamento, idéia de Ártemis, nos dar férias no acampamento meio-sangue. Até que seria bom, nos últimos mêses fizemos uma viagem cansativa. Mas só algumas que queriam ter férias vieram, ou seja só vieram Dianne, Megan, Ellie e Suzanne.

Mas o problema, é que estavamos indo de pégasos, e eu tenho um tipo de fobia por altura — sim e eu sou filha de Zeus, e você deve estar se perguntando o quão estranho é isso —.

A força do vento já estava cessando aos poucos, fazendo o frio na barriga diminuir.

— Chegamos! - Disse Ellie, uma das caçadoras.

Ouvi batidas de pé no chão, já deviamos ter chegado mesmo, não seria nenhuma pegadinha. Abri os olhos devagar.

— Você está tão branca, pensei que já estaria no tártaro. — Zombou Megan, a única das caçadoras que não ia muito com a minha cara.

Dei uma risada irônica. Desci do meu pégaso, pousando meus pés no chão.

Olhei ao redor, o Acampamento Meio-Sangue, ou melhor, minha antiga casa. Já estava de noite, hora do jantar. O pavilhão estava lotado, e barulhento pois essa era a hora que os filhos de Hermes amavam fazer uma boa guerra de comida.

Caminhamos até o pavilhão, e estava muito barulhento mesmo. Barulho de pratos quebrando, você podia ver até comidas voarem pelo refeitório inteiro. Chegamos na porta e Megan já foi bem recebida com um pedaço de pizza na cara.

Comecei a gargalhar muito alto. Dianne me olhou confusa.

Apontei para Megan, e Dianne entendeu a mensagem, começou a gargalhar também. E derrepente todas as caçadoras estavam rindo da cara de Megan.

Megan bufou, virou passando em empurrões indo em direção ao chalé 8. Fazendo as caçadoras ficarem em silêncio.

— Ela vai ficar bem, relaxem. — Múrmurei adentrando o pavilhão.

O pavilhão estava já em silêncio, Quíron estava no centro e sua expressão não era lá daquelas mais felizes. Mas quando ele percebeu que nós estavamos na porta, sua expressão mudou abrindo um sorriso.

— Bem vindas. — Disse Quíron.

Assenti, indo em direção a mesa de Ártemis. Sentei na ponta, e Dianne sentou ao meu lado.

Dianne era o tipo de amiga que você podia confiar, no meio dessa caçada inteira pelo menos, ela era a única que eu confiava mesmo. Os cabelos cor de chocolate estavam presos em uma trança desarumada, seus olhos da mesma cor pareciam estar concentrados em algum ponto no pavilhão.

— Dianne? — murmurei.

— Hum? — respondeu sem ao menos me olhar.

— Para onde está olhando? — Ela voltou a atenção para mim rapidamente.

— Hã? O quê? Nada, não to fazendo nada. — Falou sem jeito.

Ela murmurou algo, mas ela falou tão rápido e tão baixo que eu não consegui ouvir.

— Sabe esses bolinhos que os filhos de Hermes estão dando para alguns campistas? — Perguntou Dianne, parecia uma tentativa para mudar de assunto.

Olhei para Connor, ele estava distribuíndo um bolinho que possuía a cor rosa, para uma filha de Afrodite que aparentava ter menos de 10 anos.

Assenti.

— Então, nunca aceite um desses. — murmurou. — Eles são de areia.

Arqueei uma sombrancelha.

— Como você sabe? — Perguntei.

— Esqueceu que eu sou filha de Hermes? — Ela revirou os olhos.

Comecei a rir, coitada da filha de Afrodite.

— Deve ser uma delicia esses bolinhos. — Comentei.

Ela assentiu e riu divertida.

Olhei o pavilhão inteiro, primeiramente a mesa de Poseidon. Percy estava sorrindo para Annabeth, que estava lendo um livro, não consegui ler o título por conta da minha dislexía, provavelmente era de arquitetura.

Parei a minha atenção em uma mesa, a mesa de Hades, um garoto estava sentado lá. Eu nunca via ninguém sentado naquela mesa, porque os filhos de Hades preferiam ficar no mundo inferior do que no Acampamento, pois consideravam-se "não muito bem vindos". O garoto tinha os cabelos negros meio bagunçados, era extremamente pálido, usava uma camiseta da banda Nirvana, aparentava ter 16 anos. Estava usando fones de ouvido, fitando o céu entediado.

