- Jessie Maríe Hale, não começa! – meu pai gritou, dando uns soquinhos leves na minha porta.

Era incrível, ele sabia que eu odiava quando ele fazia isso. Abri a porta pra dizer a respeito, mas ele foi entrando, se sentando na minha cama.

- Eu sabia que você ia abrir a porta pra discutir comigo. – ele disse com um sorriso sarcástico. – Eu sei que você odeia quando eu digo “Jessie Maríe Hale”. – ele zombou de mim, e contei até 3 pra não falar besteiras.

Não falei nada. Apenas cruzei meus braços esperando que ele dissesse algo a respeito de ontem à noite.

- Vai, diga. Diga o que aconteceu que você não veio dormir em casa. – eu disse ainda o encarando, trocando meu peso para o pé direito.

- Jessie, eu já disse que não preciso te dizer nada a respeito disso. A vida é minha. – meu pai disse parecendo uma criancinha boba.

- Ah, jura? E eu sou o quê? – eu disse descruzando meus braços, fazendo com que eles caíssem sobre minhas pernas fazendo um barulho estalado. – Pai, por que você complica tudo? A gente não é uma família? A gente- - eu havia começado mas fui interrompida por um barulho irritante do meu celular.

Caminhei até a minha bolsa, a abrindo e pegando o celular com raiva e nem vi quem era no visor. Apenas atendi com um “alô” mal-humorado.

- Jess? É... Eu... Eu preciso falar com você. – uma voz conhecida disse. – Eu não te acordei, acordei? – a pessoa do outro lado perguntou.

- Me desculpa? – perguntei meio rude.

- É o Justin. – Justin disse gentilmente, e parecia meio inseguro. Meus olhos se arregalaram, e senti um choque percorrer meu corpo inteiro.

- Ah, oi, J-Justin. – gaguejei ao pronunciar seu nome.

- Jessie... Tá tudo bem? – ele perguntou como se fosse me aliviar.

- Tô ótima. – menti.

- Você não tá bem. – ele disse mais seguro, dessa vez, com uma voz firme que ecoava em meus ouvidos, gentilmente. – Me desculpa pelo que eu fiz.

- O quê? Você não fez nada. – menti, tentando apagar tudo aquilo com uma risadinha totalmente estúpida.

- Jess, para com isso. Você sabe do que eu tô falando. – ele disse deixando um silêncio, e me fazendo apavorar. Eu só gritava dentro da minha cabeça “acaba logo com isso por favor”. – Eu nunca quis fazer algo que você não correspondesse. Me desculpa, tá?

Eu fiquei alguns minutos sem saber o que fazer.

- Jessie? Jessie? Você tá me ouvindo? – Justin repetia.

Eu só coloquei meu celular na mesa, sem desligar a chamada, e fiquei olhando pra um ponto fixo da sala. Era difícil. Não sei, estava tudo confuso. Não sabia o que estava acontecendo comigo naquele momento, naqueles dias. A mudança fez minha cabeça, meu mundo girar de ponta cabeça. Quero dizer... Justin tinha me beijado, mas não foi nada pra ele? Foi nele quem eu tinha pensado o dia inteiro, e pra ele não foi nada mais que um beijo? Não que eu tivesse correspondido... Ou talvez.

A partir daquele momento, eu não sabia mais de nada. Não sabia quem era meu pai mais, não sabia quem era eu mesma. E era por isso que agora, não mais, estava com vontade de permanecer em Stratford. Por mais que Stratford me lembre de coisas boas, me traz coisas ruins também. E eu não queria isso.

- Jessie? – meu pai veio atrás de mim, segurando a porta.

Não respondi, continuei olhando para aquele ponto da sala, sem piscar nenhuma vez.

- Fala comigo.

Apenas caminhei lentamente até o meu quarto, e fechei a porta. Sentei na cama e me pus a chorar. Mas... Eu não sabia o motivo.

Eu só senti meu rosto esquentar e comecei a chorar. Não era possível que eu estava chorando por causa do meu pai, ou até mesmo de... Justin?

Ouvi a porta se abrindo. Corri até o banheiro e fechei a porta. Eu não queria que o meu pai me visse como se eu fosse uma retardada chorona.

- Jess? – uma voz extremamente reconhecível perguntou. – Deixa eu falar com você.

Justin. Justin Bieber.

- O – comecei suspirando, com a voz falha por causa do choro – o que você tá fazendo aqui? – perguntei com uma lágrima escorrendo pela minha face, e minhas palmas apoiadas na pia do banheiro.

- Abre a porta. – senti ele se apoiar na porta, e o quarto vibrar.

- Pra quê?

- Por favor... Eu só quero falar com você. – ele girou a maçaneta e eu rezei que estivesse trancado a porta. – Jessie – ele entrou meio envergonhado com as mãos dentro dos bolsos de sua calça jeans.

- Quem te deixou entrar? – perguntei rude, mas minha voz ainda estava falhando.

- Seu pai. Ele... Ele achou melhor que eu conversasse com você, mas... – ele pausou pegando a minha mão, se ajoelhando e limpando uma lágrima do meu rosto. – Ei, princesa, olha pra mim.

- Me solta Justin. – dei um tapa na sua mão. – Eu não significo nada pra você, né? Eu não sei porque eu voltei pra essa cidade. – e de repente, eu falei tudo aquilo sem perceber. Juntei as duas palmas das minhas mãos e as levei para a minha boca, percebendo meu ato.

- E, então, é isso o que você pensa sobre mim? – Justin continuou ajoelhado para ter uma visão do meu rosto melhor, mas sem encostar em mim. – Jessie... Eu sou seu melhor amigo.

- E você por acaso beija suas melhores amigas e depois não significa nada? – repeti a mesma bobagem que havia feito anteriormente e tive vontade de morrer ali. Por que diabos eu fui dizer uma coisa dessas?!

Por um momento Justin pareceu espantado com a minha sinceridade, ou talvez... Não sei. Ele me olhou com uns olhos arregalados, e depois sorriu de canto.

- Eu... Eu pensei que não tivesse significado nada pra você. Mas, parece que não. – ele sorriu.

- Mas, mas, não significou. – tentei me corrigir – Quero dizer, eu... – tentei me explicar quando uma coisa quente encostou aos meus lábios, me fazendo corar.

Justin segurou meu queixo, e seus lábios macios roçavam contra os meus.

Meus sentimentos começaram a ficar mais confusos ainda, e eu tive a sensação que eu era uma louca que havia acabado de sair de um manicômio.