Agora todos os alunos do segundo ano estão parados no corredor esperando seus nomes serem chamados para se apresentarem dentro do teatro. André e Cat já fizeram o teste, e Beck está lá dentro. Provavelmente interpretando uma cena do seu filme ou livro favorito. Cat e Robbie não param de se beijar e sussurrar coisas românticas um para o outro. ARGH! Tori está gritando com a Trina pelo telefone, e eu te juro, a voz dela está me deixando com dor de cabeça.

Eu e André estamos parados, tentando entender o silêncio constrangedor que se formou entre a gente. De vez em quando, nossos olhares se encontram e nós damos uma risadinha, mas por enquanto é só isso.

-Parece que a gente sobrou né? –André pergunta, meio sem graça.

-É... –Falo, tentando encurtar ao máximo essa conversa.

-Jade... O que aconteceu depois que eu e Cat fomos embora da sua casa ontem? –Ele titubeia um pouco.

-Eu preciso mesmo responder? –Arqueio uma sobrancelha. Acho que ele entendeu o que eu quis dizer.

-Ah cara... –André fala. Nesse momento, Beck empurra as largas portas de saída do teatro.

Ele anda até ficar ao meu lado. Ele passa seu braço pela minha cintura e deposita um beijo na minha testa.

-Como foi? –Pergunto, olhando em seus olhos.

-Foi bom... –Beck é interrompido pela voz do diretor.

-Jade West! –O diretor grita.

-Boa sorte! –Cat, Beck e André falam em uníssono.

Dou um selinho em Beck. Isso sim vai me desejar boa sorte. Caminho lentamente até as portas, segura de que vou dar o melhor de mim. Ao entrar no teatro, percebo que em frente ao palco, sentados em uma mesa comprida, estão no mínimo dez pessoas. Isso me dá um frio na barriga.

Entro no palco e olho as pessoas. Uma em especial me chamou a atenção. É um garoto. Não dou para ele mais que vinte anos. Loiro, dos olhos verdes. O que será que ele faz aqui? O diretor acabou de sentar em uma das cadeiras da plateia. Respiro fundo. Vamos lá.

-Você é?! –Um homem grisalho pergunta.

-Jade West. –Respondo, agradecendo mentalmente a Deus pela minha voz não ter falhado.

-O que você sabe fazer? –Outra pergunta.

O que eu sei fazer? Dançar, atuar, cantar, escrever... Tem mais alguma coisa? Lembro a mim mesma de que o senhor grisalho precisa de uma resposta.

-Eu canto, atuo e danço. Já escrevi algumas peças, mas apenas uma foi montada. –Falo, desejando ter ocultado a parte de que apenas uma foi montada. Ele pode achar que eu não tenho potencial para escrever roteiros bons.

-Porque não canta uma música para a gente? –Com “a gente” ele quis dizer todas as outras pessoas que estão na mesa, me encarando.

-Ok! –Que música vou cantar? AH MEU DEUS, por dentro eu estou completamente indecisa.

Acabo por cantar uma música que não exige muito da minha potencia vocal. Eu escolhi Wide Awake –Katy Perry. Consegui alcançar as notas mais altas sem nenhuma dificuldade. Depois que acabo, recebo uma salva de palmas. Até o diretor do colégio está aplaudindo.

-Bom, Jade West. Esse é Logan. –O homem grisalho cujo nome eu ainda não sei, apontou para o garoto loiro. –Ele vai fazer o papel principal na peça. Você se importaria de fazer uma cena com ele?

-Claro que não. –Me apoio nos calcanhares.

Logan sobe ao palco e se posiciona ao meu lado. Ele me dá um script de uma cena da peça. Vejo o homem grisalho assentir para Logan e ele começa a interpretação.

Até que foi fácil contracenar com ele. Ele é um excelente ator. Agora estou saindo do teatro, rezando para que eu não seja a principal. Vai ser bem difícil manter o foco na peça, tendo como par o Logan. O corredor continua cheio, mas não acho Beck em lugar algum. Onde será que ele está? Vou até o meu grupo rotineiro.

-Jadeyyyyyyyyyyyy, como foi o seu teste? –Cat pergunta com certa animação.

-Foi bom, eu acho. –Ainda procuro Beck em meio à multidão de pessoas.

-Hm, ta procurando o Beck? –Tori fala. –Ele foi ao banheiro.

-Ok. –Saio apressada dali. Quero achar Beck logo. Preciso dele comigo.

Ele foi ao banheiro. Mas que banheiro? Existem vários banheiros nessa escola. Fico até surpresa pelo fato de não ter ninguém na escola. Os corredores e salas estão completamente vazios. Como é que eu vou achar o Beck no meio dessa escola? Acho melhor eu desistir, acho melhor eu...

Achei o Beck. E ele está se atracando com uma vadia loira. L’Wren Coates do primeiro ano. Uma exemplar líder de torcida. Uma exemplar líder de torcida que agora vai ter que usar perucas, porque vou arrancar todos os fios descoloridos daquela cabeça.

Chego mais perto e puxo os cabelos dela. Ouço-a gemer de dor. É isso ai, tá passando pela a mesma coisa que eu vou passar quando sair daqui. Jogo-a no chão e pulo em cima dela. Em momento algum eu deixei de arrancar os fios de cabelo. Sinto alguns braços me puxarem pra cima e vejo André levando L’Wren pra longe. Olho para a minha mão. Estou satisfeita em ver que arranquei pelo menos um terço daqueles cabelinhos. Jogo o maço de cabelos no chão e luto para me soltarem. Demoro alguns segundos para ver que é Beck quem está me segurando.

-Me solta! Eu odeio você! –Grito, mas as lágrimas me impedem de olhar diretamente para ele.