— Quem é aquele garoto? — Perguntei apontando discretamente.

Ela me olhou e começou a rir.

— O quê foi? — Resmunguei.

— Sério que você não sabe quem é? — Ela disse entre risos.

Olhei séria para ela, e ela parou de rir.

— Você conhece ele! Até ajudou a trazê-lo para o acampamento. Esse é Nico Di Ângelo, filho de Hades.

Olhei assustada para ela, e depois voltei a olhar para o garoto.

Se eu tivesse olhado com mais atenção, eu poderia notar os traços de Nico Di Ângelo. Aquele garotinho de 7 anos que discutia o tempo inteiro sobre mitomagia, havia virado um garoto totalmente diferente.

Sai do transe, voltando a atenção para Dianne. Ela sorria maliciosa.

— Cara, não acredito que você pensou isso. — Bufei. — Eu só perguntei quem ele era, ele mudou e ficou irreconhecível.

— Mudou para melhor. — Ela murmurou e riu baixinho.

Com certeza se alguém chegar e conversar com Dianne, a última coisa que vão pensar é que ela pode ser uma caçadora de Ártemis.

Ficamos em silêncio por alguns segundos.

— Não vai comer nada? — Perguntei, realmente eu queria falar algo para mudar de assunto.

Dianne se ajeitou no banco.

— Não, eu comi muita paçoca... e agora estou sem fome.

Dianne tinha um tipo de paixão por paçoca, parecia até doentio. Eu sempre a via ela com um pacote de paçocas. Se você queria deixá-la extremamente irritada, tente roubar seu pacote de paçocas. Acredite, já tinha vi isso acontecer, e não foi nada agradável.

O horário do jantar finalmente tinha acabado, eu estava cansada. Queria chegar tomar um banho quente e me jogar na cama. Levantei, sem me preocupar em fazer oferenda, pois eu não tinha comido nada por falta de fome.

— Hey Thalia! — Chamou Dianne.

Virei-me para ela.

— Vai dormir no chalé de Zeus? — Perguntou.

— Provavelmente.

Ela assentiu.

— Ok então, até amanhã.

Acenei para ela e me virei, indo em direção ao chalé 1. Estava escuro, e meio que impossível de enchergar bem, pois já era de noite. Corri para chegar logo, eu estava quase morrendo para entrar no chuveiro e ficar por horas.

Derrepente esbarrei em alguém, mas com tanta força que caí no chão. E pelo o que eu vi, a pessoa também estava no chão.

— Ai! — murmurei. — Olha por onde anda!

Pelo o que eu notei, era uma garota. Ela pegou algo na mão, e ligou. Uma lanterna, e mirou a lanterna na minha cara, causando cegueira.

Levei as mãos rápidamente até os olhos.

— Para com isso! — Gritei irritada.

— Ah, é só você. — Ela bufou. — Só podia ser a desajeitada de Zeus.

Eu reconhecia aquela voz, era irritante. Só podia ser Drew, filha de Afrodite. Eu já não ia muito com a cara de filhas de Afrodite, imagina com uma patricinha, fútil, metida a rainha.

— Cale a boca! — Resmunguei, me levantei batendo de leve com as mãos na roupa para tirar a poeira.

Ela levantou, fazendo o mesmo. Logo voltou a atenção para mim.

— Ok, agora saia da minha frente. — Ela fez um gesto com a mão para que eu fosse para o lado. — Tenho que encontrar um amiguinho que nunca vem aqui.

Bufei. Será que essa projeto pink estava falando de Nico?

— Ai está você! — Ela ficou nas pontas dos pés e olhou por cima do meu ombro.

Olhei para trás e lá estava ele, Nico Di Ângelo. Ele permaneceu em silêncio, tirou os fones do ouvido e parou esperando que Drew falasse mais algo.

Ela passou por mim dando um empurrão de propósito, parando na frente de Nico.

— Eu estava indo lá falar com você. — Ela disse abrindo um sorriso, logo olhando com cara de desgosto para mim. — Se essa desajeitada filha de Zeus, não tivesse esbarrado em mim.

