O dia amanhece e o meu humor floresce junto com ele. Eu não devia estar pensando desse jeito ou feliz dessa forma, mas Beck me deixa assim. A respiração dele é inconstante, o que significa que ele está acordado. Viro-me até ficar de frente para ele. Os olhos de Beck estão abertos. O marrom de sua íris adquiriu um brilho intenso desde a última vez que eu os vi.

- Bom dia! –Beck fala com a sua voz rouca matinal.

-Bom dia. –Respondo e me surpreendo com a bondade que eu inseri na minha voz.

Ele me dá um selinho. Olho por cima dele e miro o relógio. Seis e meia. Estou atrasada. Me levanto da cama com um pulo e vou em direção ao banheiro pra escovar os dentes.

-Beck... São seis e meia. –Digo, analisando-o pelo espelho.

-Seis e meia?! –Ele levanta num supetão.

-Uhum. –Seco a boca e vou direto arrumar a minha cama. –Acho que isso te pertence. –Jogo a cueca pra ele.

Nós rimos. A risada do Beck me faz sentir viva.

-Eu ainda vou ter que passar na minha casa pra trocar de roupa. –Ele se veste, com a roupa que usou ontem.

-Você tem roupa aqui. –Falo num tom calmo, o que é bem raro de se acontecer.

-Tenho?! –Ele faz uma cara espantada. Mas ele fica lindo de qualquer jeito.

-Tem. Do mesmo jeito que eu imagino que devem ter algumas roupas minhas no seu guarda-roupa. –Nós rimos de novo. É bom saber que o dia começou divertido para ele.

Ando até a cômoda. Abro uma das gavetas. A minha preferida. Aqui eu guardo todos os presentes que Beck já me deu. E eu guardo aqui algumas roupas dele também. Pra quando acontecer alguma coisa, como ontem... Essa gaveta tem o cheiro dele. O cheiro em que nos últimos quatro meses eu senti falta. Jogo para Beck uma muda de roupa e acompanho seus passos até o banheiro. Ouço o chuveiro ligar. Já que não vou ter nada pra fazer, durante uns belos dez minutos (Beck demora bastante no banho), resolvo descer e dar bom dia aos habitantes da casa.

Mas eu estou de calcinha e sutiã ainda. Coloco meu roupão e tento fazer o mínimo barulho possível ao sair do quarto. Dá pra ouvir que meus pais estão discutindo na cozinha. Como sempre. Por sorte, eles param quando eu entro no cômodo.

-Bom dia Jade. –Meu pai fala sem nenhuma emoção.

-Bom dia filha! –Minha mãe me dá um beijo na bochecha. –Você não vai tomar café?

-Não.. Eu e Beck estamos atrasados. –Pego um copo d’água enquanto eu a observo engasgar com o café.

-Ele vai passar aqui pra te buscar? – Dá pra perceber que ela tá tentando manter a calma.

-Não... Ele tá lá em cima. Tá tomando banho. –Meu pai não dá bola, e vejo minha mãe respirando fundo. Não deveria ser ao contrário?

Pra não ter que explicar mais coisas pra minha mãe, subo. Certa de que Beck já vai estar pronto. E eu estou certa. Ele está terminando de colocar a camiseta. Ah meu Deus como o corpo dele é perfeito. Mas não vou cair na tentação novamente, sigo direto para o banheiro.

Tomo banho e me visto. Quando volto para o meu quarto, olho no relógio. Ainda sete horas. Não estamos atrasados.

-Vamos? –Beck pergunta.

-Vamos. –Agarro a mão dele com toda a força.

Saímos de casa e seguimos pra H.A. É muito bom ver as líderes de torcida com aquelas carinhas espantadas quando percebem que a minha mão e a do Beck estão entrelaçadas. Todo mundo da H.A. está olhando, o que em partes é bom.

Chegamos perto do grupinho de sempre. Tori, André, Cat e Robbie. Eles parecem tão animados que não reparam na nossa presença. Pigarreio. A primeira a se virar é Tori. Por mais que a felicidade que está exalando dela me incomode, eu decidi que não vou deixar ninguém estragar o meu dia.

-Olha se não são os pombinhos... –André fala.

-Pombinhos? –Tori pergunta, se virando novamente pra André.

-É... Pombinhos. –Fico surpresa porque foi Beck quem disse isso. Ele me dá um selinho e eu posso ouvir Cat pulando de alegria.

Penso em várias coisas ao mesmo tempo. Pombinhos... Ia ser tão bom ser noiva do Beck. Ia ser tão bom saber que eu poderia tê-lo pra sempre, e que eu seria dele, até que a morte nos separasse.