Justin’s P.O.V.

– Caralho – comprimi os olhos para ter certeza de que o que eu estava vendo não era uma alucinação – Ana? – perguntei mais para mim mesmo, até porque ela não coseguiria ouvir.

De repente nossos olhares se encontraram em meio à multidão. Sua feição tornou-se assustada ao me ver, provavelmente pensando igualmente a mim, se sua visão não era apenas miragem. Pisquei os olhos, e no mesmo segundo eu pude vê-la sair correndo de onde estava.

– Olha, eu volto já, ok? – disse para a morena do meu lado. Ela bufou e se virou, indo em direção ao bar. Não perdi tempo e fui correndo atrás de Ana.

Atravessei aquela boate inteira, esbarrando em todos e murmurando um ‘foi mal’ apressado. Depois de muitos esbarrões e pessoas desconhecidas me xingando, finalmente achei a saída de emergência da boate, por onde saí.

A porta dava em um beco mal iluminado por onde eu segui caminhando um pouco receoso. Mas eu precisava ir. Precisava saber se aquela garota na boate era realmente quem eu esperava que fosse.

Fui andando lentamente pelo caminho, observando em todos os cantos para ver se eu a encontrava. Para o meu azar, só o que havia eram algumas garrafas de cerveja quebradas no chão, provavelmente resquícios de algum bêbado revoltado.

Depois de uns dois minutos caminhando, finalmente escutei um barulho vindo de um pouco mais à frente, um barulho muito parecido com o de choro. Corri um pouco e finalmente achei uma garota sentada no chão segurando os joelhos contra seu corpo. Ela tinha a cabeça baixa e seus longos fios castanhos não me deixavam ver seu rosto.

A garota soluçava muito, e aproximava cada vez mais seus joelhos contra o corpo, como se eles fosse uma forma de proteção. Aproximei-me dela e toquei seu ombro, fazendo-a levantar sua cabeça rapidamente.

Suas orbes azuis como o mar encontraram as minhas. Mesmo com a maquiagem borrada a garota na minha frente continuava linda, mais linda do que nunca.

– Tess? – sussurrei com a voz falha, acariciando sua bochecha com as costas da mão – Tess, é você?

A garota não disse nada, apenas tirou bruscamente minha mão de seu rosto e levantou apressadamente, passando as mãos pelos olhos numa tentativa de limpar as lágrimas que caiam soltas de seus olhos, como se fossem cachoeiras.

– Não – ela sussurrou e deu um passo para trás – Sai daqui, por favor – ela disse e fechou os olhos fazendo uma expressão indescritível, como se aquilo fosse algum tipo de tortura para ela.

– Tess, é você? – repeti a pergunta e dei um passo para frente, fazendo-a recuar um para trás – Por favor, me responda.

– Não! - ela disse e saiu correndo em direção à boate.

Fiquei parado apenas olhando para o nada. A ficha ainda não havia caído. Não podia acreditar que, mesmo por alguns poucos segundos, minha Ana estava de volta.

Fechei os olhos e por alguns minutos desejei voltar. Voltar pra época em que eu era apenas um garotinho pobre, que morava em uma cidade com pouco mais que trinta mil habitantes, e que era apaixonado pela sua melhor amiga. Flashbacks dos nossos momentos juntos rondavam minha cabeça, e lembrando deles eu queria cada vez mais voltar no tempo.

Flashback on

– Hey Jay - Tess me chamou enquanto eu tentava decorar a tabela periódica para a maldita prova de Química do dia seguinte.

Me virei em direção à ela e logo senti uma luz forte praticamente me cegar. Fechei os olhos como instinto e, quando finalmente pude abri-los, pude ver Ana sorrindo e olhando para a câmera fotográfica em suas mãos.

– Ah não Tess - disse e tentei pegar a câmera de suas mãos - Apaga isso, por favor.

– Nem vem Jay - ela disse e se levantou da cadeira, indo em direção à mesinha que ficava do lado esquerdo da sua cama - Ficou lindo, não vou apagar! - disse e guardou a câmera na primeira gaveta da mesinha.

– Ah é? - levantei e fui andando calmamente até ela - Sabe o que vai acontecer agora? - perguntei e toquei calmamente sua cintura.

– Ah não Justin - disse já prevendo o que eu iria fazer - Por favor, eu imploro.

Balancei a cabeça negando e fiz 'tsc tsc', me aproximando mais ainda.

– Cócegas! - praticamente gritei e empurrei Ana na cama, fazendo cócegas em sua cintura, enquanto ela se contorcia de tanto rir.

Seu sorriso era lindo. Se duvidar, iluminaria uma cidade inteirinha. Parei de fazer cócegas e fiquei admirando-a. Tão pequena. Tão linda. Tão minha.

– O que houve? - ela perguntou desfazendo o sorriso. Não respondi nada, apenas toquei sua bochecha levemente, e fui me aproximando mais.

Tess fechou os olhos e eu, sem demora, fechei os meus também. Nossos lábios se tocaram, e durante alguns segundos, fiquei apenas sentindo o gosto doce dos seus. Comecei a movimentar minha boca lentamente, finalmente dando início a um beijo de verdade. Nossos lábios se moviam em uma perfeita sincronia, e se encaixavam como se fossem realmente moldados especialmente um para o outro. O beijo era calmo, e tinha um misto de desejo com amor. Muito amor.

Não sei quanto tempo o beijo durou, mas, apenas devido à falta de ar, encerrei-o com alguns selinhos. Colei minha testa na sua, e ainda de olhos fechados, sorri.

– Te amo Justin - ela disse e eu sorri mais ainda.

– Te amo mais Tessália.

Flashback off

Memórias desses tempos me atormentavam. Parei por um segundo e me perguntei quando foi que eu me tornei esse grandíssimo filho da puta. Quando eu arrisquei deixar o amor da minha vida pra trás, para seguir um caminho incerto? Talvez.

Dizem que não se pode trocar o certo pelo duvidoso. Quer dizer, se toda essa história de virar cantor não desse certo? Eu teria a perdido – o que realmente aconteceu – e ainda teria acabado com meu sonho.

Sem que eu percebesse, pequenos filetes de lágrimas começaram a brotar dos meus olhos, e cada vez mais eu me praguejava por ter deixado minha Ana.

Meu celular começou a vibrar no bolso, o que me fez voltar à realidade e atende-lo logo.

– Alô?

– JJ? Cara, você tá aonde?

– Ryan? – perguntei ainda meio atordoado.

– Claro né – disse e deu uma risadinha – Temos que ir, Scooter já me ligou, e ele está uma fera.

– Porra Ryan, eu disse para avisá-lo! – disse.

– Calma cara, já era.

– Ok, tô indo para o bar, me encontra lá – disse e desliguei na sua cara.

Limpei qualquer resquício de lágrima que houvesse no meu rosto, e guardei meu celular novamente, entrando na boate e indo até o bar.

Cheguei ao bar e logo avistei Ryan vindo com a mesma mulher de vestido vermelho. Ela deu um selinho nele, e logo lhe entregou um papel, provavelmente com seu número escrito.

– Vamos logo Ryan – disse e dei as costas, indo até a saída da boate.

A noite ia ser longa. Provavelmente eu iria escutar mais um sermão do Scooter sobre responsabilidade, e outro da Dona Pattie, por ter bebido. Mas quer saber? Foda-se! Já está tudo uma merda mesmo.