- Giu, acorde. A aula já acabou. – Anna tentava me acorda. Eu nem percebi que estava dormindo até que ela começou a me cutucar. Ela sabe que eu odeio isso.

- Já acordei, pare de me cutucar antes que eu arranque seu dedo fora. – Anna parou no mesmo segundo. Ela sabe que eu sou capaz disso.

- Okay, okay. Você escutou o que eu falei? Sobre o Sam, ele me chamou para sair e... – Anna voltou a tagarelar sobre o seu novo “ficante”. Sinceramente, eu espero que ela tenha algum futuro. Sam era considerado um dos garotos mais problemáticos daquele lugar. Se eu e a minha maravilhosa vizinha não estivéssemos na lista.

- É Anna, isso é ótimo. Já escolheu sua roupa? – Eu perguntei tentando fingir um pequeno interesse em sua conversa.

- Claro que sim. Será o vestido vermelho e o... - O vermelho? – Eu a interrompi.

- Sim. Por quê?

- Você sabe que eu acho aquele vestido horrível.

- Por que você não gosta da cor vermelha. Mas o modelo é lindo.

“Como se o Sam fosse reparar no vestido.” Eu pensei, mas nunca diria isso a ela. – Okay. Faça como quiser. Mas se eu fosse você não usaria o vestido vermelho e sim aquele seu vestido azul.

- Hum... – Anna pareceu refletir por um momento. – Okay então, usarei o azul.

- Isso! – Eu disse quando percebi que já havíamos chegado em nossa “casa”. Nossa escola não era muito longe, afinal, ficava na mesma Rua 35. Era o colégio indicado para todos os moradores da nossa rua. Eles não queriam que os alunos normais e os alunos da nossa rua se misturassem. Uma perda de tempo, em minha opinião. Nossa rua mais parecia uma pequena cidade. Temos lojas, um colégio, casas, praças, uma faculdade e até um parque. Era divertida durante o dia, e durante a noite também se você pensa como eu.

- Yay Giu. Annabell, como está querida? – Minha maravilhosa vizinha perguntou. Ela se chama Micki, tem um cabelo loiro curto e olhos azuis, além de ser magra. Maldita genética que não me ajudou em nada.

- Oi Micki. Eu estou bem e você? – Annabell respondeu. Ela simpatizava muito com a minha vizinha.

- Eu estou ótima, como pode ver. – E foi ai que eu notei: Micki estava com uma roupa de jardinagem e segurava uma pá em sua mão direita. Um buraco enorme – e profundo - se estendia a sua frente e atras dela se podia ver alguma coisa embrulhada em um saco preto.

- Já está desse jeito tão cedo Micki? – Perguntei apontando para o saco preto atras dela.

- Eles que me seguem, você sabe, Giu. Não tenho culpa. – Micki respondeu dando de ombros.

- Sim, eu sei. Mas qualquer dia desses não terá mais espaço no seu jardim.

- Então começarei a enterra-los no SEU jardim Giu.

- Hey, porque não os joga na desova? Não seria mais fácil? – Anna perguntou. Tão ingênua.

- Seria. Mas eles viriam atras de mim.

- E isso não seria legal. – Falei fazendo um sinal de não com a cabeça.

- Exatamente. Agora, se me dão licença tenho que me livrar disso aqui. – Micki falou apontando para o saco.

- Okay. – Anna e eu dissemos ao mesmo tempo e depois nos afastamos em direção a minha casa

         Micki morava naquela casa desde que eu me mudei para a Rua 35. Nós – eu e Annabell – achávamos que ela era um tipo de vampira psicopata ou coisa parecida. Não sei o que levou ela a ter que morar na “35”, mas tenho dúvidas de que seja a pequena compulsão por matar. Quase todo dia você pode ver a minha querida vizinha enterrando algum saco preto em seu jardim.

Micki era uma das poucas pessoas na Rua 35 que podiam ir e vir por todos os bairros de nossa cidade. Quase sempre quando ela sai algum estranho a segue até a nossa rua, ela o convida para entrar em sua casa e no outro dia só um saco preto sai de lá. Ela nunca quis me dizer o que acontece lá dentro, e tenho dúvidas se quero ou não saber. De loucura já basta a minha.