Nico me analisou e por fim sorriu torto, e logo voltou a olhar de volta para Drew.

— O quê você quer Drew? — Perguntou com indiferença. Pude ouvir sua voz pela primeira vez depois de anos, estava bem mais grave.

Ela riu sem graça.

— Como assim o quê você quer? — Disse Drew desentendida. — Eu já disse que vim até aqui para falar com você, não precisa ser estúpido.

Nico revirou os olhos.

— Desculpe Drew, mas o tipo vadia não faz o meu gosto. — Ele disse tentando fazer uma expressão de desapontado.

Drew ficou sem reação, apenas tamborilava os dedos freneticamente na cintura.

Comecei a rir sem parar, não sei porque mas ver aquele "Projeto Pink" levar um corte desse, me fez ganhar o dia.

Respirei fundo, pois eu ri até ficar sem ar. Mas voltei a rir só que agora menos exagerado.

— Agora dois campistas não gostam de você. — Falei entre risos. — Ei, espera... quem gosta de você?

Drew virou a cara para mim e me fuzilou com os olhos furiosa. Juro que me assustei pelo o jeito que ela olhou para mim, nunca tinha visto Drew assim. O que me fez voltar a escandalizar o meu riso.

Ela abriu a boca várias vezes para falar algo, mas respondeu apenas com um grito raivoso, igual uma menina mimada. Saiu pisando fundo indo para o chalé de Afrodite.

"Ai meu Zeus, tomara que eu não acorde toda maqueada" — Pensei comigo mesma.

Comecei a rir novamente, até ficar sem ar.

Quando voltei ao mundo, percebi que Nico estava me fitando confuso, como se eu fosse uma louca que acabou de ser expulsa do hospício.

— Confesso que eu fiquei com medo de você por alguns segundos. — Ele disse dando um sorriso. — Pretendo não acordar com maquiagem amanhã, mas provávelmente você não escapa Thalia. — Ele deu ênfase no "Thalia".

Retribui o sorriso divertida.

— Você lembra de mim... — Fiz uma careta. — que legal.
Ele me olhou confuso, mas logo mudou a expressão e sorriu novamente.

— Foi bom te rever Thalia. — Ele falou. — Espero nos vermos novamente.

Senti o meu rosto queimar. Assenti e entrei rápidamente no chalé 1.

Eu corei, por um garoto, isso não é normal. Eu sou uma caçadora, e garotos estão totalmente fora de cogitação.

Balancei a cabeça numa tentativa de afastar os pensamentos.

Fui até a minha antiga mochila, onde eu guardava minhas roupas. Ela estava onde eu tinha deixado-a, no canto do chalé. Peguei meu pijama que não era realmente um pijama, era uma camiseta gigante com um short confortável.

Entrei no banheiro trancando a porta, já ligando o chuveiro. Tirei minhas roupas, me enfiando debaixo do chuveiro. Pretendia ficar lá por umas 2 horas, a água me fazia relaxar, e era disso que eu precisava.

Sai do chuveiro, me sequei e coloquei as minhas roupas. Eu me sentia leve, e estava quase morrendo de sono. Penteei meus cabelos e escovei os dentes. Quando terminei, sai do banheiro e me joguei na cama.

Bocejei e cai no sono.

Tive um sonho, não consegui distingüir se esse sonho tornaria pesadelo, ou apenas era só um sonho.

Era Ártemis, ela estava em um lugar escuro. Parecia no meio de uma floresta, pois o vento açoitava as folhas das árvores.

Ela estava em sua forma de garota de 12 anos, os cabelos castanhos estavam em uma trança caída no ombro. Com uma tíara grega feita de folhas douradas, que combinava com a sua pele de porcelana.

Quíron saiu do meio das árvores. Ártemis percebeu a sua presença, e apenas pigarreou.

— Lady Ártemis. — Ele se curvou diante a ela.

Ela sorriu rapidamente, mas logo voltou a ficar sem expressão.

— Quero falar sobre Thalia, e pedir sua opinião. — Ela falou sem jeito.

— Você deveria deixá-la ir... — Disse pensativo. —... mesmo sendo uma de suas melhores caçadoras, a vida dela está em jogo.

Ártemis não hesitou, apenas seu rosto expressava insatisfação.